Murat me abraça apertado, sentindo que preciso muito desse abraço. Ficamos um tempo assim. O nó na minha garganta vai se desmanchando numa mistura conflituosa de sentimentos: o conforto dos braços de Murat, a grande atração que sinto por esse estranho e o medo. E esse último que começa a falar mais alto. Ofegante, tomo consciência do absurdo que é estar no quarto desse homem chorando no ombro dele, e me afasto dele dizendo:
—Olha, obrigada por tudo. Melhor eu ir.
—Não vá, por favor. —Ele diz rouco. —Fique.
Ele fala tão enfático, tão sentido que eu estremeço e um êxtase que jamais experimentei toma conta de meu corpo com seu convite.
A mão grande desliza pelo meu braço enquanto seus olhos negros mantém os meus cativos nos dele. Solto um suspiro sem saber o que responder, confusa por querer ficar e ao mesmo tempo achar tão errado tudo isso.
Murat parece entender meu dilema e me puxa para ele, mas não de um jeito bruto, mas forte, sua mão circula minhas costas carinhosamente enquanto ele olha para mim. Seu rosto desce e ele esfrega seu nariz na pele do meu rosto e então sobe e mordisca com seus lábios a ponta da minha orelha. Fecho os olhos sentindo prazer no seu carinho. Seus lábios escorregam até a minha nuca, quentes e úmidos me fazendo estremecer, depois correm por até meu pescoço me enchendo de prazer.
—Fica? —ele me pergunta rouco.
Eu espalmo o peito dele.
—Não, melhor não.
—Então depois do seu expediente venha até meu quarto. Podemos conversar. Relaxar. Estou sozinho nessa região e não conheço ninguém. Os homens que me acompanhavam até me chamaram para sair, mas assim —ele aponta sua condição—fica difícil.
Encantada por seu magnetismo o olho com a respiração agitada e atraída pela proposta de espairecer um pouco ao lado de um homem tão interessante, digo:
—Tudo...bem, eu venho. Mas teremos apenas uma conversa.
—Claro. —Ele garante baixinho e surge um sorriso torto em seus lábios. —Espero-te então aqui. Hoje não vou sair do quarto.
—Está certo. —Digo e aceno com a cabeça sem querer sair de lá tão cedo.
Deus! Mas preciso!
Eu me afasto dele e quando estou saindo do quarto ouço ele dizer:
—Até mais tarde.
Giro minha cabeça para ele e sorrio.
—Até.
Os minutos que se passaram na recepção trabalhei como se tivesse no piloto automático. Pela primeira vez deixe de pensar em tudo de r**m que estava vivendo.
Por que não conhecer Murat melhor?
Eu não quero recusar! Aquele breve momento com ele me fez tão bem, foi como um bálsamo. Senti-me tão bem, tão esquecida dos meus problemas. Sei que minha ida no quarto dele não tem nada a ver com amizade. É algo íntimo estar no quarto de um homem solteiro, mesmo que minha imposição tenha sido jogar conversa fora.
Eu realmente preciso relaxar....
Quando meu expediente acabou passo no banheiro e dou uma ajeitada nos meus cabelos sob o coque, retoco a leve maquiagem que uso e lavo as axilas. Aplico um perfume caro que há tempos comprei. Um luxo que fiz questão de ter quando meu irmão era vivo e estava tudo bem. Soltei o ar e me enchendo de coragem vou até os elevadores e aperto o andar de Murat.
Em frente a porta dele fico parada olhando para ela com relutância. A coragem querendo ir embora, no entanto antes que eu bata nela, ela se abre e Murat surge. Lindo de bermuda branca e camiseta da mesma cor. As muletas apoiadas nos braços
Fico sem ar com o sorriso que ele me dá. Sem conseguir me conter reparo em suas pernas poderosas. Meu coração parece a ponto de sair pela boca. Todo meu corpo reagindo a ele.
Alto, musculoso, ombros largos. Esse homem é perfeito!
Levo a mão ao coração, muito nervosa e excitada.
—Como sabia que eu estava aqui?
—Eu liguei na recepção perguntando por você e eles me disseram que seu expediente já tinha terminado. Então vi a sombra na porta. Foi fácil saber que era você.
Ele afasta o corpo.
—Entre. Estava te esperando para pedir nosso jantar.
Eu sorrio para ele como se fosse a coisa mais natural do mundo jantar com ele.
—Está com fome? —Ele me pergunta.
Estou com o estômago embrulhado, isso sim. Ele me deixa nervosa.
—Ainda não—digo.
Ele sorri para mim.
— Eu também não—confessa. —Quer alguma coisa para relaxar? Tem vinho no frigobar e no bar temos scotch, Martine?
—Vinho. E você?
Ele sorri.
—Eu te acompanho no vinho. Você pode nos servir?
—Está certo.
Eu me afasto dele e vou até o frigobar e pego o vinho gelado, então me dirijo ao bar e o abro com uma abridor sem dificuldade. Encho duas taças e vou até Murat.
—Venha, vamos até o terraço! Há uma linda vista do parque.
Sim, o Rowntree é um dos parques mais bonitos da região.
Seguimos a passos lentos até lá e eu me sentei na cadeira que ele indicou. Murat sentou-se ao meu lado em outra e colocou as muletas ao lado. Eu lhe entrego a taça.
—O que aconteceu com sua perna?
Murat olha para o pé e diz:
—Luxei quando corria no parque.
—Nesse parque?
Ele sorri.
—Sim, inventei de correr a noite num terreno estranho.
Eu desvio meus olhos dos dele e olho o parque iluminado agora. Cheio de árvores magníficas, mais ao longe dele um lingo lago brilhante.
—Também é linda a vista. Ele deve ter te chamado para uma corrida.
Eu o encaro.
—Sim, foi isso mesmo. — Ele então se vira para mim. — Da mesma forma que eu senti quando vi você, que é uma garota muito bonita e me levou a fazer esse convite para termos esses momentos de descontração.
—Obrigada —digo desviando meus olhos dos dele. Tomo um gole do meu vinho tentando me acalmar.
—Fale-me de você.