Hayden Thompson
Sinto o coração acelerado e o suor escorrer pelo meu corpo, a sensação do vento batendo no meu rosto após longos minutos me exercitando é reconfortante. Acordo todos os dias antes do sol nascer e sigo para uma rotina de exercícios pesados na minha academia particular. Assisto os primeiros raios de sol surgirem no horizonte e, diferente dos outros dias, esse brilho traz consigo algo inquietante que agita algo em meu interior, deixando-me tenso, mas não consigo identificar o que é. Decido ignorar essa estranha sensação e sigo para um banho frio, durante os minutos em que a água cai em abundância sobre a minha cabeça relaxo e me desligo de tudo ao redor.
Sou o Alfa Supremo de todas as alcateias e é minha responsabilidade defender os interesses do meu povo, além é claro de assegurar a paz, a segurança e o cumprimento de nossas leis. Os humanos desconhecem nossa existência, acreditam que fazemos parte apenas das histórias contadas nos livros, mas essa não é a verdade, vivemos em simbiose, sem revelar nossa verdadeira natureza. Manter esse segredo é um princípio fundamental para a nossa espécie, assim como viver em harmonia com os humanos.
Saio do banho e preparo-me para mais um dia de trabalho, escolho um terno preto feito sob medida que deixa meu semblante mais fechado, todas as minhas roupas condizem com minha personalidade, portanto os tons escuros são predominantes. Não me considero vaidoso, mas aprecio estar bem alinhado. Abro a gaveta que contém uma coleção exclusiva de relógios e escolho um preto com detalhes em ouro, verifico o cabelo e saio do quarto em direção a cozinha pronto para fazer a primeira refeição do dia.
Sou muito organizado e metódico, não gosto de socializar e permito aproximação somente de pessoas de confiança, por isso Elizabeth é a única funcionária da casa com quem tenho contato, ela é minha governanta e comanda os demais funcionários para que tudo esteja na mais perfeita ordem.
Beth é da minha total confiança, me conhece desde que nasci e não é apenas uma funcionária, a considero e respeito como uma segunda mãe.
Chego na cozinha e logo o aroma de café invade minhas narinas, vejo a senhora baixinha de cabelos brancos de costas para mim, terminando de ajeitar o bolo recém-assado na travessa, se vira ao me ouvir e logo sorri quando me vê.
- Bom dia Beth!
- Bom dia, querido! – Ela me trata de modo formal apenas quando estamos na presença de pessoas desconhecidas, o que é raro, já que não recebo visitas no meu apartamento.
- Vejo que fez meu bolo favorito. – Sorrio ao vê-la colocar o bolo na mesa.
- Sim, sim. Você anda muito ocupado ultimamente e não está se alimentando bem, percebi que está mais magro inclusive. – Diz, tentando fechar o semblante e parecer chateada, mas ela não aguenta e começa a rir.
- Acho que está fazendo drama dona Beth, todos os dias como uma infinidade dos quitutes que você prepara para mim.
- Sabe que não resisto em preparar as coisas que você gosta. – Ela diz enquanto coloca uma fatia generosa de bolo num prato e entrega-me, em seguida, serve café numa xícara e senta-se ao meu lado para comermos juntos.
Quando estou em casa faço minhas refeições na cozinha junto de minha governanta, prezo muito por esses momentos com ela. Não me agrada em nada ficar sentado em uma mesa gigante e ser tratado como um rei, rodeado dos seus vassalos. Há quem goste desse tipo de prática, mas para mim isso não se enquadra. Finalizo o café, despeço-me e sigo para o meu quarto, faço minha higiene bucal, verifico o meu telefone e saio em seguida. Desço de elevador até o hall do prédio, encaminho-me para a entrada onde o motorista Alec está a postos, entro no carro e seguimos até o meu escritório. No caminho verifico o perímetro e noto mais dois SUV's nos seguindo, percebo ser meus seguranças, ando sempre com escoltas, não que eu precise disso, mas tenho muitos inimigos à espreita, esperando qualquer deslize. Pego o computador, verifico alguns e-mails e repasso todas as informações para a primeira reunião do dia, apesar de ser o Alfa Supremo, esse não é o meu sustento, não aceito nenhum valor por ocupar tal função. Comando uma empresa de bilhões no ramo petrolífero que herdei do meu pai que se aposentou e vive com minha mãe em uma casa nas montanhas. Eles sempre sonharam em viver de forma simples, livres do trânsito e de toda correria da cidade e agora aproveitam ao máximo toda a liberdade que conquistaram.
Muitos acreditam que eu devo viver em função da minha posição, porém não considero ser correto viver sendo sustentado pelo trabalho das alcateias. Essa ideia atrasada vem de lobos preguiçosos e de mentalidade inferior que se sentem superiores apenas pelo título que carregam. Sigo, assim como o meu pai, exercendo as duas funções com excelência.
Após alguns minutos dentro do veículo, entramos na garagem subterrânea do prédio imponente da Sadi Petroleum onde fica meu escritório, o edifício de 34 andares me pertence e nele está toda a parte burocrática da empresa. Não terceirizo absolutamente nenhum serviço, neste ambiente não escondo a minha verdadeira natureza, já que aqui trabalha apenas indivíduos da mesma espécie que a minha, o que não quer dizer que existe favoritismo, só trabalha para mim quem realmente é muito competente. Desço do carro e avisto o beta Simon vindo ao meu encontro e pela sua expressão, percebo que algo o perturba.
- Senhor! – Simon diz, mantendo a voz num tom de respeito.
Faço um sinal com a cabeça para que ele me siga e continuo meu caminho sem me preocupar com o que será dito. Alguns acreditam que minha vida como Alfa Supremo é um caos, quando na verdade é o oposto disso, eu simplesmente não sinto nada, dor, medo, ansiedade, dúvidas ou culpa. Parece arrogância, sim realmente é, mas e daí?
Enquanto caminhamos até o elevador, ele confirma toda a minha agenda e as reuniões do dia, hoje irei receber alguns anciãos, logo entendo o motivo da sua expressão. Simon me conhece bem para saber que este encontro irá acender a minha fúria, pois esses velhos decrépitos querem que eu escolha uma esposa.
Antes mesmo de iniciar minhas atividades meu humor já está pior que o normal, sou o melhor em tudo que faço e não acredito que eu precise de uma mulher ao meu lado para confirmar isso. Não que eu tenha algum problema com as mulheres, sei bem apreciar toda a anatomia feminina e me esbaldo quando encontro alguma disposta a me satisfazer na cama. Mas me casar é outra história, não quero me prender, até porque, não acredito que exista uma única mulher capaz de ocupar um cargo com funções tão importantes. Todas as que conheci visam o status e poder que a função irá lhe proporcionar e, ser a Luna Soberana é muito mais do que isso. Estou com 27 anos e nunca cedi as pressões feitas anteriormente, realizo um trabalho impecável desde que assumi, não permito falhas e não deixo brechas para dizerem o contrário.
Todos os lobos têm a sua companheira escolhida pela Deusa da Lua, eles se divertem com outros lobos enquanto não a encontram, mas a marca só pode ser feita naqueles que são predestinados. Eu não encontrei a minha predestinada e acredito que esse é o melhor presente que a Deusa da Lua poderia me dar, todos sonham em encontrar sua parceira, mas eu quero permanecer como um lobo solitário e focar apenas na excelência do meu trabalho.
Volto à minha realidade e saio da caixa metálica, sigo em passos largos até a grande porta de vidro e vou para a área externa, estamos no último andar do prédio e aqui só tem o meu escritório, ninguém tem autorização para subir, até o elevador é exclusivo.
Sinto o meu beta se aproximar, ficamos alguns minutos calados olhando para o nada e cada um perdido com o pensando nos seus próprios dilemas. Ele entende perfeitamente o que sinto e respeita a minha decisão, pois até pouco tempo compartilhávamos a mesma opinião de seguirmos solitários, porém ele encontrou a sua companheira por acaso, quando estava numa cafeteria, era o primeiro dia de trabalho da pequena Olivia, ela era garçonete e foi feita refém em um assalto, mas esta é uma outra história...