Charlotte Dawson
Acordo assustada com o barulho do despertador, a sensação que tenho é de que me deitei para dormir a apenas 15 minutos, sentindo dores em todo o corpo levanto-me e sigo direto para um banho frio para me manter acordada. Essa é minha rotina, acordo antes de todos para preparar o café da manhã da minha família.
Tenho 21 anos e sou a filha mais nova do Alfa da alcateia Wild Wolves, mas não vejo nenhuma vantagem nisso, já que sou tratada apenas como uma serva. Tenho dois irmãos, Kaden e July, ambos são o orgulho do meu pai. A minha mãe faleceu logo depois que nasci, por complicações no parto, por esse motivo sou desprezada por todos inclusive meus sobrinhos.
Chego na sala e vejo uma foto da minha mãe em um porta retrato sobre a lareira, ela sorria olhando para meus irmãos brincando, dava para sentir a felicidade nos seus olhos. Inspiro fundo e imagino como seria se minha mãe estivesse aqui: será que a minha realidade seria diferente? Não tenho as respostas que gostaria, pois, esse assunto é proibido para mim, sei muito pouco ou quase nada sobre ela.
Saio dos meus devaneios quando ouço passos na escada e percebo ser a minha deixa para sair, evito ao máximo ficar no mesmo ambiente que os meus familiares. Percebi ao longo dos anos, que quanto menos me viam, menos lembravam da minha existência e isso era sinônimo de menos humilhações e perseguições para mim, então, tornei-me especialista em ser “invisível”.
Algum tempo depois, estava verificando alguns itens na geladeira quando ouço pelo interfone da cozinha o meu pai me chamar.
- Charlotte! Venha aqui, agora.
Sinto um grande desconforto no estômago, respiro fundo e sigo em direção onde ele está, sei que estão todos à mesa e me preparo para o que virá. Entro na sala, permaneço de pé com uma distância segura e mantenho os meus olhos baixos, esperando que as ordens sejam despejadas sobre mim.
- Hoje é a festa de aniversário de Grace Evans e sei que você foi convidada pelo Justin irmão dela. Não sei o que aquele garoto tem na cabeça para convidar você, mas não me interessa!
Sinto os olhos de todos em mim, meus irmãos e cunhados começam a rir, como verdadeiras hienas carniceiras.
- Não permito que vá, esta é uma comemoração para os nobres da nossa comunidade e sua presença só traria vergonha para nossa família. Invente uma desculpa qualquer para aquele moleque bobo e não ouse dizer que eu a proibi.
Meu irmão bufa e diz:
- Urgh! Aquele paspalho do Justin deve estar apaixonado por essa daí, é por isso que nunca será um alfa, é fraco até para escolher mulher.
Meu pai solta um som de escárnio e logo diz.
- Argh! Ninguém é melhor do que você Kaden, estou lhe preparando para ser forte e poderoso, assim como eu.
Levanto brevemente meus olhos e analiso rapidamente a expressão em cada rosto, a conclusão que tenho toda vez que faço isso é a de que me envergonha profundamente ter o mesmo sangue que essas pessoas. Quando meu pai percebe que levantei meu olhar, ele diz:
- Volte para suas obrigações.
Volto a olhar para o chão e respondo.
- Sim, senhor.
Saio na mesma direção em que entrei, sigo direto pela cozinha, passo pelo gigantesco jardim e vou em direção a lavanderia, lá encontro dona Gloria, uma loba sábia e bondosa que assim como eu, trabalha na casa do alfa. Me aproximo sorrateiramente da senhora gordinha que está de costas separando as roupas da casa para lavar e a surpreendo com um abraço e muitos beijos em sua bochecha.
- Ah!! Menina, só você para me surpreender assim. - Sua risada preenche meus ouvidos e é o melhor som que eu poderia querer para esta manhã. Ela diz que tenho habilidades especiais por conseguir me aproximar sem que percebam minha presença, mas eu sempre ignoro essa fala, porque o motivo real é que aprendi a ser “invisível” para evitar problemas.
- O que aconteceu para você estar com esse bom humor, minha querida? – Ela me pergunta, com suas bochechas rosadas pelo susto que levou.
- Meu pai me disse que não preciso ir à festa na casa dos Evans esta noite. – Falo com um sorriso largo no rosto.
- Fico feliz por isso minha filha, aquela menina é uma cachorra louca e só traz sofrimento para você, quanto mais longe ficar dessa gente, melhor será para você. – Dona Glória conhece toda a minha história e sabe exatamente o que eu passo com minha família.
Seguimos conversando e separando as roupas, gosto de sua companhia e sempre que posso me aproximo para ficarmos juntas, nesses momentos esqueço de tudo e sinto todo o carinho e cuidado que ela tem por mim.
Dona Gloria me olha e com um sorriso terno e me diz:
- Já que você não precisa preparar o jantar hoje, venha para minha casa, farei uma comida especial e sua sobremesa favorita. O que acha da ideia, minha querida?
Sinto meu coração disparar todas as vezes em que ela me convida para sua casa, em todo o bando dona Gloria é a única que conversa e me dá atenção, os demais sempre me desprezam ou ignoram. Com um sorriso largo no rosto não perco tempo em responder.
- É claro que eu aceito, não existe melhor lugar para mim em todo o mundo dona Gloria, a senhora é uma fofa!
Ela me dá um sorriso carinhoso e assente com a cabeça, ficamos na mesma atividade por mais um tempo e depois sigo para adiantar minhas tarefas do dia.