Any
— Conseguiu descobrir alguma coisa útil?
Chegamos em Estrasburgo hoje a tarde e Leonor não perdeu tempo e foi em busca de pistas sobre onde ela estava, precisamos ter uma conversa entre tia e sobrinha muito particular.
— Ela está morando em uma pensão, conseguindo entrar dentro do quarto que ela está, mas não achei nada que fosse útil. Soube que ela está trabalhando agora.
— Tão rápido assim? Confesso que eu não esperava isso dela, mas não deixo de ficar contente em saber disso. Ela não estava em casa?
— Não, por pouco não fui pego em flagrante por um cara que entrou lá assim que eu saí. — Um homem? Isso está ficando mais interessante do que eu imaginei.
Maquini nunca foi muito de namorar por aí e tenho certeza que ela não mudou tanto assim, Martin me pediu para lhe dar informações sobre ela que eu seria bem recompensada e é isso que eu irei fazer, depois de conseguir toda a fortuna que Maquini herdeira.
— Como é esse homem, Leonor?
— Muito alto Any, ele deve ter na faixa de quase dois metros e é feito de massa e músculos, um soco dele e eu viraria cinco de mim. Cabelo assim como o meu, olhos verdes e uma pele branca. Ele não parecia nada amigável, será que sua sobrinha não está metida em dívidas?
— Se ela estiver, será ótimo, eu poderia oferecer a minha mão amiga para ela e descobrir tudo o que se passou com ela durante esses cinco anos.
Eu sei que não vai ser nada fácil chegar perto dela na primeira tentativa, haverá muitas cobranças porque eu não fui visitá-la, mas isso será beneficente a mim que poderia dar algumas desculpas esfarrapadas.
Já são quase onze horas da noite e o melhor que eu tenho a fazer é domei, Leonor conseguiu o endereço de onde ela está trabalhando e amanhã cedo eu tenho que aparecer por lá.
Santiago
Quase meia noite e eu ainda não estava conseguindo dormir, eu e Dan tivemos uma conversa sobre o jantar de amanhã e sobre Maquini. Pedi que ela não faltasse tanto às aulas no segundo semestre e ela me disse que iria continuar, expliquei a ela que ela não vai me ter pra sempre, minha vida é imprevisível demais.
— O que ela tem pra tá te deixando desse jeito? Você não sabe nada sobre ela, ou sabe?
— É por isso que eu estou fazendo isso Danira, quero saber mais sobre ela, alguma coisa nela me chamou a atenção e como um bom policial, bem... um ex policial eu sei quando uma pessoa está escondendo as coisas de mim.
— É só isso mesmo ou tem algo a mais? Como pode convidá-la pra pra que eu me submeta a essa loucura?
— Eu fui até a casa onde ela mora e esperei ela chegar seja lá da onde fosse. Só sei que amanhã eu vou ficar te devendo um grande favor. — Olhei pra ela que tentava esconder o rosto que ainda estava com o supercílio inchado, tá na hora de saber quem bateu nessa louca da minha irmã.
— Caraca, Sant, você não pensa não? E se ela tiver algum namorado e ele estiver lá em uma hora dessas, você vai sair ferrado sem argumentos pra dar.
— Eu não preciso de argumentos pra ver ela Danira, se não fosse por mim ela estaria morta aí, a única coisa que ela pode fazer pra agradecer é vindo aqui quando eu quiser, quero saber mais sobre ela e como ela veio para aqui porque tá mais que claro que ela não é daqui. Caso eu encontre alguém com ela eu desço no saco Dan, eu vou longe pelo que eu quero.
— Então você quer ela é isso mesmo Santiago? E se, ela caso não o queira e não venha hoje, o que irá fazer? — Ela fez uma cara surpresa e rio ao mesmo tempo, juntando as mãos e dando tapinhas em meu ombro.
— Não irei fazer nada. Eu quero saber mais sobre ela, nunca se sabe quando alguém vai mandar alguém me caçar, tenho que ter a certeza que ela não tá aqui pra tentar me matar.
Será uma pena caso ela esteja aqui pra tentar me derrubar. Marcos sempre foi meu amigo, ele fazia as entregas e ficava responsável pela montagem dos grupos e das anotações; de tudo que entrava e saía das mercadorias, um belo dia eu descobrir que ele estava me roubando e fez um rombo grande porque eu perdi mais de um milhão de Euros, não o matei porque o assunto é drogas e uma hora a gente vai ter esse acerto de contas pessoalmente. Desde então ele vem tentando me matar mas como nunca deu muito certo ele começou a mandar mulheres vim fazer esse trabalho, se Maquini for uma dessas mulheres ela tá ferrada. Só por causa de uma máfia fodida que ele faz parte ele tem certeza que pode me derrubar qualquer dia desses, mas é aí que ele se engana.
Tomei um banho e deitei na cama tentando pegar no sono, mas sem sucesso. Peguei o Notebook e quando entrei nas redes sociais vi várias fotos da Karine na igreja, vestida de noiva, isso fez meu corpo ferver de ódio. Fechei o Notebook, apaguei o abajur e fui tentar dormir dessa vez.
Maquini
Após um banho rápido eu já estava vestida para ir ao trabalho, não era do meu ser dormir a noite toda, mas desde que eu saí da clínica eu tenho dormido facilmente. Prendi o cabelo em um r**o de cavalo, passei um rímel e um pouco de pó no rosto, eu tenho que esconder as olheiras. Usei um batom vermelho para combinar com o dia lá fora, hoje está caindo neve e eu acho isso o máximo, faz muito frio sim mas aos poucos eu vou comprando roupas pra suportar o que ainda está por vir.
Vesti uma calça jeans branca que realça bem as minhas curvas, uma blusa de manga comprida nude e por cima coloquei um casaco de lã que comprei ontem e por sinal é bem quente. Dentro da bolsa coloquei meus documentos, a carta pra Kate e o avental da cafeteria. Não demorei trinta minutos pra chegar e já havia clientes.
— Bom dia Maquini, a Dona Louis me disse que você é novata aqui, seja bem vinda. Eu sou a Kiya, sou sua amiga dos dois turnos.
Kiya é bem bonita, tem os cabelos em um corte Chanel, tingidos de azul marinho, os olhos pretos e uma beleza surreal. Ela também aparenta ser simpática, tomara que a gente se dê bem.
— Oi Kiya, obrigada. Bem, até que isso não é r**m. — Sorri pra não parecer grossa, não faço ideia de como eu vou lidar com o atendimento ao público mas não posso desistir desse emprego nem tão cedo, até conseguir um melhor. Preciso mudar muitas coisas em minha vida ainda, tenho que fazer isso o mais rápido possível. Quem sabe até essa Kiya possa me ajudar daqui pra frente.
— Mora aqui perto? — Ela está mesmo disposta a querer puxar conversa comigo?
— Sim, a dois quarteirões daqui. Por que? — Mesmo sem querer ser grossa eu sooei com um tom grosseiro, ou é apenas minha mente fazendo suposições idiotas mais uma vez.
— É que eu também moro aqui perto e nunca te vi por aqui. A antiga atendente era um saco, ela se achava superior a todo mundo. — Sim, ela estava mesmo disposta a conversar.
— E o que aconteceu com ela, Kiya? — Perguntei tentando entrar no assunto dela, tentando não parecer arrogante.
— Seu Flávio demitiu ela anteontem e ontem mesmo você estava aqui, não sei porque já gostei de você. Ela era antipática e tinha um rei na barriga, tratava todos como se fossem inferiores a ela. — Paramos a conversa quando chegou um senhor e chamou por ela.
Quando isso eu ia limpando as mesas e recolhendo os pratos sujos, dentro da copa não havia ninguém além de um homem alto e já com uma certa idade fazendo os bolos e salgados. Peguei o que estava faltando por dentro dos freezers e fui arrumar tudo que ainda estava fora do lugar. Com tudo já arrumado eu fui para trás do balcão e fiquei lendo um jornal enquanto não chegava ninguém.
— Bom dia, eu quero um expresso naked sem açúcar, por favor. — Levantei a cabeça e vi o Santiago bem na minha frente.
— Bom dia. — Sorri de canto espontaneamente. — Seu pedido logo sairá.
Servi o que ele pediu, seu Flávio ontem ensinou algumas coisas básicas e com o passar do tempo eu vou aprendendo o restante. Meu corpo se arrepiou assim que meus olhos o viram, será que ele vem todos os dias aqui?
— Eu quero um expresso duplo com uma boa dose de açúcar também. — Danira disse logo atrás dele, ela vestia um uniforme de alguma faculdade e estava com os cabelos presos em um coque, uma maquiagem leve e quando viu que era eu atrás do balcão ela instantaneamente sorriu.
Peguei os dois pedidos e levei até a mesa em que eles estavam.
— Não sabia que trabalhava aqui, como você está? — Danira me pergunta enquanto me olha de cima abaixo.
— É, eu comecei ontem. Estou bem, se precisarem de mais alguma coisa é só me chamar.
Santiago não olhou pra mim em nenhum momento pois seus olhos estavam focados na tela do celular. Voltei para trás do balcão e não consegui me concentrar em muita coisa vendo Santiago, alguma coisa dentro de mim acende e eu me controlo pra não repetir a dose daquele beijo gostoso.
Danira
— Você não vai falar mais nada, Santiago? Que reação foi essa, tem certeza que tá tudo bem?
— Tá tudo normal Danira, toma seu café logo e vai pra faculdade. Se você não for hoje pode desistir porque eu não vou tá pagando algo que não te sirva.
— Eu vou, mas ainda tá cedo. Bom... se eu fosse você tentaria puxar mais assunto sabe, calado ninguém consegue nada. Parece uma pedra, além disso se vê que ela também não é muito simpática.
— E quem disse que eu quero alguma coisa com ela?
Se o bom humor de ontem a noite estava durante pouco hoje ele acordou sem nem um pouco dele, agora eu só queria entender como ele consegue ser tão bipolar. Se ele pensa que com esse jeito vai conquistar alguém tá muito errado, mas se ela for na mesma vibe que a dele eu não duvido nada que se dêem bem, tomara que os anjos me ouçam.
— Eu quero um expresso para levar também. O Sant vai pagar a conta ok!
— Ok!
— Maquini, eu posso não ser a melhor pessoa do mundo, mas, saiba que eu amei te conhecer, aquele dia eu quis te ajudar mas a minha condição também não estava muito boa. Meu irmão parece ser um cara horrível, eu sei, mas ele não vai por mim.
— Eu não sei onde você está querendo chegar, mas eu também gostei de te conhecer, quando ao seu irmão ele é um pouco estranho, estranho até demais...
— É, eu sei que ele é. Eu vou ter que ir agora mas mais tarde nos vemos não é?
— Sim, ah, feliz aniversário Danira! — Como pode? Ela é tão feia quanto a Santiago.
Fiquei sem graça por saber que isso é uma mentira, hoje não é meu aniversário e a Tina também sabe disso, assim como o Samuel, vou ter que explicar isso a eles hoje.
— Obrigada Maquini, nos vemos à noite...
Dei um abraço no Sant e fui pra faculdade, a Tina estava me esperando na entrada e para minha alegria hoje é prova surpresa, que droga. Embora eu não venha pra cá todos os dias, eu estudo em casa às vezes, se eu tirar ao menos um ponto eu já vou ser a pessoa mais feliz do mundo inteiro. Tina sempre assistia a primeira aula depois ia para o trabalho.
— Hoje vai ter um jantar lá em casa e eu quero que você e o Samuel estejam lá. — Ela me olhou sem entender muito bem o convite mas não perguntou e apenas disse que não era meu aniversário.
A aula foi calada por todos estarem afastados o suficiente, Samuel não estuda mais e já se formou em Astrologia uma coisa que eu acho f**a nele também é que tudo que ele quer ele vai lá e consegue. A prova não estava tão difícil quanto eu achei que estivesse, isso já é um avanço pra mim mesma. Tenho que comprar uma roupa pra ocasião de hoje, mas não tenho planos pra ficar sentada a noite inteira, vamos curtir um pouco fora dessa casa aqui gente, eu mereço. Aliás, todos nós merecemos.