Sombra narrando
Me arrumei pro pagode depois de fumar um balão e resolver alguns problemas do comando, eu sou cercado por inúteis, tenho que acompanhar tudo de perto para ter tudo exatamente como deve ser feito, como eu não posso estar em todos os lugares eu tenho que me desdobrar em mil
Vitinho já me mandou mais de dez mensagens perguntando se vou no pagode, ele sabe que eu sempre apareço e fica no meu pé, pior que mulher essa praga, por isso sempre me estresso com ele, tira meu sossego, me deixa extremamente irritado todas as suas mensagens e falação pessoalmente, mas esse daí é o cara que eu tenho mais confiança, ele já demonstrou sua lealdade a mim, então eu aturo esse insuportável
Peguei minha tiger e desci pra praça do meio onde vai acontecer a transmissão do jogo e o pagode, quero só observar e ficar de longe hoje, eu canso de pedir pro vitinho pra ele me deixar quieto mas quando tem essas paradas ele fica mais na minha orelha do que p**a, insiste de qualquer forma que eu me misture com os moleque mesmo sabendo que eu não gosto
Cheguei na praça e estacionei minha moto com os meus seguranças abrindo espaço pra mim, e fui pela lateral do bar do seu Jorge para ficar na parte de cima onde é um local que ele deixa reservado pra mim que e mais sossegado e tem visão de todo o lugar
Mas o meu tormento já começa assim que eu chego e topo de frente com aquela baiana marrenta, o que tem de abuso não tá escrito, e como mais cedo, novamente ela se esquiva e se faz de santa, essa daí não me engana, eu já estou buscando de puxar a ficha dela todinha, o papo dela não colou muito bem comigo não, ficou muito vago, o que me levanta muitas suspeitas
Subi para o meu reservado e os meus seguranças ficaram na parte debaixo na escada fazendo a segurança, e apenas um aqui em cima na minha guarda, eu não me importo se estou dentro do morro, eu não descuido da minha segurança
Sento na minha cadeira mais alta, ao lado do tambor onde o seu Jorge coloca as minhas paradas e fico dali na visão de tudo, morro lotado, final do Flamengo, todos os bares cheios, mas como sempre o que as pessoas saem no tapa e aqui no bar do seu Jorge, ele é super concorrido, e movimentado
Vejo a baiana andando de mesa em mesas, de um lado para o outro com sorriso no rosto, sendo simpática com todos, e todos os homens olhando para o seu corpo de forma descarada, sua cintura marcada, seus cabelos longos, sua b***a gigante, e quando ela abre aquele sorriso chama a atenção de todos
Eu sou muito desconfiado, sempre fui, e principalmente agora que estamos sob ameaça, eu não consigo confiar na bondade de ninguém, sou muito atento e cuidadoso com isso
Perco ela de vista e bolo um baseado vendo as putas dançando o funk que toca rebolando para os vapores que tiram maior marra de patrão e não são p***a nenhuma, o mala do vitinho ainda não deu as caras e meus ouvidos agradecem
- seu Jorge pediu pra trazer pra você - ela vem com um balde com meu whisky, copo, gelo, energético, e na outra mão minha tábua de petiscos - você precisa de mais alguma coisa ?- ela pergunta seria sem o sorriso e eu n**o sem dizer uma palavra - beleza, qualquer coisa pede aos seguranças pra me chamar que eu trago o que precisar - ela fala e eu observo ela se afastando e quando ela chega perto da escada observo ela estalando as costas
Pelo que o vitinho me falou elas vieram de ônibus, e da Bahia aqui é cansativo, ainda mais depois da faxina que me resultou em um belo banho, ela ainda tá aqui trabalhando, disposição tem essa daí
Continuo dali observando o movimento, até ver a moto do meu tormento chegando, em dois minutos ele vai estar aqui buzinando no meu ouvido, ele estava com um pote na mão e entregou a Gabriela que agradeceu e entrou no bar rápido
Digo e feito, menos de dois minutos ouço ele subindo falando com os seguranças
- irmão, por que mulher é tudo maluca ?- ele fala bolado parado do meu lado e se servindo das minhas paradas - fui ficar com a ruivinha a loira apareceu tocando o terror, queria bater na mina e tudo, vou te falar, administrar muita mulher não é pra qualquer um não - ele fala e eu n**o sério
- por isso não me envolvo com essas minas do morro, apenas as que eu p**o, assim não tenho dor de cabeça - falo e ele revira os olhos
- eu não preciso pagar, eu tenho todas aos meus pés, e você não pegando mina daqui até me ajuda - ele fala fazendo uma dança escrota - sobra tudo pro colo do pai aqui - ele se gaba e eu n**o
- depois fica aí reclamando das confusões, gosta de uma dor de cabeça mesmo- eu falo e ele da risada
O jogo começa e aí vejo a preta parada um pouco, mas atenta ao movimento também, vitinho ficou ali que nem o jogo ele via quieto, falando o tempo inteiro, p**a merda
- Gol p***a é o Flamengo- ele grita daqui de cima enquanto todos comemoram o gol do Flamengo - preciso de uma cerveja gelada - ele fala e grita a Gabriela lá embaixo - qual foi medrosa traz uma geladinha aí pro teu amigo - ele grita e ela faz sinal de beleza
Medrosa ? Penso até em perguntar mas só de saber que ele não vai parar de falar eu me calo e mantenho a minha curiosidade só pra mim
- estupidamente gelada - ela chega com a cerveja e rindo pra ele
- ai vai querer uma carona depois ?- ele fala se segurando pra não dar risada
- vou subir a pé mesmo, faz bem pra saúde - ela fala rindo também - nunca mais ando de moto com você, tentativa de homicídio isso - ela fala e desce sem nem olhar pra minha cara
- ai irmão, tinha que ver ela se tremendo toda quando eu trouxe ela aqui- ele conta a história sem eu nem ter perguntado e alimenta a minha curiosidade e eu apenas n**o com a cabeça
O jogo rola e no intervalo o funk volta a tocar e o povo fica animado dançando, e a baiana se lascando pra dar conta de tudo, observei ela dobrando o joelho e esticando as costas mais algumas vezes durante a noite
- ala a loira maluca já arrumando problema com a baiana - vitinho fala e já desce correndo pra ver qual é da situação
Eu fico de pé só vendo ele afastar a loira da baiana que só negava bolada e vira pra dentro do bar de cara fechada e revirando os olhos
Fico ali até tarde e depois desço pra ir na boca resolver algumas coisas de uma vez, já deu minha cota, vou deixar o vitinho na visão
- ai seu Jorge quanto deu o meu aí ?- eu pergunto no balcão e vejo a baiana correndo preparando vários pedidos e o seu Jorge também abafado com o movimento e ele me fala o valor rápido e eu tiro o bolo de notas do bolso entregando a ele
A baiana passa a milhão pra servir uma mesa e depois volta pra trás do balcão e se abaixa se esticando
- minha filha vai comer alguma coisa, eu seguro aqui sozinho um pouco - seu Jorge fala e ela concorda indo lá pra trás
- tem que chamar mais uma pessoa né, seu Jorge ?- eu falo e ele me olha chateado
- meu filho eu tenho mais duas pessoas aqui comigo, somos quatro no total, mas elas faltaram e eu descobri que elas foram pro Maracanã e me deixaram na mão- ele fala chateado - ainda bem que apareceu essa menina que tá dando conta de tudo e me ajudando muito, se não fosse ela eu ia ter que fechar o bar - ele fala e ela já sai terminando de comer e começa a atender todo mundo de novo passando de mesa em mesa
Saio do bar vendo ela trazendo vários pedidos, sinalizo ao vitinho que tô vazando e vou pra boca resolver minhas coisas
Tem um cara aí querendo se aliar a mim, mas eu não tô sentindo confiança nele e estou estudando sua gestão pra ver se vale a pena fechar parceria ou não, porque eu sempre estudo muito bem antes para não me ferrar
Sai da boca já estava clareando, eram quase cinco da manhã, resolvi fazer uma ronda no morro e ainda estava cheia a praça mas muitos bares já fechados, inclusive o do seu Jorge, passei por outra rua e fui subindo, vi o vitinho com uma p**a na esquina, e nem passei perto, só subi direto vendo um grupo de homens mexendo com uma mulher e ela apressando o passo, acelero um pouco mais e vejo de quem se trata e fecho a moto na sua frente parando com tudo vendo ela dar vários pulos pra trás com a mão no peito e se escorando no muro
- sobe na moto - falo sério e encaro os manos que vinham logo atrás e eles dão meia volta e desviam o caminho na mesma hora