.•¨ •.¸¸♪ Aquele onde o príncipe e o Assassino conversaram ♪¸¸.•¨ •.
O plano não era realmente complicado, na verdade tinha bases bem simplistas. A capitã - responsável por se conectar a Sírius -, deveria começar a se concentrar de verdade no que tinha em mãos e treinar para ser capaz de tornar o navio e todos nele presentes, invisível. Nublando suas presenças do inimigo, eles conseguiriam navegar pelas rotas mais rápidas e alcançar até mesmo o porto principal de Agreste sem nenhum problema. Ao chegar no continente, Beerin enviaria um documento a Eilidh, pedindo para que ela desse um fim às expedições de seus navios e atendesse as especificações de Renriel.
O problema começava quando os olhos esmeralda de Cameron, não saiam do pobre príncipe Beerin, que a cada minuto, parecia mais e mais desconfortável.
Até mesmo para Cam - que era conhecido por sua crueldade e seu gosto por torturar física e mentalmente as pessoas -, era estranho o fato dele se tornar tão interessado no pobre príncipe e por um breve momento, a capitã se perguntou se isso não era parcialmente sua culpa.
Com Mark, infelizmente o problema era um pouco pior. Ele não apenas estava irritado com as atitudes egoístas da capitã, como também estava nitidamente preocupado com coisas que preferiu não falar em frente a Ames e Cam.
Ainda assim, não havia nada que surpreendesse mais Renriel, que as palavras de Beerin quando Cameron o provocou em certa manhã. Ela estava sentada, tentando sincronizar-se a Sírius, quando ambos invadiram a cabine.
Era óbvio que da parte de Beerin era apenas uma tentativa de fugir de Cam, mas para o assassino, aquilo era a chance perfeita de matar dois coelhos com uma única cajadada. Irritar ao príncipe e a capitã de uma única vez.
“O que foi dessa vez?” Ela se viu perguntando, com o copo de whisky em uma das mãos.
“Está muito cedo pra um drink, não está, capitã?” Cam provocou. “Mas não se preocupe, eu só estou tentando convencer a princesa de que é melhor que ele treine, sabe… se ele foi capturado tão facilmente, foi culpa de sua inexperiência”.
Ren suspirou, sabendo que não podia discordar de Cam, mas de longe desejava ser responsável por forçar Beerin a algo. Desde o dia em que ambos conversaram sobre a forma como o rei agia em relação a seu filho, Renriel se tornou mais branda com o príncipe Beerin e não pretendia trazer ao garoto, ainda mais traumas, mas para sua surpresa, Beerin respondeu de imediato com um rosto de pura irritação. “Certo, deve realmente ser a melhor coisa a se fazer”.
Por algum motivo, Renriel sentiu sua espinha gelar, principalmente quando algo nos olhos esmeralda de Cam, brilharam com excitação e algo que pareceu uma mistura de felicidade e malícia.
Espero que a princesa saia vivo dessa, mas quando Cameron sorriu e sugeriu com alegria que Beerin deveria receber o mesmo treinamento que ela e Andrea, os ossos de Riel congelaram de vez.
“Você enlouqueceu? Deseja matá-lo?”
“Agora que sugeriu… não me parece uma ideia r**m” Cam provocou entre risos.
Berrin o fitava com indignação, uma expressão que a capitã ainda não havia se acostumado. Era realmente esse o efeito que Cam tinha sobre as pessoas? Um poder capaz de transformar até mesmo o medroso príncipe herdeiro, em alguém decidido e irritadiço a seu respeito?
“Eu não vou morrer tão fácil” Beerin respondeu decidido.
“Viuu? Tudo vai ficar bem, não se preocupe, Ren-Ren” ele brincou envolvendo os braços em volta dos ombros de Beerin, que estremeceu com o toque e se desenvencilhou, como se um animal peçonhento o tivesse tocado. Naquele momento, a capitã não sabia se ria ou chorava de toda a situação.
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A noite havia caído a certo tempo, mas a capitã continuava sentada sobre a proa do navio. O céu estava em um azul escuro, com tantas estrelas espalhadas por seu corpo, que mais parecia o véu de uma dama nobre, bordado em fios prateados. E mesmo com o vento gélido, ela permanecia ali.
Ele queria se aproximar, conversar…, mas o que diria? Seu corpo ainda tremia ao lembrar da sensação agonizante que sentiu ao pensar que ela iria se desfazer em sua frente.
A capitã ergueu uma das sobrancelhas como se esperasse até que finalmente sua paciência houvesse se esgotado e com um grande suspiro, ela o chamou. “Venha de uma vez, princesa”.
“Achei que estava tentando… trabalhar naquilo” ele disse com calma, tentando tornar sua voz mais firme enquanto desviava o olhar.
Renriel bufou uma risada e o respondeu “digamos que você não está realmente errado”.
Não, ele sabia que não estava. Sabia que ela vinha se esforçando bem mais do que aparentava desde aquele incidente. Sabia o quanto os marujos tinham sido afetados, assim como sabia que Mark - o imediato do navio -, havia se machucado durante o combate com a criatura.
Ele sabia que a capitã carregava a culpa por aquilo - mesmo que os marujos não a preocupassem nem mesmo por um momento -, ele ainda viu os olhos culpados de Renriel quando Mark relatou seus problemas finais.
Essas eram as regras desse mundo. Toda magia tem um preço.
Não havia nenhuma dúvida quanto à força de Mark, ou de Renriel, assim como não havia dúvidas de que eles eram certamente aqueles a pagarem o preço mais alto para tê-los.
Sírius - o navio forjado da noite -, era bem mais do que uma lenda e agora, Beerin sabia disso. Era um artefato mágico, não. Ele sabia que era bem mais que isso.
O navio forjado pela quarta face da Deusa, aquele que carregava o coração do seu grande amor, era de inimaginável poder.
Ele sentiu quando Renriel tentou sintonizar ao navio. Algo em todo o mundo estremeceu.
“Você… se desgastou daquela vez?” Ele murmurou.
“Você anda bem ousado, princesa. O que foi, não te assusto mais?” Ela perguntou, se desenvencilhando do assunto.
Beerin sorriu, com certo pesar, mas sem hesitação, respondeu. “Não é mais uma questão de medo…” suspirou “ainda tenho medo de muitas coisas, ainda… não consigo lidar com nenhum dos meus problemas, mas sinceramente, capitã? Não dá para você me quebrar mais do que já estou quebrado”.
“Não duvide das minhas capacidades” ela murmurou com um sorriso que não alcançou seus olhos.
“Não duvido, mas não existe nada que possa quebrar” ele respondeu sem pensar, erguendo os olhos para o céu estrelado como uma criança prestes a confessar um de seus grandes segredos “isso não quer dizer que não irei tremer e chorar, mas… que não pretendo continuar sentado, vendo a vida simplesmente passar”.
“Você sabe que nada do que aconteceu foi sua culpa, não sabe?...” ela murmurou em um tom de desculpas e não precisou de muito para que Beerin compreendesse, seu corpo arrepiou, mas ele ainda assim forçou um sorriso triste por seus lábios cortados.
“As vítimas sempre se culpam?”
“Sempre…” ela respondeu, arqueando a cabeça contra a proa.
“Por muito tempo, me perguntei se isso não era uma falha minha” ele confessou “se caso eu… fosse diferente, não teria conseguido evitar”.
A capitã que o observava, fechou os olhos de forma demorada.
“E a que conclusão você chegou?”
Beerin suspirou, deixando os fios negros cobrirem seu olho violeta enquanto dizia “que ainda assim, eu seria a aberração que meu pai tanto odeia”.
Talvez em outro momento, ou quando criança, dizer essas coisas fosse doloroso. Entender e aceitar que não importava o quê, o rei sempre o odiaria e o trataria de forma maldosa; mas o que havia restado para ele? Nem mesmo as migalhas lhe foram destinadas. Ele era pior que o lixo. Então de que servia tudo aquilo? Sua dor era em vão?
Quando o homem de cabelos negros e olhos verdes sugeriu a morte de Eilidh, o corpo de Beerin agiu por impulso. Quando ele viu, estava parado na sala, ofegante, quase se jogando sobre aqueles ali presente e os impedindo de cometer tal atrocidade.
Quando ele tinha se tornado tão corajoso? Nem mesmo ele sabia.
Sim, era fato que tinha abraçado Renriel quando o navio colapsou. Ele a tinha segurado e tentado impedir que ela caísse no mar, mas… era diferente daquilo.
Os olhos verdes como grandes esmeraldas, o fitavam como se estivessem prestes a arrancar fora toda a sua pele. Ele era uma assassino, não era? Beerin reconheceria aquele olhar em qualquer lugar. Era o olhar de quem já nem mesmo valorizava uma vida.
Para pessoas como Cameron, a vida era nada.
“Me diga, você se diverte sendo o brinquedinho da capitã?” Cam o havia provocado.
“Você deveria falar assim da pessoa a quem serve?” Beerin o enfrentou, sentindo seu sangue ferver pela primeira vez desde que se lembrava, mas por que a sensação era tão familiar?
Com um sorriso, Cam continuou “oh, não entenda errado, eu adoro a capitã, mas estou curioso…” ele ronronou “quanto tempo vai durar? Sabe… ela nem mesmo parece se importar”.
Sim, ele sabia bem disso. Recordou-se fechando as mãos em punhos cerrados.
“Lembra como ela simplesmente te deixou cair? Até eu me surpreendi! Eu teria te salvo pela recompensa”
Beerin não conseguia argumentar, mas ainda assim, esboçou um sorriso “e? O que espera? Irritação? Essa foi de longe a pior coisa que já me fizeram…”
“E isso significa aceitar qualquer merda que seja melhor que isso?”
O príncipe então ergueu o olhar “o que você quer?”
“Me divertir” respondeu o assassino com simplicidade e um sorriso malicioso “quero ver até onde tudo isso vai. Quero ver o que você vai se tornar, majestade”.
“Por que?”
“Porque já não existe mais nada para quebrar” Cam respondeu simplesmente e como um alarme de incêndio, Beerin ouviu o tilintar. Não havia mais nada para quebrar. Então… do que ele ainda tinha medo?
“Eu sinto muito…” Renriel murmurou com o rosto virado para o mar.
“Não existe mais nada pelo que sentir” Beerin respondeu com pesar “mas agradeço, mesmo assim…”
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Asaph: reino localizado no continente n***o do sul. Governado por Abellio – Rei regente. Reino de onde Beerin é o príncipe herdeiro.
Sírius: um navio pirata lendário – criado pela bruxa. Sírius é um navio que divide com seu capitão sua alma e essência vital. Sem um capitão, ele afunda e permanece no fundo do mar pela eternidade. Assim como suas velas, os olhos de seu capitão, são como o céu estrelado que a bruxa tanto amou. Os poderes envoltos de Sírius e seu portador são desconhecidos.
Fiesty: reino localizado no continente gélido ao norte. Governado por Eilidh. Em Fiesty é de conhecimento geral que apenas mulheres podem reinar.
Agreste: Um reino localizado no continente mais ao oeste.