Princesa Do Mar

.•*¨*•.¸¸♪ Capítulo 2 ♪¸¸.•*¨*•.

.•*¨*•.¸¸♪ Aquele onde o príncipe é levado ♪¸¸.•*¨*•.

Eilidh poderia ser descrita como uma verdadeira filha do inverno e isso não se resumia apenas a sua aparência. Aos cabelos brancos e aos olhos que lembravam flocos de neve, muito menos a sua tez pálida.

Suas emoções e expressões eram tão congeladas quanto o coração de uma rainha de Fiesty em um conto de fadas para crianças sonhadoras, mas de alguma forma, isso não surpreendeu Beerin.

Afinal, sendo ou não alguém fria, Eilidh o tratava com respeito. Respeito esse que o jovem Beerin pensou nunca ser digno.

“Gosta do sol?” Questionou certa vez, enquanto caminhavam pelo jardim.

“Sim...” ele respondeu com incerteza, olhando com mais atenção para o céu azulado que cobria suas cabeças. Era lindo – certamente –, mas talvez, o valor que o príncipe dava às coisas, devia-se a não as ter a tanto tempo.

“É uma pena. Em Fiesty quase nunca ah sol” Eilidh disse simplesmente. Embora suas palavras fossem condescendentes, sua voz era fria, limpa e sem emoção.

Por algum motivo, isso fez Beerin sorrir.

Talvez fosse pela impressão de que Eilidh se importava com ele – mesmo sendo apenas um casamento político –, ou a forma como suas palavras e ações eram tão distintas quanto água e vinho. Fosse o que fosse, Beerin sorriu e isso era notoriamente novo para ele.

Ao menos uma vez ao dia, eles se encontravam. Caminhavam pelo jardim, tomavam chá na sacada ou simplesmente observavam o lago do castelo na parte sul. Ouvir Eilidh tocar piano era algo agradável, mas Beerin aprendeu a amar a calmaria de seu quarto. Os momentos de solidão, quando as luzes se apagavam e apenas um pequeno orbe prateado, iluminava seu quarto.

A frase continuava gravada na parede. As noites que o assustavam, permaneciam trancadas em seu passado doloroso, mas durante algumas horas – de semana após semana –, ele quase conseguia adormecer pacificamente. Até que o fatídico dia chegou.

O casamento iria acontecer.

Não é tão r**m, ele pensou. Eilidh é uma pessoa gentil, mesmo que pareça fria, ponderou. Mas não havia sido de Eilidh que ele havia sentido medo por tanto tempo.

Suas mãos tremiam, mesmo que ele as segurasse com força. Seu coração batia tão rápido, quanto o seu ar se tornou pesado. O príncipe então, se perguntou se conseguiria sair dali vivo. Tudo isso era um simples efeito colateral de ver o rei próximo a ele. Os cabelos de um loiro escuro, caiam por seus ombros de forma quase calculada, mas o que o assustava, eram aqueles olhos carmim, que carregavam o desejo de queimá-lo vivo.

“Não ferre tudo, ou os últimos 23 anos, pareceram o paraíso” O rei sussurrou, sorrindo falsamente para Beerin. Um sorriso que aos olhos dos muitos que os cercavam, podia parecer gentileza, ou até mesmo o cumprimento familiar entre pai e filho. Mas Beerin – além de qualquer outro ali presente –, enxergava a verdade atrás desse sorriso. Estou feliz de me livrar de um lixo como você, não f**a tudo. Era o que o rei Abellio, realmente queria dizer.

Está tudo bem, Beerin tentou se convencer. O que realmente poderia ser pior do que eu já aguentei? Foram 23 anos, afinal... tentava argumentar consigo mesmo, quase implorando que suas mãos se acalmassem. Que seu corpo parasse de tremer e o suor frio o abandonasse. Logo estarei longe de Asaph. Logo serei apenas uma peça esquecida... foi o que disse repetidamente durante toda a manhã. Mas as coisas mudaram quando a porta se abriu e as roupas foram deixadas sobre a cama. A coroa que antes estava jogada no pedestal, foi polida e ornamentada com mais rubis. Você deve parecer um príncipe, seu pai havia dito com escárnio. Mesmo que sua aparência lamentável me irrite, você tem traços daquela vadia... e é agradável aos olhos de alguns. Acho que sabe bem disso, não é? Beerin tremeu ao lembrar, mas enquanto tremia, vestiu-se com cuidado.

Era lamentável, certamente lamentável. Sua aparência, suas lembranças e a forma como sobreviveu durante todo aquele tempo. Era lamentável aquele medo e ainda mais as lágrimas que guardava para si. Era lamentável estar sendo vendido – mesmo que Eilidh não o soubesse –, e ser tratado como lixo. Beerin sentiu seu rosto queimar com a vergonha, enquanto uma lágrima solitária caia de seu olho violeta, pois agora, ele concordava com seu pai... ele era lamentável.

Suas mãos paradas, fechando os últimos botões da camisa branca que acompanhava seu traje de noivo. Os cabelos negros ainda soltos, cobriam seu olho violeta e a espada em seu quadril, era um mero enfeite, mas foi a primeira coisa que pegou quando a porta de seu quarto foi chutada.

“Uau, acho que entrei no quarto de uma princesa” a mulher com calças listradas de preto e branco, brincou. Ela carregava uma arma de fogo em uma das mãos e na outra, uma lâmina n***a. “Vamos lá, princesa. Seja uma boa menina”.

Ele não sabia o que estava acontecendo, mas por algum móvito, seu corpo não tremeu. O que ela era? Seus olhos pareciam um céu estrelado, profundo e solitário. Seus lábios eram rosados, mas cortados e ressecados. O rosto oval e delicado, estava contorcido em um sorriso impiedoso. Por que vestia tanto couro? Casacos tão grandes não eram quentes? Haviam tantas armas em seu quadril e costas... ela usava tudo aquilo? Haviam perguntas demais na cabeça de Beerin. Perguntas que ele sabia – não seriam respondidas.

“Quem é você?” Questionou puxando a espada em seu quadril como reação lógica. Ele não era bom nisso... provavelmente, perderia, mas ainda assim, foi tão instintivo quanto um coelho correr de um lobo. A mulher de cabelos cor de fogo, riu com escárnio.

“Ora! Sou sua dama de honra!” disse com deboche “Que pergunta i****a” bufou movimentando sua espada com destreza e desarmando Beerin sem esforço algum. A pistola que segurava na mão esquerda foi apontada para sua cabeça e ela sorriu “venha, princesa. Eu estou adiando o seu casamento”.

“Não temos muito tempo, capitã” um dos homens – vestido de forma semelhante a mulher –, gritou.

Os olhos de Beerin arregalaram-se. Havia uma espada em seu pescoço e uma pistola em sua cabeça, o que ele deveria fazer? Talvez se eu conseguir atrasá-los um pouco... você vai morrer. Uma voz grosseira gritou mais alto que seus pensamentos conturbados.

Sim. Ele morreria. Podia ver nos olhos que brilhavam como estrelas, que a mulher ruiva possuía. Ela o mataria antes de ser capturada.

Um dos homens que fedia a peixe e álcool, ajudou a sua capitã – a forma como ele a chamava –, a amarrar os pulsos e amordaçar a boca de Beerin. Era doloroso..., mas ele não podia dizer que não estava acostumado. Então... tudo se tornou um borrão. Houve tiros? Ou ele tinha sonhado?

Talvez os gritos e o fogo fosse real... ele não sabia.

Eilidh estava desapontada? Ele quase quis rir, pensando se o rosto impassível e congelado de sua noiva, havia ao menos tremido ao saber que ele tinha sido sequestrado, mas... como o rei Abellio lidaria com isso?

O cheiro do mar se tornou mais forte e logo o fedor familiar de urina, excrementos e carne podre, invadiu suas narinas. “Larguem-no aí” uma voz masculina resmungou.

“Essa coisa vai ser realmente útil?” outro perguntou.

“A capitã nunca erra...”

“Mas você tem que admitir... Asaph está fodida se isso é o príncipe herdeiro deles” disse uma voz rouca, gargalhando antes que um chute forte fosse acertado nas costelas de Beerin.

Ele queria gritar, mas reprimiu um gemido, se encolhendo contra o chão frio, sujo e úmido. A escuridão era familiar e ele a preferia. Soube disso quando a dor o fez despertar totalmente.

“Não fode, Bob!” Reclamou um dos homens.

“O que? Ele é um pedaço de merda! Eles nos matariam antes de nos deixar falar!”

“A capitã vai ficar p**a se você ferrar a mercadoria!” o primeiro homem resmungou.

“Essa merda já ta danificada” Bob resmungou, puxando Beerin pelos cabelos e o forçando a erguer-se de joelhos. “Viu? Ele nem fala”.

Eu vou morrer aqui? Beerin se perguntou, sentindo seus olhos queimarem. Por que fui tão t**o em pensar que poderia escapar? Que ao menos experimentaria algo diferente daquela maldita torre? Ele desejou gritar, mas passos fortes foram ouvidos e os homens que o cercavam na cela, se entreolharam com algo que se assemelhou ao medo, quando uma voz perguntou. “O que vocês estão fazendo aqui, crianças?” A voz era gentil e o seu dono, sorria para os homens que riam sem graça.

“N-Nada...” um deles começou.

“Estávamos ajudando o recém chegado a se acomodar” Bob mentiu.

“Nós já estávamos indo...” o outro soltou.

O homem de olhos azulados como o céu em um início de manhã, sorriu se aproximando. Os braços cruzados sobre o peito. Os cabelos loiros como raios de sol, caindo em cachos grandes e abertos por seus ombros. Ele seria muito bonito, se uma gigantesca cicatriz não atravessasse seu rosto. Era tão profunda que Beerin se perguntava como aquele homem havia sobrevivido.

“Vocês acham que eu sou um i****a?” Ele perguntou com um sorriso no rosto, a voz suave como uma brisa de primavera.

“N-Nós... Não...”

“Cala a merda da sua boca e saia da minha frente, antes que eu resolva fatiar vocês e dar aos krakens” interrompeu, ameaçando com um tom de gentileza que não condizia com suas palavras.

Essa foi a primeira vez que Beerin sentiu sua espinha gelar. Não pelas palavras de ameaça que afastou os três homens de seu corpo machucado, mas pelo sorriso que continuava no rosto do loiro. O sorriso gentil e meigo que brilhava em um rosto delicado. O sorriso que foi mantido sem esforço enquanto ele ameaçava aqueles que pareciam seus companheiros. Onde Beerin realmente estava?

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.•*¨*•.¸¸♪ Sumário♪¸¸.•*¨*•.

Asaph: reino localizado no continente n***o do sul. Governado por Abellio – Rei regente.

Fiesty: reino localizado no continente gélido ao norte. Governado por Eilidh. Em Fiesty é de conhecimento geral que apenas mulheres podem reinar.

Krankens: era uma espécie de lula, que ameaçava os navios na mitologia. Este cefalópode tinha o tamanho de uma ilha e cem tentáculos, acreditava-se que habitava as águas profundas do Mar do sul.