Nossa vizinha encarava James de um modo sedutor dentro do elevador, mas ele olhava sério para um ponto fixo (não enxergava nada para falar a verdade).
Ela estava toda sorridente, mexendo no decote, abrindo um botão da blusa e ele simplesmente não dava atenção.
Dei uma risadinha baixo.
Se ele estivesse enxergando ele com certeza paqueraria ela.
— Vocês namoram?– Sibilou para mim, constrangida.
— Oh, não, não!– Gargalhei.— Ele é gay.– Sibilei de volta.
— Tão bonito para ser gay...– Murmurou, observando ele.
Revirei os olhos para aquilo.
Não, James Potter não poderia ser gay.
Não com aquela cara de s****o e aquele sorriso cafajeste, indo á tantas festas, saindo bastante, sendo amigo do Sirius, sendo malhado do jeito que ele era, personal trainner e também... já tinha reparado em algumas olhadas que ele me dava.
Na época eu estava em um relacionamento e nunca me envolveria com ele, mas agora...
Ri por dentro.
Nem ao menos sabia porque estava pesando naquilo.
Sacudi a cabeça levemente, em uma tentativa de afastar aqueles pensamentos loucos.
{...}
Após conseguir colocar James no carro (algo que demorou uns 10 minutos já que ele batia a cabeça o tempo todo) e colocar o cinto de segurança nele, liguei a rádio e coloquei em uma rádio aleatória que tocava músicas atuais.
Pude ver ele franzir o cenho, mas não disse nada.
— Que foi? Não gosta de pop?
— Não, acho muito brega.
— Taylor Swift é incrível e as músicas dela são inspiradoras pra mim.– Comentei, parando o carro no sinal vermelho.
— Clássico.– Murmurou, achando que eu não pudesse ouvir.
— O que você disse?– Resmunguei, tirando os olhos da faixa em que as pessoas atravessavam para poder olhar pra ele.
— Clássico, você mora sozinha em um apartamento, tem um gato que sempre vai na casa de Sirius quando ele não está e suja tudo, você ouve músicas românticas e pop bregas pra preencher um vazio existente aí dentro.
Gargalhei.
— E você, que tipo de música você ouve, senhor diferentão, que não existe nenhum ser humano nesse planeta como você?
— Eu consigo te ler mesmo sem enxergar, Lily.
Não deveria ser tão fácil me ler, mas ele mesmo sem enxergar fazia isso e eu que enxergava e via ele com certa fragilidade não conseguia lê-lo.
James escolheu uma rádio aleatória que tocava rock antigo, por isso ele foi a viagem toda até o supermercado cantarolando baixinho.
ACDC, Queen, Kansas, Guns N' Roses e outras bandas que eu nem sei pronunciar o nome.
Eu achava que estava ali por obrigação, compromisso, honestidade e principalmente pelo dinheiro, mas talvez tivesse algo em James que me prendesse e me fizesse querer estar ali, ou talvez eu apenas estivesse ficando louca...
Era normal autores ficarem loucos durante a escrita, os mais famosos ficaram.
Olhei para ele pelo canto do olho, observando ele bater os dedos e batucar ao som da música, cantarolando baixinho.
Porque alguém tão popular, quero e riquinho não tinha amigos pra ficar ao lado dele em uma situação daquelas? Nenhuma namorada, nenhuma ficante... parecia que James não tinha ninguém além de Sirius e naquele momento, eu.
Tinha alguma coisa errada e eu queria descobrir, talvez seja isso que me prenda a ele e a grana também.
Não preciso da minha saúde
Tenho meu nome e tenho a minha riqueza
Eu olho para o Sol
Só pela minha própria diversão
Perco a noção do tempo
Então eu devo ter passado da minha melhor fase
Mas eu estou me sentindo tão bem
Yeah!
Ouvi ele cantar, distraído e com um sorrisinho torto.
Todo mundo me ama
Ah, eu disse todo mundo, todo mundo
Porque você sabe que você também
Eu disse todo mundo
Todo mundo, todo mundo
Woah!
Se músicas melancólicas me definem e essa música meio egocêntrica define James, se todo mundo o ama, porque ele está exatamente no meu banco e não no de qualquer outra pessoa?