Eu visitava aquele mesmo lugar todas as noites, na esperança de que ele aparecesse no meio da mata densa e que sentasse ao meu lado.
Cheguei a um ponto de loucura onde eu poderia até mesmo ouvir alguns passos perto de mim, sempre de algum campista andava pelo bosque, mas nada parecido com Ele.
Pensei que talvez eu tivesse que me contentar com a minha imaginação, com meus pensamentos e minhas lembranças.
Eu temia demais que aquela imagem dele desaparecesse da minha mente aos poucos, mas quanto mais pensava mais ele ficava nítido para mim.
Essa é a vantagem de ser uma vampira de cem anos, nossa memória não falha.
- Princesa Violet?
Foi necessário que me chamasse algumas vezes para me fazer voltar ao meu corpo que estava tão longe dali, deitada em uma cama com aquele homem, e por mil demônios me interromperam bem na hora H.
Não havia pecado maior do que aquele.
- Princesa Violet?
- Por Deus, o que foi?
- Precisamos decidir os tributos desse ano...
- Ah certo, mas uma decisão i****a para uma festa i****a.
- Como sempre a princesa demonstra um desprezo terrível por nossas tradições Vossa Majestade. - Disse o conselheiro do meu pai me olhando com a face da morte, bem a única que aquele velho tinha para oferecer.
- Eu não demonstro nenhum desprezo meu pai, só acho que eu deveria me ocupar com algo além de um bando de virgens escolhidas a dedo para casar com algum velho caindo aos pedaços da realeza.
Eu sou ou não sou a p***a da princesa?
- Olha como fala Violet! Mesmo sendo minha filha não vou tolerar a sua indiferença com os assuntos do clã. Muito menos esse linguajar terrível.
- Ok pai, vamos lá... O que eu devo decidir?
- Você deve guiar as meninas, elas passarão a noite anterior ao casamento em seu quarto, como manda a tradição. Ou esqueceu? Dê se por contente de ter pulado o tributo esse ano, já está na idade de se casar, se continuar a zombar eu farei com que você participe.
A tradição miserável que minha irmã seguia a risca antes de ... bem... vocês sabem.
- Isso não parece antiquado para vocês? Por Deus por que essas mulheres são obrigadas a passar a noite em minha companhia, que tradição mais ridícula. E ainda mais quando sei que estão tão tristes e miseráveis com isso.
- Já chega, é assim desde o inicio dos tempos, e vai continuar sendo assim. A benção da família real é importante. Sua irmã entendia a importância disso.
Ele sempre jogava a Vivian na minha cara, era como ele conseguia que eu fizesse toda a pataquada que ela fazia.
Discutir não era uma opção, eu teria que engolir.
A cara de todos era aquela de sempre, um desconforto terrível.
A maioria do clã ali presente estava colhendo esposas para o próximo ano.
Isso mesmo que você ouviu, COLHENDO.
Mas uma tradição nada feminista.
Meu pai nunca se casou novamente, ele não amava nada em sua vida, além de seu trono e de vez em quando lembrava com nostalgia da minha mãe.
Mas claro que era só em dias de homenagens, nada contundente.
Talvez ele ame tanto o poder que não sobre espaço para nada além disso, talvez sobre sempre tão pouco do meu pai, e eu hoje como uma mulher adulta entendo isso perfeitamente.
Mas imagina viver com esse peso quando se é criança.
A menina que matou a mãe, a filha do rei dos vampiros, a menina que nunca via o seu pai para nada.
E por fim, a menina que fui criada pela irmã.
Como adulta eu ainda não consegui entender os motivos dele, então passei apenas a ignorar e a deixar que minha irmã lidasse com tudo.
Mas ela já não estava mais aqui, e ter que lidar com algo reprimido nesses anos todos era mortificante para mim, eu enfrentava tudo isso com horror e quase sempre dormia para irrita lo ainda mais.
A única coisa que conseguia me manter acordada era Ele, e talvez ele nem pensasse em mim da mesma forma.
Aquela altura eu já não tinha mais certeza de nada!