A LENDA

1978 Words
Quando entrei no salão, perfeitamente decorado as luzes baixas me incomodavam mais do que tudo.  Mas tudo bem, aquilo não havia nem de longe sido projetado por mim, eu em toda a minha existência eu jamais planejaria algo tão blasé. A verdade é que aquela noite para mim não podia piorar.  Eu não conseguia tirar o meu pensamento dele, que agora tinha nome "Sammuel" não saia da minha cabeça nem ao menos por um segundo.  Quando me sentei ao lado do meu pai, uma valsa de iniciou, e tínhamos que abrir as comemorações.  Dancei com o meu pai sem vontade nenhuma, o ponto central de tudo era que a minha vontade primária era de voltar para o meu quarto, não tive tempo ainda de remoer nada do que havia acontecido.  - O que está havendo Violet? Está mais longe que o normal? - Disse meu pai sorrindo, ele queria a todo custo manter as aparências.  - Nada demais, você sabe que esse tipo de coisa não me agrada, e eu nem sei por que me obriga a participar. - Eu disse sorrindo mais ainda.  - Sorria Violet, apenas sorria. Por que não tenta se divertir, conhecer alguém... Talvez desprezar menos os seus. - Disse ele sugerindo algo que para mim era o mesmo que nada.  - Do que você está falando? - Eu ainda não descobri o que você vai fazer a beira do penhasco todos os dias á noite, mas me diz, o que faz lá? - Meu pai arqueou a sobrancelha de um jeito que eu odiava. - Não sei do que está falando. - Fingi demência é claro, por que eu contaria o que eu estava fazendo lá? "Pai eu vou até o penhasco todos os dias na esperança de que talvez o seu inimigo natural transe comigo a noite toda sob a luz do luar"  Aposto que eu o mataria de desgosto ali mesmo.  - Ah garota, mentir adianta? Está vendo todas essas pessoas sorrindo para nós dois?  - Infelizmente sim. - Ela nos odeiam. Mas amam a nossa posição, achou que ia sair todo o santo dia por aí e nem ao menos um fofoqueiro viria me falar? Quanto inocência Violet, pensei que você era a esperta da família. - Ele disse debochando de mim visivelmente.  - Pai me fala uma coisa, você me odeia tanto assim? - Eu não quis parecer insolente, por que na realidade aquela era uma pergunta que eu já fazia a mim mesma algum tempo desde a morte de Vivian, e até antes disso.  - Por que acha que eu te odeio? - Ele me olhou quase que indignado com a minha pergunta.  - Por que eu simplesmente detesto tudo isso aqui, me compara com a minha irmã todo o tempo que se seguiu desde a morte dela, o que você quer de mim?  - Eu estava sendo profundamente sincera sobre tudo. Permanecemos os dois sorrindo, conversando como se estivéssemos nos divertindo, mas nunca discutindo de verdade.  Por que era assim a minha vida, e enquanto a música tocava em um ritmo mais frenético o meu pai me rodava pelo salão interrompendo a resposta que eu desejava. Quando finalmente eu parei de ser uma atração de circo e voltei aos braços dele ele me respondeu o que eu já esperava, mas nada daquelas palavras vinham realmente do coração. Se é que meu pai tinha alguma p***a de coração.  Aquilo me perturbava de verdade, a forma gelada como ele sempre lidou com todas as questões envolvendo a sua vida no geral. Era assustador saber que alguém que realmente podia viver com tantos segredos, traições e mentiras.  - Eu quero devoção Violet, amor a nossa coroa, quero comprometimento... Ou algum valor para o que temos aqui. Você está destinada a ser rainha depois de mim, e até agora vejo você tão despreparada... Absorta! Até a sua cara demonstra o seu profundo desprezo. Veja o papelão que você faz nas reuniões todas as vezes, pense em como podem começar a questionar a sua capacidade de... - De reinar pai? É isso? Se eu fosse homem, eles me questionariam sobre isso? - Isso não vem ao caso. - É por isso que odeia tanto a minha mãe? Por que ela não te deu filhos? - Do que está falando? Eu... Amava a sua mãe! - Não parece isso, e só para constar eu não os desprezo meu pai, eu apenas não gostaria de herdar p***a nenhuma... Desculpa. - Está vendo? O que há com você? O que cometi na sua educação que te difere tanto assim de Vivian? Não passa um dia sem que eu... - Deseje que eu tenha morrido no lugar dela? - Disse o encarando agora como fiz milhares de vezes.  A música acabou, os demais membros do conselho se juntaram a dança.  Eu não estava no clima, simplesmente voltei ao meu trono e fiquei sentada ali por toda a noite que se seguiu. Não sei se era algum tipo de alucinação da minha cabeça, mas eu podia ver o rosto de Sammuel no fundo da sala, entre a prataria e a estátua ridícula que ornamentava a sala.  Eu o via ali, como via em todos os outros lugares desde o dia que eu o conheci.  Não era possível que esse homem me invadisse tanto em todos os sentidos que eu não queria, e no único que eu queria ele pulasse fora.  Eu nunca fui rejeitada, por ninguém! E aposto que pelo menos uma dezena de homens dentro desse salão adorariam ter a mim nessa posição de entrega máxima como ela havia me tido.  Os meus pensamentos mergulhavam em um profundo caos, por que a realidade é que eu precisava saber mais dele, precisava saber o que havia acontecido de tão grave para que toda aquela história de desenrolasse.  Mas isso nos trás um plano de fundo tão sombrio quanto se pode imaginar, a primeira guerra agora havia se tornado uma história contada as crianças. Os grandes guerreiros lutavam a favor da espécie, como em uma espécie de filme B antigo.  O território era importante, e todos queriam se apossar.  A história fora contada por Vivian para mim dezenas de vezes, e apesar de eu sempre fazer questão de desprezar eu lembrava de cada detalhe de cor.  Ela abria o antigo livro para mim, era o meu momento preferido do meu dia, o momento em que eu me sentaria com a minha irmã que era uma mãe para mim e ouviria a voz dela sem parar.  Não importava o assunto, a única coisa que importava de fato era estar com ela.  - Violet, eu não vou ler se você não prestar atenção... - Fala Vivian, não precisa de tanta cerimônia... Não é uma palestra eu sou só a sua irmã.  - Certo, mas senta direito e olha pra mim. Era fácil que eu me perdesse em pensamentos, era fácil que eu fixasse a minha atenção em dezenas de coisas diferentes durante esse processo. Eu era assim, e sempre seria.  Para Vivian isso era terrível, já que ela recebeu treinamentos adequados a uma princesa desde sempre, e me ver assim tão solta em tudo sem o menor apresso a regras e tradições doía nela, e eu nem sei por que.  Mas eu era uma espécie de fardo que ela tinha que carregar.  Eu me sentei olhando para ela, tentei olhar fundo nos olhos dela enquanto ela tomava fôlego para iniciar a sua narrativa.   Não muito tempo atrás, existiam dois reinos... Dois iguais que se completavam como metades de uma laranja.  Os dois irmãos vivam em prosperidade em seu reino, infinitos em poder e glória latente. Eles era iguais no sangue e diferentes em sua linhagem.  Mas isso não importava aos dois irmãos, que vivam felizes com as diferentes entre eles.  Um recebeu o leite de uma loba, o outro recebeu o leite de um ser ainda mais antigo da floresta, ambos abandonados por sua família inicial. E assim iniciou se a história dos licantropos e dos vampiros até ali.  Klaus cresceu em força e graça, assim como Mateo.  A perfeita harmonia entre os dois irmãos era perfeita, embora fossem tão diferentes em sua primeira infância.  Apesar dessa harmonia eles preferiram montar as suas raízes em lugares distintos, dividir para conquistar era assim que se viam.  Klaus casou se primeiro, foi uma alegria para todos, seu irmão não o invejou.  Mateo se casou em seguida, com Camélia uma mulher forte e determinada a tudo, mas que não podia gerar filhos.  Klaus que casou se com Amélie teve o seu primeiro herdeiro, um menino forte e valente para o seu trono. E foi a primeira vez que Mateo invejou Klaus.  E assim como toda a ruína é fundamentada em desejo e cobiça a ruína de Mateo foi sentida, quando o seu império desmoronou não sobrou nada além de retornar ao seu irmão e pedir lhe abrigo, tanto para ele quanto para o seu povo. Desacreditado, Mateo se via cada dia mais jogado em lama, sem um sucessor adequado para o seu legado ele ficou cada dia mais terrível, e mais inseguro de si mesmo.  E no aniversário de décimo quinto ano do filho de Klaus a desgraça estava para acontecer, Mateo inundado em sua inveja matou o sobrinho ás vésperas de sua coroação oficinal.  Condenado agora a escravidão, Mateo por sua inveja indecorosa condenou com ele todo o seu povo também.  Vagaram então a serviço do reino de Klaus durante toda a idade antiga.  Um belo dia resolveram então se rebelar, em uma atitude covarde declararam guerra a um reino próspero e amado.  Mal sabiam eles que perderiam a guerra e seriam banidos para sempre para o outro lado do rio, vivendo em desabono e vergonha até o dia que se segue.  A linhagem de Mateo, em sua essência é completamente amaldiçoada, enquanto a de Klaus perpetua até hoje, mostrando sua graça e destreza!  E então minha irmã? O que essa história te ensinou? Eu não sabia nem o que dizer, por que na realidade eu nunca parei para analisar aquela história, e nunca nem ao menos analisei os protagonistas.  E eu como era a  garota mais azarada da p***a do reino tinha logo que ser tataraneta da droga do Klaus?  Mas tudo bem, eu apenas permaneci olhando para irmã, o que a deixava ainda mais irritada comigo.  Eu sabia muito bem que ela odiava repetir as coisas, e quando eu permaneci imóvel dei a ideia exata do que havia acontecido. Eu não havia ouvido nenhuma palavra se quer daquela história macabra.  A única coisa na qual eu me fixei era em como o tal do Mateo tinha sido cuzão com o irmão dele, mas eu só tinha doze anos.  Me lembro também que a medida que eu fui crescendo em me perguntava se a lenda era contada assim também no reino licantropo, dos rebeldes foragidos descendentes de Mateo. Em um belo dia eu resolvi perguntar a Vivian. - Minha irmã acha que isso tudo é de fato verdade? Sabe, lá talvez contem uma história diferente para o povo deles. Talvez o nosso tataravô não seja esse cara fodão, talvez tenha cometido alguns erros também para o irmão se rebelar.  - O que está escrito é a lei Violet, não existe questionamentos com isso. Nosso pai conta essas histórias e todo o reino, e por que seria verdade? Já viu como os licantropos são extremamente sujos e terríveis? Eu acredito nessa história por que sei que ela é real, e nem faz bem que você questione tudo.  E foi ali que eu percebi que eu não pensava, e jamais pensaria igual a minha irmã, aquela devoção cega a tudo sem nem ao menos analisar, eu não era assim! Sei lá, talvez tivesse alguma coisa muito errada comigo, mas eu simplesmente não conseguia agir como se eu estivesse na droga de um culto. 
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