➸ 28 de março
O dia estava completamente nublado. Talvez os dias anteriores de calor trariam uma tempestade imensa. Sendo assim, Yuji colocou em sua mochila uma sombrinha preta, garantindo que pudesse chegar seco em casa em caso de uma chuva repentina.
Depois de terminar de se arrumar, tendo dessa vez de por uma blusa a mais, desceu as escadas encontrando apenas sua mãe em casa. Porém a mesma deu-lhe um beijo na testa o desejando uma boa aula e apressadamente saiu de casa para o trabalho.
Para o ômega aquilo também não era uma surpresa. Seus pais tinham uma rotina apressada depois que o filho já demonstrou responsabilidade. Não se sentia triste com a ausência dos pais, afinal desfrutara bons momentos com eles na ultima viagem que tiveram. Não poderia esperar que eles ficassem em casa depois de deixarem a empresa com os sócios para saírem em um resort por algumas semanas.
Sentara na cadeira da cozinha e começou a desfrutar de seu café com leite. Adorava a mistura do café, sempre com um gosto levemente amargo e quente que fazia uma diferença enorme, principalmente em um dia friorento.
Olhava para a janela vendo o dia claramente cinzento, sorriu largamente em conforto. Adorava épocas frias parecia ter nascido para viver debaixo das cobertas cercado de coisas quentes. São os dias que poderia desfrutar de um bom livro enquanto está deitado em sua cama.
Até mesmo já imaginou-se com ele o abraçando por trás, acariciando seus braços enquanto lia do romance de época. Mas tinha plena certeza de que aquilo seria apenas uma fantasia particular.
Pegando sua mochila e suas chaves, saíra de casa olhando para o celular que apitava incessantemente. Franzia a testa em ver o grandioso número de mensagens que enchiam sua tela. Todas de seus dois companheiros de grêmio. Abrindo uma a uma, via as mensagens repetidas, lhe pedindo para que não fosse à escola.
“Não me diga que outra briga” somente isso se passava em sua mente. Ultimamente os dois grupos tem estado agitados, talvez por ser o último ano dos lideres. Coçando a cabeça, passou a língua em seu aparelho para começar a caminhar em direção da escola.
Ficava pensando nas palavras da diretora para si. Ah teria que se encontrar com ela mais tarde para conversar sobre a briga que descobrira no dia anterior. E ainda preparar os alunos para a semana desportiva. Ficaria tão cansado naquela semana, que não dormiria direito tamanha era sua ansiedade em ver tudo resolvido.
Caminhava lentamente por ainda estar adiantado, olhava em volta encontrando as pessoas vestidas com seus casacos pesados enquanto andavam apressadamente. O ritmo da cidade era sempre apressado. Teria que cogitar a ideia de viver em um lugar mais calmo, assim aproveitaria mais de seus momentos.
Gostava da calmaria do campo, imaginava a tranquilidade em acordar com som dos pássaros e também no gostoso som da chuva batendo contra a janela em uma noite de inverno. Viver em um bairro calmo talvez fosse bom também.
Adentrando nos portões da escola sentira de um arrepio em seus braços. Encolhera em seu blazer quente e caminhara calmamente pelo gramado até chegar ao prédio principal.
Os estudantes passavam por si o olhando curiosamente. Os que estavam em grupos cochichavam algo mantendo o olhar sobre o ômega. Franzindo o cenho suspirou em ver que a agitação havia chego mais uma vez.
Os alunos ficavam daquele jeito quando os lideres teria feito algum desafio. Ou mais precisamente Ryu fazia algum desafio. Mesmo assim ninguém lhe dava tanta atenção, até mesmo duvidava que os alunos soubessem de sua existência.
Seria demasia estupidez se o alfa resolvesse fazer algo logo após uma briga. Isso aumentaria o seu castigo e deterioraria o seu histórico escolar. Por que as pessoas não tinham interesse em fazer faculdade? Elas simplesmente não se importavam e metiam-se em brigas desnecessárias.
Bom teria de admitir que com aquilo, mais elogios iam para sua pasta. Já que como presidente do grêmio, ele quem cuidava dos castigos dos estudantes de acordo com o pedido da diretora.
— Yuji! — O ômega parou de andar e vira Ryu ir até si. O alfa se aproximou posicionando seu braço em torno do ombro do menor e sorriu largo fazendo do outro retesar minimamente — Bom dia, como está?
— O que quer?
— Ah nada — Ria o alfa caminhando com o garoto pelo corredor principal do prédio, onde havia um enorme número de alunos — Acho que temos um problema aqui, sabe? Parece que alguém andou fazendo uma pequena brincadeira.
— Alguém? — O ômega olhou inteiramente para o alfa, que fizera um pequeno bico nos lábios.
— Oras eu cheguei agora também, então não sei de nada.
— Sei...
Yuji continuou a caminhar até ver os murais de avisos estarem completamente escondido pela quantidade, gritante, de alunos. Os murais eram grandes painéis de tecido presos na parede. Ali os professores colocavam o ranking no final do ano, como também avisavam sobre passeios e demais atividades. Normalmente, um quadro com pouca atenção dos alunos.
Pedindo pela passagem, o garoto se direcionara até o quadro imaginando qual seria o aviso que teria deixado todos tão agitados. Ao chegar e olhar a quantidade de folhas que tinha, sentira seu corpo enrijecer.
Conhecia aquela caligrafia, conhecia aqueles textos, assim como os desenhos que tinha. Olhara atentamente depois de coçar os olhos abaixo da armação. Aproximou-se do quadro encontrando as cópias de seu diário pessoal. As risadas que ouvia atrás de si, os murmúrios que se estendiam em eco pelo colégio fez seu rosto avermelhar-se.
Em seu diário escrevia os acontecimentos principais do seu dia e suas emoções. Mas ali no quadro não estavam copiados os relatos sobre a animação de ganhar seu primeiro celular, ou então do dia em que pegara uma forte gripe que teve faltar alguns dias na escola.
Estava copiado, e bem espalhado, todos os seus sentimentos que mais tinha cuidado. Os seus sentimentos da qual cuidara e guardara por três anos sem que ninguém notasse. Só haveriam duas pessoas naquele mundo que poderia saber sobre aquilo, e saberia que os garotos do grêmio não teriam a maldade de espalhar para toda a escola.
Sentia-se violado. Como se alguém pousasse a mão em seu coração e o puxasse à força para fora de seu peito. Já sabia que nunca teria uma chance e por isso resolveu guardar para si até que alguém surgisse para lhe amar de verdade.
Mas agora... o que faria?
— Ah eaí Kei — Ryu sorria maliciosamente. Nunca encontrara uma maneira tão divertida de tentar deixar o outro alfa irritado. Era como se uma arma tivesse caído do céu diretamente para si. Ou melhor, um caderno caído da mochila diretamente para si. — Não sabia que namorava o presidente do grêmio, que safadinho.
Se o ômega estivesse congelado por estar frente à frente com seus sentimentos, agora não sabia como chamar o seu atual estado.
Olhara para o lado vendo aquela fisionomia calma de sempre. As mãos no bolso da calça jeans escura, e o corpo esguio coberto apenas por uma camiseta preta estampada assim como o boné que usava sobre os cabelos negros. Os olhos negros passavam sobre as folhas que continham os relatos de ontem.
“Que humilhação... logo ele” . Sentira dos olhos marejarem. Cerrando o punho, desviara o olhar para Ryu que ria da situação olhando apenas para o outro alfa.
Dando um passo à frente, o garoto puxava as folhas com força do mural rasgando-as com pressa em não deixar que os olhos daquele garoto chegassem perto de descobrir como havia se apaixonado. Era humilhação demais para si. Sentia os olhos curiosos sobre seus ombros, as risadas e murmúrios ecoavam em sua mente.
Rasgara a ultima folha de papel que estava em frente de Kei. Levara o amontoado para a lixeira e jogara fora suspirando baixo ao sentir a primeira lágrima escorrer em seu rosto. “Totalmente humilhado”.
— Ah, acho que isso te pertence.
Ryu estendia o diário do garoto, não restavam duvidas. Com aquele sorriso esnobe e o seu diário nas mãos do alfa, Yuji não tinha duvidas de quem era o autor daquilo tudo.
Segurando de seu caderno, o ômega ficou de frente para o alfa, retesando de sua mandíbula e respirando ofegante depois de limpar seu rosto. O garoto apenas fitava com ódio o outro à sua frente.
— Esperarei por você na sala da diretora.
— Mas por quê? Eu não fiz nada.
— E nem precisa. Brincar com os meus sentimentos apenas para o seu bem? Que jogo sujo Ryu.
— Achei que soubesse — O alfa se aproximara segurando o queixo do garoto aproximando ambos os rostos. — Nunca jogo limpo.
— Então se prepare, pois também não jogarei limpo contigo.
Deixando um t**a na mão do alfa, Yuji saíra correndo do prédio principal. O sorriso malicioso do alfa crescia cada vez mais, porém ao olhar para Kei seu sorriso desapareceu. Ele ainda se mantinha calmo.
O outro alfa apenas observava a porta, onde ao longe se podia ver o ômega correr. Suspirando o alfa olhara para seu inimigo e sorrira de lado.
Um sorriso de lado, era tudo o que ele faria? Sabia que aquele garoto não gostava que mexessem com os sentimentos alheios, para ele emoções eram preciosos. Então por que ele sorria daquela maneira?
Um sorriso ladino! Um sorriso ousado como se dissesse “só isso?”. O punho cerrado de Ryu fora o suficiente para que notasse, não havia ganho de seu objetivo, mais uma vez.
❖
Os dedos da diretora tamborilavam pela mesa de madeira, enquanto olhava os três alunos à sua frente. Havia chamado os dois alfas inimigos por conta da briga do dia anterior, mas agora tinha um problema maior em suas mãos.
Os olhos inchados e avermelhados de Yuji partia o coração da senhora alfa. Tentava ao máximo não deixar seu lado materno falar mais alto e abraçar o pobre garoto. O ômega havia demorado em aparecer na sala, provavelmente escondido em algum canto isolado para poder chorar.
— Quantas vezes terei de pedir que não briguem? — Os olhos dos dois garotos a fitava intensamente. Não iria permitir que meros adolescentes a fizesse fraquejar. — E ainda uma brincadeira desse porte nesta manhã, Senhor Gomune acho que nem adianta conversar com sua mãe não?
— Acredito que não — Ryu sorria de lado.
— Sendo assim, Yuji — O garoto chamado apenas erguera os olhos. Estava ligeiramente de costas para o outro alfa, não conseguia sequer sentir sua presença sem sentir a ansiedade e o medo fazerem seu estomago revirar. — Quero que eles o auxiliem o grêmio no preparo da semana desportiva.
O garoto olhava surpreso para a diretora, que apenas lhe lançava um sorriso calmo. Isso significaria passar os próximos dias ao lado daqueles dois. Justamente agora que não desejava ser visto, por ninguém. Contudo, a diretora não falava com Yuji aluno comum, mas sim com o presidente do grêmio.
E ele sempre fora responsável por monitorar aqueles dois.
— Claro, senhora diretora.
Os dois inimigos saíram da sala da diretora assim que o pedido fora feito, deixando apenas o ômega que esperava pelas palavras da mais velha. A senhora retirou os óculos os pousando em sua mesa de madeira. Mirou os olhos negros para o garoto à sua frente soltando um suspiro baixo.
— Yuji acredito que o ocorrido de hoje não será fácil de lidar. — Olhando atentamente para os olhos claros do garoto, via uma pureza ali que deveria ser mantida intacta. Pobre garoto que em uma época tão difícil teria de passar por tais problemas tão bobos. — Os alunos irão te implicar e eu terei de chamar de seus pais para contar o ocorrido.
Ele compreendera de suas palavras. Já havia apartado diversas brigas de ômegas por causa de ciúmes de seus alfas. Brigas, violência moldada por ciúmes e possessão. Agora que seus sentimentos por Kei foram revelados para todos, ele se tornaria alvo de tais ciúmes.
E a diretora teria de cumprir com seu papel quando a hora chegar.
— Não por favor, eles não sabem sobre...a minha preferência — O garoto se sentara na cadeira, aproximando da diretora com os olhos suplicantes. — E-Eu não faço ideia de como eles iriam reagir.
— Então só posso contar com você — A diretora apertara os dedos sobre a mesa — Terá de ser forte, e se isso ficar muito intenso terei de agir.
O garoto assentira. Agora fazia sentido a pergunta que Ryu havia lhe feito no dia anterior. Os alunos que seriam “fãs” de Kei iriam lhe perseguir, principalmente por acharem que ele não faz parte da gangue.
E de fato não fazia, na verdade se mantinha neutro durante todos esses anos. Se os alunos lhe fizesse algo, isso seria considerado uma briga por parceiro s****l, logo resultara em uma punição para os envolvidos.
Suspirando, coçara de sua nuca e se levantara da cadeira de couro para sair da sala, encontrando os dois alfas parados e encostados na parede o esperando.
Prendera da respiração por uns segundos, e logo liberou o ar se acalmando para seguir a sala do grêmio. Todo o caminho silencioso o deixara desconfortável.
Não poderia simplesmente dar um soco em Ryu para descontar de sua frustração. Tampouco queria lhe dar o gosto de vê-lo frustrado. Seria como dedicar a vitória ao plano ridículo.
Na medida em que subiam as escadas, Yuji sentia a vontade de fugir crescer em seu peito. Afinal, como iria encarar o alfa que havia conquistado o seu coração?
⊱⋅ ──────────── ⋅⊰