... Luiza narrando ...
... dia seguinte ...
Eu cheguei no morro depois de ganhar alta , e já fui direto para a boca , eu não estava aguentando mais a ansiedade de resolver tudo de uma vez , mesmo que eu soubesse que as coisas não seriam resolvidas tão rápidas assim , assim que eu cheguei lá na boca , Karen sorriu torto para mim e veio na minha direção .
- como se sente ? - ela perguntou e eu suspirei .
- na medida do possível , agora eu só quero consertar tudo isso . - ela assentiu .
- a gente ta sem vapor , só tem uns 10 lá dentro ... - ela disse e eu respirei fundo .
- vamos ter que recrutar outros moleque do morro .
- mas são tudo novinho Luiza .
- mas vai ter que ser Karen , vamos treinar eles e ensinar tudo que a gente sabe , o morro não pode ficar sem segurança .
- a comunidade ta com medo Lu , m*l saem de casa .
- eu sei ...
- o HT ofereceu uns vapor emprestado só para não deixar o pé do morro sem segurança .
- que bom , ainda bem ...
- fala rapaziada . - meu pai disse entrando ali na boca , todo mundo veio fazer toque com ele e eu sorri torto .
- oi pai . - eu disse e ele se aproximou de mim .
- nós vamo restaurar o morro , mas preciso que tu confie em mim . - ele disse e eu sorri torto .
- claro que eu confio em você .
- então fechou o pacote ... Magrão , cola aqui . - ele disse chamando um dos vapor , Magrão se aproximou .
- manda GB ...
- preciso que tu descole uns moleque bom ai da comunidade , acima de dezoito , não quero BO , agora não .
- beleza GB , já até conheço uns moleque ... mas eles só aceitam se envolver grana . - Magrão disse e meu pai me olhou , eu suspirei .
- o que tem em caixa é pro carregamento . - eu disse porque tinham roubado grande parte ...
- pode oferecer o cachê , nós damo um jeito . - meu pai disse e Magrão assentiu saindo .
- agora eu quero uma coisa de vocês duas . - meu pai disse apontando para mim e para Karen .
- pode mandar GB . - Karen disse ...
- vocês vão ter que bolar um jeito de conseguir grana e rápido , o resto eu resolvo .
- pode deixar , eu até tenho uma ideia . - Karen disse sorrindo para mim , eu franzi a testa sem entender ... meu pai foi falar com os vapor e Karen se aproximou de mim .
- eu tenho uma ideia para conseguir uma grana alta , mas alta mesmo , mas não vai ser tão rápido quanto o GB quer ...
- e qual a ideia ?
- tu sabe que eu já pulei nesse mundo inteiro ae né ...
- sei ...
- eu conheço um empresário bilionário , dono de várias fazendas de café ...
- hum , e o que isso tem a ver com o morro Karen ?
- ele tem uma empresa de negociações , ele negocia com o mundo inteiro , se uma de nós se infiltrar lá dentro como funcionária direta dele , toda a grana que cair a gente transfere um pouco para ele e um pouco para uma conta nossa ... - eu ri nervosa .
- isso é totalmente impossível Karen , você pirou ?
- impossível por que Luiza ? esses caras nem sabem o quanto de grana que entra e sai do bolso deles .
- o impossível não é roubar ele , o impossível é entrar lá dentro e conseguir um cargo de confiança assim do nada . - ela riu baixo .
- se eu te colocar lá dentro , tu topa ?
- sim , mas é impossível ...
- deixa comigo ... o morro nunca mais vai precisar de grana depois disso .
- ta bom , pode ser então ...
- você ta meio tensa , tem mais alguma coisa que te preocupando fora o morro ? - eu suspirei .
- tem ... o Thiago ... ele esteve no hospital todos esses dias comigo , mas ... ele ta frio , ta distante .
- ele deve estar triste com o que aconteceu Lu , só isso ...
- eu entendo , eu também estou , mas eu estou precisando tanto dele do meu lado nesse momento e não tenho . - eu disse abaixando o olhar , Karen soltou um longo suspiro e não disse nada ...
Quando eu resolvi umas coisas na boca , eu resolvi ir atrás do Thiago no Vidigal , eu queria poder falar com ele , antes de tudo isso acontecer , a gente estava arrumando a nossa casa na Maré , mas ainda não tinha ficado pronta , ele ia cuidar do Vidigal de lá mesmo ... Assim que eu cheguei na boca do Vidigal eu vi ele saindo de lá ao mesmo tempo , ele se aproximou de mim .
- o que ta fazendo aqui Luiza ? - ele perguntou frio .
- eu vim falar com você , podemos conversar ?
- aqui não ... vamos lá em casa . - eu assenti e fomos para a casa dele .
Assim que entramos , sentamos no sofá e ele me olhou .
- pode falar . - ele disse e eu suspirei .
- Thi , eu sei que deve estar destruído assim como eu por termos perdido a nossa filha , mas eu to precisando tanto de você , de um abraço ... - eu disse com a voz embargada , ele suspirou .
- Luiza ... tem duas coisas que dói em mim , a perca do bebe e você ter entrado nessa luta sem mim ... eu não sei se eu vou conseguir perdoar e esquecer isso tão fácil ...
- eu precisava ...
- tu ja me falou tudo isso , não precisa repetir ... você escolheu o morro ...
- são coisas diferentes Thiago , não me faça escolher um lado ...
- eu não vou fazer isso Luiza , afinal , você escolheu um lado já ...
- o que quer dizer com isso ?
- que eu acho melhor acabarmos por aqui ... foi f**a para c*****o o que a gente viveu , mas eu não to bem para continuar ... não agora . - meus olhos encheram de água .
- tá terminando comigo ?
- to ... vai ser melhor para nós dois , para gente se recuperar de tudo que aconteceu ... eu não consigo mais Lu ... - ele disse abaixando a cabeça , algumas lágrimas começaram a escorrer ...
- Thiago ... vamos consertar isso juntos .
- eu não consigo ... me desculpa . - ele disse me olhando . Eu abaixei a cabeça e comecei a chorar em silêncio .