Assédio

1145 Words
A semana também não havia sido fácil para Clara. Desde a chegada de Rodrigo ao hospital como novo diretor-geral, a jovem enfermeira sentia que seu mundo havia virado de cabeça para baixo. O homem, com seus olhares de luxúria e sorriso calculado, parecia decidido a persegui-la a todo custo. Não importava o quanto ela tentasse evitá-lo ou quanto se mantivesse ocupada com seus deveres no hospital, Rodrigo sempre encontrava uma maneira de forçar sua presença. Clara sabia que, como diretora do hospital, Rodrigo tinha poder sobre todos, e isso o tornava ainda mais perigoso. Ele não precisaria fazer grandes esforços para exercer controle sobre ela, bastava uma ordem. E quanto mais ela fugia pelos corredores, mais ele se sentia motivado a conquistá-la. A tensão crescia a cada encontro indesejado, e a sensação de que estava sendo caçada a perseguia. Na primeira situação da semana, Clara estava no corredor levando uma ficha para o médico de plantão quando Rodrigo apareceu à sua frente de repente. Ele andava com aquela postura altiva, ombros para trás e peito inflado, como se soubesse que todos ao seu redor estavam à sua disposição. Ela tentou desviar o olhar e mudar de direção, mas Rodrigo fez questão de bloquear seu caminho. "Com licença, senhorita Clara," disse ele, sua voz suave, mas com uma firmeza implícita. "Precisamos conversar sobre algumas questões administrativas." Clara, surpresa e sem saída, tentou manter a calma: "Agora não, senhor. Estou ocupada com uma tarefa importante." "Ah, isso pode esperar," respondeu Rodrigo, com um sorriso que não chegava aos olhos. "Eu sou o diretor-geral, afinal. Minhas prioridades são as prioridades do hospital." Ela sentiu a pele arrepiar. Não havia como argumentar contra ele sem colocar seu emprego em risco, então, com um nó na garganta, Clara o acompanhou até uma sala mais isolada. Quando chegaram lá, Rodrigo fechou a porta, encurtando ainda mais a distância entre os dois. Clara ficou tensa, sentindo o coração disparar. Ele a olhou de cima a baixo com uma expressão que lhe causou desconforto profundo. "Você tem se destacado muito ultimamente," ele comentou, o tom de voz baixando enquanto ele se inclinava levemente em sua direção. "Sabe, Clara, enfermeiras como você merecem mais oportunidades. Oportunidades que posso proporcionar." Clara recuou um passo, sua mente tentando desesperadamente encontrar uma saída para aquela conversa: "Agradeço, mas estou satisfeita com minha função atual," ela respondeu, mantendo a voz firme, embora seus nervos estivessem à flor da pele. Rodrigo sorriu, mas era um sorriso falso, um gesto que só deixava claro que ele não iria desistir tão facilmente: "Tenho certeza de que podemos encontrar algo mais... interessante para você." Clara saiu da sala o mais rápido que pôde, sentindo o olhar dele queimando em suas costas. A sensação de estar encurralada não a deixou desde então. Ela sabia que não importava o quanto tentasse fugir ou se esconder nos cantos mais movimentados do hospital, Rodrigo sempre estaria à espreita. Na terça-feira, o incidente seguinte aconteceu no refeitório. Clara estava sentada sozinha, tentando aproveitar seus poucos minutos de descanso, quando Rodrigo apareceu do nada e se sentou à sua frente. Não havia ninguém por perto, e a sensação de estar sendo sufocada pela presença dele era quase insuportável. "Clara," ele disse com um tom casual, como se fossem amigos, "o hospital é um lugar incrível, não é? Mas pode ser ainda mais quando você tem a pessoa certa ao seu lado." Ela apenas balançou a cabeça, sem olhar para ele, tentando fingir que estava concentrada em seu almoço. O apetite, porém, já havia desaparecido há muito tempo. Rodrigo esticou a mão e tocou de leve a dela, num gesto aparentemente inocente, mas que a fez gelar por dentro. Ela retirou a mão rapidamente, mas o sorriso no rosto de Rodrigo não vacilou. "Você deveria aproveitar as oportunidades que estão surgindo para você," ele continuou, sem se abalar pela recusa óbvia de Clara. "Eu poderia te ajudar a crescer, sabe?" Clara murmurou algo incoerente, levantando-se com o prato na mão, e se afastou rapidamente, deixando Rodrigo sentado sozinho à mesa, mas ela sabia que aquela sensação de ser caçada estava longe de terminar. Ao longo da semana, Rodrigo continuava a encontrar maneiras de estar por perto, de criar situações em que ambos "acidentalmente" se esbarravam. Numa dessas ocasiões, Clara estava indo em direção ao elevador, carregando uma bandeja com medicamentos, quando Rodrigo saiu do elevador repentinamente, e ambos trombaram. A bandeja quase caiu de suas mãos, e ela tentou se afastar, mas Rodrigo a segurou pelo braço, "para evitar que caísse", como ele mesmo colocou. "Você precisa ser mais cuidadosa, Clara," ele disse com um sorriso que fez seu estômago revirar. "Não gostaria que algo acontecesse com você." "Estou bem," ela respondeu rapidamente, puxando o braço de volta. "Não preciso de ajuda." "Claro que precisa," ele insistiu, ainda segurando o braço dela por um segundo a mais do que deveria antes de soltá-la. "Você é uma das minhas melhores enfermeiras. Não quero que nada de r**m aconteça." Aquele "nada de r**m aconteça" soou mais como uma ameaça do que como uma preocupação genuína, e Clara sentiu seus nervos se desintegrarem um pouco mais. Cada vez que Rodrigo se aproximava, sua presença a sufocava mais. O hospital, que antes era seu espaço seguro, havia se tornado um campo minado, onde ela precisava calcular cada movimento, cada palavra, para evitar ser encurralada. Na quinta-feira, Clara estava quase no limite. Tinha acabado de sair de uma cirurgia complicada, e seu corpo estava cansado, sua mente exausta. Enquanto caminhava pelos corredores vazios em direção à sala de descanso, Rodrigo apareceu mais uma vez. Dessa vez, ele não fez questão de esconder seu interesse. Seu olhar faminto percorreu o corpo dela de maneira descarada. "Você parece exausta, Clara," ele comentou com uma voz quase suave demais, mas carregada de uma intenção clara. "Por que não descansa um pouco no meu escritório? Podemos conversar sobre como você pode aliviar essa tensão." Clara estremeceu, sentindo o pavor tomando conta de seu corpo. Rodrigo se aproximou mais, seu corpo invadindo o espaço pessoal dela, e Clara sentiu seu coração bater descontroladamente. "Eu estou bem," ela disse, a voz vacilante, tentando se afastar. Rodrigo deu um passo à frente, bloqueando seu caminho novamente, mas dessa vez sua mão tocou o braço de Clara de forma mais possessiva: "Eu poderia ajudar você, Clara. Você sabe disso." Ela conseguiu se desvencilhar dele, seu corpo tremendo de pavor e repulsa. Fugiu em direção ao vestiário, o único lugar onde se sentia um pouco segura, mas seu coração estava acelerado, os nervos à flor da pele. Não sabia quanto tempo mais conseguiria aguentar aquela perseguição constante, mas uma coisa era certa: Rodrigo não iria parar até conseguir o que queria. E Clara, aterrorizada, não sabia mais como escapar daquela situação sem colocar em risco sua carreira e, talvez, até mesmo sua integridade.
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