ALICE
Os dias que sucederam o aniversário da Fernanda foram cruciais para eu perceber que eu e o Alexandre não iríamos voltar, porque ele passou a me ignorar e fingir que eu não existia mesmo que eu investisse pesado nele.
Nós transamos no carro quando ele foi me deixar na casa dos meus pais, mas no outro dia não atendeu minhas ligações e demorava para responder as mensagens.
Não vou negar que estou triste, é h******l quando eu vejo um meme engraçado e envio para o w******p dele e o embuste apenas visualiza ou quando eu digo que o amo, sinto saudades e tento puxar assunto só ganho um belo de um vácuo. O Alexandre me faz sentir como se eu estivesse sempre o incomodando, por isso, ontem à noite, escrevi uma mensagem falando que eu não iria mais procurá-lo, pois cansei de me humilhar para macho e a única resposta que obtive foi um “suave, pô”. Ai mano, não deu para segurar a raiva não, mandei ele enfiar o dedo no cu e girar.
Ódio mortal desse cretino!
- Alice? – ouço a voz do professor Raul me chamar e me desperto dos meus pensamentos. – Tá dormindo acordada, gata? – ele pergunta rindo com a sua voz afeminada e arrancando risadas dos meus colegas de turma assim como eu que sorrio junto.
- Me desculpa. – peço, me ajeitando na cadeira. – O que o senhor perguntou?
- Eu não perguntei nada, apenas te parabenizei pelo seu artigo sobre intolerância religiosa nas escolas. Não é tão comum uma aluna do terceiro período ir a um congresso nacional para apresentar seu trabalho, você se destacou entre os demais.
- Foi uma honra para mim. Obrigada pela oportunidade. – sinto minhas bochechas ficarem quentes pelo elogio e pelos aplausos de todas as pessoas que estavam na sala de aula, com exceção da Stefane que me olhou com tédio.
Ela adoraria ser tão inteligente quanto eu, porém a única coisa que consegue é ser marmitinha dos caras da faculdade e só consegue as médias para passar de período por se encostar nos outros alunos, porque inteligência nunca nem chegou perto do seu cérebro.
Vaca!
Nossa, eu nunca senti tanta raiva de outra mulher como sinto da Stefane.
- Enfim, vou liberar vocês quinze minutos mais cedo, porque sei que a maioria depende de transporte público e também por hoje ser o aniversário do meu casamento e eu preciso fazer comidinha para o meu marido. – o professor avisou nitidamente alegre.
Um sentimento de inveja bateu no meu peito, porque eu daria tudo para estar indo para a minha casa fazer o jantar do meu marido e depois dar a bucetinha para ele comer como sobremesa, mas nem tudo é como queremos. Vamos fazer o quê? Bom, eu vou comer doce em meios as lágrimas enquanto assisto um filme romântico.
Todos levantam-se das cadeiras apressados e vão praticamente correndo até a porta.
Pareciam presidiários prestes a ganhar sua liberdade.
Fui a última a me levantar e senti o olhar do professor sobre mim, então antes que eu chegasse até a porta e dissesse tchau, sua voz afetada me deteve.
- Alice, eu não quero me meter na sua vida, mas percebi que você está distraída durante as minhas aulas, se afastou da Ste e que o seu marido não vem te buscar com a mesma frequência que antes, então imagino que algo aconteceu e se você precisar de um ombro amigo, eu estou aqui.
- Obrigada, professor Raul. E me desculpa por não estar dando o melhor de mim nas suas aulas, eu prometo me esforçar mais.
- Acorda, Alice! Você é minha melhor aluna e se eu pudesse te colocaria em um potinho para te proteger de todo o m*l. – dou uma risada nervosa porque não sabia o que falar, afinal ele era o meu professor e nós estávamos cruzando uma linha na nossa relação mestre e aprendiz.
- Fico muito feliz em ouvir isso. Eu sempre sonhei em cursar direito igual a minha mãe, mas como não consegui nota suficiente no Enem duas vezes seguidas, acabei me matriculando em pedagogia só para ver como era a rotina de uma universidade e olha só, me encontrei na profissão que eu nunca tinha imaginado para mim. – confesso e ele riu.
- Eu queria ser médico, mas ser professor universitário é mil vezes melhor. – somos interrompidos repentinamente por uma auxiliar de limpeza que entra na sala e percebemos que ficamos mais tempo que o esperado conversando.
- Oi, dona Fátima! Já estamos saindo. – falo com gentileza fazendo ela sorrir em resposta.
- Tudo bem, meus amores. Bom final de semana para vocês. – a senhora deseja e começa a limpar a sala, que não estava muito suja ou desarrumada, porque somos bastante conscientes para manter o nosso espaço limpo e organizado.
- Para a senhora também. – falamos juntos e saímos da sala para que ela fizesse seu trabalho em paz.
Quando chegamos do lado de fora, nos despedimos com um beijo no rosto e eu me virei para ir na direção contrária a do meu professor, porque estava com fome e ia passar na lanchonete, mas antes que pudesse dar um passo para frente, eu quase tenho um infarto de tanta raiva ao ver o Alexandre e a Stefane conversando no fim do corredor.
- É sério isso?! – grito sem me importar se alguém vai ouvir.
Ambos se assustam e o Alexandre parece se despedir da Stefane e vem caminhando na minha direção como se nada tivesse acontecido.
- Não começa. – Alexandre fala baixo. – Só estava perguntando onde tu tava, porque a tua turma toda saiu e menos você, então fiquei preocupado achando que tinha acontecido alguma coisa.
- Agora eu mereço sua preocupação, meu anjo? Porque fazem semanas que você me ignora e agora aparece do nada aqui na minha faculdade.
- Até onde eu saiba a universidade pública e não vi teu nome em nenhum lugar. – Alexandre é irônico e eu dou um soco no seu braço.
- i****a!
- Vim te buscar para irmos pro churrasco no barraco do Felipe.
- Já tinha deixado avisado para nossa família que eu não ia, mas obrigada pelo convite. – tento seguir meu caminho, mas ele agarra meu cabelo e puxa meu rosto para perto do seu.
- Não é uma pergunta, Alice. É uma ordem.
- Eu não te devo obediência. Nós não somos nada, absolutamente nada, um para o outro.
- Tu é a minha mulher e vai fazer o que mando.
- Ex mulher e eu vou fazer o que quiser. – o empurro e vou em direção ao estacionamento e ele vem atrás de mim chamando meu nome repetidamente. – Me deixa em paz!
Caminho com pressa até o meu carro e entro rápido, batendo a porta com força e logo em seguida, Alexandre senta no banco do carona.
- Eu já disse que não vou, Alexandre!
- Se tu for, eu te deixo ir num corre comigo. – ele tenta negociar e eu abro um sorriso largo.
- Você jura que vai me levar? – pergunto com entusiasmo.
- Sim, agora vamos, porque já estamos atrasados.
- Obrigada, obrigada! Eu te amo! – estava tão empolgada que nem percebi o que falei.
- Tá certo. – sua resposta desdenhosa me causa uma leve irritação, mas não é o suficiente para acabar com a minha alegria em poder participar de alguma atividade ilegal.
O Xande quase nunca me deixa ir com ele por medo que acontecesse algo comigo, mas, como uma boa herdeira do tráfico, eu amava.