Alexander
Já é de noite. Por volta das nove horas. Nossa janta foi sanduíches frios e duros comprados em um lanche de beira de estrada e o que sobrou de suco e refrigerante, também compramos mais água e energético para nossa primeira noite.
Filipi esta chupando uma laranja e eu não paro de pensar que meu corpo precisa de carne. Proteína. Prometo a mim mesmo que a primeira coisa que eu vou fazer quando chegarmos em Paraíba, é devorar um bife inteiro.
Melissa esta dirigindo e eu estou no banco de trás com Alice jogando cartas. Ela sempre ganha de mim, deve ser por causa da sua genialidade matemática. Ouço Lis bocejar varias vezes. Irônico, eu havia acordado mais cedo que ela e não estou com sono, na verdade vou até me oferecer pra dirigir na madrugada.
-Para o carro em algum lugar, eu preciso urinar- Filipi fala por cima da voz de Ed Sheeran cantando Thinking Out Lound.
Urinar? Sério? Você tem quantos anos? Sessenta?
Lis estaciona o carro e Filipi sai para urinar.
-Eu posso dirigir na madrugada, não estou com sono-Falo.
-Eu fico com você- Alice fala.
Meu coração disparou. Eu já havia acostumado com esses disparos, já sentia a 2 anos afinal, porém cada um deles vem diferente, é como se apaixonar pela mesma pessoa todos os dias, vai ver o amor seja assim, amar a pessoa como se fosse a primeira vez todos os dias, nunca se cansar de olhar para aqueles olhos cor de mel e cada detalhe visível do seu corpo que decoramos ao longo do tempo.
Lis troca de lugar comigo e Alice vem para o banco ao meu lado. Esperamos Filipi chegar e seguimos viajem.
Após um tempo, olho no retrovisor e percebo Lis e Filipi dormindo.
Não sei como conseguem, mas os dois estão escorados em uma porta cada com as penas se entrelaçando no banco. Estão cobertos com um cobertor vermelho.
Não precisaria de muito para a porta do lado do Filipi abrir e ele cair, e aí pronto! Rumo às melhores férias sem pessoas importunas.
Alice espirra ao meu lado, acho que está gripada e, se está incomodada com a cena, não demonstra. Ela deita a cadeira, mas não muito, só o bastante para ler confortável. Ela esta com a cabeça apoiada em uma almofada branca de coração e coberta com um edredon rosa. Esta lendo um livro chamado O Teorema de Katherine, parece ser bem interessante, já que ela não desgruda o olho.
-É bom?- Pergunto tentando chamar sua atenção.
Ela levanta os olhos por cima do livro.
-Como?
-O livro. Ele é bom? - Falo olhando pra estrada escura, a noite esta fria e a lua quase cheia, não tem nuvens no céu e as estrelas decoram o céu como....estrelas decorariam um céu. É confuso, mas não há nada mais bonito do que um céu estrelado e acho errado comparar a qualquer coisa.
-Ah, é sim. É sobre um garoto que namorou 19 Katherine.
Nossa. Eu já namorei duas Thaís.
-Que louco.
Ela abaixa o livro, Coloca um marcador de página azul onde parou de ler e fecha o livro sobre seu colo. Ficamos em silêncio por alguns segundos.
-Sabia que em média, uma mulher gasta 2 anos de sua vida se olhando no espelho enquanto um homem gasta 6 meses?
Ela fala quebrando o gelo. Por todo o tempo que conheço Alice, percebo que ela esta tentando me manter acordado e pra isso, começou a falar de assuntos...chatos.
-Tenho certeza que Lis passa mais que 2 anos.
Ela ri baixinho. Queria que todo dia fosse como aquele momento. Mas tinha uma coisa dentro de mim, um bichinho, na verdade. Aquele que nos força a falar coisas sem pensar. A imaginar coisas absurdas. O bichinho do ciúmes.
-Então, como vai você e o Filipi?
Ela abaixa a cabeca, continuo focado na estrada. Mas sinto sua tristeza que dói em mim, e dói ainda mais em saber que não posso ajudar.
-O que foi?
Ela me olha com um olhar vago.
-Eu acho que ele gosta da Lis.
A frase cai em mim como um peso de 2 toneladas, sinto o sangue se esvair, e me dou conta que ela pode perceber pela minha reação que eu sei de alguma coisa, então olho fixamente pra estrada. Alice descobriu o segredo de Lis, é claro que ela descobriu, ela é incrível.
Mas não esta na hora, e quem deve contar isso a ela, é Lis.
Me lembro do dia que Lis me contou isso. No shopping, em um banco. Ela falou que começou com indiretas, depois Filipi começou a mandar mensagens e ligar pra ela, Lis sabia os sentimentos de Alice, então apenas o ignorava na esperança de ele parar, mas isso apenas o fez ficar mais apaixonado por ela e agora ele não larga do pé dela, lembro quando tive que mentir pra Alice no shopping e dizer que era a mãe de Lis que estava ligando pra ela, quando na verdade era Filipi. E eu sei que embora Lis fale que nunca iria ter nada com ele pois ele é o "crush" da melhor amiga (Não entendo essa linguagem das garotas hoje em dia), eu sei que ela gosta dele.
-Impossível... Ela.... Ele não... O que?
Gaguejei um pouco mas acho que fui bem convincente.
-Bom, por enquanto é só uma suspeita, mas tudo indica que ele esta afim dela. Ele sempre olha pra ela, hoje de manhã, Lis entrou na sua casa e um segundo depois Filipi entrou, ele reparou até no colar dela, e pensando bem, quando ele olhava pra mim na escola, não era bem pra mim, mas para alguém no meu lado, e Lis sempre esta no meu lado, não pode ser coincidência, e faria muito sentido, Lis é linda.
Não! Ela não pode saber. Tenho que pensar em algo....já sei, vou falar que não é verdade e que é coisa da cabeca dela.
Me viro pra olha-lá. E tento não gaguejar, mas é quase impossível, sou tão previsível quanto uma porta.
-Não... Eu...você... Isso não é verdade, é coisa da sua cabeça.
Ela cerrou os lábios. Tenho certeza que ela já sabe que eu estou mentindo.
-É, pode ser.
Soltei a respiração sem saber que estava prendendo, foco na estrada e percebo minha vista um pouco embassada, meus olhos estão pesados. Não posso dormi.
- Pega um energético pra mim, gatinha.
Alice se curva para a caixa termica e fica meio difícil se concentrar na estrada com suas pernas tão próximas e.... d***a, ela me pegou olhando, mas juro que vi um sorriso.
Ela me passa uma garrafa com um líquido amarelo e volta para seu livro.