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902 Words
Julio Saí do presídio com a papelada em mãos. O juiz, felizmente, concordou em liberar a entrada dos medicamentos, mas deixou bem claro que isso só seria possível se houvesse alguém da confiança do preso pra supervisionar o tratamento durante as visitas. Assim que voltei ao morro, encontrei o China na boca, cercado por vapores atentos e desconfiados, mas que me deram passagem logo ao reconhecerem quem eu era. O China estava impaciente, batendo o pé no chão e de braços cruzados, esperando o meu retorno. Júlio: Consegui a autorização. Os medicamentos vão poder entrar, mas ele precisa de alguém lá com ele. Se ficar sozinho com esses machucados, não vai dar pra ele se cuidar. Precisa de alguém nos dias de visita pra ficar em cima. O China me olhou, a expressão dele mudou na hora. Estava claro que ele não esperava essa exigência. China: Tá dizendo que sem alguém lá pra cuidar dele o Dexter não vai sobreviver? Papo sério? Júlio: É isso mesmo. Aqueles carcereiros arrebentaram ele. Sozinho, só com remédio, ele não tem chance. Se pegar uma infecção ou qualquer outro problema, acabou. Ele vai precisar de alguém que tenha paciência e que esteja lá pra cuidar dos machucados. China: O Dexter sempre foi um cara frio, cheio de moral. Nunca pediu nada a ninguém, e agora vem me pedir uma ajuda dessas. Parece até mentira. Mas a verdade é que ele tá lá, largado, e não tem ninguém que vá por ele. Fiquei quieto, esperando ele refletir. Ele me conhecia o bastante pra saber que eu estava falando sério, e o silêncio que se seguiu parecia mais pesado do que qualquer outra conversa que tivéssemos tido. China começou a andar de um lado pro outro, inquieto. China: E se não tiver ninguém pra ir, ele tá na merda, né? Júlio: Tá, sim. Sem essa ajuda, ele não vai conseguir se recuperar. Ele mesmo pediu pra alguém de confiança. Precisa de alguém que não vá vacilar e que saiba o que tá fazendo. O China ficou em silêncio mais uma vez, e deu pra ver que ele estava processando a situação. O rosto dele se contorceu numa mistura de raiva e frustração. China: Isso é f**a… eu aqui, sem ter ninguém de confiança. Os caras todos têm problema com a justiça ou estão sendo vigiados. Qualquer um que eu mandar ali pode ferrar tudo… Júlio: E então? Tem alguma ideia? China balançou a cabeça, claramente irritado. Parecia que ele queria evitar essa situação a todo custo, mas não tinha muita escolha. Finalmente, como se tivesse chegado a uma conclusão, ele parou de andar e respirou fundo. China: Certo… então só tem uma escolha. Vou mandar a Mavie. Me surpreendi. A Mavie? Aquela garota que estava sempre amarrada na boca, devendo favores e dinheiro? A mesma que ele havia pego tentando fugir? China percebeu minha surpresa e explicou o raciocínio. China: Ela tá devendo até a alma pra mim. Não vai ter escolha. Se ela quer se manter viva, ela vai ter que assumir essa parada. A Mavie já fez muita besteira, e agora chegou a hora dela me pagar direito. Ela vai lá, faz o que tem que fazer e cuida dele. Sem vacilo. Júlio: Cê confia mesmo nela pra isso? China: Confiança, irmão? Ninguém aqui confia em ninguém. Mas a verdade é que a Mavie sabe o que tá em jogo. Se ela fizer essa pra mim, a dívida dela até dá uma suavizada. E ela sabe que eu tô em cima. Se der um passo em falso, ela sabe que eu faço questão de cobrar — e cobrar alto. Ele parecia determinado, mas ainda era visível a dúvida no rosto dele. A Mavie não era a pessoa mais confiável, mas também não tinha muitas opções. Sem alguém que pudesse cuidar do Dexter, o risco era enorme. China: (pensando em voz alta) Eu também sei que a Mavie não quer ver o Dexter morto. Eles têm uma história complicada, mas não acho que ela vai querer ver ele indo pro saco. E mesmo que quisesse, ela tá presa nisso até o pescoço. Vai fazer o que eu mandar e acabou. Júlio: Tá, mas lembra que a responsabilidade é grande. Não é só questão de aparecer e dar uma olhada. Precisa cuidar dos ferimentos, garantir que ele não pegue uma infecção e dar a medicação nos horários certos. China: Pode deixar. Eu vou ter uma conversinha com ela, e ela vai entender que, se não fizer o que é pra fazer, vai ter problema. E, se precisar, eu faço questão de ver ela pagar com juros. Assenti, vendo que ele estava decidido. No fundo, China sabia que tinha pouca escolha, mas parecia disposto a arriscar. Mesmo com as dúvidas sobre a lealdade da Mavie, ele não tinha outra opção. E a pressão que ele colocaria em cima dela era suficiente pra garantir que ela fizesse o que fosse necessário. Júlio: Vou deixar tudo pronto, então. Se você for rápido, a gente consegue que ela entre com a medicação na próxima visita. China: Beleza. Vou falar com ela hoje mesmo e dar as ordens. Quero ela dentro daquele presídio o quanto antes, e se vacilar, é ela quem vai ter que pagar. O China me deu um aceno de cabeça, encerrando o assunto. Sabia que, por mais difícil que fosse, essa era a única solução para salvar o Dexter.
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