Liz
Esta sozinha na beira de uma estrada, molhada, com o carro quebrado não é o que eu esperava no momento que sai da empresa do Bernard, mas já que meu dia já não tinha iniciado bom, com certeza também não terminaria.
Fico rondando o carro na vã tentativa de consegui tira-lo dali, mas ilusão de minha parte achar que conseguiria, minha única alternativa é esperar a chuva passar e caminhar até encontrar alguém que possa me ajudar.
Quando dou a volta pra entrar no carro novamente, vejo dois faróis de longe e um medo toma conta de mim, a estrada está escura e deserta, sou uma vítima fácil, nesse momento só tenho que rezar e pedir que quem quer que esteja no carro, seja uma pessoa boa.
O carro para e não demora muito um homem desce e vem ao meu encontro, institvamente eu me afasto, mas ele vem ao meu encontro e mesmo o medo tomando conta de mim tento confiar nele.
Ele olha meu carro e vê que não tem jeito, me oferece uma carona, no início eu fico relutante, mas não tenho outra opção, ou é ir e me arriscar ou ficar e correr um risco maior, então resolvo dar um voto de confiança a ele e aceitar a sua ajuda.
Pego minhas coisas e sigo com ele até seu carro, ele é um homem forte, bonito, muito tentador, esse não é o momento de ficar pensando nisso Liz, concentra-se em chegar pelo menos a um hotel e ter uma noite tranquila.
O ar dentro do carro fica quente, seu cheiro invade meu nariz e é dificil me concentrar em qualquer coisa que não ele, não posso pensar nisso, estou saindo de um relacionamento que só me trouxe tristeza e dor na minha vida, agora eu quero recomeçar e de preferência sozinha.
Seguimos nossa viagem no início em silêncio, até ele quebrar, conversamos um pouco e logo vejo as luzes da cidade mais próxima, mas ele não segue pra lá e sim entra em outra estrada o que me deixa apavorada, mas ele não volta e segue o caminho que iniciou e logo vejo um letreiro com o nome Vinícola Collins, me deixa um pouco mais aliviada, mas o fato de ficar só com ele não ajuda muito, já que não sei porque ele mexe com todos os meus sentidos.
Chegamos a casa e eu acabo saindo do carro na chuva mesmo, eu preciso ficar longe dele e não quero que ele veja o que o Bernard fez comigo, não estou preparada pra falar sobre isso com ninguém, menos ainda com um estranho que está mexendo muito comigo.
Fico na varanda e ele vem ao meu encontro, procuro não deixar ele ver meu rosto, no momento que vamos entrar me atrapalho com minha bolsa e acabo esbarrando nele, mais precisamente em sua virilha e ele solta um gemido abafado, entro logo e vou para o meio da ilha da cozinha com vergonha da minha falta de jeito.
Eu tento esconder o machucado em meu rosto, mas é em vão e ele vê. E mesmo sem minha permissão ele se aproxima e me puxa pra perto dele, seu toque faz meu corpo inteiro se arrepiar, meu coração bater mais rápido e mais forte e minha respiração se acelerar, quando me dou conta de tudo isso puxo minha mão.
_ Eu sabia que não devia ter vindo aqui com você.
Falo e me afasto pra o outro lado da sala, não preciso que ele veja como estou.
_ Jesus, Liz, aconteceu isso no carro?
_ Não foi meu melhor dia.
Consigo ser neutra e não falar nada, já estava com problemas demais, um casamento fodido que me rendeu um hematoma grande, feio em meu rosto, meu carro em um buraco... Escondida na casa de um estranho e tentando ignorar o fato de que ainda precisava descobrir como lidar com tudo isso.
_ Só quero lhe ajudar, nada mais que isso. Pode confiar.
Ele busca o gelo e me entrega, coloco em meu rosto e uma dor profunda me invade acabo gemendo, nesse momento ele se aproxima e pega a toalha com o gelo da minha mão.
_ Deixe-me ajudá-la.
Ele se aproxima e pega a toalha com o gelo da minha mão e coloca com cuidado e aquela dor some, seu cheiro invade minhas narinas e meu corpo todo arrepia, nunca me aconteceu isso, nunca fiquei assim perto de um homem, o Bernard nunca me fez ter sensações assim.
_ Você é bom nisso, meu olho ja está bem melhor,mas eu estou cansada, será que pode me mostrar o quarto.
Ele me olha e parece que vai falar alguma coisa, mas desiste e me mostra o corredor onde fica os quartos, me acompanha e vejo que ele me observa todo o caminho, sinto minha pele esquentar com o seu olhar, ele mexe demais com todos os meus sentidos, com todas as minhas terminações nervosas, chegamos ate o quarto e ele para.
_ Aqui está, pode ficar a vontade. Amanha cedo venho ver como está.
_ Obrigado por hoje, amanha vou pra Seattle.
_ Não precisa ter pressa, a casa vai está a sua disposição.
_ Não duvido, mas essa noite já é o suficiente.
Termino de falar e entro no quarto, mas não antes de nossos olhares se encontrarem e um arrepio tomar conta de todo meu corpo.
_ Boa noite Anthony.
_ Boa noite Liz.
Fecho a porta e volto a respirar, nem sabia que estava prendendo tanto a respiração, aliviada pego minha bolsa e vou até o banheiro, tiro minha roupa molhada e vejo uma bela banheira, penso duas vezes antes de entrar, mas essa pode ser a última vez que tomo banho de banheira, a partir de amanhã não sei como a vida vai ser, até eu consegui me livrar do Bernard, ter o divórcio e iniciar minha carreira, tudo vai ser difícil. Então me deixo aproveitar a banheira do bonitão que me deu carona, tiro minha roupa e me deixo aproveitar do momento.
******
Acordo me sentindo melhor, meu corpo descansando, fecho os olhos novamente e vejo que não passo de uma covarde deitada aqui nessa cama macia, quando deveria estar no telefone, chamando a polícia, apresentado uma queixa contra a agressão do meu marido. Devia ter feito isso ontem, mas eu estava tão assustada com a forma como o Bernard me atacou dessa vez que pensei apenas em ficar longe. Longe, muito longe dele.
Me arrasto da cama e tomo uma ducha rápida, sai tão depressa de casa e pra nao levantar nenhuma suspeita que não peguei quase nada, apenas dois jeans e duas camisetas, é o que eu tenho agora pra vestir, me troco e saio da suíte, fico imaginando se o bonitão vai está na cozinha, espero que não, apesar que tenho que agradecer e pedir que me leve pra Seattle, ainda tenho que ligar no reboque pra pegar meu carro e colocar na oficina, procurar um lugar pra morar e um trabalho.
Chego a cozinha e graças a Deus ele não está, mas meu coração sente um vazio não sei porque, uma decepção se formou dentro de mim, mas afastei e olhei em direção a ilha e vejo uma tigela de frutas recém-cortada junto com uma série de doces que meu estômago vazio agradeceu. Pego um croissant de chocolate e começo a comer, quando noto um bilhete dobrado ao lado da fruteira.
Liz,
Bom dia. Espero que tenha dormido bem. Por favor, quando terminar seu café venha se juntar a nós na minha casa.
Vejo você em breve, Anthony.
Rio com seu bilhete, será que esse homem existe mesmo, ele nem me conhece e é todo cheio de gentilezas, não posso ficar pensando nele, com certeza deve está ao lado da esposa e filhos nesse momento, o se juntar a nós deve ter esse o significado. Vou ao seu encontro determinada apenas a agradecer e seguir meus planos.
Saio e encontro um dia bonito lá fora, ando para a ampla varanda coberta, protegendo meus olhos com uma mão, estava me sentindo mais segura do que tinha há algum tempo, mas de repente me senti como se o problema pudesse vir de qualquer lugar, justamente quando menos esperava. Toda vez que pensava sobre o que tinha acontecido, me sentia tão estupidamente ingênua. Como tinha perdido os sinais de que Bernard estava me engLizdo a tempos, eu apenas tentei fingir que tudo estava normal, quando nada estava.
Respiro profundamente e luto para reprimir as emoções turbulentas, meus medos e minhas angústias. Finalmente, quando me senti mais firme, olho ao redor com um suspiro de surpresa depois da chuva de ontem, a vinha brilhava na luz do sol. As folhas das videiras eram verdes brilhantes, tão perfeitas que pareciam mais uma pintura.
Saio e vou aproveitando o som dos pássaros cantando e a paz que aquele lugar trazia, vou andando pelo caminho que dá a uma grande casa, o lugar era lindo, algo como nunca vi.
Vou caminhando e observado toda a paisagem ao meu redor, me distraio com um casal de pássaros cantando quando sou surpreendida com a voz que atormenta todos os meus sentidos desde ontem.
_ Bom dia Liz, espero que tenha dormido bem e que tenha gostado do café da manhã.
_ Bom dia Anthony. Dormi bem sim, sua casa de hóspedes é bem confortável e o café da manhã estava ótimo. Obrigado, mas não precisava se preocupar.
_ Claro que sim. Aliás, eu liguei pra o reboque e seu carro ja está na oficina de um amigo meu, ele me disse que em três dias ficará pronto.
_ Meu Deus! Três dias, eu preciso seguir viagem hoje. O carro foi pra Seattle?
_ Não, está aqui Woondinville.
_ Tem como me levar até lá, eu preciso de um local pra ficar até o meu carro ficar pronto e eu puder seguir minha viagem.
_ Fique aqui, minha casa de hóspedes está vazia e não será incômodo algum.
_ Não quero atrapalhar sua rotina Anthony. Muito obrigado, mas eu preciso mesmo ir.
_ Você não irá atrapalhar nada, será muito bem vinda aqui, fique até seu carro ficar pronto.
Aqueles olhos me olhando daquela maneira, sua voz grave e suave ao mesmo tempo estava me deixando completamente molhada, não sei o que estava acontecendo comigo, mas eu não deveria aceitar aquele pedido, seria perigoso demais pra minha sanidade, eu precisava me manter longe, estava saindo de um relacionamento e nao pretendia de maneira nenhuma entrar em outro, agora mais do que nunca eu precisava me reerguer e viver minha vida sem a sombra de um homem.
_ Obrigado pela oferta, mas.... - no momento que iria responder um homem vem ao nosso encontro desesperado.
_ Senhor Collins, me desculpe interromper, mas a Lizy não está bem, preciso leva-la ao médico.
_ Claro Taylor, pode pegar o carro e leva-la.
_ Desculpe interromper, mas eu sou médica posso ve-la?
_ Claro que sim.
_ Vou só buscar minha maleta. Ja volto.
Saio em seguida e vou buscar minha maleta, sempre mantive uma no meu carro para qualquer eventualidade. Ando rápido e vou até o quarto, pego a maleta e desço, já encontro o Anthony e o senhor que veio chamá-lo e seguimos pra grande casa, assim que chegamos já vem uma mulher ao nosso encontro.
_ Senhor Collins, minha pequena está muito m*l, temos que ir rápido, a febre aumentou muito e estou com medo.
_ Calma Gail. Deixa eu te apresentar, essa é a Elizabeth eu a ajudei ontem na estrada e ela é médica, vai olhar a Lizy, tudo bem.
_ Tudo.
_ Onde ela está?
_ Na nossa casa, venha que eu lhe mostro.
Sigo a senhora que está bem aflita e eu entendo, mesmo não sendo mãe, sei que não deve ser fácil se ver um filho doente, no caminho ela me adianta como a filha passou a noite, não demoramos muito a chegar e assim que entro vejo uma pequena deitada, cabelos loiros, branquinha,olhos verdes uma menina linda, deve ter uns seis, sete anos. Me aproximo e ela está bem quietinha na cama.
_ Oi meu amor, tudo bem. Você quer contar pra tia onde dói?
_ Oi tia, minha cabeça e quando eu vou tossir doi também.
_ A Tia vai te avaliar tá bom. Como você chama?
_ Lizy, quer dizer Eliza, mas eu gosto de Lizy.
_ Então Lisy, eu me chamo Elizabeth, mas gosto que me chame de Liz, eu também prefiro assim. Agora deixa a tia examinar.
Vou examinando-a e fazendo algumas perguntas e ela vai me respondendo, faço todas as avaliações e enfim tenho o diagnóstico, os sintomas são bem evidentes.
_ Bom essa pequena está com uma pneumonia viral é quase sempre menos grave, podendo ser tratada em casa com cuidados básicos, como descansar, tomar expectorantes e remédios para febre, é muito importante manter todas as indicações, utilizando todos os remédios que eu vou receitar.
_Mas ela não vai precisar ficar internada doutora?
_ Eu acredito que não, pelo exame físico o caso não é pra internação, só se ela realmente piorar muito, se a febre e a tosse não cessar com a medicação.
_ E o que temos que fazer pra ela ficar boa logo.
_ Nesse momento, ela vai ficar em casa nos primeiros 3 a 5 dias, tomar os medicamentos nos horários e doses corretas, beber cerca de 2 litros de água por dia, para evitar desidratação, vestir roupa adequada pra evitar mudanças bruscas na temperatura. O tratamento pode demorar até 21 dias e durante esse período é aconselhado ir ao hospital apenas se os sintomas piorarem ou se não melhorarem após 5 a 7 dias, principalmente a febre e o cansaço. A tosse, em geral é seca ou com pouca secreção, costuma persistir por mais alguns dias, mas com o uso das medicações ou nebulizações tende a melhorar rapidamente. Podem ficar tranquilos que ela vai ficar bem logo.
_ Obrigado doutora, estava tão preocupada, ela tossiu a noite inteira e a febre nao abaixava.
_ Eu vou fazer a receita dos remédios, é só comprar e logo essa pequena vai está correndo, né Lisy.
_ Sim tia. Obrigado.
_ Por nada meu amor, você só tem que tomar os remédios e fazer o repouso está bem?
_ Tá tia, a senhora vai ficar aqui?
_ Ainda não sei meu amor.
Dou um beijinho nela e me levanto, pego meu bloco de receita, prescreve e entrego a mãe dela e saio. O Anthony me acompanha.
_ Obrigado por atender a pequena.
_ Não precisa agradecer, só fiz o meu trabalho.
_ Você poderia repensar em ficar aqui, assim acompanharia a Elizabeth esses dias.
_ Não sei, eu preciso organizar a minha vida.
_ Você tem que trabalhar, é isso?
_ É meio complicado, mas eu preciso mesmo ir.
_ Espere pelo menos seu carro ficar pronto, aí você vai mais tranquila, a casa ainda está disponível.
_ Vou pensar, tudo bem.
_ Claro. Como está seu rosto?
_ Não dói mais, apenas a aparência que não está boa.
_ Mas vai ficar.
Ele fala e me encara, seu olhar parece que vê até minha alma, fico totalmente desconcertada com essas sensações que está surgindo dentro de mim, fomos caminhando até a casa de hóspedes, nesse percurso a tensão entre nós dois foi forte, assim que chegamos vamos entrar e acabo tropeçando no pequeno degrau da escada de entrada, antes de cair de cara no chão sinto fortes braços me segurar e nossos corpos se aproximar, uma corrente elétrica percorre todo meu corpo, parece que saio do chão e volto novamente, seus olhos me encara, sua boca próxima a minha e o momento seguinte, sinto apenas seus lábios aos meus e meu corpo traiçoeiro não se exime dessa aproximação, apenas deixa que ele tome meus labios com os seus e me beija de uma forma que jamais fui beijada, me perco nessa sensação e me entrego a esse momento, sem pensar, sem refletir nas consequências futuras, apenas me deixo levar e sentir seu gosto, seu cheiro e a paz e a tranquilidade que ele me oferece.