Capítulo 21

1389 Words
Clara Oliveira 12 de novembro de 2023 | São Paulo, Brasil A sensação de alívio por ter resolvido o problema com Laura durou apenas algumas horas. Embora ela tivesse recuado, deixando claro que não tentaria nos expor, suas palavras ainda ecoavam na minha mente. "As coisas têm um jeito de voltar, Clara." Por mais que quiséssemos acreditar que aquele capítulo estava encerrado, eu sabia que Laura era o tipo de pessoa que não aceitava perder. Eu passei o dia inteiro com um peso no peito, tentando ignorar a voz interior que me dizia que algo ainda estava por vir. Mas, ao mesmo tempo, eu sabia que não podia viver assim, sempre esperando pelo próximo desastre. Precisava encontrar uma maneira de seguir em frente, de reconstruir o que restava da minha vida. Leonardo estava me dando espaço. Ele sabia que eu precisava de um tempo para processar tudo, e, mesmo sem que precisássemos falar muito sobre isso, ele me dava o apoio silencioso que eu tanto precisava. Era como se ele entendesse que, por mais que tivéssemos vencido essa batalha, o impacto de tudo o que aconteceu ainda estava presente. Passei o dia no meu apartamento, organizando minhas coisas, tentando me distrair com qualquer tarefa mundana que pudesse tirar minha mente da realidade. Mas, no fundo, eu sabia que não podia fugir para sempre. À noite, quando finalmente me deitei na cama, minha mente voltou a Pedro. Desde nossa última conversa, ele não havia me procurado mais. A dor em seus olhos, a forma como ele disse que não poderia me perdoar... Eu sabia que era verdade. Pedro estava decidido a seguir em frente sem mim, e essa era a decisão certa. Mas, por mais que soubesse disso, a culpa ainda me sufocava. Fechei os olhos, tentando afastar esses pensamentos, mas o sono simplesmente não vinha. Tudo o que eu queria era apagar o passado e começar de novo, mas sabia que isso era impossível. As escolhas que fizemos estavam gravadas em nossa história, e agora precisávamos encontrar uma maneira de lidar com elas. Eu estava prestes a desistir de tentar dormir quando meu celular vibrou na mesinha de cabeceira. Olhei para a tela, surpresa ao ver uma mensagem de Teresa, a esposa de Leonardo. Teresa Martins: "Clara, preciso falar com você. Pode me encontrar amanhã de manhã?" Meus dedos hesitaram sobre a tela. Eu sabia que, eventualmente, essa conversa aconteceria. Mas, agora que Teresa havia decidido que era a hora, meu coração se encheu de medo. O que ela queria me dizer? Estaria me procurando para acertar as contas, ou havia algo mais por trás desse pedido? Tentei me manter calma enquanto respondia. Clara Oliveira: "Sim, claro. Onde e que horas?" A resposta dela veio quase que instantaneamente. Teresa Martins: "Café Rosa, às 9h." Suspirei profundamente. Teresa estava sendo direta e objetiva. Não havia espaço para ambiguidades. Ela queria falar, e eu sabia que precisaria enfrentar essa conversa de cabeça erguida, mesmo que o medo estivesse corroendo meu interior. No dia seguinte, cheguei ao Café Rosa com a mesma sensação de apreensão que havia sentido ao encontrar Pedro dias atrás. Não sabia o que esperar de Teresa. Ela era uma mulher forte, de presença marcante, e eu sabia que, para ela, o que aconteceu entre mim e Leonardo era mais do que uma simples traição. Era uma quebra completa da confiança que eles haviam construído durante anos de casamento. Ela já estava lá quando cheguei. Sentada à mesa no canto do café, com uma xícara de chá à sua frente, Teresa parecia serena, como se estivesse completamente no controle da situação. Mas, ao me aproximar, vi a tensão em seu rosto, a linha fina de seus lábios apertados. — Clara — disse ela, sua voz neutra, sem emoções aparentes. — Sente-se. Eu obedeci, sentindo o peso de sua presença. — Obrigada por vir — ela começou, sem rodeios, seus olhos fixos nos meus. — Eu sei que isso não será fácil para nenhuma de nós, mas precisamos ter essa conversa. Assenti, incapaz de dizer qualquer coisa no momento. A ansiedade apertava minha garganta, e eu sabia que o que estava por vir não seria nada fácil. — Quero ser clara com você, Clara — continuou Teresa, mantendo o olhar firme. — Eu não estou aqui para gritar, para acusar ou para fazer você se sentir pior do que provavelmente já se sente. Eu só preciso de algumas respostas. Ela fez uma pausa, e eu senti meu coração acelerar. — Por quê? — ela perguntou, finalmente. — Por que você fez isso? Como isso aconteceu? Era a pergunta que eu mais temia. Não havia uma resposta simples. Como eu poderia explicar algo que, até para mim, parecia inexplicável? — Teresa... eu... — comecei, mas as palavras sumiram. Não sabia como começar. — Eu confiei em você, Clara — disse ela, sua voz ainda firme, mas agora com um toque de tristeza. — Confiei que você era uma pessoa boa, que jamais faria algo assim. Mas então, de repente, descubro que você estava com o meu marido pelas minhas costas. Como isso aconteceu? Eu senti as lágrimas começarem a se formar, mas sabia que chorar não resolveria nada. Teresa merecia uma resposta. Uma verdadeira. — Eu nunca quis que isso acontecesse — comecei, minha voz baixa e hesitante. — Eu sei que parece absurdo, mas... eu e Leonardo... não foi algo que planejamos. Simplesmente... aconteceu. Teresa permaneceu em silêncio, me observando atentamente. — E quando você percebeu o que estava acontecendo? — perguntou ela. — Em que momento você decidiu continuar, mesmo sabendo o quanto isso me magoaria? Mesmo sabendo o que estava em jogo? Eu baixei os olhos, a culpa queimando dentro de mim. — Não foi uma decisão consciente... — respondi, a voz falhando. — Eu tentei lutar contra o que estava sentindo, mas, Teresa, eu me apaixonei por ele. E eu sei que isso não justifica nada. Sei que o que fizemos foi errado. Mas eu o amo. E, de alguma forma, tudo saiu do nosso controle. As palavras saíam entrecortadas, cada uma mais difícil que a anterior. O silêncio de Teresa era pesado, e eu sabia que ela estava absorvendo tudo o que eu dizia. — Amar alguém não justifica destruir outras pessoas — ela disse, sua voz fria, mas controlada. — E, por mais que eu queira acreditar que você está arrependida, isso não muda o que aconteceu. — Ela respirou fundo, antes de continuar. — Eu vou deixar Leonardo. Não tenho mais espaço na minha vida para isso. Senti meu coração apertar ao ouvir aquelas palavras. O casamento deles estava acabado. E, por mais que soubesse que Teresa tinha todo o direito de tomar essa decisão, a realidade daquilo era devastadora. — Teresa, eu... eu sinto muito. Sinto de verdade. — As lágrimas finalmente escaparam, e eu as enxuguei rapidamente. — Eu sei que isso não conserta nada, mas, se eu pudesse voltar atrás, teria feito tudo de forma diferente. Teresa me olhou por um longo momento, e então suspirou, como se estivesse processando tudo o que havia dito. — Clara, o que está feito, está feito. — Ela disse, a voz firme, mas com uma certa tristeza. — Eu só espero que, um dia, você entenda o que é perder tudo por uma escolha que você não pode desfazer. Porque é isso que eu sinto agora. Eu perdi tudo. Ela se levantou, pegando a bolsa com um movimento elegante. — Desejo sorte a você e Leonardo — disse ela, com uma calma surpreendente. — Mas eu espero que, algum dia, você perceba o preço de tudo isso. Ela me lançou um último olhar antes de sair do café, me deixando sozinha, com as palavras dela ecoando na minha mente. O preço. Eu sabia que estava pagando esse preço todos os dias. Mas as consequências de nossas escolhas eram como ondas, se espalhando cada vez mais. Fiquei ali, sozinha com meus pensamentos, sentindo o peso do que havia acabado de acontecer. O casamento de Leonardo estava oficialmente terminado, e, de alguma forma, aquela conversa com Teresa parecia o início de um novo capítulo. Mas, por mais que eu quisesse acreditar que isso significava que agora eu e Leonardo poderíamos seguir em frente, o vazio deixado por tudo o que destruímos era impossível de ignorar.
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