Capítulo 01

869 Words
Clara Oliveira 15 de outubro de 2023 | São Paulo, Brasil Se alguém tivesse me contado que conhecer os pais do namorado poderia ser tão estressante, eu teria cancelado meu encontro com Pedro no instante em que ele mencionou "jantar de família". Mas lá estava eu, olhando meu reflexo no espelho, tentando acalmar os nervos enquanto passava o batom cor de pêssego que Pedro tanto gostava. Claro, ele dizia que eu era linda de qualquer jeito, mas sabe como é, primeiras impressões importam. Hoje, tudo tinha que estar perfeito. Pedro era o tipo de namorado que qualquer garota sonha: carinhoso, atencioso e completamente apaixonado. Só que conhecer os pais dele, especialmente o pai, deixava meu estômago em um nó. — Ele é meio sério, mas nada de mais, — Pedro me tranquilizou dias antes. — Você vai adorar meu pai. — Só que, por algum motivo, eu não conseguia parar de pensar em como essa noite seria importante. Com o cabelo preso em um coque meio bagunçado (porque, segundo as revistas, isso me dava um ar casualmente chique), eu estava pronta para o que quer que viesse pela frente. Bem, ou quase. A casa de Pedro ficava em um dos bairros mais sofisticados de São Paulo, e eu não pude deixar de sentir um leve frio na barriga enquanto ele estacionava o carro na entrada da mansão. "Uau, essa casa é enorme," comentei, tentando disfarçar meu nervosismo. Ele apenas sorriu, aquele sorriso tranquilo que sempre me acalmava, mas que hoje parecia ineficaz. — Meus pais são simples, você vai ver, — ele disse, me oferecendo a mão. Apertei-a com força, como se aquilo pudesse me dar a coragem que eu precisava. Ao entrar, fui recebida pelo aroma de comida caseira. A mãe de Pedro, Teresa, apareceu primeiro, um sorriso caloroso no rosto. Ela me abraçou como se já nos conhecêssemos há anos, o que ajudou a aliviar um pouco da tensão. — Finalmente vou conhecer a famosa Clara, — ela brincou, puxando-me para a sala. — Pedro fala tanto de você. Eu sorri, agradecida pela recepção calorosa, mas não pude evitar que meus olhos vagassem pela sala à procura de alguém que, até aquele momento, eu só conhecia de histórias. E então, lá estava ele. Leonardo Martins era tudo o que eu não esperava. Alto, cabelos grisalhos bem cortados, um rosto sério e elegante, daqueles que exalam autoridade sem precisar dizer uma palavra. Quando nossos olhares se encontraram, senti meu coração acelerar de um jeito estranho, como se um aviso silencioso tivesse sido disparado. Ele era bonito, muito mais do que eu imaginava. Ele caminhou até mim com passos firmes, estendeu a mão e, quando a segurei, senti um arrepio percorrer minha espinha. — Clara, certo? É um prazer finalmente conhecê-la. — Sua voz era grave, controlada, e eu tive que lembrar a mim mesma de respirar. — Prazer é meu, senhor Martins, — respondi, tentando manter a compostura, mesmo que por dentro eu estivesse uma bagunça. O jantar começou de forma tranquila. Teresa falava animadamente sobre suas viagens recentes, Pedro fazia comentários engraçados, e eu tentava acompanhar, mas era impossível não notar a presença de Leonardo. Cada vez que ele falava, todos os meus sentidos pareciam se intensificar. E a cada olhar que eu trocava com ele, uma parte de mim queria desvendar o que se escondia por trás daquela máscara de seriedade. Enquanto Teresa e Pedro discutiam algum plano para o próximo fim de semana, percebi que Leonardo estava me observando de canto de olho. Quando nossos olhares se cruzaram novamente, foi como se o tempo parasse por um segundo. Meu coração disparou, e eu senti um calor estranho no rosto. Não podia ser verdade. Eu estava imaginando coisas. Ele era o pai do meu namorado, pelo amor de Deus. Depois do jantar, Pedro sugeriu que fôssemos até o jardim, um espaço amplo e lindamente decorado. A noite estava fresca, e eu agradeci por um momento de ar puro, longe da intensidade daquele jantar. — Você está bem? — Pedro perguntou, preocupado, quando estávamos a sós. — Sim, só um pouco nervosa, — admiti, tentando sorrir. — Não precisa ficar assim, — ele disse, me puxando para um abraço. — Meus pais adoraram você. Principalmente meu pai, ele nem costuma falar tanto com pessoas novas. Ri nervosamente. — Sério? Ele pareceu bem... sério. — É o jeito dele, mas você vai se acostumar, — Pedro respondeu, sem perceber a confusão que se passava na minha cabeça. Terminamos a noite com um breve passeio pelo jardim, mas meu pensamento estava preso em cada detalhe daquele jantar. Em cada palavra dita por Leonardo, em cada olhar que trocamos. Ao voltar para casa, m*l consegui dormir. A imagem de Leonardo continuava a invadir minha mente. O jeito que ele me olhou, a forma como ele parecia me analisar... Era impossível ignorar a atração inexplicável que sentia por ele, mesmo que minha razão gritasse que isso era completamente errado. E ali, deitada na minha cama, percebi que aquele jantar tinha sido apenas o começo de algo que eu ainda não sabia como controlar. O que seria de mim se esses sentimentos continuassem a crescer? E, pior, como esconder isso de Pedro?
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