Capítulo 42

1317 Words
Clara Oliveira 12 de dezembro de 2023 | São Paulo, Brasil As horas que se seguiram ao confronto com Pedro foram uma mistura de alívio e exaustão. Ele finalmente havia sido levado. A ameaça direta havia passado, mas, de alguma forma, o peso de tudo o que havia acontecido ainda pairava sobre nós. Leonardo estava ao meu lado, sempre firme e protetor, mas eu sabia que o impacto do que passamos estava começando a aparecer. As marcas da luta ainda estavam visíveis em seu rosto — pequenos cortes e hematomas que lembravam o quão perto estivemos de algo muito pior. E, enquanto o corpo dele exibia os sinais físicos do confronto, meu coração estava pesado com as cicatrizes invisíveis da batalha emocional que enfrentamos nos últimos meses. Os policiais haviam ido embora, e agora a casa estava silenciosa, exceto pelo som da nossa respiração ainda ofegante. O lugar que parecia um refúgio seguro se transformou em um campo de batalha. Os móveis estavam derrubados, os vidros quebrados... tudo era um lembrete do caos que Pedro trouxe com ele. — Você está bem? — perguntou Leonardo, quebrando o silêncio, sua voz baixa e carregada de preocupação. Eu olhei para ele, sentindo uma mistura de alívio e cansaço. — Acho que sim — respondi, minha voz saindo mais fraca do que eu gostaria. — Só... me sinto meio em choque. É estranho, não sei explicar. Parece que o perigo passou, mas... ainda sinto que algo está errado. Leonardo assentiu, como se entendesse exatamente o que eu estava sentindo. — Eu sei. Também sinto isso — disse ele, se aproximando e me abraçando. — Pedro foi levado, mas o que ele fez com a gente... isso não desaparece de uma hora para outra. Eu me aninhei contra ele, sentindo o calor de seus braços me confortar. Nós sobrevivemos. E, naquele momento, era isso que importava. Nas semanas seguintes, tentamos voltar a uma rotina normal, mas a verdade era que nada parecia normal. Por mais que eu tentasse me concentrar em coisas simples, como os estudos ou até mesmo passar um tempo com Luísa, havia sempre uma sombra à espreita — uma sensação de que, mesmo com Pedro sob custódia, o trauma que ele causou ainda estava presente. Eu ainda sentia os olhares dele, mesmo quando ele não estava lá. — Você está melhor? — perguntou Luísa, em um dos dias em que decidimos nos encontrar para tomar um café. Eu sabia que ela estava tentando ser forte por mim, mas havia preocupação em seus olhos. — Acho que sim — respondi, mexendo na xícara de café à minha frente. — Pedro está preso, então... teoricamente, o pior já passou. Mas, sabe quando você ainda sente que algo está errado? Que, mesmo sem a ameaça física, tem algo te perturbando? Luísa assentiu, seu rosto suavizando um pouco. — Faz sentido. O que ele fez com você... não é algo que vai desaparecer de uma hora para outra. E eu imagino que, mesmo com ele preso, ainda é difícil se sentir completamente em paz. Ela estava certa. Pedro estava preso, mas o impacto emocional de tudo o que ele fez ainda reverberava em mim. Eu tinha pesadelos constantes, e, em alguns dias, era difícil até mesmo sair da cama. O medo de que ele ainda estivesse de alguma forma me controlando, mesmo à distância, era paralisante. — Eu só quero que isso acabe — confessei, minha voz quase um sussurro. — Quero sentir que minha vida voltou ao normal. Mas não sei como fazer isso acontecer. Luísa colocou a mão sobre a minha, oferecendo um sorriso reconfortante. — Vai acontecer. Com o tempo, as coisas vão melhorar. E você tem o Leonardo ao seu lado. Ele te ama, Clara, e juntos vocês vão superar isso. Eu sabia que ela estava certa, mas a verdade era que eu também estava com medo de perder Leonardo. Passamos por tanta coisa juntos, e, por mais que o amor entre nós fosse forte, uma parte de mim temia que o trauma de tudo o que aconteceu pudesse criar uma distância entre nós. Mais tarde, quando voltei para o apartamento, Leonardo estava na sala, revisando alguns papéis da empresa. Ele parecia concentrado, mas, assim que me viu, sorriu. — Como foi com a Luísa? — perguntou ele, colocando os papéis de lado e vindo em minha direção. — Foi bom. Ela me fez perceber algumas coisas... como o fato de que talvez eu esteja carregando mais esse peso emocional do que deveria — confessei, sentindo a necessidade de abrir meu coração para ele. Leonardo me observou por um momento, seu rosto suavizando. — É normal, Clara. O que passamos não foi fácil, e eu sei que, mesmo com Pedro preso, ainda é difícil se sentir segura. Mas eu estou aqui, e vamos superar isso juntos. Eu assenti, mas havia algo que estava me incomodando há dias. Um medo que eu não sabia como expressar. — Leonardo... você acha que tudo isso mudou a gente? — perguntei, finalmente, minha voz saindo baixa. — Quero dizer... nós passamos por tanta coisa. Você acha que isso pode ter nos afetado de uma maneira que talvez... nos afaste? Ele franziu o cenho, surpreso pela pergunta, e depois suspirou, se aproximando ainda mais. — Clara, tudo o que aconteceu nos afetou, sim. Mas não acho que isso vai nos afastar. Se tem uma coisa que ficou clara pra mim é que o que temos é forte. — Ele segurou meu rosto entre as mãos, seus olhos fixos nos meus. — Nós sobrevivemos a isso. E, se conseguimos superar tudo o que aconteceu, nada vai nos separar. Eu senti uma lágrima escorrer pelo meu rosto, mas era de alívio. Eu precisava ouvir aquilo. Precisava saber que, apesar de todo o caos, nosso amor era mais forte do que qualquer coisa. — Eu te amo — sussurrei, sentindo uma onda de emoção me tomar. — Eu também te amo, Clara. E sempre vou estar aqui, não importa o que aconteça. Nos beijamos ali, naquele momento, sentindo que, apesar de tudo, a tempestade havia passado — pelo menos por enquanto. As semanas seguintes trouxeram uma leve sensação de normalidade de volta às nossas vidas. Pedro estava longe, e com o tempo, a sombra de sua presença parecia desaparecer lentamente. A casa no interior, que antes era um refúgio temporário, agora começava a se sentir como um lar de verdade. No entanto, as cicatrizes emocionais ainda estavam lá. Eu ainda tinha pesadelos, ainda acordava no meio da noite, assustada, imaginando que Pedro estava ali, me observando. Leonardo sempre me segurava firme nesses momentos, garantindo que eu estava segura, mas sabia que levaria tempo até que as marcas internas começassem a cicatrizar de verdade. Mas havia algo mais que me preocupava — uma sensação incômoda de que não era o fim. Certa manhã, quando as coisas pareciam estar mais calmas, recebi uma ligação inesperada. Era o detetive que havia trabalhado no nosso caso. — Clara, preciso falar com você e com Leonardo. Algo surgiu — disse ele, a voz séria, o que imediatamente fez meu coração disparar. — O que aconteceu? — perguntei, tentando manter a calma. — Recebemos uma denúncia de que Pedro está envolvido com algo mais sério do que imaginávamos. Há uma rede por trás dele que ainda está operando, e agora temos evidências de que ele ainda está ativo, mesmo de dentro da prisão. Minha respiração parou. Pedro ainda estava tentando nos alcançar, mesmo estando preso. — O que isso significa? — perguntei, a voz fraca. — Significa que a ameaça ainda não acabou — respondeu o detetive, sem rodeios. — Precisamos nos encontrar pessoalmente. Desliguei o telefone, sentindo o pânico se acumular dentro de mim novamente. Pedro não havia desistido. Mesmo preso, ele ainda estava nos perseguindo, e agora, eu sabia que essa história estava longe de terminar.
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