Capítulo 41

1247 Words
Clara Oliveira 7 de dezembro de 2023 | São Paulo, Brasil O som do vidro estilhaçando ainda ecoava na minha mente enquanto eu encarava Pedro, que estava parado na frente da janela quebrada. Seus olhos estavam fixos em mim, o olhar cheio de raiva e algo mais sombrio — obsessão. Pedro havia finalmente nos encontrado, e, naquele momento, eu sabia que não havia mais volta. — Pedro, para com isso! — gritou Leonardo, se colocando entre nós, o corpo tenso, pronto para qualquer coisa. — A polícia está a caminho. Você não pode continuar com isso. Mas Pedro soltou uma risada amarga, os olhos ainda focados em mim, como se Leonardo não estivesse ali. — A polícia? — ele zombou, balançando a cabeça. — Eles não me importam, Leonardo. Isso não tem nada a ver com você. Isso é entre mim e Clara. O medo tomou conta de mim. Pedro não estava mais pensando racionalmente. Eu podia ver que ele havia ultrapassado todos os limites. Aquela era uma versão dele que eu não reconhecia — o homem que antes eu conhecia como meu namorado havia desaparecido, substituído por alguém completamente imprevisível. — Pedro, por favor, para com isso. — Minha voz saiu trêmula, e dei um passo para trás, tentando manter a calma. — Isso não vai acabar bem para ninguém. Eu já te disse, não podemos voltar atrás. Mas Pedro não estava ouvindo. Seus olhos estavam escuros, fixos em mim com uma intensidade perturbadora. — Não volta atrás? — ele repetiu, a voz baixa, quase como um sussurro. — Clara, você não entende. Eu fiz tudo por você. Eu que devia estar ao seu lado, não ele — Pedro apontou para Leonardo, o rosto agora contorcido de raiva. — Ele te roubou de mim, e você deixou isso acontecer. Eu queria gritar, queria correr, mas meu corpo estava paralisado pelo medo. Pedro estava à beira de explodir, e, naquele momento, percebi que qualquer coisa poderia desencadear uma reação violenta. — Eu te amei, Clara — continuou Pedro, sua voz agora tremendo com uma mistura de dor e fúria. — Eu te dei tudo, e você me deixou por ele. E agora você acha que pode fugir disso? Não. Eu vou consertar tudo. Leonardo deu um passo à frente, com as mãos erguidas, tentando controlar a situação. — Pedro, escuta. Isso não vai terminar como você acha. Deixa Clara fora disso. Se quer brigar com alguém, briga comigo — disse ele, a voz firme. Mas Pedro apenas riu de novo, agora mais alto, sua risada ecoando pela sala. — Você acha que é isso, Leonardo? Você acha que sou um garoto com ciúmes? Não. Isso é muito mais do que você pode entender. Eu vou tirar você do caminho. Clara é minha, e sempre foi. O pânico tomou conta de mim. Pedro estava à beira de um colapso total. Não havia mais razão em suas palavras, apenas um desejo sombrio de controle e vingança. — A polícia já está a caminho — repetiu Leonardo, agora em tom mais urgente, tentando ganhar tempo. — Eles vão chegar a qualquer momento. Desiste, Pedro. Pedro deu um passo à frente, ignorando completamente as palavras de Leonardo. Ele estava vindo em nossa direção. — Eles não vão chegar a tempo — disse ele, sua voz agora fria e controlada. — Quando eles chegarem, tudo já estará resolvido. Antes que eu pudesse processar o que ele quis dizer, Pedro tirou uma faca do casaco. O brilho do metal me fez ofegar, e senti meu corpo paralisar completamente. Ele não estava brincando. — Pedro, não! — gritei, o pânico tomando conta de mim. Leonardo imediatamente se posicionou entre nós, estendendo os braços para bloquear o caminho. Mas Pedro estava decidido, seus olhos ardendo com uma intensidade que eu nunca tinha visto antes. — Isso é entre mim e você, Clara — ele disse, ignorando Leonardo completamente. — Ele não tem nada a ver com isso. Sai da frente, Leonardo. Mas Leonardo não saiu. — Pedro, abaixa essa faca agora — disse Leonardo, a voz firme, sem vacilar. — Se você não fizer isso, eu vou te derrubar. A tensão na sala era palpável, e eu sabia que estávamos a segundos de algo horrível acontecer. Pedro estava tão obcecado, tão cego pela raiva e pela dor, que ele não via mais lógica. Ele só queria acabar com aquilo de uma vez por todas, mesmo que isso significasse nos destruir. Antes que Pedro pudesse dar outro passo, Leonardo agiu. Com um movimento rápido, ele avançou, agarrando o braço de Pedro antes que ele pudesse levantar a faca. Os dois começaram a lutar. Eu gritei, sem saber o que fazer, enquanto os dois se envolviam em uma briga violenta. A faca caiu no chão com um som alto, mas Pedro continuava lutando, tentando se soltar de Leonardo. Eles estavam caindo sobre os móveis, derrubando tudo ao redor, enquanto eu assistia, incapaz de fazer qualquer coisa. O som da respiração pesada e do impacto de seus corpos contra os móveis preenchia o ar. — Clara, corre! — gritou Leonardo, enquanto continuava lutando para manter Pedro controlado. Eu hesitei por um momento, mas o pânico finalmente me fez reagir. Eu corri para o telefone, ligando desesperadamente para a polícia, enquanto a luta continuava atrás de mim. Minha voz tremia enquanto eu falava, mas consegui dar as informações rapidamente. — Eles estão a caminho! — gritei, me virando para ver o que estava acontecendo. Pedro conseguiu se soltar por um segundo, empurrando Leonardo com força. Ele pegou a faca novamente, levantando-a com uma expressão selvagem nos olhos. — Não! — gritei, sem pensar. Mas antes que Pedro pudesse atacar, Leonardo o derrubou com um golpe forte no estômago, fazendo-o cair com força no chão. A faca escorregou de suas mãos, e Pedro ficou ali, imóvel, ofegante e derrotado. A porta da casa foi aberta com força no mesmo momento, e policiais entraram correndo, armas em punho. — Abaixem as armas! — gritou um dos policiais, enquanto cercavam Pedro, agora completamente rendido no chão. Leonardo se afastou, ofegante e com o rosto marcado pelo esforço da luta. Ele olhou para mim, e eu corri até ele, abraçando-o com todas as minhas forças. — Está tudo bem — disse ele, a voz ainda pesada pela adrenalina. — Acabou, Clara. Eu queria acreditar nisso, queria acreditar que o pesadelo finalmente tinha acabado. Pedro estava sendo levado pelos policiais, ainda com um olhar vazio e fixo em mim. Ele não lutou contra eles, mas eu sabia que, dentro de sua mente, ele ainda não havia desistido completamente. — Isso não acabou, Clara. — Pedro disse, enquanto era levado pela polícia. — Você vai entender, um dia. Eu senti um calafrio correr pela minha espinha. Mesmo sendo levado, Pedro não desistia. Ele ainda estava lá, obcecado, e eu sabia que levaria muito tempo até que essa sombra desaparecesse completamente. Mas, por enquanto, o perigo imediato havia passado. Pedro estava sob custódia, e nós estávamos seguros. Olhei para Leonardo, sentindo o alívio me tomar aos poucos, e me aninhei em seus braços, enquanto os policiais nos deixavam sozinhos na sala. Tudo ao nosso redor estava um caos — os móveis derrubados, o vidro quebrado —, mas estávamos vivos. — Vamos superar isso — sussurrei, sentindo meu coração finalmente desacelerar. — Juntos. Leonardo me segurou firme, e, naquele momento, eu sabia que, apesar de tudo, o pior havia passado.
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