Capítulo 47

1310 Words
Capítulo 47 Clara Oliveira 23 de dezembro de 2023 | São Paulo, Brasil O silêncio no quarto do hotel seguro era quase sufocante. Mesmo com Pedro capturado, a sensação de que ele ainda estava ali, em algum lugar, me observando, não desaparecia. Ele estava preso, mas a sombra de sua presença ainda pairava sobre mim. Leonardo estava ao meu lado, sentado na beira da cama, passando os dedos pelo cabelo. Ele parecia exausto — nós dois estávamos. O último confronto com Pedro havia drenado nossas forças de uma maneira que eu nem sabia ser possível. E, mesmo sabendo que ele estava finalmente atrás das grades, eu não conseguia me sentir completamente aliviada. — Isso acabou — disse Leonardo, quebrando o silêncio, mas sua voz não carregava a certeza de sempre. Era como se ele também soubesse que, de alguma forma, o impacto do que passamos continuaria nos assombrando. — Será que acabou mesmo? — perguntei, minha voz baixa. Por mais que eu quisesse acreditar nisso, a sensação de que Pedro ainda tinha poder sobre nós era inegável. Não importa onde ele estivesse fisicamente, o trauma que ele causou estava impregnado em nossas vidas. Leonardo suspirou e olhou para mim, os olhos cheios de preocupação. — Clara, ele está preso. Ele não pode mais nos machucar. — Ele tentou sorrir, mas eu podia ver que ele também estava lutando para acreditar nisso. Eu sabia que ele estava tentando me tranquilizar, mas o medo ainda estava lá, grudado em mim como uma segunda pele. — Ele disse que voltaria, Leonardo. E ele voltou. Ele sempre dá um jeito. E mesmo agora, preso, sinto que ele ainda está aqui — confessei, sentindo as lágrimas começarem a se acumular. A obsessão de Pedro havia deixado marcas profundas. Leonardo me puxou para perto, abraçando-me com força. Sua presença sempre foi meu alicerce, mas até ele estava sendo afetado pelo peso de tudo o que passamos. — Nós vamos superar isso, Clara — sussurrou ele, com a voz firme. — Eu estou aqui, e não vou deixar que ele te machuque mais. Nem física, nem emocionalmente. Eu me aninhei contra ele, sentindo seu calor, tentando encontrar conforto na ideia de que estávamos juntos. Mas, por dentro, sabia que o caminho para a verdadeira liberdade ainda seria longo. Pedro pode estar preso, mas ele deixou um legado de medo e dor. Nos dias seguintes, a polícia reforçou a vigilância ao redor do hotel onde estávamos. O detetive responsável pelo nosso caso nos garantiu que Pedro estava sob forte custódia e que não havia como ele fugir dessa vez. O alívio que senti ao ouvir isso foi momentâneo, mas real. No entanto, mesmo com essas garantias, a sensação de que algo ainda estava errado continuava a me perseguir. Os pesadelos eram constantes. Toda noite, eu sonhava com Pedro me perseguindo. Cada vez que eu fechava os olhos, via seu rosto, seu olhar cheio de ódio, sua voz sussurrando ameaças. Acordava no meio da noite, suando e ofegante, e Leonardo sempre estava lá, segurando minha mão, me trazendo de volta à realidade. — Ele não está aqui, Clara — Leonardo dizia, tentando me acalmar. — Ele não pode te alcançar. Mas, de alguma forma, Pedro havia me alcançado. Ele havia entrado na minha mente, na minha vida, de uma forma que eu não sabia como desfazer. (...) Na véspera de Natal, a realidade do que vivemos finalmente me atingiu com força total. Estávamos longe de casa, longe de nossas famílias, vivendo em um hotel seguro com a constante vigilância da polícia. Tudo por causa de Pedro. Mesmo com ele preso, ele havia destruído parte da nossa vida — o que tínhamos antes parecia tão distante agora. Leonardo tentou fazer com que aquela noite fosse especial, apesar de tudo. Ele decorou o quarto do hotel com algumas luzes que conseguiu encontrar, e trouxe uma pequena árvore de Natal improvisada. Mas a verdade era que o clima festivo parecia uma memória distante. — Eu sei que não é o Natal que imaginamos, mas... eu queria tentar trazer um pouco de normalidade para nós — disse ele, tentando sorrir enquanto colocava a pequena árvore na mesa. Eu olhei para ele, sentindo uma mistura de tristeza e gratidão. Ele estava tentando. Apesar de todo o caos, ele estava fazendo o possível para manter as coisas normais. — Eu aprecio isso, Leonardo. De verdade. — Sorri, mas meu coração ainda estava pesado. — Só é difícil... fingir que está tudo bem, sabe? Leonardo suspirou e se aproximou, segurando minha mão. — Eu sei. Nada está normal agora. Mas nós vamos encontrar uma forma de superar isso. Vamos voltar para a nossa vida. Eu queria acreditar nisso. Queria acreditar que poderíamos reconstruir tudo. Mas, por dentro, sabia que levaria muito tempo até que tudo voltasse ao normal. (...) Na manhã de Natal, uma nova notícia surgiu. O detetive nos informou que Pedro havia sido transferido para uma prisão de segurança máxima. Eles estavam tomando todas as precauções possíveis para garantir que ele não tivesse mais acesso a qualquer rede externa. A notícia trouxe um alívio momentâneo, mas também trouxe à tona um novo medo: e se Pedro não fosse o único problema? — O detetive disse que Pedro estava envolvido com uma rede criminosa — comentei, enquanto tomávamos café da manhã no hotel. — E se eles ainda estiverem nos observando? Leonardo parou, considerando minhas palavras. — É possível que essas pessoas ainda estejam por aí, mas o foco delas era Pedro. Com ele preso, acredito que o risco diminuiu significativamente. Mas... não podemos baixar a guarda completamente. Eu sabia que ele estava certo, mas o medo de que algo maior ainda estivesse à espreita era difícil de ignorar. A rede que Pedro havia mencionado ainda estava ativa. E, mesmo que ele estivesse atrás das grades, essas pessoas ainda estavam por aí. — Precisamos continuar em alerta, Clara. Mas não podemos deixar que o medo nos consuma — disse Leonardo, segurando minha mão sobre a mesa. — Nós passamos por tanta coisa. Agora é a hora de tentar reconstruir nossas vidas. Eu assenti, sabendo que ele estava certo. Era hora de tentar seguir em frente. Mas seguir em frente depois de tudo o que aconteceu parecia mais difícil do que eu poderia imaginar. Nos dias que se seguiram, as coisas começaram a voltar ao que poderíamos chamar de "normal". A polícia continuava a monitorar nossa segurança, mas sabíamos que o pior, ao menos por enquanto, havia passado. Pedro estava preso, e as investigações sobre sua rede estavam em andamento. O caos que ele trouxe para nossas vidas estava começando a se dissipar. Mas as cicatrizes emocionais eram profundas. Eu ainda acordava no meio da noite, sentindo que estava sendo observada. O som do vidro se quebrando, a voz de Pedro ecoando na minha mente, tudo isso ainda estava presente, como uma lembrança dolorosa que não me deixava em paz. Leonardo, por sua vez, tentava manter a calma e o otimismo, mas eu sabia que ele também estava abalado. O peso de tudo o que passamos estava começando a nos afetar. Até que, uma manhã, recebi uma mensagem inesperada no celular. O número era desconhecido, e o conteúdo da mensagem fez meu coração parar. “Isso não acabou, Clara. Eu estou sempre por perto.” Meu corpo inteiro congelou. Pedro. Mesmo preso, ele havia encontrado uma maneira de me alcançar. Eu mostrei a mensagem para Leonardo, e vi o choque e a raiva em seus olhos. — Como ele conseguiu isso? Ele está preso! — gritou Leonardo, pegando o telefone e ligando imediatamente para o detetive. Mas, naquele momento, eu sabia que Pedro não precisava estar fisicamente presente para continuar me assombrando. Ele havia deixado uma marca permanente em nossas vidas, e agora eu não sabia mais se algum dia realmente estaríamos livres de sua obsessão.
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