Capítulo 19

1303 Words
Clara Oliveira 10 de novembro de 2023 | São Paulo, Brasil As ruas de São Paulo pareciam um borrão enquanto eu caminhava sem rumo depois do encontro com Pedro. Cada passo era uma tentativa de escapar da dor, mas a verdade é que a dor estava dentro de mim. Não havia para onde correr. Eu sabia que, naquele café, algo dentro de mim havia quebrado de uma vez por todas. Pedro estava fora da minha vida, de um jeito que eu nunca imaginei. Ele me amava, e eu o destruí. E, agora, ele estava seguindo em frente, ou pelo menos tentando. Eu deveria me sentir aliviada, sabendo que ele estava livre para encontrar sua paz, mas a verdade é que só sentia um vazio esmagador. A dor de vê-lo partir, de ouvir suas últimas palavras, era quase insuportável. Meu coração parecia pesar uma tonelada, e, por mais que eu tentasse, não conseguia parar de pensar nas lágrimas contidas nos olhos dele enquanto dizia que não conseguia me perdoar. Eu o perdi para sempre. O pior de tudo é que eu sabia que isso era apenas o começo. Meu relacionamento com Leonardo, a chantagem de Laura, a destruição do casamento de Teresa... tudo estava se acumulando como uma tempestade prestes a nos engolir. E eu não tinha ideia de como sairíamos dessa. Peguei meu celular no bolso, sentindo uma necessidade urgente de falar com alguém, de ouvir a voz de Leonardo. Ele era a única pessoa que parecia entender o que eu estava passando. Mas, ao mesmo tempo, o medo de sobrecarregá-lo me impediu de ligar. Ele já estava lidando com tanto, com a chantagem, a empresa, e agora o distanciamento de Pedro. Sentei-me em um banco no parque próximo, o vento frio me arrepiando. Tudo estava diferente agora. Era como se o mundo continuasse em frente, mas eu estivesse presa, parada no tempo, encarando os destroços de tudo o que um dia foi. Passei as mãos pelos cabelos, tentando organizar meus pensamentos. A conversa com Pedro havia me abalado de uma maneira que eu não esperava. Ele estava certo, claro. Não havia como voltar atrás. O que fizemos, eu e Leonardo, era imperdoável para ele. E, por mais que eu quisesse me desculpar, sabia que isso não mudaria nada. Meu celular vibrou. Por um segundo, pensei que fosse Pedro, talvez com algo mais a dizer, mas, ao olhar para a tela, vi o nome de Leonardo. Meu coração disparou. Leonardo Martins: "Conseguimos algo. Preciso te ver." Li a mensagem várias vezes, tentando entender o que "algo" significava. Alguma informação sobre Laura? Alguma maneira de neutralizá-la? Esperança, finalmente? Respirei fundo e respondi rapidamente. Clara Oliveira: "Estou no parque. Posso ir para o apartamento agora." Ele respondeu quase imediatamente. Leonardo Martins: "Estarei lá." Levantei-me e comecei a caminhar em direção ao apartamento de Leonardo, sentindo uma mistura de ansiedade e alívio. Saber que talvez houvesse uma solução para o problema com Laura me dava um fio de esperança no meio de tanto caos. Eu precisava que algo desse certo. Precisava acreditar que havia uma saída. Quando cheguei ao apartamento, Leonardo já estava lá, esperando por mim com uma expressão que misturava seriedade e determinação. Ele me recebeu com um abraço apertado, e, por um momento, o peso de tudo o que havia acontecido parecia diminuir. — Como foi com o Pedro? — ele perguntou, a voz baixa e cheia de preocupação. Eu suspirei, sentindo as lágrimas voltarem aos meus olhos. — Foi... devastador. — Minha voz saiu trêmula. — Ele não me perdoou, Leonardo. Disse que não consegue me ver da mesma forma. Leonardo fechou os olhos por um instante, a expressão carregada de dor. Sabia que, apesar de tudo, ele também estava sofrendo com o afastamento de Pedro. Era seu filho, afinal, e ele também sentia o impacto dessa destruição. — Sinto muito, Clara — ele disse, segurando minha mão. — Eu gostaria de ter feito as coisas de forma diferente. Gostaria de não ter causado tanto estrago. — Eu também — respondi, minha voz quase um sussurro. Ficamos em silêncio por um momento, apenas sentindo a presença um do outro. E, por mais que a dor ainda estivesse lá, havia algo reconfortante em saber que não estávamos sozinhos. Eu e Leonardo estávamos lidando com as consequências juntos. — Você disse que conseguiu algo — eu finalmente quebrei o silêncio, lembrando-me da mensagem dele. Leonardo assentiu, soltando minha mão e pegando alguns papéis que estavam na mesa. — Meu advogado fez uma investigação sobre a Laura. Descobrimos algumas coisas sobre ela, e isso pode mudar o jogo. Meu coração deu um salto. Mudaria o jogo? Eu me inclinei para frente, esperando ansiosa por mais informações. — Laura tem um histórico de chantagens e manipulações — ele explicou, folheando os papéis. — Já fez isso antes com outros colegas de trabalho, e, em alguns casos, usou informações pessoais para conseguir o que queria. Tudo foi feito de forma cuidadosa, mas há registros. E, com isso, podemos ameaçar expô-la. Eu pisquei, tentando absorver o que ele havia acabado de dizer. — Você está dizendo que... temos algo contra ela? Leonardo assentiu, os olhos sérios. — Sim. Podemos ameaçar denunciá-la para a diretoria da empresa. Se ela quiser continuar com a chantagem, vamos expor o histórico dela. Isso pode destruir a carreira de Laura. Eu fiquei em silêncio por um momento, processando a informação. Era isso. Tínhamos uma arma contra ela. Mas, ao mesmo tempo, uma parte de mim hesitava. Havia algo sombrio em tudo isso, uma sensação de que estávamos entrando em um jogo perigoso, em que qualquer movimento errado poderia sair do controle. — E se ela reagir? — perguntei, minha voz vacilando. — E se ela decidir expor tudo antes que possamos agir? Leonardo balançou a cabeça, passando a mão pelos cabelos, claramente ciente do risco. — Precisamos ser rápidos. Se ela perceber que temos algo contra ela, pode tentar se proteger antes de agir. Mas, por enquanto, acredito que ela não tem ideia de que descobrimos isso. A ideia de agir contra Laura me deixou nervosa. Estávamos jogando com fogo, e, por mais que a chantagem dela fosse c***l e injusta, o medo de que tudo saísse ainda mais fora de controle era esmagador. — Temos que ser cuidadosos, Clara. Mas se fizermos isso direito, podemos encerrar essa situação antes que ela exploda. Eu assenti, tentando me agarrar à confiança de Leonardo. Ele estava certo. Não podíamos esperar para ver o que Laura faria. Precisávamos tomar o controle da situação antes que fosse tarde demais. — E quando vamos agir? — perguntei, tentando ignorar o nervosismo que crescia dentro de mim. Leonardo me olhou nos olhos, a determinação clara no seu olhar. — Amanhã. Vamos confrontá-la de uma vez por todas. A noite caiu rapidamente, e, enquanto estávamos no apartamento, eu sentia a ansiedade crescendo dentro de mim. O confronto com Laura seria o momento decisivo. E, por mais que houvesse uma estratégia, eu sabia que qualquer erro poderia significar o fim de tudo. A chantagem ainda era uma ameaça, e a qualquer momento, Laura poderia expor nosso relacionamento para o mundo. Leonardo ficou ao meu lado a noite toda, segurando minha mão, tentando me passar alguma calma. Mas, no fundo, eu sabia que ele também estava preocupado. O dia seguinte seria crucial. E, de uma forma ou de outra, saberíamos até onde Laura estava disposta a ir. Eu me deitei, tentando descansar, mas o sono parecia distante. O medo do que estava por vir me mantinha alerta, e, por mais que eu quisesse acreditar que conseguiríamos vencer, a incerteza me atormentava. Fechei os olhos, tentando encontrar alguma paz. Amanhã seria o confronto final com Laura. E, de uma forma ou de outra, o futuro de tudo o que construímos estaria em jogo.
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