Capítulo 40

1335 Words
Clara Oliveira 10 de dezembro de 2023 | São Paulo, Brasil Os dias se arrastavam como um borrão de ansiedade e incerteza. Cada vez que o telefone tocava ou alguém batia à porta, meu coração saltava. Pedro estava lá fora. Fora do país, segundo Teresa, mas prometendo voltar e "consertar tudo". Aquela frase ecoava na minha mente, como uma ameaça constante que eu não conseguia ignorar. Leonardo tentava me manter calma, mas era impossível. Eu sabia que Pedro estava esperando o momento certo para atacar. E a cada dia que passava, o medo de que ele estivesse nos observando, planejando algo, aumentava. — Precisamos sair da cidade — sugeriu Leonardo, uma manhã, enquanto estávamos tomando café. Seus olhos estavam fixos em mim, a preocupação evidente em sua voz. — Não podemos continuar assim, Clara. Ele está à espreita, e se voltarmos à nossa rotina normal, ele vai nos pegar de surpresa. Eu olhei para ele, sentindo o peso da situação. Leonardo estava certo. Não podíamos ficar parados, esperando por um ataque. Pedro estava se tornando cada vez mais imprevisível, e o simples fato de ele estar fora do país não me tranquilizava. Se ele prometeu voltar, eu sabia que ele o faria — e faria com força total. — Para onde iríamos? — perguntei, tentando absorver a ideia de simplesmente abandonar tudo por um tempo. Leonardo passou a mão pelos cabelos, claramente pensando nas possibilidades. — Talvez uma casa em algum lugar isolado, fora da cidade. Eu tenho uma propriedade no interior que não usamos há anos. Não é muito conhecida, mas seria um lugar seguro. Podemos ficar lá por um tempo, até termos certeza de que Pedro foi capturado. A ideia de escapar para um lugar isolado soava tentadora. Longe de tudo, longe do medo constante de que Pedro pudesse aparecer a qualquer momento. Mas uma parte de mim sabia que, por mais que tentássemos fugir, Pedro encontraria uma maneira de nos alcançar. Ele estava obcecado. E isso tornava a situação ainda mais perigosa. — Acho que é a única coisa que podemos fazer agora — respondi, suspirando. — Não podemos mais continuar vivendo com medo, esperando que ele faça o primeiro movimento. Se ficarmos aqui, ele vai nos encontrar. Leonardo assentiu, parecendo aliviado por eu ter concordado. — Vou organizar tudo. Podemos sair amanhã de manhã — disse ele, levantando-se para fazer algumas ligações. Enquanto ele falava no telefone, fiquei parada na sala, olhando pela janela. O céu estava nublado, cinza, como se refletisse o peso em meu peito. Não importava para onde fôssemos, eu sabia que, até Pedro ser capturado, nunca me sentiria completamente segura. Na manhã seguinte, partimos para o interior. Leonardo havia organizado tudo em segredo — apenas o detetive e algumas poucas pessoas de confiança sabiam para onde estávamos indo. Não queríamos que ninguém, especialmente Pedro ou seus cúmplices, soubessem de nossos planos. O caminho até a casa foi tranquilo, mas a tensão no ar era palpável. Eu olhava pela janela do carro, observando a paisagem mudar conforme nos afastávamos da cidade. A sensação de fugir não era reconfortante. Pelo contrário, parecia que estávamos nos escondendo, esperando por uma tempestade iminente. — Você acha que Pedro sabe que estamos indo embora? — perguntei, minha voz baixa, quase temendo a resposta. Leonardo manteve os olhos na estrada, mas pude ver a preocupação em seu rosto. — Não. Fomos discretos. Mas precisamos ter cuidado. Pedro é esperto, e ele tem gente do lado dele. Não podemos subestimá-lo. Eu sabia que ele estava certo, mas a simples ideia de Pedro nos perseguindo, rastreando nossos passos, me deixava apavorada. Quando chegamos à casa no interior, uma sensação de alívio temporário passou por mim. O lugar era isolado, rodeado por árvores altas, longe de qualquer vizinhança ou estrada movimentada. Era o esconderijo perfeito. Leonardo estava certo — aqui, estaríamos mais seguros. A casa era espaçosa, mas aconchegante, com uma lareira grande na sala de estar e janelas amplas que davam para o bosque ao redor. Apesar do medo que ainda me rondava, o ambiente trazia uma sensação de paz que eu não sentia há semanas. Leonardo verificou a segurança do local enquanto eu me acomodava, tentando me sentir em casa. — Estamos fora do radar, Clara. Aqui, ele não vai nos encontrar — disse Leonardo, enquanto terminava de checar as travas e janelas. Eu sorri levemente, sentindo o alívio momentâneo, mas ainda com o peso da preocupação no peito. — Espero que você esteja certo. Eu só quero que isso acabe logo. Pedro precisa ser parado. Leonardo se aproximou e me abraçou, apertando-me contra seu peito. — Ele será. Mas até lá, ficamos aqui, seguros. E a polícia está em alerta máximo. Se Pedro voltar ao Brasil, eles vão pegá-lo. Eu me aninhei contra ele, sentindo o calor de seu corpo e tentando me convencer de que estávamos realmente a salvo. Mas, por dentro, eu sabia que a obsessão de Pedro não tinha limites. Ele não desistiria até conseguir o que queria. Os primeiros dias na casa foram tranquilos. Eu e Leonardo tentávamos nos distrair, ocupando nosso tempo com pequenas atividades ao redor da propriedade. A sensação de liberdade, longe do medo constante, era revigorante, mas ainda havia uma tensão no ar. Era como se algo estivesse prestes a acontecer. Na noite do quarto dia, depois de um jantar tranquilo, estávamos sentados na sala, a lareira acesa, aquecendo o ambiente. O som crepitante do fogo era reconfortante, e, por um momento, tudo parecia normal. Quase esqueci o caos que estávamos vivendo. Foi quando o telefone de Leonardo tocou. Ele atendeu, mas sua expressão mudou rapidamente. Algo estava errado. — O que foi? — perguntei, já sentindo o medo voltar. Leonardo se levantou, andando pela sala enquanto ouvia o que estava sendo dito do outro lado da linha. Quando desligou, sua expressão estava sombria. — Pedro voltou ao Brasil. Eles rastrearam a entrada dele no aeroporto ontem à noite — disse ele, a voz tensa. Meu coração disparou. — Mas como? Como ele conseguiu voltar sem ser notado? Leonardo balançou a cabeça, claramente frustrado. — Ele deve ter usado uma identidade falsa. Mas o detetive garantiu que agora ele está sob vigilância. Eles estão monitorando seus movimentos. Pedro está de volta, mas dessa vez, não vai escapar tão fácil. O medo que eu estava tentando controlar nos últimos dias voltou com força total. Pedro estava de volta ao Brasil. Ele havia prometido voltar, e agora eu sabia que não estava blefando. A questão era: quando ele tentaria nos encontrar? Nas noites seguintes, o clima de tensão só aumentava. Mesmo com a polícia monitorando os passos de Pedro, sabíamos que ele estava determinado a nos encontrar. E o fato de ele estar fora de controle, cercado por pessoas perigosas, tornava tudo ainda mais incerto. Eu tentava manter a calma, mas cada ruído, cada movimento do lado de fora da casa me deixava alerta. A sensação de que Pedro estava se aproximando, planejando seu próximo movimento, era quase insuportável. Então, na noite do sétimo dia, aconteceu. Estávamos na sala, a lareira acesa, quando ouvimos um som estranho vindo do lado de fora. Leonardo se levantou imediatamente, seu corpo tenso. O som foi repetido, mais forte dessa vez, e meu coração disparou. — Fique aqui — disse Leonardo, pegando o telefone para ligar para o detetive. Mas antes que ele pudesse fazer qualquer coisa, a janela da sala foi quebrada com um estrondo. Vidro se espalhou pelo chão, e antes que pudéssemos reagir, Pedro estava ali, parado diante de nós. Ele parecia diferente — os olhos selvagens, o rosto marcado pela raiva e obsessão. Ele havia finalmente nos encontrado. — Eu avisei que isso ia acontecer, Clara — disse Pedro, com uma calma assustadora na voz. — Você deveria ter me escutado. Agora, tudo vai mudar. Leonardo se posicionou entre nós, seu corpo em alerta máximo, mas o olhar de Pedro estava fixo em mim. Ele não tinha vindo para conversar. Ele tinha vindo para encerrar tudo.
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