Capítulo II

2350 Words
Cinco meses depois… Finalmente havia chegado o dia em que Daniel iria de fato se infiltrar na gangue, durante os meses que se passaram desde o dia em que aceitou aquele trabalho ele havia se mudado para a outra cidade onde iria trabalhar agora, o cabelo antes loiro voltou ao preto natural e as lentes castanhas que usava para esconder seus olhos verdes foram deixadas de lado, além disso recebeu um pequeno treinamento sobre como deveria agir em diferentes situações com as quais poderia se deparar durante o trabalho de infiltrado, claro que um simples treinamento de poucos meses não seria o suficiente para alguém sem experiência alguma, mas se esforçou ao máximo para aprender tudo que pudesse. Durante aquele tempo que esteve em treinamento, Daniel não viu Bernardo, segundo o delegado assim era mais "seguro" para si, o treinamento era feito em um lugar muito distante da cidade, no que parecia ser um armazém, tudo sendo feito da forma mais discreta possível, afinal como o próprio Garcia havia lhe dito quando se conheceram, os membros da Killers Pain eram muito espertos, já tinham invadido o sistema do departamento de polícia e além disso tinham seus próprios informantes, então todo o cuidado era pouco. Mesmo recebendo a garantia do delegado de que estaria seguro, Daniel ainda se sentia uma presa fácil sendo atirada aos lobos. Depois que "aceitou" fazer parte daquela operação, Bernardo disse que o Neri teria que tentar descobrir quem eram os informantes da gangue dentro do departamento de polícia, quem eles tinham subornado para acobertar seus crimes e a eles próprios, teria que conseguir provas suficientes contra essas pessoas, era algo difícil e demorado de se conseguir já que entraria naquela gangue sem ter a confiança de ninguém, estava esperando pelo menos pensar em alguma estratégia que lhe fizesse conseguir aquelas informações sem que precisasse perder tanto tempo assim. Daniel também recebeu algumas informações de alguns membros da Killers. Segundo o delegado, era nesses membros que o Neri deveria prestar mais atenção. A gangue não tinha um líder de fato, o poder dentro da organização se dividia entre quatro homens, eles eram os pilares daquela organização, cada um mantinha a gangue de pé do seu jeito e parecia que as coisas funcionavam bem assim. Ele se perguntava se ter quatro pessoas à frente de uma gangue não causava conflitos, sempre existe alguém que deseja estar acima de tudo e todos. Ainda estava nervoso em relação a tudo aquilo, tinha medo de fazer algo errado, além disso se imaginar de volta naquele ambiente lhe fazia querer correr para o mais distante que pudesse. Porém, Daniel sempre fingia nos dias normais de sua vida, então não iria fazer nada que já não estivesse acostumado a fazer, mas fingir e convencer eram duas coisas opostas então tinha que se atentar quanto a isso. O Neri conseguia fingir muito bem ser Daniel Rossi, afinal era quem realmente gostaria de ser, uma pessoa livre, com uma vida “normal” e tranquila, porém voltar a ser Daniel Neri era difícil para si. Assim que acabou de se arrumar, Daniel se olhou no espelho que tinha em seu novo quarto, naquele reflexo o homem via o mesmo garoto de anos atrás, um garoto assustado, medroso e fraco que não era capaz de enfrentar a pessoa que mais lhe fazia m*l, lembrar daquilo lhe fez ter uma súbita vontade de chorar e sem que pudesse fazer algo contra isso, as lágrimas começaram a rolar por seu rosto e o Neri só conseguiu se sentir ainda mais patético. Daniel ficou um tempo daquela forma e foi tirado de suas lembranças assim que escutou a campainha do apartamento tocar três vezes duas seguidas e uma última depois de uma pausa de três minutos, era como uma espécie de "toque secreto" para saber quando tinha algum policial em sua porta como era o caso, assim que a abriu deu de cara com Bernardo e outro cara que não conhecia, o desconhecido tinha cabelos pretos na altura dos ombros com algumas mechas azuis, era possível ver o início de uma tatuagem em seu pescoço e outra em sua mão. Era um homem bonito, tinha que admitir. -Boa noite senhor Neri-O delegado o cumprimentou no tom sério que já estava acostumado a ouvir vindo dele. -Boa noite senhor Garcia-Cumprimentou abrindo espaço para os dois entrarem. -Esse é o Miguel, trabalha para os Killers, mas é nosso aliado, temos um acordo especial não é Miguel?-Perguntou vendo o outro apenas assentir-Ele já nos forneceu algumas informações importantes, aquelas que estão nas fichas que passei para você, mas infelizmente ele não tem acesso a tudo e é aí que você entra-Falou se sentando no sofá-Parece que os Killers estão precisando de alguém para trabalhar no barzinho particular deles, pedi pro Miguel te recomendar, lá é uma espécie de boate particular, mas também funciona como base, os membros da gangue se reúnem lá entre eles e entre gangues parceiras para beber, combinar esquemas e se divertir um pouco, só pessoas de confiança ou recomendadas ficam lá, vá com o Miguel, haja como se fosse um amigo dele que está precisando de grana para pagar o aluguel, ganhe a confiança deles e preste atenção em tudo, se você for esperto pode acabar sendo mais que um barman qualquer, só é preciso saber agradar as pessoas certas, agora é por sua conta, faça o trabalho direito e não me decepcione-O Garcia falou saindo dali logo em seguida sem dar a chance de nenhum dos outros dois dirigir a palavra a si. Houve uma pausa bem desconfortável entre o momento em que Bernardo saiu até o momento em que alguém finalmente falou alguma coisa, o tal Miguel parecia lhe analisar de cima abaixo, aquilo estava começando a lhe deixar irritado, o cara lhe olhava com um sorrisinho no rosto, o que estava acontecendo ali? -Você é bonito, isso vai ser útil lá. -Como isso pode ser útil? Você vai me recomendar como barman e não como prostituto, não é?-Daniel perguntou, um pouco inseguro, era só o que faltava ter que t*****r com alguém naquele lugar para conseguir informações. -Você ouviu o delegado, agrade as pessoas certas e vai se dar bem, vamos, vou te falar algumas coisas sobre mim no caminho para não corrermos o risco de desconfiarem que não nos conhecemos. -Certo-Daniel falou pegando seu boné que estava largado sobre o sofá e seguindo o outro-Escuta, nunca desconfiaram de você depois que descobriram os infiltrados que o delegado Garcia mandava? -Eu nunca apresentei nenhum infiltrado a eles, você é o primeiro que o delgado me pede ajuda para colocar dentro da gangue, antes ele não queria arriscar-Falou chamando o elevador-Os que foram antes de você tentavam entrar como membros novatos o que é muito difícil. -Entendi-O Neri falou entrando dentro do elevador junto ao outro assim que as portas se abriram. Daniel ficou pensando no quanto o delegado deveria estar confiante que colocá-lo como infiltrado daria certo para pedir a ajuda de Miguel, o Neri não sabia de onde Bernardo tirou toda essa confiança. -Escuta cara, eu tô arriscando meu pescoço te colocando lá dentro, se descobrirem que você é da polícia vão matar nós dois, então por favor, aconteça o que acontecer não seja descoberto-Miguel falou com a voz calma, olhando para as portas fechadas do elevador. Nesse momento Daniel só conseguiu se sentir ainda mais nervoso, afinal não era apenas sua vida sendo colocada em jogo e isso tornava as coisas ainda mais difíceis para si. O caminho até a boate foi longo o que serviu para que Miguel desse algumas informações sobre si mesmo para o Neri, assim ninguém desconfiaria que haviam acabado de se conhecer, o lugar era bem afastado e os arredores pareciam ser quase desertos, para chegarem até ali eles tiveram que entrar em uma rua de terra paralela a avenida principal, não tinham postes de iluminação ou qualquer mínima luz que não fosse a dos faróis do automóvel, até que se aproximaram de um prédio bem iludido, o terreno do lugar era cercado e na entrada haviam alguns homens armados guardando o portão, o carro parou e um dos homens veio até a janela do motorista, Daniel apertava as mãos juntas em seu colo, completamente nervoso. -Boa noite-Miguel falou abaixando o vidro do automóvel, dando ao homem a visão não só sua, mas também do Neri-Trouxe um acompanhante hoje. -Preciso revista-lo-O homem falou em um tom sério. -Isso é mesmo necessário cara? Ele tá comigo, só por isso já deveria receber um voto de confiança-Miguel falou com um sorriso convencido que não fez nenhum efeito na feição impassível do outro. -São as regras, se eu não revista-lo ele não pode entrar. -Já que insiste-Miguel disse em um tom mais sério se virando para Daniel em seguida-Você precisa descer do carro, ele quer conferir se você não está com nenhuma escuta ou algo parecido. -Tá-O Neri suspirou saindo do automóvel em seguida. Um dos homens que guardavam a entrada veio até si com um detector de metais, o aparelho foi passado por todo o seu corpo fazendo um barulho característico quando passou por seu celular, depois do detector o homem lhe mandou encostar no carro e começou a revista-lo, passando inclusive as mãos por dentro de sua camisa para ter a certeza de que não estava usando nada por baixo. Daniel achou aquilo extremamente desconfortável, esperava que fosse a primeira e última vez que faziam aquilo consigo. O homem olhou por mais uns instantes para os dois antes de liberar a passagem e Daniel finalmente pode liberar ar que nem percebeu que havia prendido em seus pulmões, tinha que se acalmar. Assim que o carro se aproximou do prédio já dava para se ouvir o barulho alto vindo de lá, o lugar era grande tinha três andares e um galpão um pouco afastado dali, a música estava alta, haviam algumas pessoas do lado de fora, algumas só conversavam e outras pareciam que iam t*****r ali mesmo o que fez Daniel fazer uma careta. -É melhor se acostumar com isso, vai trabalhar aqui a partir de agora e pessoas se comendo ao ar livre é provavelmente a coisa menos "estranha" que verá, mas acho que já deve saber disso, Bernardo me falou um pouco sobre você. Miguel estava certo e Daniel sabia que não deveria se preocupar com aquele tipo de cena, além disso não era nenhum santo, na verdade passava bem longe de ser, provavelmente se estivesse naquela boate em outras condições estaria no mesmo estado que aquelas pessoas ou até pior, como já havia acontecido em muitos dos seus fins de semana. Assim que Miguel estacionou o automóvel perto de alguns outros, ambos desceram e caminharam em direção a entrada, haviam mais alguns homens armados ao redor do lugar e na porta, a música era dez vezes mais alta lá dentro, o cheiro de bebida, cigarro e mais algumas coisas que realmente não valem a pena ser citadas, se alastrava por todo aquele espaço. Miguel agarrou o braço de Daniel para que não se perdessem em meio às várias pessoas naquele ambiente e o guiou até uma escada, haviam dois homens bloqueando a passagem, mas assim que reconheceram o outro abriram espaço para ambos passarem, o que fez o Neri pensar no quão importante Miguel realmente era lá dentro, afinal não tiveram nenhuma dificuldade para entrar ali, talvez devesse pedir uma ficha sobre ele também. Foram subindo até chegarem em uma espécie de área vip, havia um balcão ali também e um homem servindo as bebidas caras da prateleira atrás de si que era iluminada por uma luz néon de cor roxa, haviam algumas mesas e sofás em cantos afastados, no centro do lugar existiam dois pequenos palcos com postes de pole dance que iam do chão até o teto, mulheres seminuas dançavam nesses postes enquanto alguns homens as olhavam e bebiam um pouco, também acontecia algo semelhante no andar baixo. As luzes vermelhas e roxas ajudavam a compor o ambiente e toda aura que ele tinha. Era um lugar de diversões. Miguel estava lhe puxando para um dos sofás mais afastados, nele estavam sentados três homens, eles pareciam desinteressados nas pessoas que lhes rodeavam mendigando um pouco de suas atenções e realmente estavam, sempre havia alguém tentando chegar o mais perto que podiam deles, afinal eram as pessoas mais importantes naquele lugar repugnante. Eram as fichas daqueles homens que estavam na casa de Daniel, era neles que deveria prestar atenção, além de precisar ganhar suas confianças. -Miguel!-Um dos homens que estava sentado no sofá com um copo de bebida na mão cumprimentou o outro-Pensei que não iria vir hoje-O homem era muito bonito, os cabelos pintados de vermelho estavam bem arrumados, penteados de uma forma que o deixava ainda mais atraente e o que dizer dos lábios fartos do desconhecido? Pareciam tão macios, com certeza se estivessem em uma festa qualquer Daniel iria se atrair por aquele cara. -Claro que vim, todos sabem que as comemorações dos Killers são as melhores-Miguel tinha avisado ao Neri que naquela noite a gangue estava comemorando um roubo muito grande que havia dado certo-Só fui pegar o Dan. -Dan?-Um dos outros desconhecidos perguntou confuso, ele parecia ser o mais alto entre os três ali, era forte, além disso tinha um ar másculo e intimidador que deixou Daniel um pouco nervoso. -Sim, meu amigo-Miguel falou lhe puxando um pouco mais para frente já que estava praticamente se escondendo atrás do outro enquanto observava aqueles homens-Vocês disseram que precisavam de um novo barman e meu amiguinho aqui quer um emprego para poder pagar o aluguel e não ter que morar na rua, então resolvi juntar o útil ao agradável-Miguel falou se sentando no sofá junto aos outros-Senta aí Dan, não seja tímido, eles não mordem. O Neri logo se sentou perto do outro tentando parecer o mais neutro possível em meio aquela situação e ignorando toda a atenção que estava recebendo daqueles homens, não podia demonstrar seu nervosismo, já era hora de começar a fingir. Tinha que ser o mais convincente que pudesse.
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