Religião

1056 Words
Marquei uma consulta sem falar com o Pedro. Já que estávamos de volta à rotina de trabalho, agora conciliadas a vida conjugal, decidi que colocaria o assunto "psicólogo" em pauta quando Pedro me questionasse por que eu chegava tarde em casa sempre no mesmo dia da semana. Eu não o deixaria desconfiar. Falaria que eu já fazia terapia antes de nos casarmos e que nunca lhe contei para não o preocupar. Até colocaria a culpa na briga que sempre tinha com os meus pais e para aprender a lidar com a raiva de sua mãe. Sei que é mentira. Mas dizem que todos temos nossos segredos e pequenas mentiras que contamos em nome do amor. Então agora seria a minha vez de começar. Pedro nem iria perceber e tudo ficaria bem quando fosse esclarecido. Cheguei ao consultório do psicólogo pontualmente e ele próprio que veio me receber. _ Olá! Eu sou o doutor Luiz Carvalho, mas pode me chamar apenas de Carvalho. Sente-se por favor! _ Obrigada doutor Carvalho. O senhor não tem recepcionista? _ É bem observadora senhora Rafaela. Não, eu não tenho. As recepcionistas costumam olhar e comentar sobre quais pessoas são meus clientes e isso não é algo ético na minha profissão. Eu amo discrição. _ Isso é bom. _ Então vamos começar. E ali estava eu, sentada numa sala pintada de creme com uma parede toda em amarelo mostarda. Uma área de luz do meu lado, com lindas plantas de várias espécies. Uma bela e aconchegante poltrona onde o psicólogo estava e eu, no sofá de dois lugares em couro. Cada vez que me mexia o sofá fazia um barulho estranho. Uma estante bem aberta, em aço inox ao fundo, estava repleta de livros. Mais plantas nos cantos de duas paredes e uma pequena mesinha com um abajur. Enquanto prestava atenção nos detalhes, ficava pensando no que exatamente eu estava fazendo ali. Como colocar em palavras o que eu estava sentindo. Foi assim, em absoluto silêncio, que o profissional resolveu me ajudar a falar. _ Senhora Rafaela como vai a vida de casada? _ Bem... Eu acho que está bem. _ Quer me contar sobre isso? _ Eu não sei ao certo como começar. Acho que quando eu disser o que me traz aqui em voz alta o senhor vai me achar louca. _ Não estou aqui para julgar a senhora e todos precisamos de ajuda para entender certas questões de nossas vidas. Então fique a vontade para me contar, sem julgamentos. _ Vou começar do começo. Eu me casei com o amor da minha vida. Disso eu tenho absoluta certeza. Eu amo o Pedro com tanta força que chega a doer. Só que, tanto a família dele quanto a minha, foram absolutamente contra nosso casamento desde o começo. Deram várias desculpas e inúmeros problemas, na visão deles, para que nós não nos casassemos. O problema é que, casamos, eu o amo, mas não consigo relaxar na hora do sexo. Quando ele me toca de maneira mais íntima me sinto suja e tudo aquilo parece tão errado. _ Entendo. A senhora já pensou que pode ser por conta de tudo que te disseram? _ Já pensei até que as duas famílias tivessem um segredo que impediria nós dois de nos unirmos. Mas descartei essa possibilidade. E não deve ser pelo que me falaram pois apenas se referiam a ele não ser o certo pra mim e eu para ele, basicamente. _ E quanto a essa possibilidade que descartou, a respeito de um segredo. Tem certeza de que ela está descartada? _ Sim porque no dia da nossa cerimônia todos poderiam ter impedido o casamento. No entanto, ficaram calados até quando o padre fez a famosa pergunta "se alguém tem algo que impeça esse casamento, fale agora ou se cale para sempre!". _ Entendo. Não é fácil mesmo. Viver uma vida conjugal com alguém onde todos torcem contra. Isso pode estar bloqueando você de alguma forma. Bem, seu horário terminou. Vou remarcar para daqui quinze dias ok. Acertei a consulta, que aliás foi um valor bem salgado e saí dali com bem menos resposta do que quando entrei. Pra piorar, eu não fazia idéia do quanto eu parecia ridícula dizendo tudo aquilo em voz alta. Saí caminhando pela rua, pensando na conversa com o psicólogo e no valor absurdo que ele me cobrou pra nada. Estava tão distraída que m*l pude ouvir a buzina da moto. Senti uma pancada forte e apaguei. Quando acordei estava no hospital. Meu corpo todo doía e eu parecia estar com o braço enfaixado. Testei para ver se minhas pernas se mexiam e, graças a Deus estavam ok. Em instantes a porta do quarto onde eu estava se abriu e uma enfermeira entrou. _ Que bom que a senhora acordou. Vou chamar o médico, só um instante. Ela saiu rapidamente e não demorou para voltar acompanhada de um senhor baixinho e bem grisalho. _ Olá! A senhora sabe onde está? _ Pelo que pude perceber estou no hospital. _ Sim. E qual o seu nome e idade? _ Rafaela Diniz Fernandes. Tenho vinte e quatro anos. Por favor, eu preciso avisar meu marido, Pedro Henrique Fernandes. _ Não se preocupe, ele já foi avisado e aguarda pela senhora na recepção. Eu quero lhe fazer uns exames primeiro. _ Ok. O médico pegou o estetoscópio e foi ouvir minha respiração. Anotou meus batimentos e depois verificou os movimentos dos meus membros. Como tudo estava ok, ele saiu dizendo que iria liberar a entrada do meu marido. Ficamos no quarto apenas a enfermeira e eu. Ela quis saber como foi que eu fui atropelada e acabei lhe contando sobre a minha história. Não sei porque me senti tão avontade para dizer aquela completa estranha meus problemas pessoais. Ela gentilmente sorriu. _ Minha querida, aquilo que não se tem resposta nessa vida, é porque a resposta está na religião! Você por acaso conhece a Deus? O conhece verdadeiramente mesmo? Eu não consegui responder. Eu tinha uma religião. Minha família era católica e eu sempre ia a igreja com eles. Mas depois que cresci, não fui mais. Mas eu tinha religião. Mas a pergunta se eu conhecia verdadeiramente a Deus me pegou. O que será que essa mulher quis dizer com conhecer verdadeiramente a Deus e que a resposta está na religião.
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