15 - Eu

1051 Words
A floresta me parecia cada vez mais um local que eu não queria nunca mais voltar. Eu sei que a menina não morreu. Mas saber que ela e eu podemos ser a mesma pessoa, ainda mais depois de tudo o que eu vi, me deixava triste. Conceição me deixou à vontade para escolher o meu destino. Ela disse que eu já havia aprendido boas lições ali. Se eu quisesse ir embora, estaria de acordo. Mas eu sabia, no fundo, que eu precisava chegar ao fundo. Talvez a maior lição que eu preciso aprender está naquilo que eu ainda não vi. Mas me faltava coragem para prosseguir. Então resolvi ajudar Conceição em algo útil. Ela sempre saía todos os dias bem cedinho. Eu nunca entendi o porquê. Mas hoje eu iria descobrir. Ao seguir aquela que tanto tem me ajudado, pude descobrir do que se tratavam suas saídas. Conceição voltava ao hospital todos os dias. Em oração, ela permanecia ao lado de cada leito do hospital onde havia algum doente em estado mais grave. Ou mesmo os que estavam bem, mas choravam e clamavam por ela. Conceição estava ali. Mesmo que eles nunca a vissem. Mesmo que a confundam com uma simples enfermeira do local. Ela ainda estava ali. E como era doce e mágico estar ao lado dela nessa hora. Suas orações e a energia que vinham de seu corpo eram luzes que se acendiam mais fortes e incandescentes que as luzes do hospital. Na verdade eu não sei como as luzes do hospital não queimavam com tamanha intensidade da luz de Conceição. Eu nunca havia visto algo assim. Porém, ao passarmos por uma porta em específico, eu vi meu marido, Pedro, parado em frente a uma cama. Ele estava habitualmente com seus trajes médicos e pensei que se tratava de um paciente que ele estava atendendo. Parei na porta e, quando fui girar a maçaneta, Conceição colocou uma de suas mãos na minha. _ Pare querida! O que vai ver aqui, talvez não seja algo que queira ver. _ Mas é Pedro! Eu quero falar com ele. Eu preciso falar com ele! _ Eu sei disso. Mas quando entrar vai perceber que ele não vai te ver. _ Como assim? Então eu morri! Pra ele não me ver, só pode ser isso! _ Você se sente morta? _ Não, mas não existe outra explicação. _ Só porque não conhece a verdade não significa que não haja explicação. Ou só porque não enxerga o final, não significa que não tenha um fim. _ Então me diz o que está acontecendo aqui! _ Venha! Vou lhe mostrar. Assim que a porta se abriu, Pedro passou por nós sem nos notar. Eu não entendi nada, mas pensei que seria um truque de Conceição. Até que eu olhei na cama. Nesse momento eu tive um susto. Um enorme susto. Um choque na verdade que me fez dar um passo para trás. Eu pensei em correr. Eu pensei em chegar perto da cama. Eu pensei em gritar. Eu quis chacoalhar a pessoa ali deitada. Era eu. Eu estava naquela cama de hospital. Pedro não me viu porque eu estava ali. Ainda estava deitada de olhos fechados e com diversos aparelhos ligados a mim. Eu olhei assustada para Conceição que estava fazendo suas orações por mim. Ao olhar para ela, eu senti uma espécie de calma e tranquilidade. Talvez fosse isso que ela estava tentando passar para o meu corpo. Somente quando ela terminou, eu criei coragem para perguntar. _ O que é isso? _ O que não! Quem. É você! _ Eu sei que sou eu. O que quero saber é o que eu faço ali se estou aqui? _ Todos nós temos uma alma. Quando você sofreu aquele acidente, no dia do atropelamento, seu corpo ficou aqui e seu espírito continuou a sua vida. _ Então eu não estou grávida? Nada do que vivi daquele dia pra cá foi real? _ É claro que foi real e é claro que está grávida! Aliás, já estava no acidente. Por obra de Deus, a criança sobreviveu. Você está muito machucada e por isso permaneceu aqui. Olhe! Veja o volume em sua barriga ainda pequena mas que já se nota. Eu olhei e Conceição tinha razão. Realmente havia uma barriga de gravidez em meu corpo. _ Mas o que aconteceu? Por favor me diga! _ É claro! Mas antes, venha comigo. Ela me levou de volta à casinha onde estávamos todo esse tempo. Lá, Conceição me preparou um chá que estava delicioso. Depois ela se sentou na sua poltrona e me indicou o sofá para que eu me acomodasse. _ Olhe, menina! O que vou contar a você não é fácil, mas precisa ser dito. O acidente não te matou. Mas seu espírito se desprendeu e continuou a sua vida, enquanto seu corpo permanecia ali. _ Mas eu senti Pedro! Nós conversamos e nos amamos várias vezes. Eu até me senti melhor por não ter mais sonhos! _ Você criou essas ilusões! Os sonhos pararam porque seu corpo está adormecido no hospital e seu espírito está ativo em outro lugar. Lhe foi permitido me ver e me seguir até aqui justamente para lhe ajudar. Para nao deixar que esses sonhos atrapalhem novamente o seu caminho e tudo aquilo que precisa fazer. _ Na minha religião jamais me explicaram que isso existia! Que sequer era possível acontecer! _ Não condene a sua religião. Ela lhe foi útil e necessária durante toda a sua existência. É que nós não temos religião! Deus, Jesus, eu ou qualquer outro a quem chamam de Deuses ou santos, não pertencemos a nenhuma religião. Não temos nenhuma religião. Entende isso? _ Sim. Acho que entendo. _ As pessoas criaram as religiões, os templos e as estátuas para rezarem ou orarem por nós. Mas Jesus nunca fez isso. Quando caminhou entre os homens, ele não criou uma religião. Sua passagem foi para mostrar a existência de um Deus que não exigia sangue para lavar a honra, ou sacrifícios ou vinganças. Ele apenas nos pedia amor. Nosso amor. E nos ensinou a amar. A Deus e a todas as suas criaturas. _ Isso é verdade! _ O que está vivendo aqui é uma lição a ser aprendida! Mas aquilo que irá aprender, só depende de você!
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD