8 - Sentimentos

1009 Words
Quando voltamos para a casinha, eu não conseguia relaxar. Minha mente estava naquelas cenas que eu vi. Eu pensava na garotinha, na mulher que a tratava de maneira tão rude e no pai dela. No quanto o amor dela pelo pai e dele por ela parecia ser algo forte e grande o suficiente para nada atrapalhar. Até meu bebê estava agitado. Era quase impossível dormir e descansar naquelas condições. Fiquei andando de um lado ao outro até que ouvi a voz de Conceição me chamando. O som veio da cozinha, então fui direto até ela. O cheirinho de comida feita na hora estava fantástico. Uma comidinha caseira e bem básica. Uma sopa de legumes. _ Sente-se aqui querida.- Conceição me indicou uma cadeira. - Você precisa se alimentar para garantir que esse bebê nasça forte e saudável. _ Eu estou com fome, mas não consigo parar de pensar no que vi! - Fui sincera, até porque, sendo ela quem era, de nada adiantaria mentir. _ Mas esse bebezinho precisa de calma para se desenvolver bem. Então trate já de ficar calma. E coma, vai fazer bem para o corpo e para a alma. _ É estranho! Dessa vez eu não vi a mim mesma como sendo a garotinha. E nem meu marido no rosto do pai da criança. _ Dessa vez, será permitido que veja e entenda o que precisa. Mas, para entender, é preciso saber dominar seus sentimentos. _ Como assim? _ Os homens agem, quase sempre, por instinto ou por impulso. Apesar da capacidade mental que possuem. Se eles soubessem o quão precioso é o pensar, agiriam bem menos. É isso que precisa fazer. É necessário que você aprenda a dominar seus pensamentos e silenciar sua mente. Assim você vai conseguir ouvir seus sentimentos e poderá entender o que seus sonhos significam para você. Peguei a colher e comecei a comer. Estava tão delicioso. Conceição tinha razão. Aquela sopa estava me fazendo muito bem. Alimentando o corpo e dando conforto a alma. Mas eu ainda não tinha a menor noção de como faria para entender meus sentimentos. Dominar meus pensamentos seria ainda pior. _ Por que escolheu me ajudar? _ Eu? Mas eu ajudo a todos que me procuram ou precisam de mim. _ Eu sei. O que eu quero dizer é, por que me trouxe aqui para me ajudar? _ Porque você me viu e aceitou me ver. E também porque tenho um apreço muito grande para pessoas como você! _ Pessoas como eu? O que quer dizer com isso? _ Pela sua profissão e o seu coração, querida. Veja bem, você escolheu ajudar as pessoas. Essa também foi a minha escolha. Você escolheu estar perto daqueles que estão lutando desesperadamente pela vida. Eu também os ajudo, em oração por eles. Você escolheu reconfortar o coração e a alma dos que irão fazer a passagem. E é a mim que rogam para olhar por eles nessa hora. Você usa todo o seu coração em sua profissão. Quantas noites te vi passar direto sem descanso, conversando e cuidando de cada um dos seus pacientes. Muitas vezes, você pensava que eles nem iriam te ouvir, mas nunca deixava de falar com eles. E não era besteira. Eram palavras de amor, de carinho, de conforto. Eram palavras que davam esperança a todos que estavam sob seus cuidados. Isso é colocar o sentimento em cada gesto, em cada ato de bondade. Você sempre pôs o seu coração em cada pessoa que cuidou. Eu me senti bem com aquela declaração. É verdade que, quando escolhi a minha profissão, fiz de coração. Sempre quis cuidar do próximo. Estar perto de pessoas que precisam de ajuda e poder ofertar essa ajuda, era algo que meu coração sempre ansiava. Depois de terminar a minha sopa, eu me senti muito bem. Então pedi licença e fui lá pra fora da casinha. Eu ouvi barulho de água e queria saber de onde vinha. Mas Conceição me impediu de prosseguir. _ Calma, minha menina! Tudo a seu tempo. _ Eu só queria ver onde estava o rio que eu ouvi. _ E você vai saber. Só não precisa ser agora. _ Mas, eu preciso voltar! Pedro... _ Você pode voltar a hora que quiser. Só gostaria que me deixe ajudar você primeiro. _ Mas... Já sei, o tempo aqui é relativo. _ Quando voltar, seu marido m*l perceberá que saiu e esteve fora. Mas, se for do seu interesse parar por aqui, tem todo o direito de ir. Ela me apontou a direção por onde eu deveria seguir. Eu pensei em tudo que estava vivendo ali. Na paz que eu senti desde o primeiro dia em que cheguei aqui. Pensei no bebê em meu ventre. Seria melhor que eu ficasse. Então entrei novamente e fui em direção ao meu quarto. Conceição veio logo atrás. Ela me ajudou a deitar na cama e ficou fazendo carinho em minha barriga. _ Ah se pudesse ver a beleza da criança que você está para receber em seus braços! _ O que é meu bebê? _ Você logo irá descobrir. Só te peço para que mantenha a calma e controle sua ansiedade. Quero muito te ajudar a terminar tudo isso e seguir em frente. Mas sem prejudicar sua saúde e a dessa pequena criança que, em seu ventre, pediu abrigo. Conceição foi se levantando para sair, quando eu resolvi chamar novamente. Ela se virou e me olhou sorrindo. _ Conceição! Por favor me responda uma coisa, será que eu vou conseguir ser para esse pequeno bebê uma mãe de verdade e o educar com amor e bondade? Ela colocou a mão em minha barriga novamente e o bebê deu um chute forte. Ela abriu o sorriso e me disse. _ Se você colocar amor em tudo o que for fazer, então não tem como errar. Assim é nas receitas da cozinha, assim é na vida. Assim é com os filhos que Deus nos confia. Ela se virou e eu fiquei ali, deitada pensando em tudo que estava ouvindo e vivendo ali.
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