Capítulo 20 - A nova vida

1083 Words
Mais uma vez eu acordei ali, na casinha de Conceição. Mais um dia que se inicia e meu corpo físico ainda não acordou. Minha barriga continuava crescendo e isso era um indicativo para mim de que eu permanecia viva. Mas não tinha ideia do que estava acontecendo no mundo fora daqui. Fora das lições que eu estava aprendendo. Isso começou a me deixar impaciente. Eu precisava de notícias a respeito de Pedro. Eu queria saber de minha mãe, meu pai, até dos meus sogros. Precisava saber dos meus colegas de trabalho. Tentei falar com Conceição sobre isso, mas apenas recebi como resposta um sorriso. Depois, ela me disse que quanto antes eu aprender as minhas lições, mais cedo volto pra casa. Estar naquele lugar de paz era um privilégio. Eu jamais pensei que sentiria tanta paz, amor e tranquilidade. Ao sair na varanda, eu respirei profundamente aquele ar puro. Não havia nenhum traço de poluição. Não havia barulho de carros ou pessoas conversando. Buzinas ou sirenes. Apenas os pássaros e os insetos que faziam parte daquela paisagem. Além do barulho da água corrente do riacho mais ao longe. Já que eu precisava estar ali, então eu queria aproveitar tudo aquilo. Me sentei no primeiro degrau e fiquei acariciando a minha barriga. Pensava com quem meu bebê iria se parecer. Se seria menino ou uma menina. Nesse instante me veio o bebê da menina dos meus sonhos. Aquela era uma criança realmente linda. Cabelos loiros e um rosto que mais parecia um anjinho. Gordinha e saudável. Nesse momento Conceição veio até mim. Ela se sentou ao meu lado. Eu ainda não tinha visto ela tão séria. Seu semblante parecia preocupado. _ Aconteceu algo? - Perguntei. _ Olhe as nuvens! - Ela me respondeu. - Estão ficando escuras. Vem algo r**m por aí! Eu nunca havia visto, em todo esse tempo ali, nuvens escuras. Mas ela tinha razão, realmente o tempo estava diferente. _ Vamos! Você precisa continuar de onde parou. - Conceição me alertou. E então andamos até a floresta. Eu estava pensando nas nuvens negras quando paramos e Conceição me puxou. _ Escute, minha filha! Eu não sei qual a tempestade você irá passar nesses seus sonhos. Mas tenha fé que ninguém caminha sozinha! Eu sempre estive com você! Eu sorri e voltei para a floresta. Cheguei exatamente numa casa diferente. Até bonitinha e bem arrumada. Paredes claras e altas. Ali eu senti uma energia estranha no ar. Parecia medo. Eu parecia estar vendo o medo no ar. Caminhei um pouco e cheguei até um quarto. A menina estava sentada no chão olhando para o seu bebê em seu colo. Ela tinha um semblante preocupado. Olhei para a criança que dormia profundamente e percebi que parecia estar bem. Então não foi com o bebê que ela estava preocupada. Se não é isso, o que seria? Alguns passos pesados ecoaram pelas escadas da casa. Uma sombra surgiu nas paredes do lado de fora da porta e o semblante de horror da menina apareceu em seu rosto. O homem que lhe fez m*l surgiu na porta. Poucos segundos depois a mulher que ajudou a menina apareceu. Ela se referia ao tal homem com i********e e amor. Deveria ser sua esposa. Então o homem era casado e por ironia do destino, sua esposa não poderia lhe dar filhos. Eu senti náuseas. Ver toda aquela situação em que a menina estava sendo submetida. Por sorte, ela nunca ficava sozinha com o tal homem. Sua esposa estava sempre por perto a ensinar a menina a costurar e a cuidar da sua filhinha. E isso a mulher fazia com amor verdadeiro. Ela não fazia a menor ideia de quem eram aquelas duas meninas que ela levou para casa. Muito menos que seu marido era um homem r**m. Ela era uma alma boa e tinha boas intenções. Isso ajudou para que a menina agora se tornasse uma moça muito bela. Eu nem vi o tempo passando, apenas percebi que olhei no espelho e a moça refletia o rosto da menina. Ela permanecia linda. Mas ainda carregava o medo do homem nos olhos. Porém, não sei se por algum restante do respeito que ele deveria ter pela esposa, o tal homem jamais tentou tocar na moça. Isso lhe deu tranquilidade. Mas ela sabia que não podia confiar. Até que, num dia, um grito na rua fez com que as mulheres corressem. "_ Boi!" As duas mulheres estavam sozinhas trabalhando. Elas correram para fechar as portas, na tentativa de impedir que os animais desembestados entrassem. As duas conseguiram a tempo de alguns bois passarem. Porém, o homem não sabia dos animais. Ele estava vindo pela rua quando cruzou com eles. Apesar de tentar correr, ele já não tinha mais a força e o vigor de outrora. Acabou sendo pego por um dos animais. A moça viu tudo por uma fresta de sua janela. Nesse momento ela até pensou em deixar ele lá, no chão sujo. Morrendo. Assim como ele fez com ela. Mas ao olhar nos olhos de um anjo de sua filha que estava no quarto ao seu lado, ela recuou em seu pensamento. Se ela fizesse isso, estaria se igualando a ele. Isso não era bom. Seu pai lhe ensinou a acreditar em um Deus que era bom. Por um tempo ela havia se esquecido desse Deus. Sua dor e tristeza lhe esfriaram a fé. Mas, agora, diante da situação em que estava vivendo. Diante da sua filha. Ela entendeu. Deus nunca lhe faltou. Ele sempre esteve lá. Ele não permite a maldade, ela já existe no coração dos homens. Ele apenas não pesou sua mão contra seu próprio filho. Afinal de contas, esse homem também é filho de Deus. Também foi criado por Ele, assim como ela. Com esse pensamento, ela desceu as escadas gritando pela mulher. As duas saíram pela porta na tentativa de trazer o homem para dentro. Dois rapazes que vinham correndo ajudaram as mulheres a acomodar o ferido no sofá. Quando a moça foi se afastar, ele segurou a sua mão com força. Ela se assustou. Mas depois, com um sorriso sincero, lhe disse. "_ Eu te perdoo!" O homem fechou seus olhos e se foi. Nesse momento eu voltei a mim, na floresta. Estava sem fôlego pela cena que vi. Conceição me ajudou a voltar para a casinha para descansar. Havia muito a ser aprendido. Mas eu ainda não tinha condições de discutir nada. Apenas me deitei e fechei meus olhos, num sono profundo.

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