Capítulo 6

1096 Words
Conforme minha gravidez avançava, os sonhos foram voltando. Mas, dessa vez, eu já não era uma criança. Nos novos sonhos, eu já era uma adolescente. Como nos costumes da época, eu já tinha idade para casar. Os sonhos sempre começavam comigo no meu quarto. Me via entre lençóis muito brancos. Uma videira subia pela lateral de minha janela. Porém, agora, havia uma casa vizinha. Da janela do meu quarto eu via a casa. Era sempre essa visão. Nunca mudava. Decidi que era hora de procurar alguém que soubesse sobre sonhos. Procurei, então, um desses profissionais que decifram sonhos e numerologia. A princípio, o profissional me disse que se tratava de uma mensagem. Mas, depois, conforme eu relatava mais e com maiores detalhes, ele me disse que poderia ser a lembrança de uma vida anterior. Eu ri quando ouvi isso. Eu não era de acreditar nesse tipo de coisa. Muito menos que isso era possível. A pessoa que me disse isso me olhou bem séria. Pensou e disse que primeiro eu precisava encontrar Deus dentro de mim. Eu não entendi bem a mensagem. Mas decidi procurar um centro espírita na tentativa de saber melhor. Cerca de uma semana se passou desde o dia que falei que iria no centro. Eu sempre procurava enrolar ou era surpreendida por uma visita inesperada. Como eu não queria me abrir com o meu marido, não conseguia sair e não lhe dizer onde iria. Assim, se passou mais alguns dias até que resolvi contar tudo ao Pedro. A princípio ele riu de minha cara. Achou que tudo não passava de um simples sonho que me deixou com forte impressão, já que eu pensava muito nele. Mas depois, Pedro percebeu que não era bem assim. Ele tentou me entender, porém, para ele era muito difícil. O que é compreensível já que nem eu mesma entendia. Depois ele sugeriu que eu procurasse ajuda, mas não de psicólogo. Ele queria que eu procurasse ajuda espiritual. Eu pensei no assunto. Mas não poderia procurar ajuda de um padre. Então resolvi voltar ao hospital e procurar a tal enfermeira que me perguntou se eu conhecia verdadeiramente Deus. Voltei lá e fui direto na recepção perguntar se a enfermeira estaria trabalhando hoje. Estávamos chegando perto do Natal. Muitas pessoas tiram férias nessa época e ela poderia estar de férias. A recepcionista disse que não conhecia ninguém com o nome que eu disse e nem com a descrição. Mas eu me lembro bem dela ali. O nome no crachá era "Conceição Aparecida" e seu rosto não me saía da memória. Eu fui saindo do hospital pensando na enfermeira Conceição quando a vi, perto da porta da emergência. Segui direto até ela pensando que a recepcionista seria dessas que não prestam atenção em nada. _ Enfermeira! Por favor! _ Sim, pois não? - Ela se virou e sorriu. - Ah é você! Vejo que vem gente nova na família! Meus parabéns! _ Obrigada! Eu precisava te ver e falar contigo. _ Então vamos para um local mais calmo. Ela me guiou pelos corredores do hospital e quando vi, estava em um jardim muito lindo. Havia flores por todos os lados. O perfume que elas exalavam era bem forte. Lindas árvores bem dispostas no meio dos canteiros. Eu me belisquei. Isso só poderia ser um sonho. Será que eu sofri outro acidente e estava dormindo? Eu estava dentro de um hospital a cinco minutos e agora, estou em um jardim. Conceição assobiava com os passarinhos que cantarolavam nas árvores. Continuamos andando até chegar em uma casinha bem humilde e simples. Era feita de madeira e ficava em uma belíssima clareira. O cheiro de mato, das flores do jardim ali perto e o barulho dos pássaros, montavam um cenário de completa paz. Conceição abriu a porta da casinha e me pediu para entrar. Lá dentro tudo era tão simples, bem arrumado e limpo quanto o lado de fora. Ela me indicou o sofá para que eu me acomodasse e se sentou na poltrona à minha frente. _ Pronto! Agora diga, minha filha! _ Eu tô sonhando? _ Geralmente eu não trago muitas pessoas aqui. Mas não! - Ela sorriu. - Não é um sonho. Você precisava de ajuda e me viu. Quase ninguém me vê. Precisam de mim, mas não tem tempo para me ver. _ Quem é você? _ Não viu meu nome no crachá? _ Sim, mas... Aparecida. Conceição Aparecida. Então você é Aparecida? A santa? - Eu me espantei. Não era possível, aquilo tudo era imaginário. Ela continuou sorrindo, mas agora estava dando gargalhada. Já recomposta, ela continuou. _ De santo temos apenas o nome que dizem. Todos somos falhos e, na linguagem dos humanos, santos são perfeitos. Mas sim, sou ela a quem chamam Nossa Senhora Aparecida. Você era muito devota, se lembra? Quando pequena, não perdia uma missa sequer e sempre me levava flores. Era tão lindo ver uma criança amar alguém assim. _ Eu morri? _ Você acha que está morta? Você parece morta? Eu olhei para mim. Meu bebê se mexia vigorosamente dentro de mim. Eu não podia ter morrido. _ O que está acontecendo? _ Você está sonhando com sua vida passada! Por isso pediu minha ajuda, sem perceber e eu fui até você. Aqui estou. É difícil que me vejam, mas você conseguiu e o importante é isso. _ Mas por que eu? _ Eu gosto de você! Você é uma menina alegre que cuida tão bem dos meus queridos filhos. Você os ajuda a fazerem sua passagem com tranquilidade e amor. É por isso que estamos aqui. Agora quem precisa de ajuda é você. E eu quero te ajudar. _ Mas eu preciso avisar meu marido onde estou. Ele vai ficar preocupado comigo! _ Fique tranquila. Onde estamos o tempo é relativo. Saberá quando voltar. Por enquanto, precisamos acalmar você e a essa pequena pessoa aí dentro. Não queremos que ela nasça antes da hora, não é? E ela saiu sorrindo. Eu a segui com o olhar. Conceição havia ido até a cozinha e estava pondo água no bule. _ Você gosta de chá, não é mesmo? - Ela me perguntou. Eu, ainda estranhando tudo aquilo, apenas assenti com a cabeça. Era fato que eu era apaixonada por chás. Isso sempre me ajudava a relaxar. _ Deite-se aí no sofá e coloque seus pés para cima. Vamos relaxar primeiro, antes de resolver o problema que te trouxe até mim. Eu me recostei no sofá e tomei o chá que ela trouxe. Estava delicioso. Um cansaço forte me bateu e eu acabei adormecendo.
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