Suspirei e fechei o livro que estava lendo, que estava muito bom por sinal até esse cara aparecer e acabar com minha leitura. Tudo bem que eu estava na sua biblioteca, mas ele não poderia ser tão desagradável em não me deixar usar ao menos alguns livros.
Seria egoísmos da sua parte me manter trancada nessa casa de praia e não me deixar usar ou aproveitar de nada. Pensei que a ganhadora do sorteio aproveitaria as regalias desse lugar.
Eu não queria nada demais, apenas ler alguns livros, isso não era nenhum crime. Apenas era maravilhoso viajar em um mundo encantado de faz de contas e me perder em lugares incríveis.
Foi um momento tão agradável, que eu gostaria de repetir lendo outros livros. Não me importaria em ficar tardes e tardes enfurnada nesta biblioteca maravilhosa.
Ler era viajar em um mundo que eu não poderia ir. Era inexplicavelmente incrível sonhar.
Me levantei segurando o livro e fui em sua direção enquanto o mesmo me analisava por inteira, parecia estar me julgando, como se eu tivesse cometido o maior crime de todos.
Trenton estava sério, mas isso não era uma surpresa. Esse homem não tinha senso de humor.
— Será que nem um livro eu posso ler nesse lugar? — indaguei, revoltada.
Tenho certeza que não teria problema em dividir ao menos um livro, tinham milhares aqui e poderiam ser divididos.
Desde criança aprendi a dividir tudo que tinha, e talvez isso tenha me feito ser quem sou hoje.
Uma mulher altruísta e boa. Diferente desse cara a minha frente.
— Você até poderia ler, porém com minha permissão, e que eu me lembre não permiti que viesse a essa biblioteca — Trenton foi arrogante como sempre.
— A qual é, eu não fiz nada de mais, é só uma biblioteca — resmunguei
Que cara chato e incrivelmente i****a. Eu não precisava passar por algo assim.
— Não é só uma biblioteca — o cantor ficou pensativo ao olhar a sua volta.
Parecia ter lembranças do lugar, como se fossem memórias boas. O que ele escondia sobre esse lugar? Fiquei curiosa agora.
Trenton não tinha cara de quem gostava de ler. Cantar era sua especialidade.
— Você nem tem cara de que gosta de ler — O analisei e ele suspirou.
Parecia estar sofrendo um conflito interno.
— Isso não te interessa, agora você pode ir para outro canto da casa. — Ele deu espaço pra que eu passasse.
Torci os lábios irritada e completamente revoltada.
Trenton estava me mandando embora do local? que humilhante, pensei que pudesse entrar em qualquer lugar da casa.
— Posso levar pelo menos o livro? eu gostei dele. — pedi desanimada.
Era um romance de época de Tessa Dare. Estava empolgante.
— Pode, apenas não entre mais aqui — avisou com seriedade, fazendo-me apertar os punhos.
Não disse nada, apenas passei por ele em silêncio e segui em direção ao meu novo quarto, soltando alguns resmungos baixos.
Nunca fui tão humilhada antes, esse cara só consegue aumentar meu ódio a todo momento.
— Arrogante. i*****l.
Me tranquei no quarto e não sai mais de lá. Célia me levou o jantar e eu agradeci sua humildade e preocupação.
Estava injuriada e decepcionada.
A casa era dele, mas se eu estava aqui e tinha ganhado um maldito sorteio, deveria ter algum privilégio. Eu nem estava lhe dando trabalho, só queria ficar na biblioteca e estava tudo bem.
Pedi para alguém lá em cima me dar paciência e a segurança que precisava para suportar todos os dias nesse lugar.
Eu era forte e conseguiria passar por essa provação.
No dia seguinte acordei com os raios de sol na minha cara e me levantei bocejando. Fiz minha higiene matinal e vesti um short jeans com uma blusa rosa de manguinhas, prendi meus cabelos em um r**o de cavalo e sai do quarto indo em direção a cozinha encontrando Célia colocando a comida na mesa.
Ela cantava uma música animada. Parecia gostar do que fazia e eu admirava pessoas assim.
Pessoas que amavam seu trabalho e tinham disposição para tudo.
— Bom dia Célia — lhe dei um sorriso e um abraço.
— Bom dia Brianna — Ela disse retribuindo o sorriso.
Notei que ela estava sozinha ali.
— O ignorante ainda não desceu? — Perguntei e um sussurro e ela sorriu.
— Não, o senhor Sales geralmente acorda mais tarde — comentou colocando um prato com bolo de chocolate na mesa.
Eu amava bolos. Os de chocolate em questão eram os meus preferidos.
— Eu posso comer um pedaço desse bolo? — Perguntei passando a língua nos lábios.
— Claro ele é todo seu já que o Senhor Sales não gosta de doces — respondeu e eu me sentei na mesa pronta para atacar aquela delícia.
Não gosta de doces? por isso que é tão azedo. Trenton era tão i*****l e amargurado.
Deveria ter sido uma criança mimada e chata que teve tudo na boca. Consigo imaginá-lo perfeitamente fazendo birras com seus pais.
— Tá brincando né? quem não gosta de doces? — Perguntei indignada.
Doce é vida e todos necessitam deles para sobreviver. Ajudavam a aliviar o estresse e a tensão.
— Eu — A voz do i*****l se fez presente.
Olhei para trás o encontrando.
Estava parado na porta da cozinha, com uma cara de sono, e os braços tatuados cruzados.
Por um momento suas tatuagens me chamaram atenção. Eram bonitas e interessantes. Já pensei em marcar minha pele uma vez, mas o medo me fez desistir.
O medo me faz desistir de muitas coisas e eu gostaria de mudar esse defeito em mim. Era algo incontrolável.
— Você não é normal — Sussurrei e o mesmo se sentou do outro lado da mesa bem longe de mim.
Melhor assim. Hoje não teria guerra de comidas e agiremos como adultos.
Só se ouvia o barulho das porcelanas e dos passarinhos que cantavam na janela era um som agradável, porém o cantorzinho arrogante fechou a janela quase matando os coitados dos passarinhos.
Esse cara é do m*l, tenho que tomar cuidado com ele ou vou me lascar. Não somos compatíveis, não dá para tentar nem ao menos uma amizade porque nossos pensamentos e ações são diferentes e nunca vamos nos entender.
Vez ou outra nos olhávamos com ignorância, mas logo ignoravamos a presença um do outro.
Parecíamos duas crianças birrentas que não suportavam a presença uma da outra. Era impressionante como não nos demos bem logo de cara.
Ele era arrogante, e eu não caia em seus encantos como todas as suas fãs. Chegava a ser engraçado o quão incompatível somos.
Mundos completamente diferentes, que nunca irão se converger.
Depois de terminar de comer eu me ofereci para ajudar a Célia, porém a mesma recusou. Então aproveitei para caminhar ao redor da grande casa, ela era linda e merecia ser admirada.
Eu deveria tomar cuidado para não me perder aqui dentro.
Quando sai avistei a grande piscina e o gramado verde. Tinha algumas palmeiras e a vista para o mar era exuberante, esse lugar com certeza é o melhor lugar do mundo para relaxar e descansar, parece até o paraíso.
Ouvi um motor de carro e uma Ferrari laranja parou em frente a casa. Vi um loiro de olhos azuis sair de um lado e uma morena sair do outro. Eles vieram em direção a casa e entraram, o loiro parecia animado e olhava para todos os lados até que seu olhar bateu no meu ele alargou o sorriso vindo em minha direção enquanto puxava a morena.
— Brianna Holt a ganhadora do sorteio — Ele disse assim que parou na minha frente.
— E você é?
Analisei aquele loiro charmoso, ele me parecia bem simpático e meio i****a também.
— Logan, essa é minha namorada Dulce — Ele disse e eu cumprimentei a garota que sorria para mim.
Suas vestimentas eram simples, mas pelo aquele carro, os dois com certeza eram ricos.
-– Logan? — Escutei a voz daquele ser arrogante e revirei os olhos ao notar ele se aproximando.
— Trenton, to conhecendo sua fã sortuda. — o loiro apontou para mim.
— Eu prefiro morrer a ser fã desse i****a — anunciei e os dois convidados me olharam confusos e surpresos.
— Garota você está saidinha de mais pro meu gosto — Trenton rosnou me fuzilando com o olhar e eu dei de ombros.
— Para tudo que eu quero descer, você não é fã dele? — O loiro perguntou apontando pro i****a e eu neguei, ele arregalou os olhos e abriu a boca espantado. — Deus do céu, você é a primeira garota na face da terra que não é fã de Trenton Sales? isso hilário, viu? nem todas morrem de amores por você. — O loiro começou a fazer um escândalo e o cantor só revirou os olhos.
Gostei dele, tinha senso de humor.
Deixa de ser i****a, o que você faz aqui? — O ignorante perguntou cruzando os braços.
— Irei para Miami e ficarei 3 meses lá, então vim me despedir do meu amigo.
— Como se eu quisesse ver você.
— Chato, sei que me ama.
A amizade dos dois era engraçada.
— E então está gostando daqui? — Dulce perguntou para mim, sendo simpática.
— Bom, fora ter que ver a cara daquele babaca todos os dias, eu gostei desse lugar. — Respondi, dando de ombros.
— Sim, aqui é ótimo lugar para relaxar — Ela me deu um sorriso.
— Eu acho que já te vi em algum lugar — comentei a analisando.
Sua aparência não me era estranha, me recordava de sua imagem de algum lugar.
— Eu sou modelo — Ela respondeu e eu me lembre de ter visto ela em uma revista de moda da Bella.
Pelo menos ela parecia uma ótima pessoa diferente daquele arrogante, nem todos os ricos estão perdidos. Ficamos conversando por um tempo e eu gostei muito de Dulce, ela era uma pessoa tão legal e divertida, depois Logan apareceu com o arrogante e nos chamou para ir para a praia.
Logan inventou de jogar vôlei de praia, jogamos meninas contra meninos foi legal, porém como eu sou uma desastrada acabei que acertando uma bolada na cara do cantorzinho que caiu no chão com o nariz sangrando. Uma parte de mim ficou desesperada e a outra achou bem feito pra ele.
— Me desculpa foi sem querer — Corri até o mesmo me abaixando ao seu lado, olhando o estrago que eu tinha feito.
Tinha sido horrível, minha mão era bem pesada quando eu queria.
— Você é louca? — Ele resmungou com a mão no nariz.
Estava sangrando.
— Desculpa — Fiz uma cara de anjo e ele ficou me encarando mortalmente.
— Você quer me matar isso sim — resmungou se levantando e eu segurei a risada.
Não seria má ideia.
— Essa foi boa — Logan começou a gargalhar e Trenton ficou irritado desistindo de jogar.
Dulce tirou sua roupa ficando só de biquíni e me chamou para nadar. Hesitei porque eu não sabia nadar. Simplesmente nunca me interessei em aprender.
Era vergonhoso alguém da minha idade não saber nadar.
— Não, pode ir eu vou ficar por aqui mesmo — Disse sem graça, não queria contar que eu não sabia nadar era vergonhoso.
— Vamos Brianna, vai ser legal — Ela disse com uma cara de anjo e não teve como eu dizer não.
Como negar algo a alguém como ela?
Fazendo-me mudar de ideia, entrei em casa para colocar um biquíni e Dulce me esperou.
Quando entramos na água eu só fiquei na parte rasa. O melhor a se fazer era tomar precauções para que não acontecesse nada demais.
Logo Logan apareceu também abraçando sua namorada, eles eram um casal tão lindo e divertido. A forma que ele a tocava e beijava era gentil e romântica.
Soltei um suspiro sorrindo e olhei em volta encontrando o ignorante de braços cruzados nos olhando, na verdade ele está olhando para mim? Trenton me analisava por inteira e eu franzi o cenho, o ignorei e comecei a ir mais para o fundo acho que não faria m*l.
Quando percebi uma onda me derrubou e eu me afoguei, a água tomou conta de todo meu corpo e eu perdi o ar, comecei a me debater desesperada em uma tentativa inútil de me salvar porém não estava dando certo, minha visão escureceu e só senti braços me puxando antes de perder todos os sentidos.
Quando era criança meus pais me levaram para nadar em uma piscina no dia do meu aniversário. Deveria ser uma data comemorativa e especial, um dia belo de verão que no entanto se tornou assustador.
Enquanto brincava com uma garotinha desconhecida, ela me fez ir até a parte mais funda da piscina, onde não consegui voltar e me afoguei.
Foram longos momentos de tortura até que meus pais notassem o que estava acontecendo e viessem me resgatar.
Sobrevivi, mas os momentos de tortura nunca foram apagados de minhas memórias e hoje eles voltaram, a sensação terrível havia voltado.
Só que dessa vez meus pais não estavam aqui para me salvar, e ninguém me tiraria daquele sufoco sem fim.
Papai, mamãe, amo vocês.