RIO DE JANEIRO-BRASIL
POR MARIA EDUARDA
Estou prestes a entrar na terceira aula, quando um aperto no peito me influencia a ir embora, alguma coisa está estranha e eu preciso sair daqui.
Chego ao lado de fora da faculdade e vejo o carro preto parado do outro lado, aquilo de fato me irritava e eu ia acabar com isso, me enchi de coragem, tantos anos sem vê-lo.
Atravesso a rua, confiante, piso firme sobre o asfalto e me aproximo, bato no vidro escuro, consigo identificar a sombra de um homem, sei exatamente quem é e ponho-me a gritar.
—Evandro, abre essa merda agora!
Ele arranca o carro e sai, me deixando sozinha no meio da rua, com várias pessoas me olhando e certamente achando que eu era louca.
Eu tinha que acabar com isso, com essa perseguição e eu sabia o que deveria fazer, e pensar em voltar aquela casa , despertava inúmeras sensações em mim, medo, insegurança, e também ótimas lembranças.
Atravesso a rua até o ponto de ônibus, aguardo enquanto ouço músicas em meu celular, mas ele não demora a chegar.
Logo estou em casa, mas ao abrir a porta da sala uma voz conhecida me chama atenção, caminho até a cozinha e então vejo mamãe conversando com ele.
—O que faz aqui?—questiono.
—Esta ainda é minha casa, não é?—ele diz caminhando e parando na minha frente, ele veste roupas boas e certamente o carro parado do outro lado da rua deve pertencer a ele.
—Não mais, Mateus, deixou de ser sua casa no dia que você me usou pra pagar seu maldito vicio, me diga o que fez para estar vestido assim, em que merda se enfiou agora?—digo irritada.
—Por favor filha, ouça o seu irmão, ele se arrependeu—minha mãe diz.
—Seu arrependimento não mudará nada do que aconteceu, não mudará o fato de eu ter passado dois meses, trancada naquela casa, não mudará o fato de ter me apaixonado pelo dono do morro, não mudará o fato de ser perseguida por ele durante esses cinco anos, não mudará o fato de eu ter medo de me aproximar de qualquer pessoa e ele matar essa pessoa, o seu arrependimento não fará com que eu te perdoe Mateus—digo entre lágrimas e corro para o meu quarto.
—Maria Eduarda—minha mãe tenta me chamar, mas sua voz é abafada pela porta fechada atrás de mim.
Deito em minha cama e abraço o lindo urso de pelúcia branco, a única lembrança daquela casa, a única lembrança dele.
Ouço o barulho do carro dando partida, me arrasto até a janela, meus olhos se cruzam com os do meu irmão, ele apenas abaixa a cabeça e se vai, eu não consigo perdoá-lo, ao menos ainda não.
Olho minha imagem no espelho a frente, maquiagem borrada, um jeans comum, cabelos simples em um coque alto, um corpo longe dos padrões impostos pela sociedade, uma simples garota de vinte anos, quebrada pela vida, lutando todos os dias para ser alguém e dar um futuro decente para sua mãe, que já fez tanto por ela .
Decido tomar um banho, tentar inutilmente que a água lave minhas tristezas também.
Saí do banho e coloquei apenas um pijama confortável, eu queria dormir, talvez isso me fizesse bem, deitei na minha cama e me deixei envolver pela imagem na televisão, nos filmes era tudo tão fácil, tão simples.
Enfim, peguei no sono, não sei por quanto tempo dormi, apenas dormi.
Eu ainda estava deitada em minha cama, abro os olhos lentamente e o vejo, só poderia ser um sonho, um sonho bom, um sonho que Miguel estava nele.
Mas aquilo parecia real, aquilo parecia bem real! Dou um pulo na cama e digo.
—Como entrou aqui? O que faz no meu quarto?
—Oi pra você também dona onça, primeiramente sua mãe uma senhora muito gentil diga-se de passagem, me deixou entrar e segundo vim até aqui para saber se você estava bem, a Ella disse que você saiu mais cedo hoje—o homem à minha frente diz, enquanto coloca as mãos no bolso da perfeita calça social preta que veste.
—Estou bem Miguel, não precisava ter se preocupado e vir até aqui—digo.
—Não tem problema, eu estava aqui perto mesmo—ele diz.
—Agora que já sabe que estou bem, pode ir—digo.
—Quanta falta de educação, estou com fome na verdade e sua mãe antes de sair disse que tinha acabado de tirar um bolo de laranja do forno—ele diz sorrindo mais do que deveria.
Ok, esse sorriso era desnecessário!
—Minha mãe logo voltará—digo.
—Na verdade ela pediu para lhe dizer que ia jogar cartas com as amigas e não tinha hora para voltar—ele diz sorrindo de lado.
Merda, por que ele tem que ser tão bonito.
Levanto da cama tentando arrumar de alguma forma menos reveladora o meu pijama com estampa de corujinhas.
Passo por ele e o chamo.
—Venha playboy, vou te alimentar, não sabia que na zona sul vocês passavam fome—digo rindo.
—Belas corujas—ele diz.
Reviro os olhos e continuo caminhando até a cozinha, onde uma linda mesa está posta, mamãe é mesmo incrível.
—Sente-se senhor, "eu estou com fome"—digo servindo um pouco de café a ele.
—Obrigada Madu, posso te chamar assim né?—ele questiona.
—Pode, todos me chamam assim mesmo—digo.
Corto duas fatias de bolo, uma para mim e uma para ele.
—Miguel, o que veio fazer aqui? De verdade, eu sei que não veio apenas para saber se eu estava bem—digo.
—Eu precisava respirar, precisava sair daquela casa, precisava te ver—ele diz enquanto olha fixamente em meus olhos.
—Miguel, é perigoso para você estar perto de mim—digo.
—Perigoso?—ele ri.
—Miguel é algo complicado por favor não me faça explicar, você só não pode ficar perto de mim—digo.
—Me conta o que está acontecendo, Madu, talvez eu possa te ajudar—ele diz.
—Não, você definitivamente não pode, mas deixa esse assunto pra lá, me fala sobre você, o que você faz da vida afinal—questiono.
—Sou advogado, Madu—ele diz.
—É isso explica a cara feia e essas roupas sociais—digo rindo.
—Cuido dos negócios da família, viajo muito, sou um cara ocupado passarinho—ele diz.
—Passarinho? Eu? longe disso né, com esse peso todo eu não conseguiria voar—digo forçando um sorriso.
Ele se levanta e caminha até onde estou sentada se abaixando para me olhar já que estou de cabeça baixa.
—Ei olhe para mim—ele diz levantando meu queixo delicadamente—Você é perfeita como é, simplesmente maravilhosa, seu sorriso ilumina até o mais escuro lugar, seus olhos são como duas estrelas e seu corpo ah baby seu corpo é fodidamente maravilhoso, suas curvas fazem com que até bons pilotos como eu se percam.
Eu não era uma garota insegura, eu sabia que possuía certa beleza, e meu corpo já não me incomodava tanto como na minha adolescência, mas ouvir um homem daquele dizer tais coisas realmente mexeu comigo.
Seus olhos fitavam os meus profundamente, e a mão que segurava meu queixo agora acaricia meu rosto, enquanto a outra faz uma trilha lenta sobre a minha coxa, sinto o calor me invadir, quero sentir seus beijos novamente, e como se pudesse ler meus pensamentos ele me beija, a mão antes em meu rosto, agora puxa meus cabelos.
—Me faça sua outra vez Miguel—digo entre respirações ofegantes.
Ele me beija novamente, e eu o puxo pela mão, dizendo.
—Venha, vamos para o meu quarto.
—Com prazer passarinho—ele diz sorrindo de lado.