Lyra sentia suas pálpebras pesadas e por um momento ela pensou que tinha alguma coisa que impedia de abri os olhos, até perceber que ela somente se sentia muito cansada.
— Arthur ! Arthur ! Ela está abrindo os olhos. — A voz conhecida de Florence a despertou para onde ela estava e quando seus olhos enxergaram a luz, ela teve certeza que estava na enfermaria. De novo !
— Nós ganhamos ? — Pergunta Lyra para os muitos rosto conhecidos dividiam o espaço com o de Florence. Sendo um de seu irmão.
— É... sombras são sempre sombras. — Comenta Eziel empurrando sua gêmea para parecer no campo de visão se Lyra.
— Não precisa se preocupar com isso Lyra, ninguém está te culpando. — Falou Madeleine gentil.
— Culpamos sim ! — Villin rebate, e Lyra tendo muitas boas palavras para insultar o louro que estragou todo seu plano, se ajeita no lugar com dificuldade para falar em sua defesa, mas quando olha para o lado, seu corpo se retrai e sua voz não sai. Ao lado de Draven não somente estava o pai do mesmo, mas também seu Soberano e toda Corte de Soberanos que fez até mesmo Eziel e Ethel que estava na sua frente sair correndo. Lyra não julgou os gêmeos, tentaria também se esconder na barra do vestido da senhora Meinad se todo seu corpo não tivesse doendo.
— Ual ! Então esse é o desastre Vandergard. Bem, eu devo lhe dar os parabéns, não vejo um jogo do pentatlo tão empolgante como esse a anos. — Lyra não sabia oque dizer para Nikolaus, apenas sorriu tímida e apertou a mão do homem de pele a avelã que a cumprimentou, no mesmo momento em que o mestre Heráclito entrou na sala, junto a Odessa e Sophia, que olhou para Lyra preocupada.
— Pelo jeito a senhorita Vandergard é uma celebridade na Academia. E quase surpreendente Heráclito, que seus alunos sejam favorecidos pela fama por suas atitudes imprevisíveis. — Murmurou Georgius olhando de relance para Lyra.
— Creio que a senhorita Vandergard tem uma explicação perfeita para esse importuno. — rebate Heráclito fazendo todos os olhares se voltarem para Lyra, que congelou seus olhos cinzas como gélidas montanhas.
– Droga ! Pensa... pensa Lyra.
— Ah minha cabeça está doendo tanto ! — Exclamou Lyra levando a sua mão na cabeça de forma teatral e olhando para Meinad com um olhar suplicante quase implorando para a fairy resgatá-la.
— Olha ! Pobrezinha, é melhor a gente ir. — Mas quem somente tentou ajudá-la foi Sophia. — Que tal todos tomamos um chá e rimos todos disso. — Sophia sugeriu ganhando não somente o silêncio dos Soberanos mas também umas expressões bem feiosas que Lyra pediu interiormente para que não voltassem novamente para ela.
— Como ousa nós insultar como tolos dando essas desculpas esfarrapadas e infantis ? — Mas voltou. E a para piorar o primeiro a encará-la com um olhar ferido foi Devil, que nem mesmo precisou levantar a sua voz para fazer Lyra entender que estava encrencada. Sua voz rouca em tom de repreensão já era o suficiente. — Mais caso a sua dor de cabeça tenha afetado a sua memória. Eu irei lembrá-la de suas tolices. — O olhar do Soberano recaiu de forma intimidadora sobre Lyra. — Bem, porque não começamos com o fato da senhorita ter feito um feitiço de uso ilegal para sua idade, e como não bastasse ser arriscar fazendo o feitiço que está bem longe de seu pouco nível de instrução.
– Ele está me chamando de burra ? – Indagou Lyra mentalmente.
— Você atacou o senhor Villin com um feitiço que poderia deixa-lo desacordado por dias. — Proferiu Devil um tanto exagerado sobre o feitiço, fazendo Margot olhar para sua varinha em mãos, não imaginando que aquele frágil graveto poderia deixar tantos dias alguém assim sem dormir. — E claro sem mencionar que você o trancou em um armário de vassoura e depois tomou o seu lugar no time, que por sorte depois de seu singelo espetáculo no Campo, você não quebrou o seu pescoço.
— Olha, parece que alguém já tem histórico para ir para Aragoz — Lyra arregalou os olhos para o Soberano da Corte roxa, se lembrando que a senhora Brown havia dito sobre os dragões de lá.
— Desculpe... — Pediu o lobo quando rosto de Devil se voltou para o mesmo, se silenciando no mesmo momento. A Academia era responsável pelas Cortes, mas as Cortes eram responsáveis pelo seus alunos. De modo que uma Corte não podia se colocar em julgamentos de outra Corte.
— O senhor falando dessa forma, parece que foi muito r**m o que eu fiz. — Retorquiu a garota com naturalidade, e Lyra pode jurar que nesse momento viu uma veia pulsar na testa de Devil. — Eu até marquei um ponto e ninguém morreu.
— Ninguém morreu ?! Que tipo de resposta é essa ? — Indagou Elizabeth com uma expressão assustada.
— É óbvio que a senhorita Vandergard tem que ser punida por suas atitudes impávidas. Afinal seria lamentável que essas atitudes viessem a se tornar boatos na Corte Suprema para arruinar ainda mais o nome dessa Academia. — Georgius declara e Lyra não pode deixar de notar uma certa ameaça em suas palavras, que se tornou visível no rosto de alguns soberanos. Como Elizabeth, Marvin e Nikolaus que se entreolharam preocupados.
— Não me chame de impávida ! — Lyra cruzou os braços. — Eu nem sei o que é isso. — e resmungou emburrada.
— Está claro que a senhorita não sabe muita coisa Vandergard. Por isso sugiro uma Eclésia disciplinar. — Sugeriu Georgius e os soberanos pareceram se mostrar contra. Menos Devil é claro, que mesmo sendo seu Soberano, não parecia mover um fio de seus cabelos pretos sobre os olhos esfumados em sua defesa.
— Mas é claro que o senhor iria colaborar para a Corte Suprema também expulsar a minha irmã da Academia, já que não funcionou muito comigo, irar tentar fazer o mesmo com ela. — Diz Arthur insinuando que Georgius estava por trás do envolvimento da Corte suprema na Academia no mesmo momento em que Olga Feller, com um sorriso esquisito e uma criatura de quatro patas escamosa em sua mão, adentrou na enfermaria.
— Oque você está sugerindo Vandergard ? — Pergunta o Soberano e Lyra pode perceber a armadilha nas palavras de Georgius que seu irmão não notou.
— Ele não está sugerindo nada senhor Villin. — e por isso intercede, fazendo Georgius se voltar para ela com uma sobrancelha levantada. — Senhor Villin perdoe as palavras do meu irmão, ele é da Corte Iluminada. Sabem como são ! Com sua coragem acabam falando grandes tolices. — Concluiu Lyra com um sorriso suave em seu rosto que poderia ser considerado bastante manipulador, se não fosse até agradável em suas feições de menina.
— É quase uma ofensa ver uma Vandergard na Corte das Sombras e ainda criticando a Corte de sua própria família. — Georgius continuou provocando.
— Como eu posso explicar para o senhor. — Mas Lyra não caiu. Ela havia percebido o jogo do bruxo a sua frente. Sabia que pessoas inteligentes traziam soluções até a sua desgraça !
Além de todos os argumentos que a Corte suprema tinha para expulsar ela e seu irmão da Academia, Lyra havia dado a Georgius uma ótima chance de ele provocar Arthur e ela até conseguir um novo argumento para expulsão. — Eu e meu irmão tivemos criações diferentes ! Sou mais inteligente, sei que devemos nos colocar em nossos lugares para conseguir aquilo que desejamos. — Olga observava na frente de sua maca. — a ambição tem o preço e esse é a obediência e o comprometimento. E por isso estou na Corte das sombras, mesmo com muitos detestando esse fato. — Concluiu Lyra em uma pequena indireta para Devil que somente estava em silêncio, pois estava deveras surpreso com as palavras da garota.
Devil já tinha provado mais de uma vez que Lyra tinha respostas na ponta da língua até mesmo para ele, mas a sua voz, doce e melindrosa as vezes entoava as palavras tão bem marcadas que parecia sair hinos pelos seus lábios arredondados.
— Se tem tanto apreso pelo dilema de sua Corte, porque a envergonha com atitudes tolas ?
— Porque como disse senhor Villin a ambição exige comprometimento e estou comprometida com minha causa. — Lyra responde atiçando Olga que avançou se colocando ao seu lado vendo daquilo uma oportunidade para Lyra condenar a si mesmo.
— E em que causa esta comprometida querida ? — Pergunta a bruxa com voz afetada e Lyra deu seu melhor sorriso e respondeu :
— Ser a melhor aluna da Academia professora Olga. Oque mais poderia ser ? — Olga pareceu engolir espinhos quando sua pergunta foi respondida por Lyra, que tinha uma expressão tão inocente em seu rosto que sequer dava para perceber a ironia em seu tom de voz.
— E para isso a senhorita passa por cima dos seus colegas esquecendo também um dos nossos valiosos lemas. Irmandade. — Georgius rebateu fazendo Lyra gargalhar.
— O senhor por acaso tem visto como essa escola está me tratando ? — Lyra questiona com um certo peso em suas palavras. — a irmandade se deve ser conquistada senhor Georgius e somente servos deve segui-la. Não os líderes. — Lyra rebateu firme ganhando os olhares de todos soberanos. Impactados com a palavra da menina. — Eu tenho uma dúvida senhor Villin, o senhor é um servo ou um líder ? — Lyra pergunta não somente causando confusão em Georgius mas também apreensão nos soberanos, que parecia desconfiar também que Georgius tivesse um certo envolvimento com a decisão do Conselho sobre a investigação contra a Academia, mas não ousavam descobrir, pois sabiam que o bruxo tinha muitas influência. Especialmente naquele momento.
— Como ?!
— Porque seu filho — Lyra olhou para Draven. — Claramente é um mero servo.
— Como ousa ? — o rosto de Georgius nublou, e uma gargalhada solta de Nikolaus se fez no ambiente, que se calou novamente com olhar agora de Odessa.
— Sabe senhor Villin ! Não acho que está irritado porque eu derrubei seu filho das asas, mas acho que está irritado porque eu provei para todos que seu primogênito não passa de um mero servo. Já que foi enganado por mim ! Uma Vandergard. — continuou Lyra tendo seu contato visual entre o bruxo interrompido por Devil que entrou na sua frente, como estivesse preste a sumir com a sua boca.
— Eu irei...
— Acho que não tem mas nada para fazer aqui Georgius. — Devil se colocou na frente do bruxo com um olhar fugaz, deixando Lyra confusa. Oque o bruxo estava fazendo ?
— Ela enganou o meu filho ! — Georgius argumentou, como se tivesse que dar explicações ao bruxo que parecia retido em seus movimentos. Pelo jeito Lyra não havia sido a primeira a confrontar os Villin’s.
— Ela é da minha Corte e as decisões sobre ela cabe unicamente a mim. Lembre-se do lugar que está Georgius e saibas que não pode ultrapassar o meu limite. — Lyra franziu a testa confusa, tentando ver a discussão entre o seu Soberano e Georgius, conseguindo apenas ver o rosto de Elizabeth e Marvin por trás da capa de Devil, que pareciam mais confusos do que ela. Devil realmente considerava seus alunos mais do que os demais alunos, e apesar de ser um bom Soberano sempre foi rígido com seus castigos e raros ele defendeu. Mesmo que tivesse autoridade para isso. Principalmente contra os Villin’s que Lyra ficou surpresa vendo que o bruxo tinha autoridade para isso. Sabia que Devil era de se causar medo, mas não imaginou que Georgius pudesse recuar.
— E creio que irás tomar a decisão certa Devil. — Olga se tornou um novo desafio. — E a mais coerente é claro. Uma Eclésia disciplinar. Afinal a senhorita Vandergard cometeu um delito. — as palavras de Olga também pareciam cantadas, mas não era uma música boa de se ouvir.
— Sim, eu tomarei minha decisão e a senhorita Vandergard será punida conforme manda as nossas leis. — E dito isso Devil se retirou, não dando chance de Lyra se defender e nem de Olga dizer mais uma de suas falácias. E assim, após receber um abraço de Sophia, que saiu da ala depois que garantiu que ela estava bem, e um sorriso simpático de Elizabeth que tirou Sophia da ala, Lyra se viu sozinha, na enfermaria ! Pensando quanto tempo mais ficaria sobre os tetos da Academia.