Devil com a pena em mãos relia e revia o documento que teria que ser assinado por ele para garantir uma Eclésia disciplinar com o seu pacto.
Pacto que estava lhe tornando sua maldição ! A garota era belíssima tinha os olhos de Maia e futuramente Devil pretendia morrer olhando para eles, mas mesmo com todos os detalhes que deixava Lyra mais parecida com Maia, do olhos aos lábios arredondados suavemente contornados em suas pontas que dava impressão que a menina sempre estava com sorriso trapaceiro no rosto, Lyra também tinha muitos aspectos que deixava ela bem distante da aparência da mãe.
Na enfermaria quando Lyra conduziu palavras de afronta a Georgius, Devil conseguiu ver nos olhos inocentes da menina um certo poder, que se tornou forte em suas palavras. Os olhos cristalinos da garota que as vezes Devil conseguia ver o infinito e um paraíso distante para pecadores, ele viu se fechar no ponto certo, com as pálpebras cheias criando um olhar tão atrevido como de uma serpente preste a levar uma pobre vítima a sua morte. Devil estava decepcionado ! Não porque a garota não era uma cópia da mãe como ele desejava, mas estava decepcionado com ele, porque por mais que sua mente se negasse a ceder, ele tinha confessar que havia gostado de ver a garota arrastar uma pobre vítima para o seu veneno. Havia gostado de olhar para aqueles olhos ! Do mesmo jeito que gostava de ver tanta inocência neles que se sentia negado a um paraíso. Era tentador e hostil. Era o caos que ele precisava manter longe dele. E por isso o bruxo molhou a pena no tinteiro e assinou com seu nome bem marcado, pelo menos o nome que ele tinha que fingir que carregar. Porque o peso de seu verdadeiro nome, carregava sangue em suas mãos e a maldição de sua família que tinha que permanecer morta ao seu mundo.
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Debruçada sobre um travesseiro e com os cabelos espalhado pelo rosto, tampando sua feição e somente revelando a ponta arrebitada de seu nariz, Lyra dormia um sono gostoso com a metade de seu corpo para fora do cobertor de linho verde que foi puxado, por uma garota de cabelos pretos e olhos amarelos tão marcantes como sua expressão que naquele momento não estava muito agradável.
— Ei ! Vandergard ! Acorda !! — Lyra pisca os olhos devagar — A sua poeira está batendo na janela. É irritante ! — Lyra limpando uma babinha que descia pela sua boca, levantou ainda zonza. — Anda Vandergard silencia sua poeira ! Não sabe que os lobos precisam dormi doze horas por dia ? — a garota irritada foi marcando o chão com fortes pisadas para sua cama e Lyra se levantou.
Batia contra janela a figura de um corvo impaciente que carregava em suas patas uma espécie de poeira que possuía um brilho quase opaco, como se estivesse escondendo algo, que Lyra curiosa em descobrir o que era, logo abriu a janela, deixando o corvo entrar que voou em cima de seu rosto a derrubando e pousou na mesa deixando uma carta e logo saiu para fora, voltando para o mesmo lugar que ele veio ! Lugar que Lyra se perguntou onde seria quando olhou a carta.
O envelope branco em cima da mesa não tinha remetente, somente havia um selo de uma cobra encrustado em cima da cola preta que fechava o envelope.
— Nossa ! Você recebeu uma carta do professor Devil. — Margot diz espantada após sair do banheiro.
— Oque ? — Lyra se levantou como se envelope fosse uma armadilha de urso. — Como assim uma carta do morcego ?
— Morcego ?! Você chama ele de morcego ? — Margot perguntou secando o cabelo com a toalha.
— Será que dar para vocês calarem a boca ! Eu quero dormi. — Queixou a loba tirando a máscara de seus olhos. Já era tarde e apesar de ser final de semana a maioria das garotas já estavam no campo se divertindo com o sol da manhã, mas a loba pelo jeito preferia passar o sábado na cama.
— Desculpa Eleanor ! — Pediu Margot e Eleanor que já tinha tido seu sono incomodado, debruçou sobre seus braços, olhou para a carta em cima da mesa e falou :
— Err... parece mesmo que você recebeu uma carta do professor Devil.
— Eu tenho que abrir ? Será que ele está me expulsando ? — Lyra pergunta apertando seus dedos nervosa.
— Ah não seja exagerada ! Eu recebo uma dessa toda a semana. — Eleanor comenta se sentando na cama e arrumando seu robe preto. — Com certeza ele apenas está falando que irar recomendar punições para delitos aos seus pais.
— Eu não tenho pais ! — Lyra lembrou a garota se sentando cabisbaixa na frente da carta.
— Ah esqueci ! E verdade. Eles explodiram. — Eleanor diz parecendo se importar mais com o seu reflexo no espelho do que com suas palavras. — Foi m*l.
— i****a. — Margot resmungou.
— Oque você disse ? — Pergunta Eleanor intimidadora com seus olhos amarelos brilhando.
— Nada.
— Hum, foi oque pensei. — que se voltaram para Lyra, mas não tão intimidadores, mas sim curiosos.
— Anda ! Abre a carta. Estou curiosa. — falou a garota se sentando na frente de Lyra, que pensou em jogar a carta pela janela e fingir que não recebeu nenhum envelope. — Você sabe que o professor Devil irar ter que conversar com você pessoalmente se você rejeitar uma carta dele e acredite, isso não será muito legal. Eu sei. — a garota parecia ter experiência própria.
— Lyra, Eleanor está certa. E melhor você abrir. — Margot confessou e Lyra sem opção, pegou com mãos trêmulas o envelope que parecia até mesmo pesado, tocou a cera da carta e rasgou com sua unha. Abrindo assim o envelope. Primeira coisa que Lyra olhou foi a letra marcante do bruxo, que possuía traços pontiagudos e retos, de modo que parecia que o bruxo quando escreveu a carta estava tentando rasgar o papel e a segunda coisa que Lyra teve visão, foi o título Eclésia disciplinar que fez ela largar o envelope sobre a mesa abalada.
— Lyra, oque aconteceu ? Oque houve ? — Perguntou Margot vendo espanto no rosto da garota.
— Ah droga ! — Eleanor exclama com a carta em mãos. — Ela está sendo selecionada para uma Eclésia disciplinar.
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Lyra brincava com garfo em mãos sequer conseguindo tomar seu café da manhã, pelo jeito o tempo dela na Academia seria mais curto do que ela imaginava. Lyra se sentia uma tola ! Tinha se esforçado tanto para provar que era uma bruxa e agora seria renegada como uma. Isso não era justo. Nada na sua vida parecia ser muito justo ! Seus pais foram assassinados ! Ela foi esquecida e agora seria expulsa do local que esqueceu de sua existência.
— Você não vai tomar seu café ? — Pergunta Eleanor, com um óculos de sol em seu rosto tentando se esconder da luz solar que invadia o salão principal pelas grandes janelas nas laterais.
— Porque você tá assim ? Parece morta.
— Não seja grossa ! Não ver que ela está preocupada. Será que não ver que ela pode ser expulsa. — Margot lembrou fazendo Eleanor fazer uma careta.
— Ah não seja chata ! Só estou pedindo café da manhã dela. É feio desperdiçar comida. — Rebateu a morena. — Você nunca ouviu dizer que se lobos ficarem famintos eles comem pessoas ? Por acaso quer que eu te como ?
— Arrg ! Porque você tá sentada aqui ? — Indagou a garota de cabelos curtos irritada, afastando sua cadeira da loba.
— Porque você está sentada aqui ? — Rebateu a morena fazendo a mesma pergunta, parecendo iniciar uma discussão com a loba.
— Pode pegar ! — Que foi interrompida por Lyra que levantou seu prato e entregou sua torrada e seus ovos mexidos com bacon para Eleanor que comemorou.
— Lyra você precisa comer ! Hoje você tem Eclésia. — Margot diz colocando uma maçã na mão de Lyra, que a encarou desmotivada e falou :
— Obrigada por me lembrar disso.
— Acho que você está se preocupando demais. Se o professor Devil quisesse fazer alguma coisa com você ele te mataria como matou Emília Tood. — Comentou Eleanor colocando uma torrada na boca fazendo Lyra arregalar os olhos se perguntando se seria pior ser morta ou ser expulsar ?
— O professor Devil não matou Emília Tood. — Margot contradiz.
— Ah Margot ! Todo mundo sabe que o professor Devil matou Emília Tood só que a gente finge que não. — Eleanor diz tirando o óculos e encarando a garota.
— Acho que se o professor Devil quisesse matar ela, teria feito isso no primeiro dia dela de detenção. — Comenta Margot, enquanto Lyra ziguezagueava o olhar entre as duas garotas sentindo sua respiração ficar mais forte. As opções que ela tinha não eram boas. Ser assassinada ou ser expulsa ? Ótimas opções !
— Peraí ?! Você ainda está de detenção com o professor Devil ? — Eleanor franzi o cenho parecendo surpresa.
— Sim !
— Nossa, você deve ter chamado mesmo atenção do professor Devil. — Eleanor comenta fazendo Lyra enrugar a testa.
— Como assim ? — Lyra indagou. Era uma tortura ficar de detenção com professor, se ela havia chamado atenção dele, porque ele estava a torturando.
— Lyra — Eleanor pousa as mãos sobre a mesa, parando de comer. — O professor Devil raramente coloca seus alunos de detenção. Ele é sádico ! — Lyra já sabia disso. — ele prefere castigos mais criativos. A última vez ele me fez limpar o pátio central com uma vassoura de penas em uma tempestade. Você já tentou tirar folhas de algum lugar enquanto raios explodem em seu ouvido. Isso é tortura. Eu ouvir dizer que ele até pendurou um garoto pela gravata na última torre central. — Lyra caiu seu queixo. Ela pensava que o que ela estava passando era tortura mas pelo jeito ela só estava com os pés um mar de tormenta.
— Então você está dizendo que está de detenção com o professor Devil, não é o pior ? — Lyra perguntou não conseguindo acreditar. Esse tempo todo Devil estava pegando leve com ela.
— Com certeza não é pior ! Você tem sorte. Acho que você conseguiu chamar a atenção do professor Devil. — Eleanor abriu um sorriso malicioso que Lyra não entendendo olhou para Margot confusa.
— Não seja insana Eleanor. — que a corrigiu.
— Ah não sejam chatas ! O professor Devil até que é simpático. — Argumentou a loba mordiscando um pêssego. — Ele é sombrio e misterioso ! As garotas gostam disso.
— E também matou uma aluna ! As garotas também gostam de ficha criminal ? — Margot pergunta com uma pitada de ironia e Eleanor levanta os ombros como se não se importasse.
— Pensei tivesse dito que o professor Devil não matou nenhuma aluna. — Lyra repete parecendo aterrorizada com aquela conversa, apertando até mesmo suas mãos que estavam começando a suar.
— Não liga para Margot Lyra — mãos que Eleanor pegou com um sorriso malicioso que Lyra ainda não estava entendendo. — Sabe, se eu fosse você aproveitava isso para deixar sua detenção mais interessante. Se você conseguir uma carta de recomendação do professor Devil, você garante seu futuro no meio intermediário. — Até tudo esclarecer em sua cabeça, fazendo Eleanor se assustar quando Lyra puxou o seu braço e pareceu recuar.
— Você.... você está falando de se- se-xo ? — Lyra leva a mão na boca não acreditando no que Eleanor estava sugerindo.
— Eu estava falando de você dar apenas uns beijos, mas se quiser pular para essa parte tudo bem. — Lyra ficou vermelha, nunca tinha ouvido uma conversa tão explícita.
— Essas coisas — a garota pareceu engolir as palavras — só devem ser feitas depois do casamento. Vocês não sabem ? — Lyra pergunta com uma expressão engraçada e o rosto tão vermelho que a garota parecia um tomate.
— Por que está dizendo essas coisas ? Parece até que você cresceu em um convento. — Comentou Eleanor rindo.
— Mas eu cresci em um convento ! — Lyra quase gritou fazendo algumas faces se voltarem para ela. — E isso é pecado.
— Você é uma bruxa ! Acho que alguém te ensinou algumas coisas erradas. — Eleanor coloca o óculos no cabelo e volta a tomar o seu café, um pouco incrédula de que a garota realmente havia crescido em um orfanato.
— Você por acaso é burra ! Será que não ver. Ela ainda não chegou sequer nos beijos. Ela nunca fez essas coisas. — Comenta Margot o óbvio fazendo Lyra quase mergulhar embaixo da mesa.
— Pensei que você também não tivesse feito essas coisas. — Eleanor olha para Margot de cima baixo fazendo a bruxa olhar para frente, colocando uma colher de aveia e morangos na boca.
— Eu já fiz. — e em seguida responder constrangida.
— Com quem ? — Pergunta Eleanor curiosa e Lyra se sente aliviada pelo alvo daquela conversa não ser ela.
— Thomas do último ano.
— Último ano ! — Exclama Eleanor como Margot estudava no mesmo período que ela, Lyra acreditava que Margot tinha sua idade. — Que p**a. — Eleanor diz com um sorriso largo no rosto, que fez Lyra se perguntar se deveria está sentada mesmo naquela mesa. Se ela bem se lembra, até conversas profanas poderia jogar uma pessoa no inferno. Lyra também se perguntava se inferno era melhor do que está na presença de Devil Domini. A carta que ela havia recebido ontem tinha sua assinatura ! A assinatura de um demônio que queria fazer sua vida um inferno.