A sala escura tinha cheiro de Whisky e livros velhos, que comprometia a arquitetura do ambiente pela quantidade exorbitante de exemplares espalhados de forma caótica por móveis velhos, como se em algum momento um forte vento tivesse passado pelas janelas entreabertas de grandes cortinas brancas e consigo trouxesse uma grande tempestade. Porém quando uma leve brisa rompeu as cortinas e com mesma sincronia tocou a sobre a capa preta que caia sobre os ombros do homem que parecia se esconder nas sombras, ficou claro que não era o fantasma da tempestade que o assombrava mas sim algo muito mais cruel....
O Fantasma das lembranças
Que o atormentou mais uma vez, quando o vento além de trazer o gélido frio noturno da Romênia, trouxe também uma carta. Trazida por uma vasta poeira dourada, que saíam das pequenas e quase invisíveis asas de uma minúscula fada magricela, que pulou pela janela e correu, assim que os olhos opacos de Thanatos a capturaram. Que não tendo urgência em descobrir o conteúdo que continha a carta, se levantar com desprezo de sua poltrona, colocar o seu copo de Whisky, que já estava na metade, em cima da mesa e pega a carta em mãos parando o olhar surpreso quando reconhece a letra da remetente.
"Thanatos, eu sei que sou a última pessoa que poderia lhe pedir algo, mas se algum dia você me amou, me encontre ao anoitecer embaixo da árvore de nossas memórias.”
Thanatos apertou a carta em mãos com o ódio contaminando suas entranhas, aquela que lhe pedia ajudar nem mesmo digna do pouco de sua misericórdia, porém quando a sua mão se abriu um sentimento diferente lhe tomou, e o passado que ele estava fugindo aquela noite finalmente conseguiu atormenta-lo e ele sentiu culpa, e isso lhe corroeu.
Apesar de Maia tê-lo traído com o amor é agora carregar o maldito nome Vandergard, ele a traiu com a vida é agora ela estava correndo perigo, porém ele não podia também ignorar o fato que poderia ser uma armadilha, já que a bruxa sabia exatamente quem ele era.
Seus pensamentos estavam a mil ! E ele não gostava disso. Não gostava de não ter o pleno controle de todos a sua volta, principalmente de si...
Mas era Maia, ela não o trairia.
Quem ele queria enganar ? ela o considerava um monstro e o atacaria pelas costas sem nem mesmo pestanejar, da mesma forma que ele a atacou, e por isso, pela culpa, ele não poderia ser recusar ir ao seu encontro.
Não a abandonaria !
E por isso Thanatos se lança na escuridão como caçador da noite ! Suas capas antes tão compridas se transforma em escuras asas de corvo, que se afunda nas sombras a frente, as domando como um predador.
~ ☆ ~
Os cabelos ruivos da bruxa se destacavam na escuridão a frente do lugar que carinhosamente banhava sua mente com a lembrança de sua infância. O lugar que um dia foi vivo, agora tinha apenas uma árvore de galhos retorcidos plantada em um solo morto, porém isso não a atingia, aquele lugar nunca significou muito para ela, mas oque ela estava prestes a perder significava e por isso tinha que fazer escolhas.
— Sabia que você viria — sussurrou Maia contra o vento ao ouvir um galho quebrar atrás de si.
— Mas não deveria — Rebate Thanatos friamente se aproximando com sua capa preta caída sobre os ombros, quase invisível na escuridão.
— Mas veio — Maia se vira de forma brusca — como você está ? — e pergunta, sustentando um tímido sorriso.
— Como achar que deveria esta ? — que Thanatos ignorou e respondeu de forma rígida com seus pensamentos ainda em confusão.
— Thanatos eu sei.....
— NÃO ! VOCÊ NÃO SABE ! — Vociferou ele com o ódio visível em seus olhos, que se tornaram vermelhos como sangue, fazendo Maia recuar.
— Desculpa — obrigando o bruxo voltar ao seu controle. Não queria assustar a ruiva. — Você não deveria está aqui, será que não sabe dos boatos ? Eu facilmente a levaria para Malquior, para finalmente terminar oque eu comecei. — Porém isso não funcionou. O tom ameaçador de sua voz, não somente assustava quando ele bradava com grave voz, mas também quando ele diminuía em tom certo para parecer um sussurrar da morte. Tão fria quanto ela.
— Você nunca me machucaria Thanatos. — Porém mesmo com a ameaçar, Maia se manteve firme e encarou o bruxo.
— E como pode ter tanta certeza ? — fazendo ele lhe dar as costas, se negando a olha-la nos olhos. — Será que o inútil do Vandergard não o alertou quem eu sou ?
— Eu sei quem você é Thanatos ! — mas Maia se aproximou novamente, e lhe tocou nos ombros, destilando seus dedos sobre a sua estrutura robusta. — E principalmente dos seus interesses, daquilo que é importante para você. E por isso eu quero pedir para você cuidar deles. Você é o único que o enfrentou. — Maia fala firme, fazendo Thanatos a encarar com suas sobrancelhas em uma linha reta. O bruxo não conseguia acreditar no que Maia estava lhe pedindo. Como depois de tudo ela ousava acreditar que ele aceitaria cuidar dos filhos dela? Daqueles que carregavam o maldito sangue Vandergard — você é o único que tem poder para garantir que eles tenham um futuro.
— Não preciso de bajulações Maia, nada que me diga me fará cuidar de suas crianças. — Thanatos pega o braço da ruiva, paralisando a mão da mesma em suas costas. — Não há sequer motivos que me leve assumir essa tola responsabilidade. — E em seguida a encarar. Com os olhos queimando e fúria.
— Você sabe que há — que apesar tenebrosos, não fez Maia desistir. — Thanatos você mais do que ninguém sabe dos planos dele e do interesse de Malquior pelas chamas. Ele não irar permitir que eles lhe roubem a imortalidade, ele necessita de um herdeiro das chamas. As chamas a aceitaram Thanatos, você precisa ajudá-la ! Boa parte disso é culpa sua também. — e trouxe novamente a culpa que tanto atingia Thanatos. Ele era o maior culpado de tudo que estava acontecendo. Seu ódio é ambição lhe deu oque ele muito desejou ! Poder ! Riqueza... todos seus inimigos rendidos perante si ! Porém agora em silêncio, ele constatava que muitas coisas que o pertenciam lhe foram tiradas. E ele precisava toma-las novamente. — Thanatos eu irei morrer — Maia rompe o silêncio.
— Não ! Não irar — Atirou o bruxo — eu não irei permitir.
— Você sabe que isso não é possível — riposta Maia mantendo o seu olhar firme — mas há um jeito de criar uma possibilidade de vence-lo no futuro. Ele será forte Thanatos, meu filho poderá derrotá-lo. Você sabe oque a profecia diz.
— Thanatos encarar a mulher sem interesse. — Mas se ele tiver um herdeiro da Corte iluminada, nada poderá detê-lo. — Maia falava como se tivesse um plano bem arquitetado em sua cabeça, um plano que Thanatos estava começando a entender, porém se negava acreditar.
— Onde está querendo chegar ?
— Se ela pertencer a outro, ele nunca poderá tomá-la. — A voz de Maia se tornou fria e seu semblante distante. Distante de tudo oque Maia um dia foi. Encoberto pela luz noturna, Thanatos buscou nos olhos de Maia aquilo que a ruiva um dia foi para ele. Mas não encontrou, somente havia desprezo em seus olhos cinzas como cristais ! Mesmo desprezo que surgiu em seus olhos, quando ele finalmente entendeu onde a bruxa queria chegar.
— Você não está insinuando que....
— Eu não quero minha filha nas mãos daquele monstro, prefiro que ela seja sua. — Mas sim ! Maia estava sugerindo exatamente oque ele estava pensando.
— E oque te faz pensar que eu não sou um monstro por igual ? Que também não irei feri-la ? Usa-la somente para os meus desejos ? — Thanatos pergunta encarando Maia com frieza. — Será que es tão tola, que esqueceu facilmente quem eu sou ? Eu sou Thanatos Chaos ! O único responsável pela queda da Eclésia, o único responsável pela sua futura morte. — A voz de Thanatos era assassina, então Maia recuou.... momentaneamente.
— Não, eu não esqueci. Mas você é diferente.
— E porque achas tal tolice ? — questiona o bruxo com um sorriso sádico brilhando em seus olhos vermelhos, como estivesse acabado de ouvir alguma hilária piada, não considerando que haveria algo que pudesse diferencia-lo, mas havia :
— Porque você pode amar ! — Ao contrário de Malquior, ele não havia adquirido nenhum poder que viesse do véu e mesmo que ele duvidasse, ainda havia sangue em suas veias. Ainda estava vivo ! — Por favor Thanatos cuide dela !
— Maia suplica — ela tem meus olhos. — E pela primeira vez o bruxo que não demonstrava nenhum interesse aparente, mostrar, encarando a escuridão do espaço parecendo guardar algum pensamento interno.
— E oque irar garantir que ela será minha ? — pensamento esse que ganhou voz, porém Thanatos duvidava que Maia estava disposta a ir tão longe. Mas sem ele esperar, ela o surpreendeu :
— Oque você quiser. — A bruxa realmente estava disposta a tudo ? Ele questionava. E por isso decide jogar.
— Eu quero um Pacto. Um Pacto de sangue. — declarando sua condição com austero semblante, acreditando que Maia desistiria ali. Um pacto de sangue era umas das maldições mais fortes de seu mundo, e como a maioria das maldições o seu fim era a morte ! O único jeito de quebrá-la.
— Está bem — Porém deixando Thanatos totalmente surpreso, a resposta de Maia foi totalmente diferente do que ele esperava. Parecendo não ter nenhum receio com o futuro de sua filha, Maia aceitou a sua condição. — Tem uma adaga? — tomando a frente e mostrando que realmente estava disposta, obrigando Thanatos a tirar uma adaga que ele sempre carregava consigo debaixo de sua capa e entregar a mesma, que passar a lâmina bem fina em seu pulso, fazendo um pequeno corte que se mostrou com o sangue que escorreu lívido para a sua mão. — Sua vez ! — e em seguida o entregou a lâmina ao bruxo, que ainda não estava acreditando que Maia realmente estava lhe entregando sua própria filha. Mas se ela estava pensando que devido a sua suplicar ele seria benigno, ela estava enganada ! Ele iria arrancar do pacto tudo oque ela lhe privou.
Ele sabia que uma guerra eminente estava por vim e ele também sabia exatamente oque perderia, mas agora, como um presente do destino ele seria recompensado por tudo que ele teve que perder. Um presente que talvez só uma pessoa extremamente egoísta aceitaria, e como ele já era considerado algo muito pior em seu mundo, ele assumiria o seu papel.
De alguma forma ter os olhos de Maia somente para ele durante toda sua miserável vida lhe pareceu tentador e ele mais do que ninguém merecia que a garota fosse dele. E por isso sem receios passou a adaga por igual em seu pulso e deixou seu sangue escorrer, sentindo o gosto ácido e amargo de vingança no céu de sua boca, então nesse momento Maia estendeu a sua mão e Thanatos uniu a sua a dela, apertando a mão da mesma sentindo seus sangues se misturarem. A partir daquele momento tudo que seria dito, todos os poderes e o céu acima dele concordaria e nada poderia desfazer, apenas a morte.
E tomando novamente iniciativa Maia diz :
— Lux commandus — a comando da Luz, uma corrente dourada entrelaçou seu braço, ficando até o limite de sua mão, unida a mão de Thanatos, que sendo comandado pelas trevas proferiu :
— Tenebrus commandus — e como esperado uma fina corrente também atingiu a mão de Thanatos, porém essa era vermelho sangue. Estava feito ! O seu sangue havia se unido e ele sabia exatamente oque pedir...
— Ela será submissa a mim e todos os meus desejos. — e como esperado uma fina corrente também entrelaçou a mão de Thanatos e avançou até o pulso de Maia mostrando a força de suas palavras, e Maia sequer reagiu a elas, parecendo esperar exatamente isso do bruxo das trevas.
— Você não suportará ver a dor dela. A dor dela será a sua dor — e ela tomou sua parte do pacto, fazendo a sua corrente avançar no braço de Thanatos. E o bruxo ao contrario de Maia, reagiu as palavras da ruiva com um olhar indignado, imaginando que teria que suportar as dores de uma criança extremamente mimada.
— Ela somente poderá se entregar a mim. Unicamente a mim. — então ele continua, em tom de possessão e a sua corrente avança no braço de Maia.
— Você estará e será para ela ! Somente para ela. — que permitiu que Maia avançasse em seus pedidos também.
— Ela será minha ! Unicamente minha até o fim de nossas vidas. Da minha e da dela. — Thanatos disse em um tom c***l e o último fio teceu no ar e preencheu a mão de Maia prendendo a bruxa tão forte que suas veias pulsaram. Porém não era o fim ! Ela ainda tinha algo a pedir...
— Você Thanatos Chaos, protegerá Lyra Rowan Vandergard de tudo e de todos nem que seja com sua própria vida e se a dela for interrompida a sua vida não ira mais existir nesse mundo. — E com isso a corrente explodiu na mão de Thanatos e seu coração queimou. O pacto estava feito.