P.O.V Henrique
“Me desculpe”
As palavras ainda não haviam saído da minha cabeça mesmo após quatro doses de puro uísque.
Como Angelina se atrevia a dizer aquilo? Sério, ela tem algum problema.
Não existe desculpas suficientes para estar dando para o seu primo pelas suas costas e depois ficar noiva do bastardo traidor. Um bilhetinho e******o anexado ao convite de casamento. Ela quer me humilhar? Me ver chorando por ter perdido seu “amor"? É isso?
“ME DESCULPE”? Não era essa p***a de pedido ridículo que eu queria ler. “Eu te amo e vamos voltar” era isso que deveria estar escrito. Sim, eu ainda a amo demais. Angelina foi o meu primeiro amor. Nós namoramos no ensino médio e anos depois nos reencontramos no meu penúltimo ano da faculdade. Nossa história era longa demais, eu merecia mais que um puto pedido de desculpas.
Balanço a cabeça, desistindo do copo e pegando diretamente a garrafa, bebendo direto do gargalo.
- p**a que pariu! – exclamaram ao meu lado.
Uma mulher entrou no bar voltando a maior parte dos olhares para ela, que respondeu com indiferença aos homens que a observavam. Naquele dia ela teria sido mais uma das mulheres no bar. Nem sua beleza magnífica me distraía do ódio que estou sentindo da Angelina. Ela então se aproximou do balcão onde eu bebia e me lançou um sorriso fraco.
- Dia difícil? – olhei-a imaginando se ela era mesmo bonita ou a bebida ajudava.
- Tá falando comigo? – franzi a testa, ela revirou o belo dar de olhos castanhos avelãs.
- Tá vendo outra pessoa aqui? – diz que sim, afinal o bar estava lotado. – É, realmente tem outras pessoas aqui, mas eu estava mesmo falando com você. Dia difícil? – repetiu a pergunta.
- Você não faz ideia de como meu dia tá péssimo! – resolvi responder a sua pergunta, sorrindo amargamente.
- Vou querer o que ele está tomando! – chamou o bartender, que a atendeu todo embasbacado balançando a cabeça positivamente como resposta.
- Dia difícil pra você também? – devolvi a pergunta.
- Você não faz ideia! – balançou a cabeça, soltando um sorriso tímido.
- Você está dando em cima de mim? – franzi a testa, droga que p***a de pergunta foi essa?
- Tô vendo que tu é desses caras esquisitos que a pessoa não pode dar “oi”, e eles já acham que elas querem t*****r com eles! – continuou rindo.
- Existe esse tipo? – perguntei, somente por ter gostado do tom rouco e ao mesmo tempo doce que tinha a sua voz.
- Você ficaria surpreso! – levou a dose que o cara do bar serviu á boca. – E não, não estou dando em cima de você! – fez uma careta, não pude deixar de sorrir. – Pedi o mesmo que você por parecer alguém que sabe escolher uma bebida e conversar com uma garota bonita sem bancar o i****a!
- E você se considera bonita? – questionei, mesmo sabendo a resposta, ela era muito bonita!
- p***a, não é óbvio? – se gabou.
- E aí, por que você tá bebendo às 9:00hrs da manhã?
- Preciso de um motivo?
- Claro! Você não me parece uma alcoólatra. – respondi o óbvio.
- Por que diz isso? – ela ergueu as sobrancelhas, na certa sem entender meu raciocínio.
- Pela cara que você fez quando provou o uísque! – disse. - Alguém que está acostumado a beber, não faria a careta que você fez!
- É?
- É!
Ela virou o que restava no copo, tomando tudo de uma vez.
- Está bom agora? – perguntou zombeteira.
- Sim, virar uma dose prova que você é uma alcoólatra! – ri.
- Seu país está me expulsando! – respondeu a minha pergunta inicial. – O meu visto foi negado e eu serei deportada! – indicou para o bartender servi-la de novo. – Isso é o meu adeus à minha vida perfeita.
Observei aquela beldade denominada mulher – seus cabelos castanhos, pele bronzeada e corpo escultural – tendo a ideia mais inconsequentes da minha vida.
- Quando você terá que sair do país? – sondei.
- Em três meses, por quê?
- Quer se casar comigo?
- O quê? – engasgou.
- Quer se casar comigo? – repeti como se fosse a coisa mais racional do mundo.
- Tu enlouqueceu?
- Se você casar com um cidadão americano pode ser considerada uma americana e permanece no país!
- É, eu sei! – disse. – Mas isso não vai me fazer aceitar o pedido de um louco qualquer que quer me comer! – revirou os olhos. – Eu não deveria, mas vou ter que ensinar um marmanjo a dar cantada. Olha só, funciona melhor se você chamar pra jantar, dizer que gosta de livros e toca piano, sabe? Não é pedindo em casamento no primeiro contato. Isso assusta, na verdade assusta pra c*****o.
- Eu não quero fazer amor com você!
- Sou eu quem não quero “fazer amor” com você, princesa! – ela ironizou. – Cara, que maluco.
- Não tenho intenções sexuais! – afirmei. – Você nem faz meu tipo, magra demais!
- Ahh meu amor, eu sou o tipo de qualquer um! – se gabou. E, ela realmente é o tipo de qualquer um. Até mesmo o meu tipo!
- Não o meu! – levantou as sobrancelhas duvidando. – Eu só quero fazer um acordo, e francamente o fato de ainda não ter fugido desse bar sugere que está disposta! – ela revirou os olhos. – Eu quero que se case comigo e pose de esposa ao meu lado como a Angelina jamais teria sido!
- Angelina? Quem é Angelina?
- Minha ex namorada! – expliquei. – Ela vai se casar com o meu primo em dois meses, recebi o convite hoje!
- Tu não vai chorar, né? – pareceu apavorada com a ideia. Segurei o riso e balancei a cabeça negativamente.
- E aí? Aceita?
- Olha, é tudo muito comovente mais...
- Você e eu não temos nada a perder! – exclamei. – Aqui está meu cartão de negócios! – procurei o papelzinho no bolso do paletó. – Vê? Eu sou um advogado sério, não um demente qualquer!
- E por que você está infringindo uma lei do seu país assim, sr. Advogado?
- Porque ela é uma v***a traidora! – eu disse. – E eu nem fui criado nesse país, sou brasileiro de coração! – ela me olhou atentamente por um minuto e finalmente me ofereceu a mão.
- Prazer, sou Alice Monteiro, sua futura esposa!