Foi um dia bonito e eu sei que muitos membros da nossa matilha mudaram e correram pelo nosso território juntos. Eu sentei em um banco com vista para o lago, que ficava perto da casa dos meus pais, e me pegava sonhando acordada aqui com frequência quando tinha tempo livre. Meu décimo sétimo aniversário era amanhã e deveria ser um dia alegre, já que seria o dia em que minha loba encontraria seu companheiro. Infelizmente para mim, nasci sem loba e, sem ela, eu não seria capaz de sentir o vínculo da loba. Eu ouvi histórias sobre o vínculo da loba e a união dos companheiros fadados. A atração do vínculo é diferente de qualquer outra coisa. A pessoa é honestamente sua melhor metade, a manteiga de amendoim para a sua geleia, a cola que pode manter todas as suas partes quebradas juntas.
Eu suspiro e olho para a imensa massa de água. Eu queria poder conversar com minha mãe, mas ela foi morta me protegendo quando um pequeno grupo de Lobos Renegados invadiu nosso território. Eu não pude me transformar e ela morreu me protegendo. O Alfa Michael e os outros guerreiros chegaram tarde demais. Os renegados acabaram de rasgar a garganta da minha mãe e me encontraram encolhida, me escondendo em uma bola aterrorizada assistindo minha mãe morrer. A partir desse momento, fui tratada de forma diferente por todos na minha matilha.
Já me chamaram de fraca, feia, patética, uma desgraça, perdedora e tantas outras coisas dolorosas. Perdi todos os meus amigos, exceto Claire, que tem sido meu apoio em tudo isso. Meu irmão mais velho, que foi treinar com as matilhas vizinhas para se tornar o futuro Beta, não falou comigo desde o incidente.
É solitário e geralmente o único momento em que encontro paz é quando está um dia bonito e todos fazem corridas em matilha.
Ouço algum barulho atrás de mim e me viro para ver Ryder, meu irmão Josh, a namorada do Ryder e mais algumas pessoas da escola se aproximando de mim. Quando me levanto para ir embora, um dos rapazes me segura pelo braço e ri.
— Onde você pensa que vai, seu desperdício de espaço patético? — Ryder ri e acena para o lago.
Sou levantada por Alex, um dos caras mais fortes da nossa idade, e sou jogada na água. Afundo e chuto meu caminho até a superfície, voltando à tona e engasgando em busca de ar. Ouço risadas na margem da água e provocações. Olho para meu irmão, que apenas balança a cabeça para mim. Nada dele, nenhuma ajuda ou sequer uma tentativa de detê-los. Ele só fica ali parado, me olhando com pena.
Ele nunca se juntava para me perseguir, apenas ficava lá enquanto isso acontecia comigo. O que é muito r**m, eu acho. Ele poderia facilmente impedir isso, mas entendo que nossa mãe morreu por minha causa.
Nado até a margem lamacenta para sair e escorrego, caindo de costas. Ouço gargalhadas e risos. Apenas deito ali me sentindo derrotada, enquanto meus olhos começam a se encher de lágrimas. Pisco algumas vezes para contê-las quando Ryder e Alex ficam de pé sobre mim. Eles estavam prestes a derramar algo em mim quando ouço Claire:
— Deixa ela em paz! Vocês não têm algo melhor para fazer? — Ela se posiciona na minha frente e Ryder e Alex recuam.
— Calma, Claire, estávamos apenas nos divertindo com a perdedora sem loba — Alex ri — Além disso, por que está mandando no futuro Alfa?
Ela o encara com raiva.
— Se ele fosse um verdadeiro Alfa, saberia o que fazer — Os olhos dela se estreitaram e ela rosnou.
Notei que meu irmão já tinha se afastado do grupo. Claire se abaixa e me ajuda a levantar. Estou lutando para não chorar, nunca me permito chorar na frente deles. Não quero parecer mais fraca do que já sou.
— Vamos, Avalynn, vamos voltar para sua casa e tentar te limpar? — Ela fala suavemente. Eu assenti e me levantei.
Andamos de volta para minha casa juntas em silêncio. Uma vez lá, Claire congela do lado de fora da casa. Olho para ela e franzo a testa:
— Você não vai entrar?
Ela me olha e faz que não com a cabeça.
— Você não sente esse cheiro maravilhoso?
— Tudo que cheiro é água do lago e terra lamacenta — Suspiro e abro a porta.
— Companheiro — Ouço Claire dizer baixinho.
Quase fui derrubada por meu irmão ao sair correndo para encontrar Claire.
— Companheira — Ele respondeu.
Bom, isso é incrível, disse para mim mesma e fechei a porta para tomar um banho e me limpar. Liguei a água quente e levei algum tempo para me lavar e tirar toda a sujeira. Lavei meus cabelos quatro vezes para ter certeza de que a lama tinha sido toda removida. Fiquei embaixo da água e pensei em Claire e meu irmão, Josh. Eu poderia perder a única amiga que me resta ou poderia recuperar meu irmão e retomar a comunicação.
Estava pensando demais, então desliguei o chuveiro e me sequei. Escovei meu cabelo e o sequei, prendendo-o em um coque bagunçado. Desci as escadas e vi Claire rosnando para Josh.
— Você pode ser meu companheiro, mas deveria ter vergonha de como tratou sua irmã. Se recomponha!
Claire se virou para mim, segurou minha mão e saímos. Ela estava praticamente me arrastando e furiosa.
— O que aconteceu? Claire? Você rejeitou o Josh?
Ela parou e se virou para mim, balançando a cabeça.
— Não, eu não o rejeitei. Deveria, pela forma como ele te tratou neste último ano!
Então o ouvimos.
— Claire, por favor, espere! Podemos pelo menos conversar? Por favor, me escute!
Ela suspirou e olhei para ela.
— Claire, vá falar com ele. Lembre-se de que nem sempre temos uma segunda chance de companheiro, é tão raro! Geralmente são apenas Alfas de alto escalão e realezas. Eu vou ficar bem, vou voltar para dentro de casa.
Sorri e passei por meu irmão, que acenou para mim e pude ver que era um gesto de agradecimento. Voltei para minha casa e fui para o meu quarto.
PONTO DE VISTA DE CLAIRE
Fiquei de braços cruzados em frente ao meu parceiro. Ele cheirava maravilhosamente bem, quase me distraindo de estar irritada com ele. O aroma de sândalo enchia minhas narinas. Era tão difícil ficar com raiva dele, mas eu estava. Especialmente porque ele deixou Avalynn sozinha, sem ligações ou check-ins, sendo atormentada e intimidada pelos amigos dele.
Ele suspirou e pude ver que ele estava nervoso, mexendo nas moedas no bolso.
— Por quê? — Eu perguntei a ele.
— Eu não sei. Culpo-a por perder nossa mãe, a única pessoa que nos restava — Ele olhou para baixo, envergonhado.
— Ela morreu protegendo a filha que, lembro-lhe, é a pessoa mais vulnerável de nossa matilha! Ela não tem um lobo! Ela precisa de proteção! — Eu gritei com ele e isso o fez recuar.
Ele assentiu.
— Eu sei, mas por quê? O que há de errado com ela? O que ela fez para deixar a deusa tão zangada a ponto de não a abençoar com seu próprio lobo? — Ele argumentou.
— Ela não fez nada! Você sabe que ela é uma das pessoas mais altruístas que alguém conhece. Ela ainda ajudaria você ou qualquer pessoa se pudesse. Isso inclui o Ryder e aquele cabeça-dura do Alex — Eu murmurei, não conseguia acreditar no meu parceiro.
Ele sentou-se em um tronco e olhou para cima, assentindo com a cabeça.
— Eu sei que ela faria isso. Ela é melhor do que qualquer um aqui, de longe. Apenas... é só... tudo. Eu a vejo, vejo o corpo morto de minha mãe e ela encolhida em uma bola. É uma imagem que não sai da minha mente e me deixa com raiva — Seus punhos se cerraram e eu podia sentir a raiva emanando dele.
— Olha, Avalynn teria lutado se pudesse. Lembro dela me contando detalhes, e detalhes que o Alfa contou sobre eles estarem atrás dela. Você sabe por que alguém estava tentando sequestrá-la, Josh?
Ele balançou a cabeça para mim.
— Não, nem sabia disso. Acho que nunca perguntei.
Revirei os olhos.
— Exatamente, você nunca perguntou. Ela foi alvo de sequestro. Ninguém sabe por que, nem mesmo ela — Sentei-me ao lado dele e coloquei minha mão em sua coxa. Senti as faíscas do vínculo de companheiros — Você terá que trabalhar no perdão. Não é culpa dela. Ela é minha melhor amiga e sua irmã. Você terá que se reconciliar com isso.
Ele assentiu e colocou a mão sobre a minha.
— Dê-me algum tempo, eu vou fazer isso. Pode levar alguns meses, mas eu farei o meu melhor — Ele deu um pequeno sorriso.
Me aproximei e o beijei suavemente nos lábios, sentindo as faíscas do vínculo de companheiros correndo por mim. Pelo menos eles têm uma chance de serem família novamente.