VINCENZO CACCINI
Não eram nem sete da manhã quando o toque do meu celular me acordou. Foi um pouco difícil para criar coragem para levantar e atender, mas quando vi a insistência da pessoa audaciosa que insistia em me ligar àquela hora da manhã resolvi atender.
- Vincenzo... - um sussurro quase inaudível me assustou. Eu sabia quem era a dona da vez, me lembrava muito bem dela se contorcendo embaixo de mim enquanto falava meu nome daquela mesma forma. - Vincenzo, por favor....
- Cassandra? - perguntei surpreso, não esperava que ela ligasse pra mim depois de tanto tempo sem nem dar sinal de vida. Cheguei até a pensar no pior, levando em consideração as coisas que me disse.
- Me ajuda, por favor. - sua fala nervosa foi o suficiente pra me por em alerta.
- O que aconteceu?
- Eles estão atrás de mim, eles vão me achar!
- Respira fundo, tenta manter a calma. Procura um local seguro e não desliga o celular, mantenha a calma e me fala que tá acontecendo, entendeu, Cassy? Estou indo encontrar você.
- E-eu estou na cabine do banheiro masculino de uma bistrô na beira da estrada, e-eu tentei esconder o carro, m-mas ele capotou.
- Você se machucou? Está ferida em algum lugar?
- E-eu machuquei minha perna, mas nada demais, estou bem, eu só estou com medo... E-eles estavam me seguindo, eu tenho certeza que estão me procurando ao redor do carro, esse foi o lugar mais próximo que eu consegui achar pra me esconder... está lotado de caminhoneiros...
- Me envia sua localização, eu vou achar você.
- Esse é o celular da minha irmã... tem senha, nem sei como consegui ligar.
- Vou rastrear o celular, não saia de onde esta entendeu, Cassandra? Fique ai. Não tenha medo, eu vou achar você.
- Vem logo por favor...
Não sei como consegui, mas em menos de dez minutos eu estava no carro, tentando achar sua localização, enquanto falava com ela o tempo todo para acalma-la, eu sentia seu desespero, seu medo e isso me deixava mais nervoso e angustiado ainda. Eu não sabia o que estava acontecendo, mas precisava acha-la.
Quando finalmente hackeei a merda do celular, consegui sua localização exata e como um louco dirigi até lá. Aos prantos Cassandra avisou que o celular estava descarregando e me pediu para não demorar, foi então que eu corri, corri como nunca na vida. Por sorte, o trânsito naquela manhã era pouco, então me importei em sofrer um acidente por conta da velocidade.
No caminho até o local vi um carro pegando fogo e várias pessoas suspeitas ao redor, tive certeza de que eram essas pessoas que estavam atrás dela, não demorou mais de meia hora, e eu estava no bistrô, me perguntando como ela tinha conseguido chegar ao local após sofrer um acidente de carro, eu esperava que ela realmente não estivesse machucada, ou eu não responderia por mim.
Saí do carro e quase corri até o banheiro.
- Cassy?- chamei para que ela pudesse me reconhecer. Uma das cabines teve a porta lentamente aberta e eu a vi ali, sentada no chão, seu rosto estava vermelho pelo choro e a perna estava machucada, jorrando sangue. Imediatamente a peguei no colo. - Está bem? - ela assentiu, escondendo-se contra meu corpo, voltando a chorar como uma criança assustada. - Eu trouxe uma roupa pra você, melhor trocar pra que possamos ir sem que levante suspeitas, certo? - ela assentiu. - Sua perna dói? - ela negou, mas quando toquei a perna ela gemeu de dor, voltando a apertar-se contra meu corpo. - Disse que não estava machucada! - exclamei alto e ela me ignorou. - Precisa falar comigo, só assim eu posso te ajudar, p***a!
Ela se assustou, encolhendo-se mais e eu suspirei, seria um dia difícil pra mim.
CASSANDRA VILLAS
Abri os olhos em um quarto completamente branco, primeiro pensei ser a sala de um hospital, mas pela decoração luxuosa descartei a ideia e comecei a ficar com medo de pensar que eu havia sido pega pela família Fuego.
Imagens avulsas vieram em minha mente. Alessandra, o carro girando e girando, um banheiro e a voz de Vincenzo...
Como se eu o tivesse invocado, a porta do quarto se abriu e a figura grande e imponente adentrou o quarto vindo em minha direção, tocou minha testa, verificou o soro, me fazendo então perceber que eu estava com um agulha na veia e finalmente falou comigo.
- Como se sente? Sua perna dói?
- Me desculpe por causar todo esse transtorno... - falei desviando o olhar. - Na hora do desespero, foi a única pessoa que me veio a cabeça, foi o único número que eu achei...
- Você fez o certo, não precisa se desculpar - tocou minha testa outra vez, verificando a temperatura. - Agora que está melhor, pode me contar o que aconteceu?
- Minha cabeça estava em risco, eu tive que fugir, precisava salvar minha vida e a... - calei a boca, percebendo o que estava fazendo. Não iria contar a ele o que estava acontecendo. Ele já havia me ajudado demais, e talvez ele fosse pedir pra tirar a criança e eu não aceitaria de forma alguma, já que havia me apegado ao bebê sem forma. Era a única coisa que eu tinha. O bebê.
- E a...? - me encarou esperando que eu continuasse minha fala.
- E a minha irmã. - suspirei mentalmente aliviada. - Ela me ajudou, mas eles continuavam me seguindo... Eu tentei pegar um atalho, mas o carro acabou virando, eu consegui correr entre o mato até o bistrô, e você me achou.. - resumi o máximo que consegui, minha cabeça doía e eu não queria falar muito - Minha mochila! Onde está a minha mochila? Eu tenho uma passagem, preciso chegar ao Rio de Janeiro pra poder embarcar para a China, os amigos do meu cunhado estão me esperando, eu preciso ir...
- Você passou dois dias desacordada. Perdeu seu voo faz um bom tempo.
- Eu preciso comprar outra passagem e ir Vincenzo, não posso ficar aqui por muito tempo, eles vão me achar.
- Eu protejo você. - garantiu, me dando uma sensação de segurança estranha, algo que nunca havia sentido antes.
- Não é sua responsabilidade... - falei após voltar a realidade. -- Não posso ficar muito tempo com você, não quero te envolver nos meus problemas... Você é uma pessoa boa e-
- O que te faz pensar que eu sou uma pessoa boa? - me interrompeu, seu olhar era indecifrável e me incomodou.
- Você me ajudou duas vezes, isso me fez pensar que é uma pessoa boa. - o enfrentei.
- A primeira vez eu me beneficiei mais que voc-
- Mas está me ajudando outra vez, não me importo com o que acha, pra mim é uma boa pessoa e não quero te envolver nas minhas coisas, então por favor, me deixe ir embora.
- Não conhecia esse seu lado atrevido, Cassy... - tocou minha bochecha, me fazendo encolher. Soube então que era sensível ao seu toque e ele também sentiu isso, já que um daqueles sorrisos sacanas nasceu em seus lábios.
- Eles vão me matar se eu continuar aqui, eles vão me encontrar e vão me matar, depois expor meu corpo de exemplo para as mulheres que se "rebelarem" também. - apelei.
- Apenas confie em mim. - repetiu. - Confie em mim igual confiou no dia em que nos conhecemos, Cassy. Pode fazer isso?
Quase que involuntariamente assenti e ele sorriu, tocando minha cabeça, como se estivesse fazendo carinho em uma criança.
Isso me incomodou, ele me via como uma criança medrosa? Não queria que ele me visse daquela forma, eu já era uma mulher, ele tinha me feito mulher.