UM

1169 Words
Acordei sendo sacolejada por Alessandra. — Pegue seus documentos e vista uma roupa quente - sussurrou em um tom quase ameaçador. — O q-que esta acontecendo? - perguntei tentando manter os olhos abertos, não devia ser nem três da manhã ainda. — Eu ouvi uma conversa do meu pai com o pai de Miguel e ele quer sua cabeça. - respondeu simplesmente - Tem que fugir ou você vai morrer. Você e o bebê. Faziam dois meses que eu havia descoberto uma das muitas traições de Miguel Fuego, dois meses que eu havia dormido com um estranho para impedir que nossa união fosse realizada e fazia poucas semanas que eu havia descoberto a gravidez, Alessandra havia descoberto na verdade, já que eu era lerda demais pra saber e surpreendentemente estava me acobertando. Nesse tempo, minha madrasta, Megan, estava tentando convencer meu pai a não fazer nada bárbaro demais comigo, já ele me ignorava desde o dia que descobriu que eu não era mais uma menina pura. Já Vincenzo Caccini, o homem que tirou minha inocência, me deu uma das experiências mais inesquecíveis da minha vida e era o pai do bebê em meu ventre, eu não sabia nada dele. Após passar a noite comigo e ser um verdadeiro cavaleiro, ele me deu um cartão com seu número pessoal, me pediu para ligar, mas eu o ignorei, não queria saber, principalmente depois de descobrir que estava grávida, eu não sabia como, já que havíamos usado preservativo. — M-mas a minha mãe, ela disse que meu pai não podia fazer nada comigo, ela não ia deixar! - exclamei já sentindo meus olhos encherem d'água. — Se sua mãe tentar impedir, ela vai acabar morrendo também, nosso querido pai não ama ninguém a ponto de declarar guerra com um clã tão poderoso quanto os do Fuegos, Cassandra. - ela se afastou colocando as mãos na cintura - E é melhor se apressar, quanto mais cedo sair de casa melhor. Assenti me levantando rapidamente, peguei meus documentos, me vesti e encontrei Alessandra vigiando a porta do meu quarto, segurando uma mochila. — Aqui tem dinheiro suficiente para você não passar fome por pelo menos um mês, roupas e uma arma. - ela começou — Vou te levar pra uma parada, você vai pegar uma van que vai te levar pra São Paulo, tem uma passagem de avião pra China, uns conhecidos do Pedro vão te ajudar, pode ficar com eles o tanto que precisar, eles vão proteger você e o bebê, não se preocupe. Eu vou tentar manter contato com você, mas não prometo nada. — Porque está me ajudando, Alessandra? - perguntei antes de sair do quarto. Ela parou por uns instantes e me encarou, tive medo, seus olhos castanhos pareceram se tornar mais escuros ainda. — Antes de morrer, nossa mãe, nossa verdadeira mãe - deu ênfase. Alessandra e eu não éramos filhas da atual mulher do nosso pai, nossa mãe biológica morreu pouco tempo depois de me dar a luz, não se sabe ao certo, Alessandra apenas a achou morta comigo em seus braços, por isso que ela sempre foi dura comigo, eu sabia que ela me culpava pela morte da grande Senhora Villa. Eu tinha aceitado Megan, a mulher que me criou como minha mãe, mas minha irmã não. — Nossa mãe, pouco antes de te dar a luz me fez jurar que cuidaria de você, nunca tive a chance, mas acho que salvar sua vida e a da sua criança já é um começo. - saiu do quarto e eu a segui em silencio até o seu, onde meu cunhado, Pedro Beaumont, dormia jogado na cama. Cuidadosamente ela abriu uma passagem secreta entre a estante de livros, fiquei surpresa, mas não perguntei nada e apenas a segui entre o pequeno espaço que eu não sabia que existia. Quando o túnel acabou, vi que estávamos fora das propriedades do meu pai e um carro esperava por nós. Segurando a mão da minha irmã, para conter o medo, a segui até o carro. — Se descobrirem que me ajudou, o que vão fazer? Está se pondo em risco, Alessandra... - falei culpada e ela deu de ombros. — Eu sou a filha mais velha, casada com alguém do clã de Beaumont, o que poderiam fazer contra mim, Cassandra? Nada, nem mesmo o clã Fuego, Pedro não permitiria, antes preciso dar a ele um filho. - respondeu tão amarga, que fez meu coração doer. Pedro e Alessandra eram casados a quase cinco anos, eu lembro que ela parecia especialmente feliz em seu casamento, mas, coisas aconteceram e os dois não eram tão próximos como antes. Quando descobri o que Miguel fazia, fiquei com medo de ter um casamento como o da minha irmã. O caminho foi silencioso até chegarmos em uma parada que parecia ser de ônibus, eu sentia o quanto Alessandra estava nervosa, mesmo que não falasse nada e seu rosto fosse uma perfeita paisagem. — Merda... - murmurou irritada surrando o volante. — Estão nos seguindo, Cassandra. p**a merda. — O p-pai? - perguntei sentindo o medo tomar conta de mim por completo. — Antes fosse, parece ser o carro de Miguel. Não podemos ficar aqui, temos que despista-lo ou nosso plano vai por agua abaixo... - murmurou obviamente irritada. — Vai ter que chegar no Rio de Janeiro sozinha e vai ser dirgindo. — O que? - indaguei vendo a tirar o cinto de segurança. — Vou fingir que alguém me roubou, vou cair na pista gritando por ajuda, nesse momento você acelera, vai o mais rápido que puder e não pare por nada. Entendeu? — Alê... - meus olhos estavam cheio d'água. — Estou perguntando se entendeu. - me olhou da sua forma rígida de ser e eu assenti. — Obrigad- — Me agradeça salvando sua vida. - ela abriu a porta e se jogou para fora, passei rapidamente para o banco do motorista e sem pensar duas vezes, pisei o mais forte que consegui no acelerador. Mesmo querendo olhar para trás, as palavras de Alessandra pairam sobre minha cabeça, ela tinha arriscado sua vida por mim, eu não podia simplesmente por tudo a perder. Nunca esqueceria o que ela fez por mim, e iria recompensar de alguma forma, quando eu pudesse. Em todos os dezenove anos da minha vida, Alessandra nunca fez questão de ser minha irmã, mas naquele momento eu a havia perdoado. Ela estava cumprindo a promessa que fez a nossa mãe e estava cuidando de mim, como uma verdadeira irmã e depois de muito tempo, eu me senti amada de verdade. Era um tipo de amor que eu não conhecia, um amor mais forte e poderoso, um amor diferente que me deu forças que eu nem sabia que tinha. Com uma determinação que nunca me atingiu antes, eu dirigia sem nem olhar para os lados. Focada, estava correndo, não apenas por mim, mas por minha irmã e também pela criança que se formava em meu ventre lentamente. Eu precisava ficar viva por nós.
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