Faziam dois dias que eu estava "internada" na casa de Vincenzo, que ele afirmou ser mais seguro do que um hospital. Vincenzo Caccini falou que me protegeria e realmente estava, mas aquela proteção me sentir um pouco sufocada demais, parecia que eu estava no meu clã outra vez, e não gostava disso.
— Que carinha é essa? - perguntou ao entrar no quarto com uma bandeja em mãos. Era meu almoço. Estava comendo muito bem esses dias apesar dos enjoos frequentes que eu sentia e tentava disfarçar a toco custo.
— Quanto tempo vou ficar trancada aqui? - perguntei. Não queria parecer ingrata, mas, não era isso que eu queria pra minha vida, se fosse pra ficar presa eu estaria aos cuidados dos meus pais ainda.
— Se quiser posso te levar pra um passeio no jardim. - respondeu se sentando ao meu lado da cama, colocando a bandeja ali. Fiz beicinho, não iria comer.
— O cheiro, está forte... - murmurei tocando o que parecia ser uma sopa com a colher, sentindo meu estomago revirar. — Não consigo comer isso.
— Está se sentindo bem? - tocou minha testa com uma expressão de preocupação. — Sua temperatura está normal, o que você está sentindo?
— Eu só não quero comer isso.. - virei o rosto e ele suspirou, levando a bandeja até a mesinha.
— Cassandra! - sua voz grossa e alta me assustou. — Está escondendo alguma coisa de mim? - sua mão levantou meu queixo, me fazendo encara-lo, seus olhos pareciam cruéis e senti vontade de chorar, mas me segurei, eu chorava por tudo. — Cassandra, te fiz uma pergunta e estou esperando uma resposta.
— T-tá doendo... - falei segurando seu pulso, na tentativa de me soltar, mas ele nem ao menos se mexeu. — Vincenzo! - exclamei assustada e ele finalmente me soltou. — Nunca mais faça isso! Você não tem esse direito, entendeu!?
— Eu só quero saber... - se justificou, sem me olhar. — O que está escondendo? - voltou a se aproximar e eu recuei. —Eu só vou perguntar mais uma vez, Cassandra...
— E-eu estou grávida... - falei de uma vez.
— Até quando ia me esconder isso? - perguntou calmo, bem mais calmo do que esperava.
— Se tudo tivesse corrido como o planejado, pra sempre. - respondi sincera e vi sua feição se enfurecer.
— Eu sou o pai dessa criança, acha que tem o direito de me privar da paternidade?
— Eu só não queria te envolver... - tentei me explicar. - Minha vida é uma completa bagunça e-
— Você me envolveu na sua bagunça no momento em que pediu ajuda da primeira vez, quando pediu pra t*****r comigo! - exclamou tentando manter a calma, mas não estava funcionando muito bem, suas veias estavam prestes a explodir. — Eu devia ser o primeiro a ser informado! Se você não precisasse de ajuda outra vez eu nunca saberia que seria pai! - exclamou indignado.
— Me desculpe....
— Vou pedir pra trazerem outra coisa pra você comer. - dito isso saiu do quarto, batendo a porta com força.
— VINCENZO! VINCENZO! - gritei por ele varias vezes, mas não recebi nenhuma resposta.
Arranquei as agulhas da minha mão e buscando força me levantei da cama, saindo do quarto. Não foi possível não me assustar com o tamanho do corredor cheio de portas, por um momento pensei que estávamos em um hotel. Após escolher entre impar ou par fui até a direita e me pareceu ser o caminho quando vi a enorme escada de mármore. Aquela casa era enorme, uma das maiores e mais luxuosas que eu havia visto.
— VINCENZO! - gritei o mais forte que consegui, mas não obtive nenhuma resposta. — VINCENZO! - gritei outra vez, mas nada.
Me apoiando no corrimão para não acabar caindo, já que minha perna não estava 100% receuperada ainda, desci lentamente os infinitos degraus, alternando entre tomar cuidado para não cair e gritar pelo pai do meu bebê.
Quando finalmente consegui terminar, me sentei no sofá, decidi que o esperaria ali até ele aparecer. Ele não podia simplesmente sair assim, precisávamos conversar.
***
— Cassandra... - a voz grossa de Vincenzo me fez abrir os olhos.
— Quero falar com você. - respondi ainda sonolenta.
— Como desceu as escadas? Porque saiu da sua cama? - ele tentou me pegar no colo, mas eu neguei, me afastando de seu toque. — Cassandra...
— O que vai fazer comigo? - perguntei direta erguendo o rosto para olha-lo nos olhos. - m*l nos conhecemos, eu estou grávida e tem pessoas querendo me matar. O que vai fazer comigo e meu bebê?
— Preciso pensar direito, mas não vou deixar você e o nosso bebê desamparados. - sua resposta rápida e confiante me pegou de surpresa. — Cofia em mim?
— Por que sempre me pergunta isso?
— Porque preciso que confie em mim.
— Eu confio. - garanti.
— Agora vamos voltar pro seu quarto, você já aprontou demais pra um dia só. - me pegou no colo e me olhou fundo em meus olhos, por algum motivo, mesmo que eu quisesse não conseguia tirar os olhos dele.
— O que foi? - perguntei.
— Nada. Apenas estava lembrando da noite que nos conhecemos. - respondeu desviando o olhar e logo subiu as escadas.
Suspirei me lembrando da noite que estivemos juntos. Eu não sabia muito de sexo, mas eu nunca havia sentido o que ele me fez sentir. Pensei que precisava apenas das minhas mãos para me satisfazer, mas depois daquela noite, não foi assim tão simples.
Vincenzo me deitou na cama com cuidado.
— Nada de sair dessa cama sozinha e muito menos ficar andando por aí com essa perna machucada, entendeu? - assenti com cara feia ele me encarou sério. — Amanhã vamos ao medico, ver como a criança está. Antes disso trarei roupas pra você escolher qual usar, tudo bem? - assenti — Pare de me olhar com essa sua cara de cachorro sem dono, eu ainda estou chateado com você, Cassandra.
— Não me chame de Cassandra... - murmurei abaixando o olhar para minhas mãos - Parece que está brigando comigo, não gosto.
— Mas eu realmente estou brigando com você, Cassandra. - ele soltou um sorriso falso e sem dizer mais nada deixou o quarto outra vez.
- ESTOU COM FOME! - gritei, agora eu quem estava chateada.