Capítulo 1

2486 Words
Após a confirmação da minha ida pra Baltimore, Charlie arrumou tudo que eu precisava em apenas dois dias. Isso significa que mobilhou um apartamento completo e comprou um carro novo. Não deve ser sido tão difícil assim, afinal com a influência e o dinheiro que ele tem na maioria das vezes ele conseguia tudo. Por exigência do meu pai nós íamos de avião até o aeroporto de Baltimore, levando Joana conosco, segundo ele, ela me ajudaria com a mudança na primeira semana em Baltimore. Eu tentei argumentar sobre a ida de avião, já que Baltimore fica há 3h de carro de Nova Iorque, mas como em quase todas as discussões, deixei que a vontade de Charlie prevalecesse somente para não me estressar com ele. Agora que ele parecia ter aceitado minha ida para outro estado, eu não queria ficar testando seu estado de espírito. Chegamos ao aeroporto de Baltimore pouco mais de uma hora depois de decolarmos em NY. O voo foi calmo e tranquilo, pelo menos para mim, pois parecia que Joana iria vomitar a qualquer momento. Avisei Alice quando o avião pousou. Ela me disse que suas malas já estavam prontas e que assim que chegasse do plantão ela iria para o nosso apartamento. O caminho entre o aeroporto e meu novo apartamento durou cerca de 25 minutos, Charlie já tinha providenciado que um motorista nos esperasse na entrada do aeroporto. Eu não conhecia aquela cidade, não conhecia o trajeto até meu novo lar e aquilo me assustava pra caramba. Joana me conhecia bem, durante todo o caminho sua mão segurava a minha e seu sorriso me dizia que daria tudo certo. O prédio que eu moraria ficava perto do porto e eu já podia imaginar a vista incrível que teria. O apartamento de dois quartos simples que Charlie havia me prometido ficou somente em suas palavras quando constatei que ele comprou um duplex para mim. No primeiro andar tinha um enorme cômodo todo cercado de janelas que mais pareciam paredes de vidro, com sala de estar, sala de jantar e cozinha no mesmo ambiente, sem paredes ou divisões, e um banheiro social perto do corredor de entrada. A cozinha era em mármore branco o que contrastava com os móveis pretos da sala de estar. No andar de cima duas suítes que mediriam facilmente, uns 70 metros quadrados cada uma. Tinha também uma espécie de terraço com uma vista incrível para a baía do porto. - Não tínhamos combinado um apartamento simples, Charlie? – o questionei assim que entramos no local. - Não me chame de Charlie, Samantha. Não suporto quando me chama assim. – me lembrou sentando-se no sofá. – Então, gostou? – sua cabeça apontou para um lugar inespecífico por cima do outro. - É incrível, mas demais para mim. – me sentei ao seu lado. – Joana? Ela agora estava na cozinha já verificando os armários e a geladeira. - Sente-se aqui. – dei um tapinha no sofá ao meu lado. – Você precisa descansar. - Eu preciso é fazer compras. – ela ria abrindo as gavetas da cozinha. - Mark está à disposição de vocês enquanto eu ainda estiver aqui. – meu pai nos lembrou. – Ou... você pode levar Joana ao mercado em seu carro novo. – ele sorriu. – Quer vê-lo? Eu assenti animada, mas já sabia o que estava por vir. Descemos os três até a garagem do prédio e agradeci mil vezes por meu pai ter seguido minha orientação de comprar um carro popular. Meu carro novo era na medida certa. Um carro popular nem grande, nem pequeno e com quatro portas. Ia ser o suficiente para ir e voltar do trabalho. Depois que vimos o carro meu pai ficou na sala aproveitando a grande TV que ele fez questão de comprar, tão grande quanto a sala. Eu e Joana fomos para o meu quarto e guardamos minhas coisas essenciais, como itens de higiene pessoal e as peças de roupa que eu mais usava, meus sapatos favoritos e meus acessórios. - Amanhã guardamos o resto, menina. – ouvi a voz de Joana enquanto eu ainda estava no closet. – Preciso ir ao mercado. - Eu vou com você! – gritei para que ela ouvisse. - Não precisa. - Claro que precisa. – falei voltando para o quarto. – Nem morta vou deixar você andando sozinha por aqui, você está sob a minha responsabilidade agora, Dona Joana. Ela riu e cedeu a minha companhia ao mercado. Compramos tudo que precisávamos e quando acabamos já era oito da noite. Decidi voltar apressada para o apartamento, pois eu sabia que a qualquer momento Alice chegaria por lá. Quando chegamos em casa Charlie se despediu de nós, pois ele teria que voltar pra Nova Iorque ainda hoje, amanhã era segunda-feira, dia do Charlie colocar a fantasia de CEO e assustar seus pobres empregados na Collins Corporations. - Se cuida, Sam. – ele pediu antes de me deixar. Charlie quase nunca me chamava pelo apelido. Quando isso acontecia, significava que ele tinha baixado as suas armas. - Eu te amo, pai. – o abracei bem forte. – Obrigada por tudo. - Também amo você, menina. – Ele me abraçou de volta, dando um longo suspiro enquanto seus braços me envolviam. - Cuida dela, Joana. – ele disse olhando pra mulher no balcão da cozinha. – Não hesitem em me procurar se precisar de ajuda. – seu olhar desviou dela e voltou-se pra mim. Revirei meus olhos. - Não vamos precisar. – falei irritada. - Eu disse se precisar. – ele sorriu e apertou meu nariz com seus dedos. Assim que Charlie foi embora nós decidimos descansar um pouco. Joana quis ficar no sofá e eu me esparramei na enorme cama do meu quarto. Dormi pelo que me pareceram poucos minutos e acordei com mãos pequenas me cutucando. - Sam! – Alice sussurrou. – Vamos garota, acorde. Eu abri os olhos e vi minha melhor amiga parada ao meu lado na cama. - Que cansaço é esse? Fez nada o dia todo, gente! – ela disse divertida. - Se mudar cansa, sabia? – a lembrei. - Ah para! Você nem se mudou, tecnicamente. – ela andou até minha janela e abriu as cortinas. – Olha para isso tudo! Seu pai não sabe mesmo o significado da palavra simples. – nós rimos. - Na verdade, o significado da palavra simples para ele não é o mesmo para a maioria das pessoas no mundo. – apontei. Alice explorava todo o meu quarto. Entrou no meu closet, olhou minhas malas, fiscalizou meu banheiro e por fim sentou-se na cama comigo. - Gostou do seu quarto? – eu quis saber. - Está brincando? – ela disse entusiasmada. – Ele é maior que a casa dos meus pais toda. – nós rimos. – Sem contar que tenho um banheiro só para mim. – ela juntou as mãos em frente ao peito e bateu os cílios. - Que bom que gostou. – sorri pra ela. – É muito importante para mim ter você aqui. Alice se mexeu na cama e me deu um abraço apertado. - Bom, falei com todos do hospital que você chegaria hoje. – ela disse quando me soltou. – Eles estão animados. - Alice, eu nem sei em que setor vou ficar. – apontei pra ela. – Aquele lugar é enorme. - De qualquer forma. – ela se ergueu da cama e levantou o dedo indicador. – Esteja pronta às 10h, iremos sair. - Alice... – choraminguei. - Sam, você precisa de uma vida social. – ela disse indo em direção da porta. – E de sexo... – ainda pude ouvir antes que ela entrasse no corredor, indo em direção ao próprio quarto. Eu me levantei assim que Alice saiu do meu quarto e tomei um banho quente. Fazia frio na maior parte do tempo no estado de Washington DC e agora a noite deveria estar fazendo uns sete graus. Escolhi um jeans escuro, botas pretas e meu sobretudo preto por cima de uma blusa de frio estampada. Deixei meus cabelos castanhos soltos e coloquei uma echarpe lisa no pescoço. Quando desci Alice estava na sala falando ao telefone, mas ela desligou assim que me viu. - Vamos? – perguntou pegando sua bolsa no sofá e guardando o celular lá. – Jean me ligou, ele já está lá. - Quem é Jean? – perguntei confusa. - No caminho de conto. – ela disse com malícia. Nós saímos em direção a garagem e fomos no meu carro até o The Owl Bar. Como eu não sabia chegar lá Alice foi me guiando pelas ruas de Baltimore. Ela estava animada enquanto falava do Jean, um enfermeiro do Hopkins com quem estava saindo e em como eu ia amar o lugar. - Fica muito perto do hospital. – ela disse. – Sempre que podemos vamos lá depois do plantão. Eu estacionei o carro próximo do bar assim que chegamos e quando entramos Alice falou com um bom número de pessoas ali. - Pessoal. – ela disse chamando atenção pra si. – Essa é minha amiga Samantha. – apontou pra mim. – Nossa nova colega de trabalho no John Hopkins. As pessoas que estavam ali ria animadas, algumas vieram me cumprimentar, outras eu vi torcer os lábios. A maioria parecia legal, alguns faziam parte da equipe de enfermagem, mas tinha três ou quatro médicos com eles. - Samantha, o que vai beber? – um garoto tatuado me perguntou. – Você bebe, não é? - Bebo sim. – eu assenti. – Me chama de Sam. – ele sorriu pra mim. - Pede um shot de tequila. – uma garota loira disse. – É a melhor tequila que se pode encontrar em Washington. - Vou de tequila então. – falei com receio. Já tinha bebido tequila na faculdade e o resultado não tinha sido muito bom. - Sam! – Alice me gritou vindo na minha direção de mão dadas com um homem. – Esse é o Jean. – o rapaz esticou a mão direita pra mim. – Jean essa é a Sam. Eu o cumprimentei com um aperto de mão. - Então... você é a famosa Sam. – ele sorriu. - Famosa? – olhei pra Alice unindo minhas sobrancelhas. - Eu posso ser bem irritante as vezes. – Alice riu. - Ela fala muito de você. – agora foi a vez de Jean rir. – Muito, tipo muito. Entendeu? Eu ri junto com eles enquanto assentia com a cabeça. Nós ficamos ali por um bom tempo. Os amigos da Alice eram incríveis. Cada um trabalhava num setor específico do hospital e eu me vi desejando poder conversar mais com cada um deles, mas eu não podia ficar muito mais tempo. Já estava tarde, eu já tinha tomado quatro shots de tequila e eu sabia que se bebesse mais ou não dormisse a noite ia ficar difícil acordar cedo para estar no hospital para o meu primeiro dia de trabalho no dia seguinte. - Preciso ir. – falei com Alice quando faltava pouco para a meia noite. – Tenho que estar no hospital às sete amanhã. - Ainda é cedo. – ela fez um bico. – Mais meia hora, por favor? Ok Alice, sem mais bebidas para você. - Meia hora. – eu falei me sentando na mesa de volta. Acabei ficando bem mais que meia hora e bebendo mais três shots de tequila. Conheci melhor um amigo da Alice que se chamava Kevin, era o homem que tinha me perguntado quando cheguei se eu bebia. Ele era enfermeiro do centro cirúrgico e bem bonito. Seus olhos eram um azul escuro, seus cabelos raspados, uma barba rala por fazer e muitas tatuagens nos braços. Decidi deixar meu carro por ali e chamar um motorista de aplicativo já que eu não poderia dirigir mais. Não que eu estivesse bêbada, mas era melhor me precaver. Se o bar era perto do hospital, amanhã quando eu saísse pegaria ele na volta para casa. Eu já havia me despedido de todos e estava na calçada esperando um taxi passar. Fazia ainda mais frio naquela hora. Abracei meu próprio corpo, fechando ainda mais o sobretudo em mim enquanto eu esperava o motorista e foi nesse exato momento que eu achei que estivesse alucinando. - Vamos Nicole. – ele disse atrás de mim. – O pessoal já deve até ter ido embora. Eu congelei, quem me dera que tivesse sido de frio. Conhecia aquela voz, fazia 4 anos que eu não a ouvia, mas a reconheceria se fossem 40 anos ou se estivéssemos a quilômetros de distância. Não era possível! Tanto lugar no país, no mundo e o infeliz resolve estar no mesmo lugar que eu. Obrigada, destino! Sempre achei que você me amava, mas agora tive certeza. Eu só devia estar alucinando, não é possível. - Só um minuto. – uma voz feminina falou. - Caramba! Não sei onde enfiei a chave do carro. - De novo? – sua voz saiu com um misto de irritação e divertimento. Veja bem, eu não queria me virar, mas meus calcanhares responderam por mim antes mesmo que eu pudesse pensar e minhas pernas viraram em direção as vozes atrás de mim. Eles estavam há uns 5 metros de distância de mim, mas agora eu tinha certeza de que ele estava ali e a mulher que eu ouvi antes o acompanhava. Ela era ruiva e alta, tão bonita quanto ele. E por Deus! Como ele consegue estar ainda mais lindo que no High School? Meu celular tocou na minha mão, eu tentei desastradamente desligá-lo, mas era tarde demais a atenção do casal já tinha se voltado para mim. Merda! No momento que os olhos dele encontraram os meus eu pude ver a incredulidade neles. Sua boca abriu com seu espanto e por um momento eu acho que ele duvidou se era mesmo eu quem estava ali na sua frente. Talvez, assim como eu, ele também achava que estava alucinando. - Amor? – a ruiva o chamou tocando seu braço e então ela olhou para ele e depois para mim. - Samantha. – sua voz me chamou. Meu corpo traiçoeiro se arrepiou e fechei os olhos para a sensação antiga do meu nome saindo dos seus lábios de novo. Bom, sempre fui boa em fazer papel de trouxa, ainda mais para ele. - Quem é ela? – a mulher perguntou a ele irritada. – Não vai me dizer quem é ela? – perguntou de novo quando viu que ele não a respondeu. Escutei um carro se aproximando, mas meus olhos ainda estavam presos nos olhos dele. Por que eu não conseguia simplesmente sair dali? - Samantha Collins? – me desprendi dos olhos dele para olhar quem me chamava, era o motorista. – Você é Samantha Collins? Eu não respondi. Entrei no carro e bati a porta, sem olhar para trás e para o casal na porta do bar. - x -
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