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1658 Words
Karen SERIA mais uma sexta-feira como outra qualquer, se não fosse pelo maldito ciúme sem sentido do Cauê. À meses que ele não me procura, ao meu ver já estava nítido que nós não tínhamos absolutamente nada um com o outro. Já não o suportava e estava louca para me livrar desse ogro, porém não poderia mais, pois de uma forma inesperada acabei ligando a minha vida com a desse monstro pra sempre. (...) Acordei cedo, os ponteiros do relógio marcavam cinco horas da manhã. - Ai! Lá vou eu, para enfim, o meu último dia de aula naquele colégio insuportável. Tive muitos momentos bons naquele lugar, incluindo a possibilidade de aprimorar o balé, porém desde que descobri que possuo essa doença tenho sido alvo de chacotas e das piores brincadeiras que possam imaginar. Ou seja, a minha vida virou um verdadeiro inferno. E por essa razão estava louca para enfim me livrar daquela gente soberba. Já havia feito queixa por diversas vezes na Diretoria, mas isso de nada adiantou. Simplesmente por ser uma escola particular e eu ser uma bolsista fizeram vistas grossas. Era óbvio que entre uma "favelada" e o playboy ou a patricinha, eu não seria a escolhida. Infelizmente vivemos numa sociedade podre e que pisa sem dó naqueles que eles definem como inferiores. Mas, tenho certeza que a minha hora irá chegar. E que através de Deus e da minha arte conseguirei vencer. Não vejo o momento de concluir o ensino médio, conseguir meu diploma e enfim uma bolsa de estudos para cursar faculdade de Artes Cênicas. - logo pensei A tarde tenho que dar aulas para minhas crianças no centro comunitário. O Projeto Bela Herança - Marbidu tem se tornado a luz dos meus olhos e a alegria para minha vida. Antes minha vida resumia-se a escola, Cauê, casa, bar e a esnobe da minha irmã Rayssa. Tenho sérias suspeitas de que fomos trocadas na maternidade. Porquê... ô garota cebosa viu... Aff... Mas, através das minhas pinks, assim que chamo minhas bailarinas, tive a oportunidade de conhecer novos horizontes. Só não sei dizer até quando conseguirei ficar com as minhas pinks, porque depois que a minha barriga crescer não poderei continuar dançando. Pois é, a i****a aqui engravidou daquele monstro. Estou grávida de três meses do Cauê, ainda não contei nada para ninguém. Ou melhor dizendo, somente a minha amiga Michelle sabe e ela já me disse que eu deveria contar o quanto antes. Pois, desses caras metidos a fodão como o Cauê podemos esperar de um tudo. Principalmente quando acontece algo como hoje. (...) Não consigo compreender o motivo de tantos ciúmes por parte dele. Pois, sinto sua indiferença crescendo dia após dia. Desde que fui diagnosticada com Vitiligo a minha vida mudou completamente. Cauê antes me procurava quase todos os dias e a todo instante me enviava mensagens querendo saber onde estava, com quem conversava, até as roupas que eu usava ele criticava. Mas, desde que descobri essa doença, ele simplesmente se afastou. O que antes era todo dia, passou a ser duas ou até uma vez por mês. E foi nessa que a i*****l aqui acabou engravidando. Depois de quase dois meses sem me procurar, fui a um baile com a Michelle e o Cauê estava lá com as putas dele. Pois é, eu me sujeitava a tudo isso, ser cifrada de tudo quanto era maneira e ainda ceder aos desejos daquele bicho. Era muito i*****l por ainda acreditar que aquele estrume tinha algum tipo de sentimentos por mim. Somente agora percebi que nunca passei de mais uma b****a que ele comia na hora e no momento que ele desejava. Como uma deslumbrada pelo chefe da comunidade eu cedia a tudo, tudo mesmo por esse homem. Me rebaixava procurando por ele, e mesmo sabendo que ele passava o cerol em todas as marmitas da comunidade, eu ainda acreditava no conto da carochinha. Sonhava com um príncipe encantado que só existia na minha cabeça. E foi justamente nessa noite que acabei engravidando da Cecília. Esse será o nome da minha princesinha, pois tenho certeza que será uma linda menininha. O meu maior medo é que a minha Ceci herde essa mesma doença que eu tenho, mas tenho muita fé que Deus guardará a minha menina até o fim. Peguei meu uniforme indo até o banheiro inacabado que ficava no corredor entre os quartos da casa, fiz minhas higienes, tomei um banho e me arrumei. A nossa casa era simples, porém com o passar do tempo e o trabalho da minha mãe conseguimos melhorar um pouco as coisas por aqui. Antes vivíamos num barraco de madeira e os cômodos eram divididos por paredes feitas de forro PVC. Aos poucos com muito esforço e suor fui ajudando a minha mãe a levantar tijolo por tijolo, parede por parede sem ajuda de ninguém, muito menos de homem. Meu pai nem ao menos conheci, pois assim que soube que minha mãe estava grávida sumiu nesse mundo de meu Deus e nem ao menos se deu o trabalho de me registrar. Em todos os meus documentos constava somente que tenho pai desconhecido. Para mim deveria estar escrito outra coisa, filha de pãe, ou seja, filha de uma mulher guerreira e batalhadora que foi capaz de criar duas filhas sem ajuda de macho nenhum. E diga-se de passagem, uma baita mulher viu? Dona preta é p*u pra toda obra, ajuda qualquer um sem pestanejar, coração de ouro, mas trata minha irmã Rayssa como se fosse um bibelô de cristal. Já disse diversas vezes que esse modo errado de educa-la ainda trará muitos problemas para nossa família e um deles eu descobriria logo. Rayssa é minha única irmã de sangue, pois irmã de coração e de verdade é a Michelle ou Mi como sempre a chamo que realmente considero. A Mi logo vocês conhecerão, é uma mulher muito especial e com uma fé que poucas pessoas possuem. Foi com ela que aprendi a acreditar que existe um Deus capaz de cuidar de nós e nos ajudar em todos os momentos, sejam eles bons ou ruins. E para ser bem sincera, ultimamente tudo o que tenho passado são momentos ruins. Mas, não perco a minha fé. Levanto, sacode a poeira e dou a volta por cima, assim como diz a canção. Aliás, é através da música e pela música que vivo todos os dias. Sonho em conseguir abrir uma escola aqui na comunidade e poder ajudar muitas crianças e adolescentes a enxergarem uma outra realidade, ter esperança de um futuro melhor. Só quem vive aqui sabe o sufoco que é conseguir um espaço, um trabalho ou uma condição de sobreviver dignamente. Se saímos para procurar emprego nos olham de cima abaixo primeiro para depois dizer na nossa cara que pra ser gari nós servimos. Muitos entram na bandidagem por pura safadeza, querendo vida fácil, dinheiro rápido, mas outros acabam entrando por falta de opções que a própria sociedade não nos oferece. O Cauê não sabia em qual dessas opções se encaixava. A princípio não teve opções de escolha, o seu tio impôs essa condição para continuar cuidando dele. Então, podemos dizer que o Cauê "Quebra ossos" como ele é conhecido se acostumou a essa "vida" medíocre e por esse motivo se acha não dono de tudo por aqui. Mas, da minha vida ele nunca mais será. E pode escrever que ele terá ainda muitas surpresas pela frente e comigo vai cair do cavalo direitinho. Porquê a minha vida e o meu destino estão nas mãos de Deus e não será Quebra ossos nenhum que irá mudar. Terminei de me arrumar e desci pra tomar café. Pra variar tinha que preparar tudo, pois minha mãe ficou até tarde trabalhando no Bar e só fechou as 2h da madrugada. Não era justo eu acorda-la para preparar nada pra mim. Nem menciono a inútil da Rayssa, porque essa aí só usa aquele cérebro pra pintar o cabelo ou "estudar" qual a melhor forma de ser mais insuportável ainda. Fui até o fogão coloquei um pouco d'água pra ferver para preparar um café fresquinho. Tínhamos uma cafeteira, mas não acho que o café fica com o mesmo sabor daquele coado no pano sabe? Dava um pouquinho maus de trabalho, porém o sabor fazia toda diferença. Enquanto a água fervia preparei umas torradas com os pães amanhecidos que tinha no armário. Fiz suco de laranja, coloquei na jarra, forrei a mesa e deixei tudo arrumado para quando minha mãe acordasse não tivesse trabalho. Terminei de preparar o café e sentei pra comer rapidinho. Já passavam das seis horas da manhã e as sete tinha que estar dentro do Colégio Pedro II. Era bolsista e ainda chegar atrasada justamente no último dia de aula seria o fim. Arrumei a mesa rapidinho, subi para pegar minha mochila e quando estou descendo dou de cara com a sem vergonha da Rayssa chegando em casa. Desci segurando ela pelo braço e encostando na parede. - Onde você estava garota? Tem vergonha não de chegar a uma hora dessas em casa? - Me solta sua leprenta. Não encosta tua mão nojenta em cima desse corpinho aqui não. Sai pra lá. - Leprenta é essa tua b****a garota, que ja deve estar cheia de bicho ou de DSTS de tanto dar pra esse bairro todo, principalmente pra esses vaporzinho de merda. Só a minha mãe que não quer enxergar o lixo que você é garota. - Isso é o que tu pensa sua goiaba bichada. Olha pra mim... vai olha... Tu acha mesmo que uma gostosa dessas aqui vai ser mulher de vaporzinho? Acha mesmo? Mereço coisa melhor meu amor, outro nível... uma coisa que tu nunca vai saber o que é sua manchada... e vê se me deixa em paz viu... vai lá pra tua escolinha de balé e me deixa em paz. Tô cheia de sono de tanto estudar e agora preciso tirar o meu sono da beleza. - A vontade que eu tenho é de te arrebentar sua bosta. Mas, tenho responsabilidades e compromissos, coisa que você nunca saberá o que significa. Pode rir a vontade, pois quem cuida de mim não dorme e a minha hora vai chegar. - Se tá pensando que o Cauê vai te querer, tu está muito enganada, ele... - Que Cauê??? Lá quero saber de Cauê... Se liga garota. Tô em outra a muito tempo, meu foco e minha visão é muito diferente do que vocês estão imaginando. - Sonha mais... - Eu não só sonho, como estou batalhando para conseguir meus objetivos e tenho certeza que irei conquista-los. E você? Quem é? O que faz? NADA. É isso o que você é uma NADA. Uma prepotente, nariz empinado, pensa que é mais do que alguém, mas não passa de uma maçaneta de quartel, uma vagabunda, uma marmita e boda de trafica. É isso o que você é garota. Minha mãe está cega a seu respeito, mas algum dia a venda dos olhos dela vão cair e enfim vai enxergar quem na verdade é a princesinha da mamãe. Agora sai da frente que quero e vou passar. - E se eu não deixar? - Te derrubo sem piedade. Vai querer que a leprenta, manchada encoste em seu corpo realeza? Vai? - ela levanta os braços em sinal de rendição e se afasta na mesma hora indo para a cozinha pegar um copo de café. - Foi isso mesmo que imaginei que fizesse. Há... tem café pronto em cima da mesa, só toma cuidado antes de beber porque coloquei veneno para ratos dentro. - Sua vagabunda... vaca... eu te mato cretina... Bati a porta de casa e conseguia ouvir os seus gritos lá na rua. Vai acostumando irmãzinha, pois a partir de hoje você vai sofrer e muito na minha mão. Isso é só o começo.
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