Lilith.

1897 Words
Dia seguinte. O sol adentrava pelas janelas do quarto, iluminando todo o ambiente. m*l preguei o olho durante toda a noite, e quando finalmente conseguia dormir, mesmo que por poucas horas, era despertada pelos pesadelos mais esquisitos possíveis logo após. Não que eles superassem qualquer coisa que eu estivesse passando agora. Apertei os olhos ao me levantar, estranhando a lama no chão e nos meus pés. — Bom dia. — Um homem de cabelos longos e olhos negros entrou pela porta carregando uma bandeja de café da manhã. Sua voz era muito grave, m*l parecia humana. Ele usava roupas tão elegantes quanto Leonard, além de ser muito bonito e excêntrico. Os acessórios que usava pareciam de um pirata. Entretanto, ele não podia ser comparado à Leonard. Ninguém poderia. Não que isso significasse alguma coisa. Sua beleza já não parecia encantadora, mas me causava arrepios. — Mantenha as janelas fechadas. — Ordenou, erguendo as mãos para fechá-las com magia. — Que ótimo. Outro feiticeiro. — Resmunguei baixinho, mas ele ouviu e me olhou pelo canto dos olhos. — Noite agitada? — Indagou curioso, apontando para os meus pés. — Não sei como isso aconteceu. — Murmurei. — Você não sabe de nada, não é? Que conveniente. — Ele respondeu, mas percebi que me alfinetava. Pelo visto meu fã-clube estava aumentando consideravelmente. Forcei um sorriso e olhei para a bandeja de prata em suas mãos. Ele colocou-a sobre a cômoda e apontou, como se eu fosse um animal de estimação esperando por comandos. — Não é porque está a um passo do inferno que não precisa se preocupar com a sua higiene. O banheiro é logo ali. — Apontou para a porta ao lado do closet. — Sei onde fica o banheiro. — Retruquei. Ele apertou os olhos desconfiado e veio na minha direção. Consequentemente, caminhei para trás, tentando manter uma distância segura dele. — Não fique confortável demais, você não pertence a esse lugar. Sua presença é um insulto. — Não se preocupe. Não pretendo ficar aqui também. — Respondi entredentes. Ele sorriu como se gostasse do que ouviu. — Me chamo Keimon. — Apresentou-se, puxando minha mão contra a minha vontade. — Está mais bonita assim, devo admitir. O branco lhe cai bem. — Elogiou, me causando estranheza. Já nos vimos antes? — Obrigada. — Disse confusa. — Você não tem cheiro de virgem. — Comentou repentinamente. O que? — O duque fez isso a você? — Neguei em espanto. — Estranho. — Indagou. Sim. Você é estranho. — De qualquer forma, alguém como você não saberia como satisfazê-lo mesmo. — E você sabe? — Falei sem pensar. E me arrependi ao sentir aqueles olhos sombrios em mim. Ele ficou em silêncio por um breve instante, depois sorriu perverso. — Está curiosa quanto a minha performance na cama, Astryd? — Aproximou-se mais. E eu me afastei. — Acho que te julguei errado. — Completou com malícia. Por sorte, fomos interrompidos por outra criatura na porta. Essa, usava uma capa preta que impossibilitava de ver o seu rosto. — O duque a aguarda na sala do trono, senhorita Anghel. — O homem encapuzado disse. Sua voz era ainda mais grave que a de Keimon. E bem mais assustadora também. A julgar pelas vestes que o cobriam por completo, sua aparência também não devia ser das melhores. — Quanto a você, Keimon, Kali solicita sua presença no sótão. Respirei aliviada quando Keimon passou por mim e deixou o quarto, tão rápido quanto entrou. Entrei no banheiro e tranquei a porta com a chave — como se isso fosse o suficiente para mantê-los longe de mim. Suspirei profundamente e tirei minhas roupas rasgadas, jogando em algum canto do cômodo. O banheiro era tão grande quanto o quarto. A banheira ficava no centro, e a água que a enchia saía quente das torneiras sem canos que flutuavam ao redor e nunca desligavam, mesmo assim, a banheira não transbordava. Eu definitivamente nunca me acostumaria com isso. Terminei o banho e voltei para o quarto, encontrando um belo vestido verde e longo ao lado de algumas joias, luvas e belos sapatos espalhados na cama. Belisquei algumas uvas da bandeja de café da manhã e me vesti. Demorei o máximo que pude, até que não tivesse alternativa a não ser encontrar Leonard. Os quadros e as estátuas dos corredores eram sombrios como tudo naquele castelo. Sentia que eles me espiavam à medida que eu avançava. Eu não sabia exatamente para onde estava indo, mas não parei de seguir adiante, até que milagrosamente uma das alas me levasse para onde Leonard estava. Ele subiu o olhar quando as enormes portas que iam até o teto se abriram para que eu passasse. Ele não estava sozinho. Meu estômago embrulhou e minhas mãos começaram a suar. As pessoas presentes abriram espaço para que eu passasse e os empregados uniformizados alinharam-se no extremo da sala. O que era aquilo? — Finalmente. — Leonard quebrou o silêncio e levantou-se do trono, descendo as escadas. Ele veio depressa até mim e parou na minha frente. — O que está acontecendo? — Sibilei confusa. Para a minha surpresa, ele segurou minha nuca e beijou meus lábios na frente de todos. Pude ouvir o murmurinho ao redor, as pessoas pareciam chocadas. Eu estava chocada! Ele sorriu ao afastar nossos lábios e segurou minha mão, me levando até o trono. — Quero que conheçam Astryd Anghel, minha noiva. — Anunciou. * Leonard Scorpius. Tive vontade de rir quando vi o espanto no rosto de Anghel. Ela parecia surpresa e apavorada. — Poderia fingir que não está ouvindo isso pela primeira vez, por favor? — Sussurrei na altura do seu ouvido. — Eu estou ouvindo pela primeira vez! — Ela rebateu. — Então finja que não está. — Ordenei, abrindo um sorriso cínico. — Por que está fazendo isso? — Sussurrou. Ignorei sua pergunta e soltei sua mão, puxando Astryd para mais perto pela cintura. Atravessei o mar de pessoas que nos parabenizavam, atraindo a garota para o canto, longe dos olhares curiosos da detestável elite romena. — Não posso me casar com você. — Ela disse finalmente, me lançando aqueles olhos brilhantes. — Não pode me rejeitar agora que todos já sabem. — Poderia ter me perguntado antes, casamentos funcionam assim. — Resmungou. — Você não tem muitas opções no momento, tem? — Provoquei, mas isso não foi o suficiente para convencê-la daquilo. — Está presa comigo, Anghel. Você pode fazer isso do jeito fácil ou não. A escolha é sua. — Sentenciei. Artemisia e Nikolai atravessaram a sala ao nos ver, aproximando-se. — Devia ter nos avisado sobre isso. — Artemisia disse, puxando Astryd para um abraço. — Ficamos muito preocupados com você. Achei que algo grave tivesse acontecido, quase fomos a polícia, por sorte o duque nos procurou e disse que estavam apaixonados. Como eu nunca soube disso? Sorri de canto, tentando disfarçar o deboche. Eu era um ótimo mentiroso mesmo. Astryd me olhou de soslaio e forçou um sorriso para a sua mãe. — É uma surpresa para mim também, mamãe. — Respondeu. Notei o deboche no seu tom. — Isso não tem mais importância. — Nikolai repreendeu Artemisia e abriu um sorriso contente. Interesseiro de merda. É claro que ele estava radiante. Não foi difícil convencê-lo desse casamento. Na verdade, não podia ter sido mais fácil. Ele me entregou Astryd como uma mercadoria de troca; quitei suas dívidas e recebi a sua filha de presente. Num passe de mágicas, era como se Seth nunca tivesse existido. Deixei que conversassem e peguei uma bebida da mesa de drinques, sumindo pelos corredores vazios. — O que estamos comemorando? — Kali apareceu do meu lado de repente, pegando a taça da minha mão. A bruxa arqueou as sobrancelhas e bebericou o champanhe, esperando por uma resposta. Porra! — Meu noivado. Não ficou sabendo? — Disse debochado. Ela então gargalhou. — O que pensa que está fazendo? — Não preciso prestar contas a você, bruxa. — Respondi com desdém, a irritando. — Fui pego de surpresa pelo tapa que ardeu o rosto inteiro. — Sim, você deve. Não esqueça de quem eu sou! — Proferiu. — Não esqueça você de quem eu sou. — Rebati, agarrando seu pescoço ferozmente, trazendo seu rosto para perto do meu. — Você é a mãe de quase todos os demônios, Lilith. Quase. — Empurrei a bruxa contra a parede e ela resmungou, me olhando com ódio. — Mas não é a minha. E não é mais forte do que eu. — Relembrei, me vangloriando. Ela alargou o sorriso perverso e me puxou pela gravata, aproximando o rosto do meu. — Ser bastardo daquela mortal não é motivo de orgulho, Leonard. — Zombou. — Você não passa um mestiço. — Kali relembrou com desdém. — Sim, eu não passo de um mestiço. Tenho o direito de fazer coisas humanas, não? É da minha natureza. — Argumentei com sarcasmo. — Metade dela, que seja. — Acha que acredito que está apaixonado por aquela mortal? — Ela disse sensual, lambendo meu queixo. Me esquivei dela e do seu toque, enjoado. — Te conheço com a palma da mão, Leonard. Sei que está tramando alguma coisa. E eu vou descobrir o que é. —Avisou em tom de ameaça e se afastou, sumindo de vista. Estourei a taça na mão, me cortando com os cacos. — Olá. — Uma voz infantil soou atrás de mim e eu me virei. Semicerrei os olhos ao encarar aquela criança na minha frente, notando a semelhança com Anghel. Principalmente os olhos. Elas definitivamente tinham os mesmos olhos. — Oi. — Quebrei o silêncio. — Você é o dono desse castelo? — Havia deslumbre em seu tom. Assenti e ela abriu um sorriso amarelo, surpresa e encantada. — Esse castelo vai ser da minha irmã também? — Nunca, mas fingi que sim, concordando. — Que incrível! — Comemorou breve, mas não se permitiu alegrar-se demais, parecendo controlar a própria euforia. — Ela nunca falou de você antes. — Que estranho. — Disse simplista, desejando encerrar de uma vez aquela conversa. Torci para que Kali voltasse e me acertasse com outro tapa. Seria menos torturante. — É, muito estranho! — A garota cruzou os braços e ergueu as sobrancelhas, me analisando de cima a baixo. — Quem era aquela mulher? Aquela pergunta me pegou totalmente de surpresa, quase arregalei os olhos. — Ninguém importante. — Sei. — Ela disse desconfiada. — Por que estavam sozinhos então? Sua noiva não iria gostar de saber disso... Dei uma gargalhada, arqueando as sobrancelhas. — Não, ela não iria. Por isso ela não precisa saber disso, não é? — Não sei. — A garota caminhou ao meu redor, mantendo sua atenção em mim. — Eu iria querer saber se o meu noivo estivesse agarrando outra mulher na parede. — Completou tirana. Eu estava sendo coagido por uma pirralha? — O que você quer para deixar isso entre nós? Ela sorriu vitoriosa. — Que você seja legal com a minha irmã. Ela não era feliz com Seth, espero que você seja diferente. — Só isso? — Franzi o cenho em desconfiança. — E eu gosto de sorvete de creme. — Avisou e deu as costas, deixando subentendido o seu pedido. Okay, isso foi estranho. Sem dúvidas a interação mais esquisita que já tive. E vindo de mim, isso significava muita coisa.
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