Labirinto do Inferno.

1363 Words
Astryd Anghel. Meu coração batia acelerado. Nunca senti tanto medo em toda a minha vida. O frio esquisito da floresta ainda gelava o meu corpo e mantinha todos os meus pelos arrepiados. O que era aquela coisa? Engoli seco, revivendo na cabeça os gritos e a imagem daquele homem sendo devorado vivo pela criatura mais assustadora que já vi. Tinha certeza de que aquele monstro habitaria meus pesadelos de agora em diante. Ou será que ainda estava sonhando? Tentei falar alguma coisa, mas não consegui. Minha voz não saiu. Entrei em desespero. O que tinha acontecido com a minha voz? — Oh, claro. — O duque revirou os olhos e uma fumaça preta saiu dos seus dedos. Minha garganta ardeu e eu tossi forte. Minha voz havia voltado! — O que foi isso? Por que ele não me viu? — Disse apavorada, levantando-me depressa. — Preferia que tivesse visto? Vou me lembrar disso na próxima vez. — Ele rebateu, debochando. Depois franziu o cenho, me olhando de cima a baixo. — Como me seguiu até a floresta n***a? Ela é proibida para os vivos. — Eu não te segui, você me levou para lá! — Retruquei. Eu nunca entraria lá por vontade própria. E o que ele quis dizer com “proibida para os vivos”? — Estranho, muito estranho. — Ele indagou. — Você aparece aqui e três almas escapam misteriosamente do inferno. Tem algo que eu precise saber, Anghel? — Leonard disse astuto, aproximando-se perigosamente de mim. Dei passos para trás, tentando me manter distante dele. — Do in-in-ferno? — Gaguejei, lembrando-me da conversa entre Leonard e a criatura. — Eu vendi minha alma? — Perguntei de uma vez, temendo pela resposta. Ele riu da minha cara e revirou os olhos. — Você é filho de Lucifer? — Indaguei. Insisti nas perguntas, mesmo que ele ignorasse todas elas. — Não sei do que está falando. — Mentiu descarado. Respirei fundo e olhei ao redor, procurando por um meio de me defender. Porém, não havia nada que eu pudesse usar contra ele. Não com todas aquelas coisas estranhas que ele conseguia fazer. Corri acelerada para fora do castelo, sem pensar muito no que aconteceria caso ele me alcançasse. Quando atravessei os portões e coloquei os pés na rua deserta, fui derrubada contra o chão de concreto e arrastada para dentro outra vez. Minhas costas colidiram contra a imensa árvore do jardim e eu bati a cabeça com força, apagando no mesmo instante. Acordei exausta, sentindo uma enorme dor de cabeça. Tentei reconhecer o ambiente, em vão. Estava num quarto enorme, digno de uma princesa, se não fosse pela decoração que fugia do normal. Havia um enorme espelho na parede e cortinas pesadas e vermelhas nas janelas. Os objetos que enfeitavam o quarto eram peculiares e esquisitos, pareciam retirados de contos de terror, vulgares e sombrios, como castiçais com dedos podres e quadros com chifres. Tentei me levantar, mas fui impedida por uma cobra peçonhenta preta que deslizava sobre mim. Gritei, mas o animal foi mais rápido e se envolveu em meu pescoço, me prendendo na cama como uma corrente de metal. — É melhor não irritá-la. Izevel pode ser bem temperamental. — Leonard avisou, aparecendo na porta do quarto. Ele adentrou o cômodo, cruzando os braços em frente ao peito. — Tira essa coisa de cima de mim! — Implorei entre soluços, me debatendo enquanto ela tentava me sufocar. — Tudo bem, já chega, Izevel. — Ele ordenou. A cobra obedeceu, como se o entendesse. E estranhamente, saiu de cima de mim, assumindo a forma humana de uma bela mulher de olhos amarelos e cabelos vermelhos. Ela parecia familiar. — O que... — Engoli em seco, mas não completei a frase. Ele não me responderia mesmo! Aproveitei para me erguer depressa e tentar escapar. Mas como se lesse meus pensamentos, Leonard parou na porta, fechando meu caminho. A mulher veio por trás e ambos me cercaram. — Onde pensa que vai? — Ele questionou sacana. — Não suporto o cheiro dela. — A mulher atrás de mim resmungou. Fui surpreendida por um arranhão nas costas que rasgou meu vestido e a minha pele, ardendo como o inferno. Gritei e caí no chão, sentindo o sangue escorrer pelas feridas dos arranhões profundos. Leonard deu um passo à frente e me olhou de cima, negando com a cabeça. — Foi o que pensei. — Disse enquanto me observava. Ele afrouxou o nó da gravata e desabotoou a camisa. Apenas tirou os olhos dos meus, quando encarou os próprios machucados nas costas pelo reflexo do espelho. Ele sangrava tanto quanto eu. — Sabe o que significa isso, não sabe? — Izevel perguntou para Leonard. Ele assentiu em resposta, deixando-a irritadiça pela confirmação. — Ela fez isso de propósito! — Acusou. — Eu não fiz nada, eu juro! — Subi os olhos marejados na direção do duque, completamente confusa e desesperada. — Não fiz nada, não fiz. — As lágrimas escorreram sem controle algum pelas minhas bochechas. — Ah, cale essa boca. Essa lamentação tá me irritando! — A mulher reclamou odiosa, mostrando as presas ensanguentadas para mim. Ela me machucaria outra vez. Fechei os olhos com força, esperando pelo ataque, mas nada aconteceu. Abri os olhos vagarosamente, dando de encontro com ela e o duque trocando um olhar mortal. Ele segurava o pulso da ruiva com força, como se esmagasse os ossos dela com os dedos. — Já chega. Suma daqui! — Ordenou, batendo a porta ao abri-la com o poder da sua mente. Izevel apertou os olhos, parecendo desafiá-lo. — É uma ordem! — Ele murmurou entredentes. Por um instante, achei que a mulher revidaria e eles começariam uma briga sanguenta, mas isso não aconteceu. Como um cão obediente, ela acatou a ordem e saiu do quarto, batendo a porta com toda a força ao passar depressa e bufante por ela. — Só quero ir para a casa, por favor... — Sussurrei num fio de voz. Evitei olhar para ele, não tive coragem dessa vez. — Você não pode ir embora, Anghel. Estamos ligados por magia. — C-como assim? Ele me levantou pelo braço e me conduziu de volta para a cama, me deitando de bruços. Segurei meus s***s com as mãos, impedindo o vestido de cair e revelar mais do que o necessário. Leonard então sentou-se do meu lado e acariciou minhas costas. Estremeci com seu toque. No início, senti dor, mas em questão de segundos, a ardência foi amenizada, até desaparecer por completo. Ele havia me curado. — O castelo não permitirá que saia sem mim. — Quebrou o silêncio, me virando na sua direção. — O feitiço ricocheteou e nos uniu. É como se... Dividíssemos uma alma. — Disse como se aquilo fizesse sentido. Uni as sobrancelhas em confusão. — O castelo entende como se você fosse um fragmento de mim. Uma parte que foi enviada para cá. Não poderá sair sozinha. E quando sair, não é autorizada a passar mais de doze horas distante. Onde quer que esteja, ele te puxará de volta. — Não. — Neguei apavorada, me sentando na cama. — Não. Não pode ser. Não posso morar aqui. E a minha vida? E... Estou condenada? O que eu fiz para estar condenada? — Lamentei. — Eu não sei. — Isso não é justo! Pedi por liberdade e fui enviada para uma nova prisão? — Essa é a grande ironia da vida. Não se pode confiar em demônios. — Eu confiei em você. — Lamentei, lançando um olhar acusador para o duque. — E o que você acha que eu sou? — Ele riu. — Mas não vou levar o crédito por isso. Dessa vez não foi minha culpa. — O que direi à minha família? — Não se preocupe com isso. Nem tudo está perdido, Anghel. — Ele disse como se aquilo significasse alguma coisa. É claro que tudo estava completamente fodido! Logo quando achei que não tinha como as coisas piorarem... — Veja pelo lado bom, não haverá casamento. Eu já não me importava mais com isso. Nada como um problema maior para superar o anterior. Encostei no canto do quarto, mantendo-me afastada de Leonard.
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