Fraqueza.

1692 Words
Quando chegamos no clube, ele segurou a minha mão para descer do carro e abriu um sorriso falso para cumprimentar aqueles que passavam por nós. Todos fingiam simpatia, inclusive ele. Leonard odiava aquelas pessoas tanto quanto eu. Aquele teatro passou a ser irritante. Estupidamente irritante. Nos sentamos à mesa com alguns conhecidos e Dacia me lançou alguns olhares suspeitos e sarcásticos. Seu desprezo por mim nunca foi tão escancarado. Quando os homens se retiraram da mesa para jogar no cassino, ela e Morgana se aproximaram, sentando-se ao meu lado. — Então, Astryd, vai nos dizer seu segredo? — Morgana disse, ganhando a minha atenção. A observei em silêncio, mas não respondi. — Ora, não se faça de desentendida. Todas nós queremos saber como conquistou o coração do homem mais desejado da Romenia. Ninguém conseguiu prender a atenção do duque por mais de uma noite. — Imagino que nossa querida Astryd saiba as artimanhas para prender um homem. — Dacia completou ardilosa. — Os boatos eram de que pretendia se casar virgem. — Provocou e as outras da mesa riram. Vadias. — Não sei se entendi o que está insinuando, Dacia. — Respondi desgostosa. — Ninguém aqui está te julgando, querida. Foi uma jogada muito inteligente. Todo homem gosta de se sentir único. Essa postura de virgem imaculada funcionou mesmo, não é? Mesmo com um homem mente aberta como Scorpius. — Reforçou sua acusação em deboche. — No fim eles são todos iguais. — Completou. — Não seja invejosa, Dácia. — A loira disse, rindo. Não me lembrava o seu nome. Ela era tão insignificante e falsa quanto a sua defesa. Dácia e Morgana riram. — Então, como você conseguiu? Ele é tudo isso que dizem na cama? — Insistiu Dácia, invasiva. — Não sejam ridículas. — Bufei. Elas pareceram ainda mais interessadas com a minha recusa em entrar naquele jogo. — Espera, então vocês ainda não transaram? — Morgana disse. — Não acredito! — e mais uma vez, risadinhas odiosas preencheram o ambiente. — Você é mesmo muito astuta. — Vamos ver se o interesse dele continua depois de conseguir o que quer de você. — Dácia disse maldosa, outra vez. — Acho que esse anel no meu dedo prova o que ele quer de mim. — Mostrei a aliança de noivado, forçando uma risada. — Com licença. — Me levantei e peguei minha taça da mesa, caminhando para longe delas. Me isolei no restaurante, na mesma mesa que costumava fugir dos demais quando vinha ao clube com Seth. Suspirei em derrota. Aquilo era ridículo. Me via na mesma situação pela segunda vez, mas com uma pessoa diferente. As poucas pessoas que conversava eram os garçons e os outros funcionários do clube. Eles eram muito mais toleráveis do que qualquer outra pessoa de lá. — Você parece miserável. — Leonard se aproximou, puxando a cadeira ao meu lado. — É melhor sorrir ou vão achar que já temos problemas. — Longe de mim que pensem que estou infeliz. — Ironizei. Forcei um sorriso falso e ele revirou os olhos. — Já te disseram que é extremamente m*l-agradecida? — Sim, você. — Retruquei indiferente. Ele riu e aproximou a cadeira da minha, depois puxou minha mão para o seu colo. — O que está fazendo? — Questionei confusa, tentando soltar, mas ele apertou meus dedos com mais força. — Qual parte exatamente não é do seu agrado, amor? — Perguntou sarcástico. — Talvez o fato de eu estar presa com você e não poder sair daquele maldito castelo sem a droga da sua companhia. Oh não, pensando bem... Acho que ter sido esquecida trancada por cinco dias é bem pior. — Devolvi no mesmo tom que o dele. — Keimon disse que você estava causando problemas. — Respondeu indiferente. Aquilo parecia justificável para ele. — Eu vi uma mulher ser morta no meio do saguão! — Argumentei incrédula. Já ele, não demonstrou nenhuma emoção. Sequer riu. — Acostume-se com isso. — Respondeu simplista. Sua expressão fria e o olhar vago, perdido aos arredores, diziam que ele queria que eu calasse a boca e parasse de lamentar. Eu sabia que ele sentia isso, mesmo que às vezes fosse cordial demais para dizer. Minhas emoções o irritavam. — Eu nunca vou me acostumar com essa merda, Scorpius. Você não entende?! — Reforcei com indignação. — Eu acho que é você que não entende, então preste atenção, porque odeio me repetir. — Ele virou na minha direção e me encarou com uma expressão autoritária e ríspida. — Se não é capaz de enxergar o mundo sem essa venda que você se colocou, então não saia da p***a do seu quarto durante a madrugada. Assim eu não precisarei trancá-la outra vez. — Sorriu insano ao término. — Fez isso para me torturar? — Disse indignada. Ele é inacreditável! — Não era mais fácil me avisar? — Você não é exatamente a pessoa mais obediente entre os humanos, não é? Te deixo um dia sozinha e você decide fazer uma visitinha ao inferno para ver Mihai. Eu não estava no castelo para te proteger da sua estupidez e Keimon agiu do jeito que deveria. Você não me trará problemas, Astryd! Se os príncipes colocarem os olhos em você, estamos fodidos! — Do que está falando? — Indaguei confusa. — Nada. — Ele disse raivoso, socando a mesa. Me assustei com a sua reação, Leonard não era o tipo de pessoa que perdia a cabeça. — Existem muitas coisas além da sua compreensão humana. — Desdenhou. Agora era um problema eu ser humana? Forcei um sorriso e me levantei bruscamente, mas ele segurou meu braço, me impedindo. — Aonde vai? — Para longe de você. — Rebati, puxando meu braço do seu aperto e me afastei. Subi para o quarto que Leonard reservou para a noite. Achei que seria estranho colocar os pés naquele hotel outra vez depois do que Seth me fez, mas pensar sobre isso me fez sentir uma raiva cega e dilacerante, ao invés de tristeza. Eu devia me preocupar com isso também? Saí do elevador e caminhei pelos corredores à procura da suíte presidencial. Para o meu azar, esbarrei com a última pessoa que eu queria ver na terra. Seth. Meu estômago embrulhou no mesmo instante. Ele colocou aqueles olhos perversos em mim e abriu um sorriso, abotoando sua calça. De trás dele, saiu Dácia, deixando o quarto sorrateira como se não quisesse ser vista. Ela ficou em estado de choque quando nosso olhar se cruzou. Que grande p*****a! — Jura? — Intercalei o olhar entre eles. Ela tentou avançar para cima de mim, mas Seth a impediu, colocando o braço na frente. — Eu cuido disso. — Ele avisou frio e ela relutou por um instante, mas depois concordou, ainda que desgostosa. Seu olhar me fuzilou até que sumisse para dentro do elevador. — Constantin não vai gostar de saber disso. — Ele não precisa saber de nada, não é? — Seu tom parecia ameaçador, mas não me senti ameaçada, de maneira nenhuma. — Astryd, precisamos conversar. — Não temos nada para conversar e não me importo com o que você faz. Aliás, eu não me importava nem quando éramos noivos. — Falei arrogante, mas extremamente sincera. Não tinha mais que mentir para ele. Eu estava livre de Seth. Tentei sair do seu caminho, mas ele me impediu, esbarrando propositalmente na minha frente. — Não acredito que foi capaz de fazer isso comigo. — Ele lamentou. Ri com escárnio. Tentei outra vez me esquivar, mas ele novamente me impediu. — Saia do meu caminho. — Ordenei. — Não. Não consigo parar de pensar no que aconteceu. Tive vontade de gargalhar, mas não consegui. — Você parece muito chateado. — Ironizei. — Não tenho paz, Astryd. Tenho pesadelos todos os dias. Eu sinto que algo terrível me espera. — Desabafou. Agora ele realmente pareceu preocupado. Quase me convenceu. — Não me importo com o que você sente, Seth. Saia da minha frente ou vou gritar. — Ameacei, me esquivando para o lado. Ele foi mais rápido e me puxou, me empurrando contra a parede. Seth veio para cima de mim com rapidez e tentou me beijar a força. Seus dedos agarram meu pescoço furiosamente. Senti medo que ele conseguisse me machucar outra vez. Queria que ele ficasse longe de mim. Então, uma luz forte saiu do pingente no meu pescoço e ele foi lançado contra a parede do outro lado do corredor. Seth arregalou os olhos assustado. Não entendi como fui capaz de fazer aquilo. Desencostei da parede receosa e dei dois passos para frente. — Gostaria que sofresse como diz. — Falei raivosa, mantendo meu olhar fixo ao dele. Seth tentou sair da parede, mas alguma força misteriosa o mantinha preso. — Me tira daqui! — Exigiu confuso. Ele parecia convicto de que eu sabia fazer aquilo. — Não sei como. — Admiti. — E mesmo que soubesse, por que eu o ajudaria? — O encarei com desdém, me aproximando lentamente. — Astryd, o que está fazendo? — Ele insistiu, se debatendo. As luzes dos corredores começaram a piscar e tudo escureceu. Uma raiva sobrenatural preencheu meu ser e a minha consciência. Eu queria me vingar dele. Queria que Seth sentisse o que eu senti. — Você é tão patético. — Disse odiosa, me aproximando mais dele. A navalha que Seth carregava no chaveiro preso ao cinto brilhou como se quisesse ser vista. Ele não podia pegá-la, então eu o fiz. Senti uma respiração tocar minha nuca. Nós não estávamos sozinhos, mesmo que não fosse capaz de enxergar quem nos acompanhava. Uma voz sussurrou no meu ouvido e eu obedeci. Segurei a navalha e risquei o rosto de Seth com lâmina, cortando sua bochecha inteira. Ele gritou. Então repeti do outro lado, dando-lhe dois cortes profundos que renderiam duas enormes cicatrizes no futuro. Se ele tivesse um. O sangue começou a jorrar do seu rosto e ele berrou. Tive medo de que alguém nos ouvisse e pedi para que ele se calasse. Desejei com todo o meu ser. E então, ele se calou. Seth berrou, mas não saiu um único som da sua garganta.
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