Perversidade.

1267 Words
Leonard Scorpius. Invadi o quarto de Astryd silenciosamente e coloquei a caixinha de veludo com a aliança em cima da cômoda. Sua respiração alta chamou minha atenção. Seu sono parecia conturbado, então não resisti a tentação de invadir sua mente para descobrir o que a deixava tão agitada. Ela acordou alguns segundos depois, correndo o olhar perdido pelo quarto como se tentasse reconhecer o ambiente. Quando me viu encostando em sua cômoda com os braços cruzados, seu rosto ruborizou. — Tendo sonhos eróticos comigo, Anghel? — Disse sacana, notando sua respiração normalizar. Me aproximei da cama e ela se sentou depressa, ajeitando os cabelos. Sua expressão estava confusa. Sentei-me ao seu lado e abri a caixinha de veludo, revelando a aliança dentro dela. Seus olhos se arregalaram. — Pertenceu a sua mãe? — Indagou. Como ela sabia disso? Concordei com um breve aceno com a cabeça e puxei sua mão, colocando a aliança de diamantes em seu anelar. — Não parece surpresa. — Constatei. — Quer me contar sobre esse sonho? — Perguntei e ela negou depressa. Não contive a risada dessa vez. — Tenho certeza de que você já sabe. — Respondeu irritada e se levantou, caminhando para o banheiro. Não hesitei em segui-la, fechando a porta atrás de mim antes que ela começasse a tirar as roupas. — Não tem o direito de invadir os meus sonhos e abusar de mim. — Havia irritação em seu tom. — Está me acusando de algo? — Indaguei. Ela bufou, virando-se na minha direção. — Não tenho motivos para isso, não é? — Zombou. — Não seja ingrata, Anghel. Se souber uma ideia melhor de deixar o castelo sem que isso custe a sua vida, fique à vontade. Ninguém aqui está te impedindo. A garota me encarou enfurecida e veio na minha direção. — Você não me engana mais, Scorpius. — Resmungou. — Não está tentando me ajudar. Sou sua refém e ninguém tem ideia do que você é e o que fez comigo. — Minha refém? — Ri com deboche, me aproximando mais da garota. — Acha que deixo meus reféns em quartos de luxo e presenteio com diamantes? — E você não ganha nada com isso, não é? — Até agora não, mas muito bem lembrado. Está na hora de você começar a retribuir a minha gentileza. — Disse desafiador. Ela tentou se manter imparcial, mas o medo transparecia em seu olhar. Seu rosto ficou sem expressão e ela deu passos para trás. — Já vou me casar com você. O que mais quer de mim? — Tentou projetar a voz para não gaguejar. Suas tentativas eram patéticas, devo admitir. Divertidas, mas patéticas. — Acha que me importo com isso, Astryd? — Desdenhei, subindo o olhar pelo seu corpo de maneira proposital para deixá-la desconfortável. — Você já me pertence, com ou sem casamento. Não entendeu isso ainda? — Astryd apertou o maxilar, podia ouvir seus dentes rangendo. Ela tinha medo de mim, isso era bom, mas não podia contar apenas com isso. Era de se esperar que conforme os dias passassem nesse castelo, seu medo se transformasse em afeição. Ela poderia até me ver como seu salvador. A não ser que... Agarrei seus braços e a empurrei contra a parede. Suas pupilas dilataram quando encostei as mãos na sua cabeça e invadi sua mente outra vez. O sonho de Astryd parecia terrivelmente real, como uma profecia. Tentei avançar mais adentro nas suas memórias e colher as informações que ela recebia através dos sonhos, mas fui lançado para uma memória em especial. Não se parecia com um sonho. Artemisia estava possuída. Eu senti o frio da mansão Anghel, o cheiro familiar do inferno invadindo as narinas. Astryd havia mentido para mim? — Você já visitou o inferno antes. Como fez isso? — Indaguei, mas ela não disse nada. Parecia tão confusa quanto eu. Mas não, eu não podia confiar nela. De jeito nenhum. Apertei os dedos ao redor da sua cabeça com mais pressão e fui mais afundo em suas memórias. Era uma tarde nublada na mansão Anghel. Astryd ainda era uma menina brincando de boneca com as empregadas no jardim. As nuvens rapidamente cobriram o céu e pingos fortes de chuva começaram a cair. Senti as gotas sobre as bochechas de Astryd como se fossem as minhas. Nikolai chegou acompanhado de outro homem em casa naquela tarde, embriagado. Uma das empregadas pegou na mão da garota e a levou para dentro da mansão. Ela estava ansiosa e com medo. A expressão de Nikolai era fria e a do homem, hostil e perversa. Astryd implorou para que as empregadas não a deixassem sozinha naquela tarde. Nenhuma delas a ouviu. A senhora grisalha com uniforme de governanta levou a mais nova para seu quarto e se despediu. Astryd estava confusa, mas ela sabia que algo r**m estava prestes a acontecer. A garotinha sentou-se sobre a cama e tirou os sapatos. Seu vestido molhado estava ao chão. Pensou em se trocar, mas Nikolai entrou no quarto acompanhado do homem que vira lá embaixo. Seu pequeno coração acelerou como se fosse capaz de rasgar o peito e pular para fora. Ele olhou para Astryd e fez um sinal negativo, pedindo para que ela largasse o vestidinho que cobria o corpo infantil. A menina engoliu em seco e começou a chorar, mas não pensou em desobedecer ao pai. Nikolai então saiu depressa do quarto e deu a chave para o homem, depois trancou a porta e os deixou sozinhos. Astryd gritou para que Nikolai voltasse, mas ele não voltou. O homem com traços semelhantes aos de Seth desafivelou a calça e veio para perto de Astryd. Ela começou a gritar alto, seus berros invadiram meus ouvidos e latejaram minha cabeça, me expulsando da sua mente. Eu não entendi como ela fora capaz de fazer algo assim. Nenhum humano era capaz disso. Encarei Astryd por baixo de mim, seus olhos estavam marejados. — Você não tinha esse direito. — Lamentou, segurando o choro. Ela me empurrou e se esquivou, correndo para perto da pia. — Foi a primeira vez? — Perguntei. Ela negou, vestindo o roupão por cima da camisola rosa de seda. Aquele babydoll era diferente das roupas que tinham em seu closet, sua mãe devia ter trazido aquelas roupas, mas elas já não combinavam com ela. Se Astryd havia sido abusada desde a infância, por que seu cheiro de virgem foi a primeira coisa que me atraiu? — Quem era ele? — Perguntei, os olhos cerrados. — Mihai Dimitri. — Sibilou num fio de voz. Ora, mas é claro! Não reconheci o pai de Seth tão jovem, sem a barba e as pálpebras caídas pela idade, mas a semelhança era indiscutível. Que homem em sã consciência entregaria a filha criança a um homem de meia idade e depois ao seu filho? Apenas um homem c***l e ganancioso como Nikolai. Homens conseguiam superar a maldade de Lucifer. Chegava a ser injusto ele levar o mérito por todos os pecados cometidos pelos humanos. Eles eram capazes das maiores atrocidades sem culpa e sem o incentivo de demônios. Deus definitivamente subestimava suas capacidades. A humanidade era nojenta, todos eles deviam queimar e Lucifer estava certo. Com sorte, metade da raça humana seria extinta com a segunda guerra que se aproximava. Eu esperava poder levar muitas almas comigo para o inferno. Mihai faleceu há alguns anos. Foi acidental. Bem, quase isso. Eu não consegui parar e acidentalmente drenei cada gota do seu sangue sujo. Se soubesse que seu passado era ainda mais obscuro que o presente, o teria feito sofrer um pouco mais.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD