Sofreguidão.

956 Words
Notei seu choque quando nosso olhar se cruzou. Não precisei invadir sua mente para saber que ele se perguntava o que eu fazia ao lado de sua noiva e claro, se havia contado para ela que o vi trepar com a cantora entre as cortinas. — Olha quem resolveu aparecer. — Astryd disse sem muita empolgação quando Seth se aproximou da mesa. Então ele intercalou o olhar desconfiado entre a garota e eu. — O duque me fez companhia na sua ausência. — Muito gentil da sua parte. — Ele respondeu com incômodo aparente e cerrou os dentes, evitando o meu olhar. O mais irónico é que Seth não costumava evitar o meu olhar quando visitava o meu castelo e participava das orgias com Izevel e Keimon. Via a luxúria transbordá-lo, constantemente aguardando que eu me juntasse também. — Darei um baile no meu castelo e adoraria a sua presença, senhorita Anghel. — disse para a garota, segurando a mão de Astryd para me despedir. — No seu castelo? — Repetiu empolgada. O brilho de excitação tilintando em seu olhar. — Será um prazer! — O prazer será todo meu! — respondi malicioso, intercalando indiscretamente o meu olhar entre Astryd e Seth. Ele engoliu em seco e desviou, torcendo o lábio descontente com o convite que fiz a sua noiva. Um grande hipócrita, já que não se incomodava quando recebia o mesmo convite. Despedi-me do casal e voltei em passos lentos para o balcão do bar que repousava outrora. Encostei-me no mármore e pedi uma dose dupla de bourbon ao barman, observando ao redor com atenção. Não havia mais o que tirar dali. Ao menos, não para mim. Keimon, todavia, discordava. Ele estava numa mesa poucos metros à frente, conversando com os músicos da cantora. Sutilmente, o demônio de cabelos longos e olhos negros, incitava uma briga entre eles. O álcool facilitava consideravelmente as coisas, ele sequer parecia usar de sua influência para atiçá-los. E fora discreto para jogar uma faca de lâmina extremamente afiada e brilhante na mesa deles. O mais alcoolizado a pegou sem contestar e num ímpeto de fúria, deu uma série de golpeadas no músico ao seu lado, perfurando seu pescoço diversas vezes, até que a camisa social branca ganhasse a coloração vermelha do sangue abundante jorrando pelo buraco da ferida. O terceiro músico, alheio ao ocorrido, fora surpreendido com uma cadeirada em suas costas pelo mesmo que atacou o primeiro com a faca. Antes que a briga ficasse pior do que já estava, Seth passou praticamente arrastando Astryd pelos braços para fora do estabelecimento. Ela parecia horrorizada com o que via, chegou a cobrir a boca e depois os olhos. Eu tive de conter a risada outra vez. Seu horror era autêntico. A partir dali, iniciou-se uma briga violenta com todos os músicos da banda, transformando o bar numa baderna generalizada. Izevel, assistia a tudo do outro lado do salão, sentada num sofá entre um casal. Eles acariciavam e beijavam a garota-demônio, hipnotizados pela sua áurea s****l. Mas a bagunça ao redor, acabou por despertar a outra mortal do transe. O homem continuou tentando enfiar a mão por dentro de sua saia, alheio à balburdia, mas Izevel o rejeitou, empurrando-o para longe, como se tivesse perdido o clima. Não que ela precisasse de um. Izevel levantou-se sem dar satisfação e seguiu até o balcão, encostando-se ao meu lado no bar. — Humanos são tão... patéticos. — Cuspiu com desdém. — Cuidado, Izevel. Não se esqueça de que está ao lado de um mestiço. — A lembrei, olhando-a de soslaio. — Não, não esqueço. — Ela virou-se sensualmente na minha direção, agarrando a gravata por dentro do sobretudo n***o que ia até os tornozelos. — Você não é metade deles, é inteiramente nosso. — Completou maliciosa, passando os dedos pelo meu pescoço, tentando me envolver em seu encanto. Vadia de merda, ela sempre me drenava quando tinha a chance. Sexo nunca era apenas sexo com Izevel. Uma noite com ela, era o equivalente à três dias caminhando nos mármores do inferno; a garganta atingia uma aspereza dolorosa, como se tivesse engolido colheres de areia. Sua energia vital era sugada e toda e qualquer mínima vontade de existir, evaporava, junto com a sanidade. Um mero mortal, manifestava um quadro de depressão grave na segunda visita da súcubo em seus sonhos. Grave o suficiente para que não houvesse socorro. Mestiços como eu, tinham a sorte de ter a mente regenerada após o ataque. Todavida, Izevel evitava sonhos. Ela preferia devorar a carne dos humanos após a f**a. Prática favorita de quase todos os demônios, por sinal. Quase. Eu preferia o sangue. — Você não acredita realmente que vai conseguir algo com isso, não é? — Debochei, puxando a gravata dos dedos da garota de cabelos vinhos e olhos amarelos. Ela atentou-se. — Já consegui tantas vezes. Você se recupera rápido, devia usufruir mais disso. — Sugeriu como se realmente se importasse com o que eu ganhava, e não ela. Arqueei uma sobrancelha em desdém. — O que conversava com aquela humana suja? — Sua fala soou mais agressiva do que o habitual. Ela não simpatizava com a maioria deles, não se importava em ter de matá-los. Mas os puros, como Astryd Anghel, a irritavam ainda mais. — Ora, Izevel. O que te faz pensar que é da sua conta? — Debochei. Izevel fechou a cara no mesmo instante, enfurecida com a resposta. — Poderia levá-la para os fundos do bar de uma vez se a queria tanto. — Resmungou. — Os fundos estavam ocupados por Seth e pela nossa deliciosa cantora. Você não viu?! — Expliquei. Ela revirou os olhos. — O que você acha que sou, um destruidor de lares? — Debochei.
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