Os momentos mais felizes de nossas vidas ficam sempre registrados em uma parte específica do nosso cérebro, não que seja realmente confirmado por ter estudiosos,mas sabemos que sempre teremos mais apresso por uma lembrança em específico; podemos guardar os traços daquela pessoa que partiu nos deixando para trás, aquela ida ao parque com o amigo que não se vê a anos,um jantar com a família que não se reúne mais. São diversos acontecimentos que nos aquece de incontáveis formas.
Para Jennie e seus amigos,o que ficaria registrado com tamanho carinho seria o exato momento que confirmarem a festa gestação que planejavam detalhadamente,será o primeiro enjôo,o primeiro ultrassom para se certificarem que tudo estará bem,o primeiro som dos batimentos cardíacos,o primeiro chute,os desejos que poderão ser normais ou um tanto peculiares. Tudo será emocionante pois isso é o sonho daquele casal,será mágico por simplesmente estarem apaixonados na ideia de sua melhor amiga ser a mãe do bebê.
Na sala de espera, Min-ju e Jimin aguardavam serem chamados para entrarem no consultório e fazerem companhia a Jennie,essa que havia se submetido a novos exames de rotina para certificar que tudo ocorreria bem. Foi necessário uma série de cuidados para que tudo desse certo,algo que foi informado pelos médicos desde que a menina tivera a ideia de servir como barriga de aluguel para os amigos, cuidados e exigências essas que foram seguidas também pelos rapazes.
O bebê teria o DNA de um dos pais, então,por ter todo aquele processo de insistência e o desejo maior ter partido por Jimin, Min-ju e ele entraram em um consenso com Jennie. Houveram momentos de questionamentos,dúvidas que estariam presentes até o momento de uma gestação confirmada,no entanto,ambos sabiam que independe do que venha a acontecer no futuro, ninguém teria mais direito sobre a criança do que o outro,e isso foi uma exigência de Jennie,essa que não deixou passar a insegurança dos amigos no momento de decidirem quem seria o doador.
Ao olhar para o corredor daquela clínica, Jimin se levantou rapidamente e se aproximou de Jennie que estava acompanhado da médica responsável pelo procedimento realizado. Por ser algo um tanto íntimo,os rapazes não quiseram presenciar como seria feito e disseram que estariam na sala de espera para quando tudo tivesse fim,eles pudessem entrar e vê-la como estava,o que não fora necessário.
— Bom,como estava sendo dito para a amiga de vocês, aconselho que ela se cuide e não pegue peso ou faça esforço. Caso tenha alguma outra dúvida,estarei a disposição para estar lhe respondendo,peço que faça o primeiro teste de gravidez entre doze a quinze dias começando a contar a partir de hoje — enquanto mantinha o olhar profissional sobre os rapazes que apenas assentiam em concordância,a mulher demonstrava grande admiração pelo feito de Jennie.
— Ela é residente e passa longas horas no hospital,isso pode ser prejudicial em algo? — abraçando a cintura do namorado com um braço e a da amiga com o outro, Min-ju questionou visivelmente preocupado.
— Aconselho que ela se mantenha afastada pelo menos pelos quinze dias ,pois precisamos que ela esteja descansada e bem disposta. Não queremos que ela se esforce — frisando suas palavras anteriores,a mulher olhou para Jennie como se estivesse lhe intimando.
Quando deixaram aquela clínica,o mais velho deixou Jennie no apartamento de ambos e seguiram para a empresa de Jackson, precisavam voltar ao trabalho. A menina, mesmo sabendo que os amigos iriam lhe censurar,pegou um táxi dando o endereço de seu pai. Por mais que sentisse as lembranças do passado bem vivas em sua mente,seu coração ingênuo não lhe permitia ignorar por completo a existência daquele que deveria lhe amar e proteger.
Cerca de trinta minutos,o taxista parou em frente a casa e Jennie saiu do carro sentindo seu coração acelerar e sua mente lhe alertar para que fosse embora e cumprisse os pedidos de Jimin e Min-ju. Caminhando lentamente até a porta de entrada e girando a maçaneta,a garoto entrou e suspirou profundamente ao perceber a grade bagunça e sujeira que tudo se encontrava: garrafas e latas de bebida estavam espalhadas por todos os cantos, cacos de vidro e louça, papel de mercado e entre outros. O cheiro estava terrível e Jennie se perguntava com alguém conseguia viver naquela situação.
E como fizera da última vez que estivera ali e diferente,pois poderia utilizar os dois braços,a menina começou a organizar tudo: juntava o lixo, polia os móveis,limpava o piso e lavava a louça imunda que tomava todo espaço da pia. Depois de tudo pronto e enquanto fazia algo descente para que o homem comece quando resolvesse aparecer, ao menos percebeu estar sendo observada justamente por seu pai,esse que tinha uma aura n***a e o desejo de evaporar toda sua frustração contra o corpo pequeno e frágil de Jennie.
Ela sentiu a presença,sentiu cada parte de seu corpo tensionar e o medo se apossar de seu corpo, então, ouvindo os primeiros passos caminharem em sua direção e em um ato de defensiva,a menina empunhou a faca de cozinha que estava utilizando e se virou para o homem,esse que travou no lugar ao ter aquele objeto afiado em sua direção. Não estava bêbado,e para dizer a verdade,de todas as vezes que maltratava a própria filha,ele estava ciente do que fazia e não se arrependia.
— O que faz aqui? Não deveria estar no apartamento daqueles gays nojentos? — com todo seu ego homofóbico,o homem questionou voltando a apoiar seu corpo contra o batente da porta.
Sentindo suas mãos tremerem em ódio pelas ofensas desferidas contra Jimin e Min-ju, Jennie apanhou um corpo de vidro na pia e o arremessou na direção do mais velho,esse que desviou e tentou se aproximar grosseiramente,porém desistiu ao perceber que a menina não estava brincando com a faca que ainda estava em uma de suas mãos. Com o olhar frio quanto o Monte Everest, Jennie deu alguns passos em sua direção o fazendo caminhar para trás e adentrar a sala de estar.
— Você não irá encostar um dedo sequer em mim, não irá me marcar com essas mãos imundas como sempre fizera, não irá me humilhar com fazia — a cada palavra,os olhos de Jennie ardiam e pesavam em lágrimas.
— Você é patética! É nessas horas que agradeço por você não ser minha filha — e aquelas palavras surpreenderam Jennie a ponto de suas mãos fraquejarem ao seguras o objeto,mas logo se recordou de quem estava a sua frente.
Ela não compreendia o que estava sendo dito e muito menos entendeu o teor daquela frase, apenas percebeu que por trás daquela brutalidade que recebia havia um grande motivo. Sua vida parecia cada vez mais confusa e sua linha de raciocínio não tinha coerência em nenhuma explicação,tudo parecia ser aleatório a ponto de ninguém perceber o tempo se passando diante seus olhos. A única coisa que Jennie sabia e poderia afirmar: sua vida foi uma mentira e havia um porquê de tudo aquilo está acontecendo.
Sob pensamentos confusos e as mãos trêmulas por ter descoberto tais fatos marcantes de sua vida, Jennie encarou seus olhos com o pedido para que ele prosseguisse com suas palavras,para que ferisse outra vez,mas não com agressões e chingamentos; Jennie queria sentir a dor de estar lidando com a verdade e sinceridade.
Naquele ambiente cheio de recordações,fosse boas ou ruins,o silêncio era predominante e a tensão estava sobre os ombros daqueles dois adultos; Jennie sustentava sua força e camuflava sua fraqueza por estar naquela situação tão inesperada; seu pai apenas a encarava como se houvesse um invasor,um estranho em sua frente, alguém desprezível tá ponto de desejar usar as próprias mãos para um estrangulamento perfeito.
Então, sabendo o que causaria na mais nova e tendo a necessidade de se desfazer daquele segredo que escondera até mesmo de sua esposas,aquele no qual um dia foi o homem da casa e um marido exemplar, sentou-se no sofá central e apoiou os braços abertos sobre o encosto do estofado enquanto cruzava as pernas em sarcasmo e um objetivo certeiro. E suas primeiras palavras foram o início do peso daquela conversa.
— Minha mulher jamais poderia saber que o nosso bebê não havia resistido,nunca passou por minha cabeça a possibilidade de dizer que nosso filho estava morto...— o homem desviou o olhar e abriu um sorriso sarcástico — e sua mãe ter morrido no parto foi a chave para a solução dos meus problemas. Um quantia significativa compra o silêncio de qualquer um.
A menina segurava as lágrimas que pareciam brasas ardentes. Seus lábios tremiam por segurar o choro,mas o que realmente demonstrava suas feridas eram a necessidade de se sentar em uma daquelas poltronas,a necessidade de se envolver em um abraço frágil,mas quando pensou nessa possível,a garota suspirou e umideceu os lábios com a língua enquanto engolia a vontade de chorar.
— Seu pai sequer estava presente em seu nascimento,ao menos compareceu naquele hospital, então você não era importante,assim como a i****a da sua mãe — o homem pronunciava cada palavra tão friamente,era difícil acreditar que havia um coração em seu peito.
Então, ao ver a garota abaixar a guarda,o homem se levantou rapidamente e se jogou contra o corpo pequeno e médio tomou o objeto afiado o arremessando do outro lado da sala. Se debatendo e sentindo seus pulsos serem apertados, Jennie tentou o afastar enquanto chamava por socorro,esses que sempre foram ignorados por todos os vizinhos e pessoas que passavam ali em frente.
Seu coração estava em uma frequência tão forte que lhe causava um grande encomodo no peito,seus olhos pesaram em lágrimas de medo e insegurança,ela estava revivendo tudo novamente. Eram sempre as agressões,as fraturas que lhe causavam dores lastimantes, feridas que demorava a se cicatrizar,marcas que sempre ficariam em sua alma e memória. No entanto,naquele momento em que o sentiu segurar seus pulsos com uma única mão e tendo a outra passeando por seu corpo,Jennie entendeu que aquele imundo planejava bem mais do que lhe marcar com socos,tapas e chutes.
As mãos fortes e ásperas adentraram a blusa da menina e lhe tocaram a barriga,as unhas deixavam marcas sobre sua pele imaculada,e tudo pareceu piorar no momento em que a língua dele deslizou por seu pescoço e os dentes foram cravados ali, deixando uma marca dolorida e com gotículas de sangue. Jennie gritou de dor e nojo. Quando o sentiu deslizar a mão por entre seus s***s até os botões de sua calça,ela finalmente conseguiu o empurrar para trás o fazendo cair sobre a mesinha de centro.
— c****a! Sua p********a dos internos — praguejando enquanto tentava se levantar,o homem tocou em sua nuca e sentiu algo quente molhar seus dedos.
Em uma tentativa de fuga, Jennie se levantou rapidamente e correu até a porta,essa que se encontrava trancada e sem as chaves. Estava tudo planejado,aquele era o plano desde o início. Em desespero e tendo seu corpo preso por braços fortes,a menina voltou a gritar alto,o que durou pouco tempo.
— Você veio até mim,entrou na minha casa e acha que vai sair sem terminar o trabalho? — murmurava tendo uma de suas mãos sobre a boca da mais nova — Você sairá daqui,mas antes irá ser minha diversão!
Ao jogar o corpo da garota naquele sofá,o homem lhe acertou uma bofetada bruta a ponto de ferir o lábio inferior dela. Jennie não deixaria de se defender e no estante em que teria aquele imundo sobre si novamente,um chute foi dado entre as pernas dele o fazendo cair de joelhos e gemendo de dor enquanto chingava a garota de todos os nomes possíveis.
Quando deixou aquela casa usando a porta da cozinha, Jennie correu para o mais longe possível,e quando finalmente parou,estava em uma praça movimentada com pessoas de todas as idades. Tudo parecia estar girando,sua respiração estava acelerada fazendo seus pulmões arderem lhe fazendo ter a sensação de que poderiam explodir a qualquer momento. Então,após olhar para todos os lados e se sentir perdida, seu corpo caiu sobre aquele chão e seus olhos se fecharam quando sentiu seu rosto ser tocado delicadamente.