No dia da festa, Nick fez questão de deixar a garota na escola. Ao chegar viu o Breno no portão e olhou Bruna desconfiado.
— Os dois devem estar chegando — se apressou em dizer.
— Sei...
Para sua sorte o Matt parou o carro ao lado do de Nick e Vitória desceu.
— Viu?
Nick não respondeu e a olhou de canto de olho. Bruna beijou o rosto dele e saiu do carro. A ruiva foi até Vitória e segurou o braço dela disfarçadamente.
— Vai comigo até perto do Breno para enganar meu pai — cochichou.
A loira foi sem reclamar. Ia ter que esperar Diego ali mesmo.
— A Ana colocou algo na sua comida? — Matt perguntou.
— Como assim?
— Você? Deixando sua filha ir em uma festa? Só pode ser drogas.
— Muito engraçado! — disse irônico.
Matt sorriu.
— Vai buscar elas?
— Não. Estou indo a um show.
— E quem vai buscar elas?
— Dei dinheiro a Vitória para ir de táxi.
— Eu busco elas e levo para sua casa.
Matt revirou os olhos.
— Elas já são grandinhas, Nick.
— Não importa. Assim tenho certeza que a Bruna vai chegar na hora que falei.
— Tá. Você que sabe. Mas avise elas.
— Ok.
Matt foi embora e Nick saiu do carro. Ele se aproximou dos três. Por um momento ficou olhando Breno e depois olhou Bruna.
— Vou buscar vocês e levar para a casa do Matt.
— Mas o meu pai me deu dinheiro para o táxi.
— Mesmo assim eu vou buscar. Acha que não tive a idade de vocês? Você vai estar dentro de casa antes da meia noite.
Bruna revirou os olhos e Breno deu uma risadinha. Nick o olhou com os olhos cerrados.
— Fazer o que, né? — resmungou irritada.
— Estejam aqui as onze e meia.
— Não pode ser mais tarde, pai?
— Onze e cinquenta.
— Nossa, quanta diferença... — falou irônica.
— Quer que seja as dez?
— Onze e cinquenta está ótimo! — disse Vitória.
— Combinado então.
Nick foi embora e Bruna resmungou irritada. Quando poderia ter uma vida normal? E se ela arrumasse mesmo um namorado? Como seria? Talvez a pior coisa que faça na vida!
— Seu pai é bravo mesmo, hein? — disse Breno.
— Nem me fale...
— Poxa achei que íamos ficar mais tempo! Meu pai não tinha nada que contar a ele que não vai ficarem casa. Que droga! — Vitória reclamou.
— Desculpa por isso. Se quiser eu nem vou pra sua casa.
— Nada disso! Combinado é combinado.
— Vamos entrar? — Breno chamou.
— Mas ela vai ficar sozinha aqui.
— Não vai não — falou olhando para frente.
Bruna olhou também e viu Diego se aproximando deles. Nunca viu ele tão bonito como agora! E não era para estar reparando essas coisas!
— Oi gente. — Se aproximou e deu um selinho em Vitória.
— Oi — Bruna e Breno responderam juntos.
— Vamos? — Breno chamou de novo.
— Espera...
Os dois viraram de frente quando Diego falou.
— Posso falar com você um minuto?
— Sobre o que?
— Aquele dia na sala...
Bruna trocou olhares com Breno e ele deu de ombros.
— Tá bom.
Os dois se afastaram de Breno e Vitória, mas não muito.
— Sinto muito pelo que eu disse a você. Descontei em você minha frustração e nem tinha nada com isso.
— Tudo bem.
— Eu não penso aquelas coisas de você. Só falei porque estava com raiva.
— Se falou é porque pensa, mas está tudo bem. Deve mesmo ser verdade...
Diego franziu a testa.
— Não é não. Falei pra te ferir só porque eu estava “ferido” e isso não foi nada legal.
— Já passou.
— Espero que não me odeie.
— Não odeio você.
— Que bom — disse sorrindo.
Bruna sorriu levemente.
— Melhor irmos. Eles estão esperando.
— É.
Cada casal foi para um lado. Bruna estava em silêncio e pensativa. Será então que não pensa aquelas coisas dela?
— O que esse cara te disse?
— Pediu desculpa por aquele dia.
— Só isso?
— Sim. Por quê?
— Não sei. Você ficou estranha desde que conversou com ele...
— Não...
— Ficou sim. Te disse algo a mais?
— Não. Só pediu desculpa mesmo.
— Hum...
— Vamos comer alguma coisa? Estou com fome.
— Tudo bem.
Depois de comer, eles foram dançar um pouco. A quadra estava toda arrumada para a festa. Tinha umas barraquinhas vendendo comida e bebida e um espaço grande com um DJ. Bruna estava se divertindo muito e a partir daquele dia, ia implorar ao pai para deixá-la ir sempre. Nem que precisasse ajoelhar...
— Preciso ir ao banheiro...
— Vai lá ué.
— Não sai daqui.
— Ok.
Breno se afastou e sumiu no meio da multidão. Bruna estava na entrada da quadra. Olhava as pessoas indo e vindo com interesse. Nunca viu a escola tão cheia como naquele momento!
— Está perdida?
A menina olhou para trás e franziu a testa.
— Não.
— Está fazendo o que aí então?
— Esperando o Breno.
— O que ele foi fazer?
— Banheiro.
— Hum...
— E o que você está fazendo?
— Esperando também.
— Hum...
Ficou um pequeno silêncio entre eles.
— Pode vir comigo um minuto?
— Se eu sair daqui o Breno não vai me encontrar.
— É rápido.
— Tá...
Bruna o seguiu. Estranhando ir para longe da festa. Logo ele parou perto de uma árvore.
— O que você quer? Assim vamos nos perder deles.
Sem responder nada, ele agarrou o pulso de Bruna e puxou ela, colocando-a contra a árvore. A menina arregalou os olhos.
— O que está fazendo?
— Eu sempre quis você, mas vive com aquele garoto...
— Do que está falando?
— Eu quis te beijar desde o primeiro dia que te vi. Lá na sorveteria.
Bruna não conseguiu nem respondeu. Estava surpresa demais com o que ouviu.
— Você está namorando a Vitória!
— Eu sei, mas isso é só porque você está com aquele garoto.
— Não estou com o Breno.
— Não é o que parece!
— Nós somos amigos.
— Mesmo?
— Sim.
— Mas ele gosta de você...
— Nunca me disse nada.
Diego ficou em silêncio olhando-a. Será que não estava com ele mesmo? Estavam sempre grudados! Já estavam quando ele entrou na escola. Achou logo que tinha algo entre eles e não queriam assumir. Ainda mais com o jeito que o Breno olhou para ela...
— Então não tem nada com ele?
— Não.
O garoto ficou olhando-a sem dizer nada por um longo tempo.
— Podemos voltar?
Diego não respondeu e se aproximou depressa. Bruna tentou ir para trás, mas a árvore não deixou. Logo tinha os lábios tomados pelo garoto. Ele segurava a cintura dela com uma das mãos e puxava para perto de si. A outra mão estava no rosto dela, segurando para que não fugisse.
Bruna sentia um turbilhão de emoções. As pernas tremiam, o coração batia forte no peito e parecia que borboletas brincavam em sua barriga. Tudo isso por estar beijando-o, mas ao mesmo tempo se sentia culpada e suja. Estava aos beijos com o namorado da melhor amiga!
A ruiva empurrou Diego para longe. Os dois ficaram se olhando respirando rápido.
— Nunca mais faça isso!
— Não parece que não gostou... — Se aproximou de novo, mas Bruna o parou, esticando o braço e apoiando a mão em seu peito.
— Você está namorando a minha melhor amiga e isso não é certo.
— Eu termino com ela.
Bruna arregalou os olhos.
— Ficou louco?
— Não menti quando disse que queria você.
— Mas isso é horrível! Ela gosta de você!
— Eu gosto da Vitória, mas você... — Tentou se aproximar e ela não deixou.
— Melhor ficar longe.
— Não diga que não me quer, pois, esse beijo me disse bem o contrário!
Bruna engoliu em seco. Que desgraça! Como deixou isso acontecer?
****
Vitória procurava Diego e não o via em lugar algum. Onde ele se meteu? Olhou em todos os lugares que pôde e acabou encontrando o Breno e se aproximou dele.
— Cadê a Bruna?
— Não sei. Estou procurando. Tive que ir ao banheiro e pedi para não sair daqui, mas ela saiu.
— Hum...
— E você, por que está sozinha?
— Também fui ao banheiro e me perdi do Diego.
— Bem, vamos procurar então. Espero que ela não tenha encontrado aquelas duas...
— Você acha que elas mexeriam com a Bruna em plena festa?
— Não duvido vindo delas duas...
— Vamos procurá-la então. Agora fiquei preocupada.
****
Bruna estava desesperada com a situação. Ela gostava sim de Diego, mas ele era namorado da Vitoria. Por mais que tenha falado que gostava dela. Não podia fazer isso com a amiga. Vitória a odiaria pelo resto da vida... Não queria perder a amizade da loira de jeito nenhum! Ainda mais por um garoto. Elas eram amigas desde pequenas e viviam grudadas. Nunca pensou que fossem gostar do mesmo garoto... Que situação!
— Olha, isso não pode acontecer. Vitória gosta de você e eu não quero fazer ela sofrer.
— Então é só por isso?
— Como assim?
— Se não tivesse a Vitória, você ficaria comigo?
Bruna desviou o olhar e respirou fundo. Queria sair dali correndo e não voltar nunca mais para a escola!
— Me responde, Bruna.
— Não quero magoar a Vitória.
— Então ficaria...
— É melhor a gente voltar e, por favor, não fale nada com ela sobre isso! Vai ficar muito magoada. Se gosta dela ao menos um pouco, poupe desse sofrimento.
Diego passou a mão pelo cabelo com nervosismo. Ele só fez o que fez porque bebeu um pouco. Uns colegas levaram bebidas alcoólicas escondido e batizaram o refrigerante.
— Promete que não vai falar nada?
— Prometo.
Bruna respirou aliviada.
— Mas isso não vai fazer os meus sentimentos por você sumirem.
— Com o tempo vai sim. Vitória é uma garota incrível.
— Ela é sim. Eu já disse que gosto dela, mas algo em você me chamou atenção também.
— Não podemos ter tudo que queremos. Agora vamos voltar. — Virou as costas a ele e foi na frente.
Diego respirou fundo e seguiu ela.
A ruiva chegou primeiro e viu Vitória e Breno juntos. Ela se aproximou deles.
— Onde você se meteu? Achei que aquelas duas tinham te encontrado — disse Breno.
— Fui beber água — mentiu.
— Menos m*l — disse Vitória.
Breno olhava Bruna desconfiado. Tinha algo que ela não queria contar... Diego se aproximou deles também.
— Onde você estava? Te procurei em quase todos os lugares! — Vitória perguntou a Diego.
— Fui dar uma volta. Você demorou muito no banheiro.
— Tinha uma fila enorme!
— Vamos dançar. — Arrastou a menina para a pista de dança.
— Ele está estranho, não acha? — Breno falou desconfiado.
— Não reparei.
— Está igual a você.
— Como assim?
— Estranha... Aconteceu alguma coisa?
— Não...
— Está mentindo pra mim, Bruna. Você prometeu não fazer mais isso.
Bruna fechou os olhos com força. Estava surtando com o que aconteceu entre ela e Diego.
— Você não conta pra ninguém?
— Não.
— Promete?
— Prometo.
— Então vamos conversar em outro lugar.
Breno foi com ela sem falar nada. Os dois sentaram em um dos bancos onde não tinha ninguém e o menino esperou ela começar a contar. Bruna contou a ele o que aconteceu entre ela e Diego.
— Você gosta dele?
Bruna se ajeitou no banco, incomodada com o assunto.
— Isso não importa.
— Gosta ou não?
— Ele está com a Vitória e é com ela que vai ficar.
— Gosta ou não?
Bruna revirou os olhos.
— Sim.
Breno ficou em silêncio depois que ela respondeu. Bruna olhou o rosto dele. Encarava o chão sem piscar. Ótimo! Agora magoou o melhor amigo também...
— E ele disse que gosta de você?
— Na verdade, acho que ele está equivocado. Ele gosta da Vitória. Acho que estava bêbado...
— Bêbado?
— Senti o cheiro. E o gosto...
Breno desviou o olhar quando ela falou isso e engoliu em seco.
— Não vai contar pra ninguém, não é? Você prometeu.
— Não vou contar.
— Pedi a ele pra esquecer isso, pois não quero que a Vitória se machuque.
— É...
— Já são quase onze e cinquenta. Tenho que ir para o portão esperar meu pai.
— Tudo bem.
— Vamos procurar a Vitória?
— Sim. — Levantou do banco e foi na frente.
Bruna respirou fundo. Será que a noite pode ficar pior?
****
Já no carro Nick fazia um imenso interrogatório sobre a festa. Bruna olhava para fora do vidro e respondia mecanicamente.
— Beijou algum garoto?
— Não.
— E você já fez isso alguma vez na sua vida? — Vitória zombou.
— É claro... — Olhou o pai. — Que não.
Vitória deu uma gargalhada alta, fazendo os dois olharem ela.
— Pensa que nasci ontem? — Nick falou sério.
— Não, pai.
— Então não me faça de i****a!
— Tá. Eu beijei um garoto uma vez...
— Quando? — falou mais alto.
Bruna se encolheu no banco e Vitória segurou para não rir. Nick irritado era hilário!
— No fim do ano passado.
— Quem é esse garoto? É o tal de Breno?
— Não, pai. O Breno entrou na escola esse ano.
— Então quem é?
— Se chamava Vitor, mas mudou de escola.
— Hum...
— Você é uma figura, tio — Vitória falou apoiando os braços nos bancos da frente.
— Você conheceu esse menino?
— Sim. A gente era da mesma turma.
— Sei...
— Ele foi embora, pai. Nunca mais vou vê-lo.
— Ainda bem.
Vitória deu uma risadinha. Nick parou o carro em frente ao prédio de Matt e as duas desceram.
— Juízo!
— Tá bom, pai!
As duas entraram no prédio e ele foi embora. Vitória ainda ria da cena de Nick e Bruna tinha um enorme bico.
— Seu pai é muito engraçado.
— Isso porque não é com você!
— Nem acredito que contou a ele do Vitor...
— Ué, ele que pediu. — Cruzou os braços.
— Mas pelo menos não matou você e o pobre coitado está bem longe.
— Por isso que contei. Se ele ainda estivesse na cidade, provavelmente meu pai o procuraria...
As duas entraram no apartamento e depois de tomar banho, foram deitar. Bruna arrumou um colchão no chão para dormir.
Com as luzes apagadas, não conseguia fechar os olhos, pois quando fazia isso, a cena do beijo com Diego vinha a todo momento em sua mente. Não pode ficar assim! Tem que reagir... Mas ele disse que queria ela. Que só ficou com a Vitória porque achou que ela namorava o Breno. Será que era verdade? Ou será que o Diego não passa de um cafajeste que deu essa desculpa para poder beijar a melhor amiga da namorada?
Que situação! E ela não podia falar nada com a Vitória. Ela ficaria furiosa se descobrisse o que Diego fez. Mais ainda por ter sido com ela...
O melhor era esquecer o ocorrido e fingir que nada aconteceu quando encontrar com ele.
Mas como fazer isso?
****
Alguns meses se passaram depois daquela festa. Bruna fazia o possível para Vitória não reparar como o namorado olhava para ela. Por sorte ela não via maldade nisso, mas Breno via. Sempre que ele ficava olhando a Bruna, o garoto o encarava e quando ele percebia que estava sendo observado, desviava o olhar da garota.
— Mas quantos dias isso?
— Um fim de semana.
— Acha que vai ser bom?
— Acho.
Ana e Bruna conversavam sobre um programa que o pessoal estava marcando. Acampar em um camping da cidade.
— Quem vai?
— A Laura, o Lucas e a Júlia. O Matt, a Yasmin e a Vitória. E a Bia e a Agatha. E o Bernardo, é claro.
— A Agatha vai?
— Sim. Disse que quer ir.
— Uau!
— Então...?
— Está bem. Se as meninas vão.
— Só vai por causa delas? — perguntou com as mãos na cintura.
— Ah mãe... Não me leve a m*l, mas o que eu faria no meio de vocês sem pessoas da minha idade?
— Tá. Tem razão. Então posso confirmar você?
— Sim.
****
— E quando é isso?
— No primeiro fim de semana das férias.
— Legal!
— Gosta de acampar?
— Eu gosto.
— Se não fosse meu pai, eu te convidaria...
Breno riu dela.
— Ué, mas eu posso ir sem ser convidado.
— Como assim?
— Podemos nos encontrar lá por acaso.
Bruna sorriu e ele também.
— Mas como você iria pra lá?
— Convenço meu pai a ir comigo. Ele também gosta muito. Posso levar meu primo.
— Ia ser bem legal.
— Então vou falar com eles.
— Falar o que? — Vitória se aproximou dos dois. Diego estava com ela. Tinha um dos braços em volta do pescoço da garota.
— Sobre o acampamento.
— Você vai? — a loira perguntou.
— Quase certeza que sim.
— O Nick não vai gostar nada disso...
— Eu não vou levar ele como convidado. Ele vai nos encontrar lá — Bruna explicou.
— Hum...
— Assim meu pai não vai poder falar nada, afinal, o camping não é propriedade dele.
Todos riram.