KARINE
Dia de baile eram meus dias favoritos, funk no último volume, bebida, baseado fresquinho e sem meu pai enchendo o saco.
Pelo menos uma coisa na vida ele deixava eu fazer sem me sentir uma completa i****a sendo vigiada o tempo todo: me divertir.
Meu pai tinha o camarote dele, cheio de p*****a interesseira que só queria Red Label, e coisa da boa, grana que ele ostentava sem se preocupar com o dia de amanhã, e pal. Eu não gostava muito de passear por ali, mesmo que a Letícia me implorasse tanto toda vez.
Essa garota não podia ver um cara com correntinha de prata no pescoço, bigodinho na régua e camisa de time que já enlouquecia. Parecia que os cara tinha imã que chamava por ela, por que ela ficava doida que só.
A famosa maria bandido.
Não podia ver um que já queria sentar.
Nesse dia voltei da faculdade mais cedo e fui pro salão de beleza, fazer escova no cabelo, arrumar as unhas e fazer sobrancelha. Eu era bruta, não descuidada, sempre com a beleza em dia, gostava muito de me cuidar e andar cheirosa.
Não é por que quero ser malandra que vou andar que nem um, fedendo a baseado pra todo lado, tem que andar cheirosinha pra conquistar algum gatinho.
Quando eu sai do quarto, de shortinho e topzinho, pronta pra buscar Letícia, meu pai apareceu pra encher meu saco.
- Você pensa que vai onde vestida desse jeito?
Eu revirei os olhos no mesmo instante, ele estava mesmo bancando o pai ciumento?
- Ah me poupe pai, sempre sai assim. - Passei por ele para ir até a cozinha buscar um copo de água antes de sair.
- Depois você quer que os outros te respeitem. - Retrucou.
- O que eu visto não diz nada sobre meu caráter, seu arrombado. - Cuspi as palavras, ele já estava visivelmente alterado, já tinha bebido pra caramba. - Não sei como minha mãe ficou com um babaca que nem você.
Quando eu tentei passar por ele de novo ele segurou forte meu braço e olhou dentro do meu olho. Eu senti repulsa no momento que senti o bafo podre de bebida e maconha que ele exalava. Meu Deus.
- Você não fala comigo desse jeito. - Murmurou puto da vida, e eu apenas revirei os olhos para sua ceninha. Ele sempre fazia isso. - Sua mãe não tá mais aqui.
- Sorte a dela. - Sussurrei respondendo a ele. - Ver o marido não dar apoio a própria filha é de fuder com o cu do mundo.
- Eu não quero você enfiada nisso pro teu bem, Karine. - Lá vinha ele com esse papo furado de novo, soltando meu braço e procurando pelo copo de bebida dele que sempre tava em algum canto da casa. - Não quero o mesmo rumo que tua mãe teve.
- Ela morreu por você, ou você esqueceu? - Tratei de lembrá-lo e observei ele passar a mão pelo rosto, nervoso. - E mesmo assim você não dá mérito nenhum pra ninguém.
- Você acha que me orgulhoso disso? - Falou com o tom mais alto, mais bravo, e eu cruzei os braços quando vi que ele tinha jogado mais um copo na parede. Aquilo era mais frequente do que eu gostava.- Aquela bala era pra mim p0rr4.
- f**a-se pra quem era pai, você devia ter honrado o ideal dela, ela fez os c*****o a quatro pra você e você fica me menosprezando, achando que eu não vou dar em nada. - Joguei na sua cara tudo que eu sentia. - Mas quero mais é que se exploda, eu vou conquistar o meu lugar nisso, querendo você ou não.
Antes de ouvir mais alguma babozeira sair da sua boca eu meti o pé, não tava afim de estragar minha noite por causa dos lamentos do meu pai. Ele tava velho, lerdo, alcoólatra, uma hora ele iria cair e não por falta de competência mas por que quer, ele foi um dos caras mais solidários e mais respeitados desde que eu me lembro, acabar como ele era uma vergonha.
Nem estava olhando pra frente quando sai de casa, estava com a cabeça cheia de coisa, quando dei por mim trombei alguém no meio do caminho.
- Que merda. - Resmunguei enquanto voltava a me equilibrar, quase que tombei e ia de b***a no chão. Olhei pra frente e lá estava o Lucas.
- E ai Karine. - Ele me cumprimentou com um sorriso no rosto mas eu nem fiz questão de responder. Só sai andando. - Ei, teu pai tá ai?
- TÁ! - Apenas gritei para não deixar o moleque no vácuo. Desci a ladeira para ir encontrar com minha amiga e esvaziar a mente.
Nem esperei chegar na porta dela, acendi logo o baseado que eu carregava e fui fumando tranquilamente enquanto via o pessoal correndo pro baile. Eu conseguia escutar a música de longe e era isso que me acalmava.
Automaticamente a brisa chegou e eu m*l tinha chegado na Letícia e já estava dançando. Adorava descer a raba até o chão em dia de baile, não tinha coisa melhor pra me distrair dos problemas de dentro de casa.
- ihh já tá fumando. - Ela disse assim que parei na frente da sua porta. - O que foi dessa vez?
- meu pai como sempre. - Bufei frustrada. Leticia tava cansada de ouvir minhas tretas com o velho, eu não iria jogar aquilo de novo entre nós. - Mas deixa isso quieto, hoje é dia de esquecer os problemas.
- Verdade, soube que veio uns gatinho da sul pra cá. Bora lá que é carne fresca. - Eu apenas soltei um riso vendo minha amiga tão animada. Ela tomou o baseado da minha mão e deu uma tragada cortando toda a minha briza. - Vai finalmente dar uns beijo hoje?
- Não vem com esse papo de novo. - Falei nem dando trela pra ela. - Tu sabe que esses moleque no faz meu tipo.
- Não me engana Karine, você sabe que eu descolo. - Semicerrou os olhos na minha direção e eu apenas dei risada. - Você se faz de santa, mas é santa do p4u oco.
- Do p4u grosso, você quis dizer.
Caímos na gargalhada e logo botamos o pé dentro da muvuca. Letícia segurou na minha mão guiando nós duas no meio de tanta gente pra que a gente chegasse no nosso canto. A caixa com isopor e gelo, com muita breja, muita vodca e muito pó. Igor estava lá, assim como Matheus e Bruno.
Assim que a gente chegou Igor e Letícia trocaram olhares e eu já me dei conta dai que logo logo eles iriam dar perdido em todo mundo pra se comer em algum beco. Anota ai!
- E ai gente. - Cumprimento eles e Letícia faz o mesmo.
- Solta a voz. - Igor fala. - Vai um pino ai?
- Tô de boa dessas coisas. - Falei recusando o que ele me oferecia e peguei uma breja no isopor.
- Tu tem que provar os bagulho se quer vender isso depois do teu pai.
- Eu vou ser patroa amigão, não funcionária. - Pisquei pra ele e todo mundo na roda riu.
- Tá afiada. - Matheus (MT) disse sorrindo.
- Sem forga, né, tá achando o quê? - Murmurei tomando um gole da minha cerveja. E já curtindo o som. Dei logo a visão e vi uns gatinho de longe, playboyzinho, nunca tinha visto eles por ali. Nem tinha como esconder, eles ostentavam bebida cara sem nem vergonha na cara.
Eu dei risada, sempre tinha desses nos baile.
- Só de olho pra fisgar? - Minha visão foi atrapalhada por Lucas, que chegou na rodinha. A gente tinha o mesmo circulo de amigo, infelizmente.
- Me erra, Lucas. - Revirei os olhos.
- Ixi fia, tá na neura? Te fiz nada.
- Você existe. - Debochei e ele fez cara feia pra mim. - Cara feia pra mim é fome, tem a barraca logo ali.
- Mulher é um bicho doido né.. - Ele comentou indo pro lado dos amigos.- Deve tá de tpm.
Só não avancei pra cima dele por que Letícia me segurou. Eu já estava com a cabeça cheia da conversa com meu pai mais cedo e ele jurava que não apanharia.
O sorriso sacana dele pra mim, debochando da minha cara, era o que mais fervia meu sangue.